sexta-feira, 31 de março de 2017

Já Fui Feliz Aqui. [ XXIX ]





NUM TEMPO EM QUE FUI FELIZ E NÃO SABIA...

...PENSANDO QUE O SENTIMENTO QUE ME INUNDAVA A ALMA,

NESTE DIA, E EM TODOS OS ANTERIORES,

  ERA SOMENTE  ALEGRIA.


TARDE, POR VEZES, TARDE DEMAIS

 DESCOBRIMOS QUE A FELICIDADE ESTÁ NA NOSSA INOCÊNCIA,

 NÃO  NAQUILO QUE NOS RODEIA.








quarta-feira, 29 de março de 2017

BLUFF...

DAQUI

O quarto encontrava-se completamente às escuras. O vento e a chuva fustigavam as janelas. Estava deitada na cama a ouvir a tempestade, de olhos fechados, respirando um ar pesado, sufocante, tapada apenas com um fino lençol.
Na sua mente teimava em passar, como num filme, a imagem de alguém que não conhecia, mas à qual havia dado uma identidade. Ilusória, sabia, tanto mais que não conseguia dar-lhe forma, apenas se delineavam traços de uma personalidade forte. Ah, aquela voz extraordinariamente doce e profunda... O equívoco na chamada telefónica que não lhe era destinada roubara-lhe noites de sono transformando-as em pesadelos.
Soltando um suspiro resignado e simultaneamente decidido, eliminou aquele número maldito que teimava em dançar na frente dos seus olhos. Sentia a pele escorregadia de suor.


Com um ruído surdo fechou bruscamente o livro.

Raio de vida aquela. Maldita obsessão a sua por romances em que imaginava sempre que a personagem central, uma bela e solitária mulher, vivia na incessante procura do homem ideal…que poderia perfeitamente, ser ele... e nunca era!...




                                                 

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segunda-feira, 27 de março de 2017

O Sono, Lugar Onde a Paixão Amansa



Pierrot escondido por entre o amarelo dos girassóis espreita em cautela o sono dela dormindo na sombra da tangerineira. E ela não dorme, espreita também os olhos descidos, mentindo o sono, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silêncios, por entre o amarelo dos girassóis.
E porque Ele se vem chegando perto, Ela mente ainda mais o sono a mal-ressonar.
Junto d'Ela, não teve mão em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pé pequenino. Depois os joelhos redondos e lisos, e já se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ela acordou cansada de tanto sono fingir.
E Ele ameaça fugida, e Ela furta-lhe a fuga nos braços nus estendidos.
E Ela, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdão.

E, feitas as pazes, ficou combinado que Ela dormisse outra vez.



A Sesta -  de José Almada Negreiros


Texto publicado em 1913 no primeiro número da revista Orpheu. Em 1939 surge o desenho a carvão, com o mesmo título )



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domingo, 26 de março de 2017

SE...





Se
 tudo fosse fácil
Como aparenta ser
Eu pintaria como Ingres…
…mas fácil...fácil, nada é.
Nem o meu amor
Por ti.



Aviso à navegação: Quem não vir o vídeo não perceberá o "poema".


"A Grande Odalisca"   DAQUI




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sexta-feira, 24 de março de 2017

As Sapatilhas.



Comprei sapatilhas leves, confortáveis, para poder correr melhor e com mais velocidade atrás da Felicidade.
Depois pensei...para quê correr atrás de quem sabe onde me encontrar?
 Guardei as sapatilhas e fiquei quieta no mesmo lugar. 
 Quem quiser que me venha procurar!!...:))


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quinta-feira, 23 de março de 2017

Já Fui Feliz Aqui [ XXVIII ]




Com o meu neto João numa fase adorável da sua idade, em que me deu tanta, mas tanta alegria e felicidade...




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quarta-feira, 22 de março de 2017

Da Dor e Do Pranto.




A Chuva Desce a Ladeira


A água da chuva desce a ladeira. 
É uma água ansiosa. 
Faz lagos e rios pequenos,

 e cheira a terra a ditosa. 

Há muitos que contam a dor e o pranto 
De o amor os não querer... 
Mas eu, que também não os tenho,


 o que canto, é outra coisa qualquer. 



(Fernando Pessoa)



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terça-feira, 21 de março de 2017

Das Estrelas.






Estrelas há muitas
Chaparros há mais
Estrelas de seis pontas
São como pardais
Voam e saltitam
Subindo e descendo
Um dia lá ficam
Lá ficam gemendo
Ninguém acredita
Pensam que é mentira
E a estrela lá fica
Esperando o milagre
Que nunca acontece
Na noite que cai
Da Lua que cresce
Caiu uma estrela
Diz-se que do céu
E na árvore ficou
Fruto sem sabor
Santa sem andor
E o mundo escurece





É favor clicar que isso é um link





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segunda-feira, 20 de março de 2017

ODE À PRIMAVERA

A vida anda possessa de Poesia!
Anda prenhe de mosto.
Ou é da luz do dia
Ou é da cor do rosto.
Ou então quer abrir-se, neste gosto
De pão com todo o sal que lhe cabia!

Tem narcisos de amor no coração
Folhas de acanto nos sentidos!
E carícias na mão

A espreitar dos tendões adormecidos!


Toca-se numa pedra, e ela treme.
Murmura-se uma prece, e a boca grita!
A rabiça do arado é como um leme
Sobre a terra que ondula e ressuscita.

Quem avoluma a sombra, ou quem a teme?
Cada presença é um hino que palpita
E se na estrada alguém discorda e geme
Ninguém que vai no sonho o acredita!



Serás tu, Primavera?
Tu, com frutos na rama do futuro
Com sementes nos pés
E flores inúteis sobre cada muro
Contentes só da graça que tu és!

(Poema de Miguel Torga)



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domingo, 19 de março de 2017

UM GRÃO DE TRIGO




        ORAÇÃO AO PÃO

( EXCERTO )


Com quantos grãos de trigo um pão se fez?
         Dez mil talvez?


Dez mil almas, dez mil calvários e agonias
     Todos os dias


Para insuflar alentos n’alma impura
           Duma só criatura


Antes que o mordas, tigre carniceiro
   Ergue-o na luz, beija-o primeiro


A humanidade é seara imensa em chão de areia,
    Que Deus recolhe e Deus semeia


E cada homem, quer o rei, quer o mendigo,
    É na seara de Deus um grão de trigo.





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quinta-feira, 16 de março de 2017

Antes Prevenir...

....Vá que a PrimaVera surge chuvosa, desgovernada e me desfolha as flores?




Ao ver o céu tão azul e as magnólias sorrindo para as azáleas, antecipei-me.





Certo é que já conheceram tempos melhores, em viço, beleza e esplendor... mas também eu já não sou o que era. E jardineiro não há!

Estas, não sei como se chamam.
Sabem?
 Aquela tampa, ali, também era escusado ficar a desfear o retrato. Mas, olhem, cada um mostra o que tem e há pouquinho não houve tempo para embelezar nem cortar o que não deveria mostrar. Nem sequer limpar as flores secas.
 Fotografei e vim numa corrida mostrar-vos estes pedacinhos de cor, antes que venha a chuva e estrague tudo.
Gostaram?

Adenda - Esta foto foi tirada hoje, um dia depois, com as flores da magnólia totalmente abertas. O poder  do Sol é incrível!!...Com  ele, tudo sorri e espelha alegria. :)




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quarta-feira, 15 de março de 2017

Das Recordações.



Ele deixava atrás tanta recordação!
E o pesar, a saudade até no próprio chão,
Debaixo dos seus pés, parece que gemia,
Levantava-se o sol, vinha rompendo o dia,
E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor
Vestiam-se de luz, como um peito de amor.



A  foto é da autoria do meu Amigo MFC, que abandonou a blogosfera, mas deixou as portas abertas para que o possamos revisitar, sempre que a saudade bater mais forte.

Obrigada, Manel!




As rimas emparelhadas são de:         
 (Alberto de Oliveira)  


De verdadeiramente meu este post tem: o pensamento, as emoções, a saudade e as recordações!!


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terça-feira, 14 de março de 2017

Não te Esquecemos e Continuamos a Gostar de Ti, Nicolau!

Faz hoje um ano que Nicolau Breyner abandonou o palco da vida.

"Quero que me recordem com um sorriso" , disse numa entrevista no 'Alta Definição' .  Assim o quero recordar, hoje, e sempre!




mas fazes-nos muita falta, meu inesquecível conterrâneo.




Até Um Dia, Nico.

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sábado, 11 de março de 2017

Sabe o Que é Estar Mal-Maridada?...


...quer aprender a musicalidade das diferentes pronúncias das ilhas do Arquipélago dos Açores?

Então, vamos aprender e divertir-nos, aprendendo com quem sabe!! Bora lá...:)


                                          

O mê pai é  trovador
Minha mãe é cantadera
Ê sô filho deles ambos
Canto da mesma manera


Quem é que sabe dizer em que ilha ou freguesia
se canta assim? 
É muito fácil, basta verem o vídeo e estarem atentos
ao que nos ensina o Professor:
Victor Rui Dores. 





quinta-feira, 9 de março de 2017

Céu Sem Nuvens, Não é Céu.



Céu sem nuvens não é céu!
Pode ser o azul de um objecto qualquer.
Tela, porta, parede
ou ombreira de janela.


Hoje, foi assim que vi o meu
Eu gosto do azul do Céu
mas com desenhos de algodão


para que possa sonhar,
imaginando cordeirinhos, anjinhos
e que outras coisas serão...
senão…não!







  ☀ ☀ 

quarta-feira, 8 de março de 2017

HOJE, COMO N'OUTRO DIA QUALQUER...

...SOU MULHER!!


                                     



terça-feira, 7 de março de 2017

A VOZ DO MAR.


O Artur sentiu sobre a orelha uma coisa muito fria, com um som...
- O que é, mãe?
- Não ouves?
Sim, ouvia. Era um som pesado lá ao longe e que depois vinha, vinha e subia, e que depois se tornava mais brandinho, para logo voltar a vir de longe. Parecia música, mas não era bem música. E talvez fosse. Bom, não seria bem música.
- O que é, mãe? - Voltou a perguntar. - Que barulho é este?
- É o mar... É a voz do mar...
- A voz do mar?!
- O mar fica longe, mas a voz meteu-se aí dentro. Isto é um búzio.
- E onde nascem os búzios?
- No mar.
-Então é por isso que se ouve...
- Pois é. As ondas fazem um barulho assim quando se ouvem ao longe. E a gente está longe. Não ouves a voz que lá vem?
- Oiço.
- E depois quebra-se assim como as ondas na areia.
- Então isto é o mar? O mar é o oceano. No mapa chamam-lhe oceano. Parece que há vários... Eu já ouvi aos que andam no quarto ano: é o Oceano Atlântico, o Oceano Índico...
- Não achas que mar é mais bonito?
- Pois é, mar é muito mais bonito.
De repente, fechou os olhos e juntou as duas mãos sobre o búzio, apertando-o contra o ouvido.
- Agora deve ser um navio que lá vem. É mesmo, é, é um navio...
A mãe aproximou o ouvido, desviando o lenço.
- Não ouves?
Não, a mãe não ouvia. Mas o importante para ele era ter o mar apertado entre as mãos. Lá vinha uma onda...e outra...



Alves Redol, Histórias Afluentes 


[ Texto repescado de uma publicação de 2013 ]



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domingo, 5 de março de 2017

ESTRELA DA TARDE.

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia 
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.
 
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
 
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
 
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
 
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
 
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.
 



       
        


Imagem recolhida na Net


Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram 
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
 
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
 
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
 
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
 
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
 
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
 
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.
 


       
Meu amor, meu amor 
       Minha estrela da tarde
 
       Que o luar te amanheça
 
       E o meu corpo te guarde.
 
       Meu amor, meu amor
 
       Eu não tenho a certeza
 
       Se tu és a alegria
 
       Ou se és a tristeza.
 
       Meu amor, meu amor
 
       Eu não tenho a certeza!
 



Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
 
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
 
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
 
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
 
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
 


Ary dos Santos, in "As Palavras das Cantigas"

[ Este poema é, quanto a mim, o mais belo poema na história da Poesia Contemporânea ]

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