sábado, 19 de março de 2016

Almas Inquietas.

Tela de  Dima Dmitriev

Saiu do bar e embrenhou-se na escuridão que envolvia toda a rua em direcção à Praceta, vagamente iluminada pelo único lampião fixo na parede.

A cada minuto que passava, a cada hora que se esfumava, sabia que tinha de tomar uma decisão. Mas, naquele preciso momento, soube também, que jamais voltaria a sentir-se feliz, ou sequer triste.

Sentia-se entorpecido pela raiva, muito mais do que pelo desânimo. A raiva era a única coisa que ainda o fazia sentir-se vivo.
Seria essa raiva, que abraçava, deixando-a crescer dentro de si como uma doença, maligna, que o levaria a não deixar-se ir abaixo e transformar-se numa criança indefesa.

Precisava da raiva para enfrentar e tentar resolver aquilo que tinha de ser terminado.

Depois, permitir-se-ia chorar…




41 comentários:

  1. Há almas assim, que se alimentam de raiva, até que uma qualquer vingança a apazigue. Mas só aparentemente. A raiva nunca desagua em tranquila foz.
    belo texto, Janita. Parabéns!

    Beijinho :)

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    1. Esta alma não se alimenta de raiva. AC.
      Precisa dela!
      Lembrei-me agora de uma frase da nossa Amália, quando respondia a uma pergunta acerca de não ter aceite uma proposta para trabalhar em Hollywood:
      "Tive sempre a coragem, mas faltou-me a raiva"
      As decisões difíceis de tomar necessitam, por vezes, de alguma raiva! :)

      Beijinhos, AC!

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  2. Olá Janita, o problema é que por vezes é um sentimento tão confuso, que nem sei que nome lhe dar. Acho que já nem sei chorar...Gostei do teu texto. Beijos com carinho

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    1. Não somos todos iguais, amiga Rosa-Branca, nem na forma de estar nem de sentir.
      Chorar faz bem. Lava a alma...

      Beijinhos

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  3. Raiva não
    talvez seja o desassossego
    que trago no coração

    É bom, com ele venço o medo
    E se depois chorar...
    qual é o mal?

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    1. Amigo Rogério,

      Acredito que traga a alma desassossegada.
      Os tempos andam conturbados...

      Haver mal em chorar? Nenhum!
      O homem do meu texto também precisava chorar, mas não acredita nisso, Ainda não!

      Abraço :)

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  4. Janita, a imagem presencia a primavera, o texto nem tanto, mas feliz fim de semana para ti
    Angela

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    1. Achas, Angela?
      Só se for por se encontrar lá no alto, porque de Primaveril a imagem não tem nada. :)

      Um beijinho e boa semana!

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  5. Um texto muito intenso que me foi difícil de interpretar. A raiva torna-se omnipresente e quando assim é o raciocínio nem sempre funciona da melhor maneira.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. Os textos com esta etiqueta não podem ser interpretados, amiga Elvira.
      São coisas que só eu entendo!

      Um abraço e boa semana

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  6. Boa tarde, a raiva é causada pelo desespero, é o ultimo dos sentimentos que devemos exprimir, mas acontece quando se é vitima da injustiça de quem menos se esperava, gostei do poema, é profundo e significativo.
    Feliz primavera,
    AG

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  7. Bom retrato
    onde a escassa luz
    não se despe das sombras

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    1. Sem luz não poderia haver sombra, lembra-se, Eufrázio?

      Um abraço! :)

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  8. Um texto triste, embora bem escrito !

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    1. Ricardo,

      Mas eu quis ele (o texto) fosse mais amargurado do que triste.
      Alguma coisa me deve ter falhado...:)

      Obrigada e um abraço!

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    2. A amargura é um sentimento perigoso... mina-nos profundamente e controla-nos a alma e a vontade de reagir.

      Gosto de te ler em registos mais alegres...
      Deixo-te uma música terna para te fazer companhia.

      Beijinhos Janita
      (^^)

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    3. Afrodite.

      Tu escolhes aquilo que queres sentir? Não! Nem tu nem ninguém!
      O único sentimento perigoso é o ódio, esse sim, cega e mina a alma de quem o sente.

      Amargura é como a tristeza, surge muitas vezes quando nos sentimos incompreendidas, por exemplo, ou em outras situações que põem em causa muito do que fazemos ou dizemos.
      Se gostas de mim tens de me aceitar em todos os registos!! :))

      Agradeço-te a bela canção e também te desejo Vida, muita e plena de coisas boas!

      Beijinhos.

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  9. Imagem fantástica e fiquei muito curiosa quanto ao texto...
    um beijinho e uma boa semana

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    1. Ora aí está uma boa nota, Gábi!

      Se o texto despertou a tua curiosidade atingi o meu objectivo! :)

      Beijinhos, obrigada e boa semana também para ti.

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  10. Fui ler os comentários que antecedem à procura de pistas sobre o texto...espero que vá continuar...

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    1. Oh, Gábi, agora fizeste-me sorrir.:)
      Acho que os enigmas do Rui te andam a deixar obcecada com a procura de pistas! Lol
      Os comentários não podem ter pistas, minha querida, simplesmente, porque neste texto não há nada para adivinhar...:)

      Beijinhos

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  11. Nem sempre a raiva conduz à vingança. Por vezes só faz seguir em frente. Estranho? Depende das vivências e dos objectivos.
    Chorar? Não acredito que ele o faça nos tempos mais próximos. Se chorar desiste.

    Abraço grande

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    1. Ricardo,

      Essa é a finalidade da raiva, neste contexto. Não falei/escrevi que ela servisse para qualquer acto vingativo.

      Lê a antepenúltima frase.
      E a última...

      Beijinhos e abraços!

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    2. Desculpa, quis dizer a penúltima e a última!

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    3. Li Janita, li muito bem. E reli.

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    4. Então entendeste que a minha personagem, precisava da raiva para terminar algo que tinha de ser feito.
      Após, cumprir essa missão poderia descomprimir e ser a criança que todos temos dentro de nós (felizmente) e chorar, porque não?
      Abraço!

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    5. Porque nem todos podem voltar a ser a criança que têm dentro de deles.
      Eu entendi...

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    6. "O poeta é um fingidor.
      Finge tão completamente
      Que chega a fingir que é dor
      A dor que deveras sente.
      E os que lêem o que escreve,
      Na dor lida sentem bem,
      Não as duas que ele teve,
      Mas só a que eles não têm.
      E assim nas calhas de roda
      Gira, a entreter a razão,
      Esse comboio de corda
      Que se chama coração"

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    7. De que me rio eu?... Eu rio horas e horas
      só para me esquecer, para me não sentir.
      Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
      passo a vida febril inquietantemente a rir.

      Eu rio porque tenho medo, um terror vago
      de me sentir a sós e de me interrogar;
      rio pra não ouvir a voz do mar pressago
      nem a das coisas mudas a chorar.

      Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de mim
      o mistério de tudo o que me cerca
      e a dor de não saber porque vivo assim.

      António Patrício


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    8. Ricardo,

      Obrigada pelos poemas, este já veio no Dia em que se homenageia a Poesia!

      Beijinhos.

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  12. Os estados de alma são muito complicados, variando conforme o tempo e o lugar. Um homem não chora, dizia-se (ainda se diz ?), mas é mentira.

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    1. ...Logo, são vadios! Os estados de alma variam conforme as circunstâncias.
      Daí, eu ter catalogado estes textos com a etiqueta 'Pensamentos Vadios'.

      Claro que os homens choram! Não são seres humanos sujeitos às mesmas emoções que as mulheres?
      Isso do sexo forte já era...
      Abraço

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  13. Este não é propriamente o comentário ao teu texto. É somente uma "afinidade" que decerto entenderás o sentido quando o leres.
    http://koktell.blogs.sapo.pt/5780.html
    Beijokas com sorrisos -_o

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    1. Obrigada, Kok.

      Ainda o não li, quando o fizer dar-te-ei conta da minha opinião!

      Beijinhos e sorrisos, sempre!!

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  14. Sentir - da paixão à raiva.
    Mas sentir.
    Beijinhos, boa semana

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    1. É isso mesmo, Pedro!

      O que nos distingue dos outros animais não é apenas o raciocínio mas, também e essencialmente, a capacidade de sentir.
      Ninguém diga que nunca sentiu raiva, amargura, desespero, ciúme, revolta; porque, então, ou está morto ou mente!!
      Beijinhos e boa semana!

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  15. Coitados daqueles que só têm a raiva para os estimular a seguir em frente...

    Beijocas

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    1. Teté,

      Não os apelidaria de 'coitados'. Coitados serão todos aqueles que não conseguem ver para além daquilo que é convencional...

      Beijocas.

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  16. Querida amiga:
    Acho que transportaste para o teu personagem o que te vai na alma (eu também costumo fazer isso )
    Escrever é uma catarse, alivia as emoções, purifica a nossa mente.
    Gostei muito do teu texto e espera que o personagem se permita chorar.

    Um beijinho

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  17. Às vezes estamos assim e noutras vezes assim estamos. Mas estamos!
    Ultrapassar aquelas vezes deve ser o nosso propósito, né?
    As fáceis não custam nada, mas são as outras, as difíceis, que maior alívio nos trazem quando ultrapassadas e nos deixam prontos para outras.

    Beijokas sorrindo com alegria sff.

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