segunda-feira, 5 de abril de 2010

INSÓNIA EM FORMA DE POESIA




Numa destas últimas noites em que o sono tardava em chegar, deixei o pensamento divagar pelos acontecimentos do dia. Acontece, que havia uma certa fixação em algo que me tinha tocado de uma forma especial, mas que eu não conseguia bem identificar. Por fim compreendi... "Apenas Rosa". Tratava-se de homenagens em honra de alguém que no passado tinha feito parte da nossa infância, deixando lembranças inesquecíveis.


Foi aí que me lembrei de Manuel Bandeira e de um poema seu que li há muitos anos e que, se a memória não me atraiçoa, era dedicado a uma velha ama que havia cuidado dele na infância. Era assim...


" Irene preta, Irene boa

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu

Licença, meu branco?...

E São Pedro bonacheirão,

Entre Irene, você nem precisa pedir licença!...




Manuel Bandeira foi um notável poeta brasileiro, nascido em finais do século XIX e um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil.


Por sua vez, Vinicios de Moraes quis homenagear o poeta e dedicou-lhe o poema que a seguir transcrevo e que eu gostaria, também, de oferecer a todos os meus amigos bloguistas poetas, nomeadamente, à Laurita, ao José e à Rosinha.





"LAPA DA BANDEIRA"


Existia, e ainda existe

Um certo beco na Lapa

Onde assistia, não assiste

Um poeta no fundo triste

No alto de um apartamento

Como no alto de uma escarpa.


Em dias da minha vida

Em que me levava o vento

Como uma nave ferida

No cimo da escarpa erguida

Eu via uma luz discreta

Acender serenamente.


Era a ilha da amizade

Era o espírito do poeta

A buscar pela cidade

Minha louca mocidade.

Como uma nave ferida

Perambulando patética.


E eu ia e elevava

A grande espiral erguida

Onde o poeta me aguardava

E onde tudo me guardava

Contra a angústia do vazio

Que em baixo me consumia.


Um simples apartamento

Num pobre beco sombrio

Na Lapa, junto ao Convento...

Porém, no meu pensamento,

Era o Farol da Poesia

Brilhando serenamente.









4 comentários:

  1. Olá Janita

    A Rosa é uma das flores que eu mais gosto, mas as pessoas que conhece com o nome de Rosa, não são muito felizes,se tivessem outro era a mesma coisa.

    Gosto da maneira como escreve,
    com uma pitadinha de humor.


    O minha amiga Janita
    Obrigada pela sua simpatia
    ó que coisa tão bonita
    "Insónia em forma de poesia"

    Um beijinho
    José.

    ResponderEliminar
  2. Olá José.
    Não posso deixar de lhe manifestar o meu reconhecimento pelas suas palavras sempre tão animadoras.
    Quere-me parecer que o amigo tem o condão de ler nas entrelinhas...
    É verdade;ter sentido de humor é uma característica que faz parte da minha personalidade. Gostei muito da sua quadra e como agora embalei na onda da poesia, também lhe vou oferecer uma:

    "Nesta vida que é tão curta
    Ser bem-disposto é preciso.
    Para amenizar nossa luta
    Com alegria,amizade e riso."

    Mais uma vez obrigada José e um grande abraço.

    ResponderEliminar
  3. Olá querida Janita, deixaste-me sem palavras, o que não é muito facil em mim. Obrigada pela linda oferta, não conhecia mas adorei. Um grande beijo com muito carinho

    Quem tem para amar
    A poesia num farol
    Tem as estrelas,o mar
    E a linda luz do Sol

    Também tem a nostalgia
    Que lhe invade o coração
    Pois mesmo com companhia
    Sente sempre a solidão.

    ResponderEliminar
  4. Minha Boa Amiga Janita,
    Venho agradecer-lhe a sua simpática visita à minha Tulha e as suas não menos simpáticas palavras. Vim e gostei do que li e já agora lhe digo que também sou do seu signo e talvez também por isso as afinidades que sentimos. Adorei os dois poemas o primeiro pela simplicidade que revelava a Irene como pessoa carinhosa e o segundo pela mostra do respeito e consideração que Vinicius tinha por Bandeira. Grandes poetas e homens simples que respeitavam os valores que agora andam perdidos!
    Um beijinho muito amigo e até breve.

    ResponderEliminar