terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ai, Francisquinha...Francisquinha!

Como não adianta de nada descabelar-me e reclamar dos tempos difíceis que vivemos e dos ainda piores que se aproximam, deixo esses assuntos para os blogues da especialidade!
Nas minhas andanças pela Net, descobri uma história de cordel, contada em verso, que muito me divertiu e resolvi partilhá-la. É um bocadinho longa, é verdade, mas também não precisa de ser lida toda de uma assentada. No final digo de onde a tirei, que eu não sou pessoa de me apropriar do alheio!



 Sou poeta de cordel
Trago no sangue esta sina
Na arquitetura do verso
Minha mente não declina
Por isso vou construir
Mais uma obra com rima.



     


O que agora vou versar
É fato, não é mentira
Aconteceu a uma jovem
Da cidade de Cupira
Em solo pernambucano
No Sitio da Macambira.

Francisca moça pacata
De perfeita educação
De casa só se afastava
Para seguir procissão
Ir a enterro de parente
E em dia de eleição

Filha educada e zelosa
Em casa tudo fazia
Costurar, bordar, Cingir
Francisca tudo sabia
Era na cozinha a fada
Que todo homem queria

Sua fama de pureza
Corria toda cidade
Os moços todos sonhavam
Gozar de sua amizade
E prêmio maior seria
Desposar essa beldade.

Porém vê-la para muitos
Sorte grande já seria
Pois Francisca não ousava
Andar pela freguesia
Por segurança, em casa
Tinha tudo o que queria.

De segunda a sexta-feira,
Para educar a donzela
Uma freira contratada
Estava sempre com ela
Pois Francisca era uma jóia
Educada, santa e bela.

Por outro lado Raimundo
Um cidadão galhofeiro
Era a imagem do cão
Preguiçoso e bagunceiro
Que tinha passado uns tempos
Lá no Rio de Janeiro
 

Com sotaque carioca
Puxando para o paulista
Raimundo lá em Cupira
Parecia um artista
Todas as moças da cidade
Figuravam em sua lista.

Um sujeito extrovertido
Bem quisto pela cidade
Amigo de todo mundo
Por sua sagacidade
Bonito, bom de conversa
Mas de pouca qualidade.

Todas as moças da cidade
Tinham a ele namorado
Mas nenhum pai gostaria
De ver Raimundo casado
Com sua filha e vivendo
Pra dentro do seu cercado..

Mas sabemos que o destino
Traça seu próprio caminho
E dessa forma juntou
Como galhos para um ninho
Raimundo e Francisquinha,
O "gato" e o "passarinho".

Um parente de Francisca
Naqueles dias morreu
Nesse velório a mocinha
Ao Raimundo conheceu
E seu doce coração
Por ele forte bateu.

Francisca não conhecia
A maldade desse mundo
E caiu fácil na lábia
De seu galante Raimundo
Que na arte do xaveco
Era um verdadeiro imundo.

Botou a mão na mão dela
Falando com muito estilo
Francisca ouviu passarinhos
Cantando junto com grilo
E Raimundo foi em frente
Colocando a mão naquilo.

Francisca endurecida
Fitava o namorado
Que pegando a mão dela
Com carinho e com cuidado
Foi pondo sem cerimônia
Encima do seu cajado.

Francisca por puro instinto
Segurou o animal
Porém num susto em seguida
Tirou a mão do local
E perguntou: Raimundinho,
Pra quê guardas este pau?

Raimundo muito sacana
Com toda tranqüilidade
Disse: Francisca querida
Quanta ingenuidade
Isso aí é uma agulha
De costurar virgindade

Francisca examinou-a
E disse: Como é grossinha
E prosseguindo o exame
Encontrou uma fendinha
E perguntou ao Raimundo:
É aqui que põe a linha?

Seguiu dizendo: Raimundo
Gostei dessa novidade
Se essa agulha aí
Faz o que dizes de verdade
Levantas, vem e costura
Logo a minha virgindade.

Raimundo quis sair fora
Mas Francisca de pressinha
Fechou a porta da frente
Em seguida a da cozinha
E já retornou à sala
Sem vestido e sem calcinha.

Raimundo ficou sentado
Com o rosto empalidecido
E Francisca insistindo
Costura noivo querido
Pegando no instrumento
Sentiu ele amolecido.

Deu um salto para trás
Dizendo: pode ir embora
Porque homens mentirosos
Eu conheci muitos aí fora
Mas um frouxo e boxador
Fostes o primeiro agora.

Olhando para Raimundo
Disse dando uma risada:
Vou revelar-te uma coisa
Raimundo meu camarada
O padre que entra e sai
Aqui, sou eu disfarçada.

 
Para que este post fique um pouco mais requintado,
deixo-vos com esta "Chiquitita" já um nadinha ultrapassada, mas da qual gosto muuuuito!
 


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37 comentários:

  1. :)) Amiga Janita, à quanto tempo eu não lia e ria com um poema de cordel :)
    A Francisca de ingénua não tinha nada, e o Raimundo é um frouxo vaidoso :D

    Viva o humor!

    beijinhos

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    1. Amiga Fê:
      Sabendo eu como ultimamente tens andado tristinha, fico muito feliz por esta historieta ter contribuido para te fazer rir.:))
      Que, ao menos, não nos tirem a capacidade de soltarmos umas gargalhadas!

      Beijinhos.

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  2. Simplesmente adorei...
    Obrigado pela partilha.

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    1. João Roque:
      Ainda bem que gostaste, João!
      Vamos partilhando aquilo que por um motivo ou por outro, achamos que possa ter interesse ou seja divertido, consoante o tema, não é?
      Beijinho.

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  3. Uma história deliciosa e uma Francisca de se lhe tirar o chapéu.

    Saudação da amiga de longe, e continua a publicar histórias divertidas como esta, e não te metes em politiquices, minha cara Janita.

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    1. Olá, Ematejoca!
      Que bom teres gostado! Pensava que este tipo de estórias de cordel não fizessem o teu género. Não há dúvida que o teu sangue lusitano fala sempre mais alto!
      Saudações amigas.

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  4. Adorei os versos... li tudo de uma assentada!
    E inspirada neles dedico-te mais este acróstico.

    Já alegria nunca falta
    Ao cantinho da Janita
    Num lugar bem prazeiroso
    Inspirador e catita.
    Tem boa disposição,
    Amigos e é bonita.


    Beijinhos rimadores
    (^^)


    P.S. também adoro este tema... mas prefiro a versão original. Em cachopas, eu e a minha irmã cantávamos esta música a duas vozes!!

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    1. AFRODITE:
      és uma Deusa
      prendada para a poesia.
      Dás Amor e tens Beleza
      que mais a Janita queria?!

      Por acaso também prefiro a versão original.

      Hei-de ir ao teu cantinho ver o galã que me "arranjaste".lol
      ;))

      Beijinhos brejeiros.


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  5. Olá, Janita!

    É longa mas lê-se duma assentada, esta história brejeira e bem contada.

    E viva a boa disposição, que tanta falta neste triste reino faz...!

    Bom resto de semana.
    Beijinhos
    Vitor

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    1. Olá, Vitor!

      As tuas histórias também são bem bonitas e algumas até têm o seu quê de brejeirice que tanto nos diverte.

      Nos tempos que correm é quase obrigatório não perder a boa disposição, não achas? :)

      Beijinhos e um abraço.

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  6. Eu li tudo e chorei a rir, obrigada amiga por este momento!
    Está demais.
    antiga mas sempre bom de ouvir os ABBA.

    Beijinho e uma flor

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    1. Amiga Flor de Jasmim:
      Não imaginas como fico contente em saber que "choraste" a rir!
      É por isso que adoro a blogosfera!
      Umas vezes emocionamo-nos até às lágrimas e outras até choramos de tanto rir. Comigo acontecem as duas coisas com frequência.
      Adoro ouvir os ABBA. Tenho montes de LPs deles.

      Beijinhos, Adélia!

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  7. Adorei. O texto é mais que uma obra com rima - é uma obra-prima. Até a brejeirice cai bem, o que não é fácil!
    A Chiquitita não está mal - sempre está melhor que "aquele" Zé Maria...
    (Já em puto me irritava quando diziam para o ar - "Coitado do Zé Maria, que era burro e não sabia")
    :)
    beijo

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    1. José Moura Pereira:

      O que eu já me ri com o teu comentário!:))
      Realmente, "aquele" Zé Maria...caramba...nem me lembrei!
      Se fosse agora, teria escolhido outro nome!:))

      Adorei o teu sentido de humor. Assim é que eu gosto!

      Beijinho.

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  8. Tu descobres cada coisa, Janita! Fartei-me de rir e não achei nada longo, porque é muito divertido
    Beijos

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    1. Aleluia! Aleluia! Aleluia!

      O Carlos e eu estamos finalmente de acordo: a história não é nada longa porque é muito divertida.

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    2. Meu querido CBO.

      Só o saber que te fiz rir já me fez ganhar o dia!:-)

      Beijinhos.

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  9. Li de uma assentada
    Mas por causa do adiantado da Madrugada
    Tive que me conter na risada
    Adorei esta camarada
    Que pra brincadeira era bem danada
    (eu e as quintilhas)
    lolololololol=)))
    Beijinhos de abalada
    :)))))))))

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    1. Olá L.O.L!

      Tenho sentido a tua falta na blogosfera.

      Nunca mais te encontrei no Carlos ou no Rui.

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    2. Olá ematejoca
      Tenho andado por aí. Sabes como é! Sigo quase 300 blogues. Não é fácil estar em todas as paradas. rsrsrsrsrs=))

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    3. Olha, Mestre:
      És tu com as quintilhas e eu com as "quadrilhas".
      Queres ver estas?:

      Levantas-te de Madrugada
      Em busca do teu amor
      Encontraste um laranjal
      Carregadinho de flor…

      Por causa da camarada
      Danada prá brincadeira
      Contiveste uma risada
      E abalaste com canseira...

      Beijinhos sem abalos.

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  10. Olá Janita, confesso que ainda não li o seu post todo, porque já estou a cabecear em hora avançada. No que a Franciscas diz respeito, amo o filme do Manoel de Oliveira com esse nome e baseado no não menos fabuloso "Fanny Owen" da Agustina (Bessa-Luís). Ah e gosto de si!

    beijos.

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    1. Desculpa Janita de responder aos teus comentários, mas não resisto, mas tu já me conheces do CR.

      Também amo esse filme de Manoel de Oliveira, mas eu amo todos os filmes desse realizador genial.

      Amo a obra de Agustina Bessa-Luís, incluindo "Fanny Owen".

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    2. Olá querido Hugo!
      Não fiques no computador quando fizeres o turno da noite, olha que dormir é meio sustento.
      Eu também gosto do nosso centenário Manoel de Oliveira e da Agustina, mas não sei porquê não gosto das Franciscas. Ah, mas adorei saber que gostas de mim! ;)

      Beijinhos, Hugo.

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  11. Eu logo vi que ela não era assim tão inocente a ponto de não saber a finalidade final de um cajado! Ah ah ah ah.

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    1. Sr. Matumbo:

      Quanto me honra com a sua visita!:)
      Seja Bem-Vindo! Já estive na sua nova residência, mas passei um pouco de corrida só para deixar a minha marca. Hei-de voltar com tempo para saber se a cubata é mais melhor boa que a barraca...lol

      Por acaso eu acredito que a tal Francisca não soubesse bem qual a finalidade final de um cajado.
      Lá na minha terra, por exemplo, não há pastor que não tenha um. E qual é a finalidade dele? Guardar o gado ou encostar-se a ele e passar plas brasas? :)))))
      Um abraço!

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  12. Janita
    voltei para te dizer que também tenho discos de vinil dos ABBA, só se houvem em gira-discos.

    Beijinho e uma flor

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    1. Flor,
      mas o meu velhinho gira-discos ainda está a postos para o que der e vier! É uma preciosicidade que só funciona em ocasiões muito especiais.
      Beijinhos.

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  13. Nada melhor para esquecer por momentos os tempos dificiris do que esta deliciosa poesia.
    Ri com gosto e, confesso, não estava à espera deste final.
    A Chiquitita vem sempre bem.

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    1. Manuel.

      Quando não podemos remediar o que está mal, rir é sempre o melhor remédio! :)

      Esta Chiquitita traz-me lembranças muito boas.
      Um beijo.

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  14. Claro que, se se começa é impossível deixar de ler tudo ! eheh
    Está delicioso e cheio de humor ! :))... Ah !... Grande (e reguila) Francisquinha ! eheh

    Sabes que o Autor é ROSENILDO DE LIMA SILVA (Nildo Cordel) ?...

    Beijinho
    .

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    1. Olá, Rui!

      Quando publiquei os versos pareceram-me longos de mais para que os leitores tivessem paciência de os ler.
      Afinal enganei-me e todos têm sido unânimes em dizer que os leem de uma assentada: eheheh
      Eu própria já os li várias vezes e agora não os acho tão longos.

      Eu coloquei o link do autor, Rui. Não sei se acedeste a ele, mas na verdade, pensei que "Nildo Cordel" fosse pseudónimo.:)

      Beijinhos, Rui!

      PS. O teu enigma é que está bravo de levar a bom termo!...

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  15. Minha querida Janita

    Adoro estes versos de cordel, são maravilhosos e o vídeo completou bem...que tristezas não pagam as dividas que dizem que nós temos.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  16. Hello, Janita.

      Lovely your works, full of joy.

      Thank you World-wide LOVE, and your Support.

      The prayer for all peace.
      I wish You all the best.

    Have a good weekend. from Japan ruma ❀

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  17. A danada Francisquinha
    Senhor Raimundo enganou
    Virgindade ela não tinha
    Ele com a mão naquilo pegou!

    A história da Francisquinha é longa mas é muito engraçada.
    Bom fim de semana para você, amiga Janita, um abraço Eduardo.

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  18. Boa noite Janita!

    Gostei de aqui vir
    li tudo duma assentada
    levei o caminho a rir
    com a poesia engraçada

    O Raimundo o fanfarrão
    a Francisquinha "marafada"
    Ele com a agulha na mão
    mas tava toda amolengada.

    Obrigada por me fazer rir
    Foi os ventos fortes
    que me trouxera aqui
    Beijinho,
    José.





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  19. Minha cara, estou feliz
    Por seu compartilhamento
    Como poeta precisamos
    De gente com sentimento
    Que dê a nosso trabalho
    O seu reconhecimento.

    Sou poeta cordelista
    Dom recebido do céu
    Pessoas como você
    Pra santa só falta um véu
    Um beijo deste poeta
    Assino: Nildo Cordel.



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