segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Para o meu neto João.


A Praia

O João é um menino traquina e irrequieto, como aliás são todas as crianças. Mas este menino tinha um sonho. Um sonho que crescia no seu peito, à medida que ele crescia.
Como nascera numa pequena aldeia no interior de Trás-os-Montes, e nunca de lá tinha saído, o João não conhecia o mar. Conhecer o mar! Esse era o grande sonho do João.
- Ó mãe – perguntava ele - Quando é que vamos ao Porto ver a minha avó?
-Ai meu filho, as vezes que tu já me fizeste essa pergunta - respondia a mãe já cansada de o ouvir - No próximo fim - de - semana, se Deus quiser, vamos.
-E podemos ir à praia, mãe? - Tornou o João não cabendo em si de contente - Podemos?
-Mas é claro - retorquiu a mãe pacientemente e com ternura na voz - Pois se tu não tens falado noutra coisa há uma série de dias!
Depois de feita a viagem e se terem instalado em casa da avó do João, no Domingo de manhã bem cedinho, rumaram à Foz do Douro. Quando lá chegaram, o João mal deu tempo à madrinha de estacionar o carro junto ao paredão. Saltou para o passeio e quedou-se, extasiado, a olhar.
Que bonitas eram aquelas barracas - pensava ele - Todas seguidinhas umas às outras e tão coloridas, com aquele pano às riscas largas, vermelhas e brancas e outras mais estreitinhas atrás, brancas e verdes.
-João, não fiques aí especado a olhar – disse-lhe a avó. Vem buscar a tua mochila, que já vamos todos para a praia.
Desceram os degraus do passeio que davam acesso à Praia da Luz e ao chegar ao areal, o João não se conteve e correu em direcção ao mar. Mas não se aproximou demais, não, que aquela imensidão de água metia respeito.
Nesse dia a maré estava calma, e as ondas vinham morrer, de mansinho, aos pés do menino deixando-os branquinhos de espuma.
-Então meu querido? - Era a voz da mãe que chegou sem que ele se apercebesse - Estás contente?
-Muito mãezinha, muito!
E o João corria, para lá e para cá, batia com os pés na água e ria de felicidade. Durante o dia fez desenhos na areia, chapinhou na água, jogou à bola e o tempo foi passando. Até que chegou a hora de regressar a casa. Enquanto a mãe e a avó guardavam as toalhas e fechavam o guarda-sol, o menino sentado num banco em frente ao mar, vendo as ondas desfazerem-se em espuma de encontro às rochas, descobriu o que iria ser quando crescesse. Fixando o olhar, lá longe, na linha do horizonte, o João disse baixinho:
-Quando for grande, vou ser marinheiro!

2 comentários:

  1. Pois é
    nem sempre o fascínio do mar
    nos faz marinhar

    este comentário
    à data
    não deve ser entendido como profecia
    mas antes como constatação

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    Respostas
    1. E, como de fascínios falamos, trago-lhe este seu encanto, longínquo mas não perdido.

      Em breve, levarei um pouco de lenitivo à saudade de nós todos.

      Obrigada, Rogério. :)

      http://cronicasdorochedo.blogspot.com/2011/08/as-praias-da-vida-dos-outros-17.html

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