sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Lado Menos Belo, Mas Real, da Poesia.

 
 

Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso da Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
 
Vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo a voz de mando
do director fatal que lhes ordena
 
Essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
 
Mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena!
 

Soneto de Fernando Assis Pacheco

                                               

Nota:

Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco (Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937Lisboa, 30 de Novembro de 1995) foi um jornalista, crítico, tradutor e escritor português.

Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, viveu nesta cidade até iniciar o serviço militar, em 1961. Filho de pai médico e de mãe doméstica, era seu avô materno galego (e casado com uma lavradeira da Bairrada) e seu avô paterno roceiro em São Tomé.

Enquanto jovem, foi actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos.

Fonte: Wikipédia

                                                      

30 comentários:

  1. Respostas
    1. O título diz muito, Laura, mas ainda não diz tudo!

      Beijinho.

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  2. A poesia não se "veste" apenas de amor e de coisas belas... a poesia é VIDA... e a vida também pode ser bem dura!


    Um beijão Amiga, bom fim de semana
    (^^)

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    1. Nem mais, Afrodite.

      O poeta que vê e sente a poesia como a essência da vida, sabe que há o lado negro, duro e sofrido, que não pode ser ignorado.
      E não me refiro apenas a ' vidas perdidas", como a que retrata este poema.

      Beijinhos, Amiga e bom Domingo..

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  3. Muito bom! Assim é a poesia, é para isso que ela serve. Não só para mostrar as cosias belas da vida, mas também retratar as coisas não tão belas, os contrastes dessa vida louca. Beijos, Janita.

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    1. Olá, Menino Beija-Flor!
      Certo, certíssimo, tudo o que escreveste. Quem melhor do que tu, poeta que nasceu com o dom da poesia no sangue, poderia entender que ser poeta é aspirar ir mais além, retratando suavemente a dor e a brutalidade crua da Vida.

      Beijinhos, Carlitos!

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  4. TB digo
    O título diz tudo o casi todo!

    La poesia dice las cosas que el poeta observa de la vida..

    Beijos com um bonito fim de semana

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    1. O título diz quase tudo, Poseidón, quase tudo!

      Fraco é o poeta que só consegue escrever sobre as coisas belas da vida.
      Quando ela- a vida - é feita de lágrimas e sorrisos, de sol e chuva, de amores e desamores e ilusões e...:(

      Beijinhos e votos de excelente semana.:)

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  5. A poesia não é feita só de coisas boas, também tem destas coisas e o titulo diz muito.

    Beijinho e uma flor

    P.S Janita não precisas de agradecer, o que fiz,foi com muito carinho, agora a tua caixa de comentarios já está preparada para a Susana comentar, como estava era impossivel.

    Beijinho e uma flor

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    1. Nem poderia ser, Flor!
      Acho que se na vida só houvessem coisas boas, não saberíamos valorizar os pequenos momentos felizes que desfrutamos de vez em quando!:))
      Eu sei que tudo o que fazes é de boa vontade e com carinho, amiga. É justamente isso que te agradeço, minha querida Adélia.

      Beijinhos e boa semana.

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  6. Olá Janita.

    Em primeiro lugar agradeço a ambas (Janita/Adélia),a preciosa ajuda. ♥

    Do poste: o título diz tudo!
    É mesmo assim a poesia, retrata os dois lados da vida, o bom e o mau, não deixando de ser poesia.


    Para… Janita e Adélia

    Dádiva da Poesia

    Poesia:
    Na alma e no porte ser gigante,
    Ter por guia a justiça e a verdade.
    Fazer algo de bom e de importante
    Em prol do bem-estar da humanidade!

    Poesia:
    Dar amor, carinho e amizade,
    Uma palavra amiga, um sorriso.
    Pôr em tudo a grandeza da bondade,
    Dar-se inteiro se tanto for preciso!



    (Castro Reis- Poeta e Escritor-Livro Bodas de Primavera Para a Paz – Porto 1989)


    Bom fim de semana
    Beijinhos e um sorriso

    Susana

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    1. Olá Susana!
      Já tinha sentido a tua falta. Fico muito contente por voltar a ter-te aqui no meu cantinho.

      Em meu nome e da Amiga Adélia, agradeço as lindas quadras que nos deixas.
      Vejo que és grande admiradora do poeta / escritor / e jornalista portuense Castro Reis. Há um soneto dele que muito gosto e termina com o seguinte terceto:

      "Quando chegar a hora do meu fim,
      Não importa se lembrem mais de mim,
      - Mas não deixem morrer os versos meus!"

      Tu, Susana, tens vindo a fazer, justamente o que ele pediu...

      Fica atenta ao meu próximo post!

      Beijinho e um grande sorriso.

      Janita

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  7. Conheci-o! Por me cruzar com ele algumas vezes numa garagem perto da Estrela, onde lavavam os carros (tanto o dele como o meu, poucas vezes para não "perderem a patine"), e abastecíamos de gasolina.
    Foi um choque, um murro no estômago como é uso dizer-se, quando soube que morreu.
    Apesar de só se morrer quando somos esquecidos. E um poeta não morre!

    Beijos!

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    1. Olá Kok.

      Deves sentir-te orgulhoso por haveres contactado com este multifacetado homem das Artes e Letras portuguesas, que tão cedo partiu.
      Ficou a sua obra e tal como dizes, um poeta nunca morre. Só quando os seus poemas ou prosas, são esquecidos. Daí, o pedido de Castro Reis, que deixo acima.
      Desejo muito que continues em boa forma, Amigo.:)

      Beijinhos.

      PS. Vai lá ao teu 'galinheiro' dar resposta aos meus comments! :))

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  8. Querida Janita

    Soneto cru e vero de Assis Pacheco. A intervenção pode ser dolorosa mas, infelizmente, relata um drama da Sociedade onde nos deixamos flutuar.


    Beijos


    SOL (Sob tormenta)

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    1. Meu querido SOL.

      O soneto é cru, sim! Mas na vida, como sabes, nem tudo são sorrisos e rosas.
      Sinto muito essa tormenta sob a qual te des(abrigas, SOL.
      Lá no teu cantinho já falei contigo sobre isso.

      Ânimo, Amigo!

      Beijinhos e votos de tudo, o melhor possível.

      Janita

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  9. Olá JAnita,

    gosto da poesia menos bela. Essa para mim é que é poesia. A outra muito lindinha não é verdadeira! A vida é dura e pode ser feia.

    Abraço grande e bom Domingo.

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    1. Olá querido Argos!

      Eu gosto de toda a poesia, mas não esqueço o lado menos bom da vida. Ainda bem que os poetas também não... Seria utopia a mais!

      Beijinho e grande abraço.

      Janita

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  10. Olá, Janita!

    Lembro-me dele, dalguns programas de televisão; barbudo, e com um sorriso quente a revelar o seu lado de boa pessoa, comprometido com que o que à sua volta via.Que infelizmente morreu cedo.

    E a poesia não é menos bela pelo facto de falar das coisas menos boas da vida, como ele aqui faz - tocado pelo que viu quando voltava ao conforto da sua casa.

    Nesta vida há coisas que nunca mudam; apenas a forma evolui com o passar dos tempos - como nesta dita forma de vida:para uns, forçada, por outros escolhida...

    Beijinhos amigos; bom Domingo
    Vitor

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    1. Olá, Vitor!

      Tenho dele uma ideia muito vaga, de o ver através da televisão, mas lembro-me do seu sorriso e, sobretudo, da barba farfalhuda, e claro, de alguns dos seus poemas.
      Pena que tenha partido tão cedo. Infelizmente, quando chega a hora não há como adiar a partida. É essa a lei da Vida, que tal como neste soneto, para uns é mãe e para outros é madrasta.
      Mas, lá está o que dizes, com a evolução dos tempos nem sempre este tipo de vida é forçada, creio que actualmente é mais uma opção.
      Segundo uma reportagem que vi na TV , isto da mais velha profissão do mundo é, hoje, uma opção até de gente culta, por ser tão rentável!!
      Até porque existem novas denominações para tudo...:(

      Beijinhos, Vitor, tem uma boa semana!

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  11. Longas manhãs te esperei, perdi a conta
    Ainda bem que esperei longas manhãs
    e lhes perdi a conta.....

    Tive um privilégio de o conhecer no "O Jornal" e, também, da Visita da Cornélia,
    Um grande jornalista, critico e com um sentido de humor notável.
    Obrigado por nos trazer à recordação!

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    1. Olá Manuel.

      Nunca é demais trazer à tona, algumas das nossas figuras das Artes e das Letras menos lembrados e alguns já quase esquecidos.
      No fundo, creio que é um pouco - ou muito - essa, a missão do meu blog!

      Um beijo e até já!

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  12. Janita o teu comentario sobre a musica no meu cantinho, aqui só para nós, eu e o meu Rodrigo fomos a primeira paixão um do outro, tinha ele 15 e eu 13 anos, mas (com aquela experiência toda de mulher que eu era) um dia amuei com ele, comecei a namorar o meu falecido marido (amigo e parente do Rodrigo) e ele cmeçou a namorar uma amiga e colega de trabalho, casei com 16 anos e quando encontrava o Rodrigo nunca mais fui capaz de lhe olhar nos olhos, depois estivemos anos sem nos vermos,até ao dia em que o encontro ele divorciado e eu viúva à uns anos, revivemos os nossos 13 e 15 anos, e aconteceu sem nada pensado. eu tinha-me auto-programado para não voltar a ter mais homem nenhum, mas esqueci que não tinha um interrupetor para ligar e desligar quando quizesse, estamos juntos à 12 anos e tal e quero tê-lo comigo muito mais anos.

    Beijinho e uma flor

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    1. Minha querida Amiga.

      Contada por ti ou pelo Rodrigo, já tive conhecimento dessa vossa bonita e romântica história de amor.
      A Vida tem desígnios insondáveis e ainda existem finais felizes. Mas sabes que nem todos temos o mesmo destino ou lá o que lhe queiram chamar. Existem muitas coisas na vida que não se procuram, são elas que vêm ter connosco...o amor é uma delas! Tal como aconteceu convosco.
      Desejo-vos de coração, toda a felicidade que merecem.
      Um grande beijinho para ambos.:)

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  13. Vêem-se por aqui meninas, que foram artificialmente "insufladas" pelos chulos, que mal sabem equilibrar-se nos saltos altos, que dão realmente dó.
    E os f....da p....que as procuram, velhos, gordos, nojentos, deviam ser castigados.
    Cachorros! :(

    Boa semana!

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    1. Isso é um crime horrendo que deveria ser severamente punido, Pedro!
      No Oriente, prolifera a exploração de jovens, quase crianças, na ´'indústria' do sexo.
      A procura é que dá origem à oferta, penso eu, e não faltam os nojentos que procuram e os outros que exploram quem precisa de ajuda e não de serem submetidas a esse tido de escravatura do século XXI.
      Esse é, para mim, o lado mais sórdido e repugnante do homem!

      Beijinho e boa semana, Pedro.

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  14. Há estrelas que brilham no chão
    que pisamos

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    1. Linda e poética forma de expressar uma realidade tão dura e crua, Mar!
      Há, no chão sujo da vida, estrelas pisadas, que deveriam brilhar apenas no firmamento. Verdade tão triste.
      Um beijinho, Eufrásio.

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  15. E esta é a realidade do mundo em que vivemos...
    beijo amiga
    anacosta

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  16. Olá Ana.

    Um mundo deprimente, desde as lutas pelo poder até à degradação e exploração do ser humano.
    Valha-nos o direito ao sonho!

    Beijinhos, amiga.

    PS. Desculpa a minha ausência do teu blog. Tenho que reparar a minha falta em relação aos blogues amigos. O tempo, esse malvado, corre mais do que nós!:)

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