quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DEPOIS DO ÊXTASE.



Nudez, último véu da alma
que ainda assim prossegue absconsa.
A linguagem fértil do corpo
não a detecta nem decifra.

Mais além da pele, dos músculos,
dos nervos, do sangue, dos ossos,
recusa o íntimo contacto,
o casamento floral, o abraço
divinizante da matéria
inebriada para sempre
pela sublime conjunção.

Ai de nós, mendigos famintos:
Pressentimos só as migalhas
desse banquete além das nuvens
contingentes da nossa carne.

E por isso a volúpia é triste
um minuto depois do êxtase.


Poema “O Minuto Depois” de Carlos Drummond de Andrade


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8 comentários:

  1. Bem dito, digo, bem escrito. Não é para todos, digo eu que pouco entendo de poesia, embora aprecie os poetas que alinham as palavras como só eles sabem.

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    1. Acho que a poesia dos grandes poetas, só eles a sabem entender. Nós, apenas gostamos, ou não!...
      Olhe, eu gostei daquilo que o José escreveu.

      Beijos. :)

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  2. Sendo o autor quem é o resultado só podia ser sublime.
    Beijinhos

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    1. Drummond de Andrade, a par de Manuel Bandeira, escreveram poemas divinais, que foram, e ainda são, objecto de análise por parte dos estudiosos da arte poética.

      Beijinhos.

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  3. Um poema extremamente difícil de interpretar (no meu ponto de vista).
    Muito "complexo" o Drummond de Andrade.
    Interpreto (por ele) que ao êxtase erótico, se segue uma tristeza da alma, uma sua ocultação misteriosa... como se a alma estivesse ausente (?). Que a alma está como que alheada da linguagem fértil do corpo. (?)... e que por isso a volúpia é triste após o êxtase !

    Sinceramente sinto dificuldade na interpretação do poema, Janita.

    Eu diria que corpo e alma estariam numa conjugação perfeita, após esse êxtase, mas quem sou eu ?... :)

    Abraçaço, de corpo e alma, Janita ! :))

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    1. Alguém disse um dia que os poemas não são para ser esmiuçados e dissecados, para serem entendidos, Rui.
      São retalhos da alma do Poeta, que ele colocou ao nosso alcance para nos maravilharmos com as palavras, quer as entendamos ou não. :)
      Mas, eu gostei muito da tua análise; o parecer de pessoa que lidou de perto com um grande Poeta.:)
      Obrigada, Rui.

      Beijinhos, de alma e coração.

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  4. Confesso que me identifiquei com as palavras do Rui.
    Bjs

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