sábado, 29 de junho de 2019

A PORTA DA VERDADE.


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.




Fotografia minha


Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava

só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade resplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.




  “Verdade


[ Carlos Drummomd de Andrade ]

*  *  *  *

Creio que, neste texto poético, o objectivo do Poeta foi comprovar que não há uma verdade universal, já que o que constitui uma verdade para uns, pode não constituir para outros.


Gostaria de saber a vossa opinião, se a isso estiverem dispostos. Concordam com esta teoria, ou, pelo contrário, acreditam que a verdade é a verdade, e não pode haver duas verdades?


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45 comentários:

  1. Bom dia amiga Janita!
    Poema muito interessante:)
    Amei!
    Tenha um Santo e feliz fim de semana!
    Beijo de Paz e Bem...!

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    1. Grata pela simpatia, Josélia!

      Um beijinho com votos de bom fim-de-semana.

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  2. Já os filósofos gregos tinham chegado a essa conclusão.

    Que porta tão bonita. Adoro portas e janelas.

    Continuação de um verdadeiro fim-de-semana, querida JANITA 🌻

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    1. Se os filósofos o concluíram, é porque é essa a verdade, ou seja, a verdade verdadeira é algo inconclusivo por ser subjectivo! :)

      Também gosto muito de portas e janelas antigas. Esta fica numa casa antiga, na rua onde mora a minha filha.
      Ainda passei os dedos nessas partes esbranquiçadas, pensando ser pó, mas não era. :)

      Obrigada, querida Teresa.
      O mesmo te desejo.
      Beijinho

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  3. A verdade libertar-nos-á!!
    Há verdades absolutas. Tanto quanto sei 2+2=4 e não somos eternos. Não há dúvidas quanto a esta última afirmação se excluirmos aqueles “bichinhos” de que falei numa postagem que podem viver eternamente.
    Em muitas circunstâncias a verdade é subjetiva. Depende da nossa perceção, das nossas emoções do momento, da nossa experiência e dos nossos vieses/preconceitos.
    Duas pessoas observando e analisando uma situação que está a decorrer à sua frente, poderão analisá-la e relatá-la de uma forma diferente.
    Por isso afirmamos tantas vezes que a verdade é relativa. : )

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    1. Talvez Drummond de Andrade tenha pensado nas passagens bíblicas quando escreveu isto, não sei. Mas, eu não me sinto inclinada para essa vertente espiritual. Pensei mais nas vivências, no dia-a-dia, do comum dos mortais; pessoas como nós, afinal.:)
      Também não pensei na «verdade» matemática, nem na não eternidade da vida terrena, lógico.
      Já o parágrafo em que referes como pode ser analisada uma mesma situação, vista por várias pessoas e às eventuais diferentes conclusões a que cada uma chegou, se enquadra mais naquilo que eu tinha em mente. :) Não estando de acordo entre si, cada uma tem como verdade aquilo que presenciou ou ouviu...

      Beijinhos e bom fim de semana, Catarina. :)

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    2. Posso meter-me aqui no meio? Espero que sim e não me levem a mal, mas enquanto lia, lembrei-me de uma adivinha ou anedota: Quando é que 2 + 2 são 5?

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    3. Podes, pois, Gábi e deves!! :))

      Não quero ir pesquisar, seria fazer batota e tu não mereces isso. :)
      Será que é porque uma dessas 4 é uma fêmea grávida? :))
      Diz lá tu.

      Beijinhos.

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    4. Poderia ser, mas quando li foi como anedota e a resposta é:

      - Quando a conta está errada :)


      um beijinho

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  4. Oops!
    Gostei da porta e o poema foi bem escolhido!
    Bom fim de semana!
    : )

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    1. Não te preocupes, Catarina...quantas vezes comento sem manifestar o meu agrado pelo que comentei? Se lá fui, li e 'falei' é porque gostei! :))
      Ainda assim, fico contente por teres gostado do que eu gostei...;)

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  5. Tirando a verdade universal - tudo o que nasce morre e as tais contas de aritmética, toda a verdade pode ser encarado de várias maneiras por pessoas diferentes.
    Eu já cheguei a ter que considerar não ser verdade o que para mim o era! :)

    Abraço

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    1. Nem mais, Leo! Não há uma verdade absoluta, quando o que está em causa é a nossa verdade pessoal. Mas também pode ser que a nossa verdade seja a tal verdade que não se baseia no conceito geral daquilo que é tido como verdadeiro...:)

      Abraço e bom fim de semana.

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    2. Esqueci-me de te dizer que a foto é linda!

      Abraço

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    3. Muito obrigada, Leo! :)

      Um beijinho e boa semana.

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  6. Gostei do poema, muito... Quando aos factos das verdades. Tudo é relativo, digo eu, não sei:))

    Hoje:-Inconsciência Desmedida

    Bjos
    Votos de bom sábado e um óptimo fim-de-semana.

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    1. E diz muito bem, querida Larissa.

      Um beijinho e bom fim-de-semana. :)

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  7. Queridos leitores amigos,

    já está no blog o capítulo 2 de "Variações em Quadrilha", que vos convidamos a ler.
    https://contospartilhados.blogspot.com/2019/06/variacoes-em-quadrilha-capitulo-2.html

    Com votos de excelente fim-de-semana,
    saudações literárias!

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    1. Obrigada pelo convite. Irei ler com gosto assim que possa.

      Saudações bloguistas!

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  8. Boa proposta! Como já dito acima, há verdades verdadeiras que ninguém pode negar, e outras que dependem do ponto de vista pessoal. E mesmo as verdadeiras, é conforme o tempo, o lugar e a cultura: não era verdade que o Sol girava em torno da Terra ou que o Papa era (é?) infalível?
    Então hoje em dia, com as fake news, um cidadão nem sabe em que mundo se movimenta. Assunto que dava pano para mangas...
    Conto uma verdadeira: numa roda de mulheres ditas de soalheiro, uma delas, cega, afirmava não sei o quê e foi-lhe perguntado: mas tu viste?; vi!, responde a cega. Repito: esta história é verdadeira.
    (Como ontem não visitei o Cantinho, aí vai hoje:
    conhecia ambas, embora o final da segunda fosse diferente, mas confesso que não me recordo qual era. Apreciei alguns dos comentários, bem esgalhados).
    Se for festejar o São Pedro, divirta-se. Faça favor de ter um bfs e aceite um beijinho repenicado.

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    1. Uma grande e insofismável verdade, é o facto do muito que tenho aprendido com o José! Este seu comentário traz a lume algo que me leva a uma reflexão profunda.
      Essa história verdadeira, pode ser entendida por muitos como uma mentira dita pela mulher cega, mas sabe que eu entendi, e senti, porque razão ela disse que viu, sendo invisual? Entendi e acredito, mesmo sem enveredar pelo campo místico.
      Também não irei escalpelizar o que penso, tão somente porque sei, que o José sabe, a razão porque o sei.:)

      Não, não vou festejar o São Pedro, na verdade, esqueço sempre estas festividades populares, derradeiras.

      Aceito e retribuo o beijinho repenicado. :)

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  9. Filosofia nan é minha praia mas gosto de ler.
    Bjs
    JAFR

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    1. Para lhe ser muito sincera, JR, também não me sinto muito à vontade com estes temas complexos mas, só com a sua abordagem, poderei ir alargando os meus conhecimentos sobre, e, sobretudo, saber o que os outros pensam.

      Grata por ter vindo.
      Um abraço e bom fim-de-semana.

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  10. É tudo, tudo mesmo, uma questão de perspectiva e não creio que haja uma única porta da verdade. Acredito, sim, que haja milhões de portões, portas e portinholas, cada uma delas conduzindo a uma específica parcela da verdade.

    Beijinho e bom Domingo, Janita :)

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    1. Ah, Mª João, quando a mentira se quer camuflar de verdade, encontra sempre uma frincha da porta, por onde entrar. Aí, é que fica complicado destrinçar a verdade da mentira. :)

      Bom resto de Domingo.
      Beijinho.

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    2. Sem dúvida, Janita!

      Estou no entanto convicta de a que a mentira também se confronta com o tal problema das duas metades de nós; para uma metade, soará profundamente aliciante e, para a outra, soará a falso.

      Além do mais, a mentira sofre de um gravíssimo distúrbio de personalidade. É frequente depararmo-nos com mentiras que estão profundamente convictas de serem verdades...

      Beijinho e votos de uma boa semana! :)

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    3. Maria João.

      Adepta que sou da sabedoria dos antigos, que se baseava na experiência de vida e se ia transmitindo, de geração em geração, acredito piamente que a verdade, nua e crua, é como o azeite: vem sempre ao de cima..

      Já me custa muito a crer que, uma mentira dita muitas vezes, soe a verdade. :)

      Beijinho e excelente semana.

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  11. Verdade verdadinha? Ora, ora, cada um tem a sua e às vezes pode acontecer serem coincidentes.
    Sem filosofias (tema que não é visita cá do galinheiro) aceito a parte das meias verdades porque entre umas e outras encontramos (quase) sempre pontos coincidentes.
    Esta é a minha verdade. Ou meia...

    Beijokas e risadas às metades (que juntadas serão inteiras):))

    §- uma verdade verdadeira e que não deixa dúvidas é: o nascer!
    (haverá quem duvide?)

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    1. ... e o morrer também ‼

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    2. Kok...juntando as tuas meias verdades às minhas, conseguiríamos a verdade completa, mas não quero. Ficas com a tua metade que eu fico com a minha...:))

      Beijos e sorrisos.

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    3. Teresa

      Tiraste-me as palavras da boca...:))

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  12. A minha verdade é sempre mais verdadeira que a do outro... :))
    Bom domingo Janita.

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    1. Há pessoas que nisto da verdade, funcionam ao contrário do olho gordo da vizinha; a tal que acha que a galinha alheia é mais gorda do que a sua...ehehehe

      Boa semana, Luísa!

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  13. Acho que depende das situações... mas há aqueles que só vêm a verdade que lhes interessa.

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  14. Eu tenho um "modo " de viver que é: se posso e não vou prejudicar ninguém, omito uma situação, mas depende do caso e da pessoa se for atingir alguma. Mas, por outro lado, prefiro sempre, mas sempre a verdade, meias verdades, em minha opinião não existe ou não deve.
    Beijinho Nita

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    1. Querida Mena.
      Sempre considerei que: "omitir, não é mentir". Ninguém é obrigado a dizer tudo o que pensa e se passa na sua vida.
      O que condeno veementemente, é que, de forma ardilosa, se mascarem sentimentos e situações, tendo como fito manter uma imagem de pessoa com conduta irrepreensível e 100% confiável.
      Mas isto sou eu a pensar alto e nem tem nada a ver contigo.

      Isso das meias-verdades, tema abordado pelo Poeta, significa apenas - no meu ponto de vista - que algo que hoje se vê como certo, amanhã pode não o ser.

      O mundo dá tantas voltas...

      Beijinho, Nina. :)

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  15. Afinal não sou só eu que mudo de visual, esta porta está uma preciosidade, o que para mim é uma verdade sem meios termos.
    Quanto ao assunto para reflexão, tudo depende do ponto de vista, para alguns há as meias, para outros e falo por mim, tudo é pão, pão, queijo, nessa porta devia entrar a verdade inteirinha, doa a quem doer.
    Boa semana sem dores😊

    Beijinhos Janita
    😘😘😘

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    1. :)) Sabes, Manu? Decidi mudar o meu 'cabeçalho' consoante forem as publicações. Não chega a ser uma mudança de visual, já que o formato do blogue continua igual. É só para quebrar um pouco a monotonia visual de quem aqui entra com alguma assiduidade. :)

      Pois...por eu ser tão pão-pão, queijo-queijo, é que têm confundido as minhas palavras e me dão nas orelhas.
      Mas eu confio muito que o tempo me dará razão.

      Beijinhos e boa semana, Manu.

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  16. Boa tarde Janita,

    Vou também "meter a colherada".

    Penso que este assunto dá "pano para mangas".

    Eu não me considero mentirosa e abomino a mentira. Por isso, acredito que a verdade vem sempre ao de cima.

    Outra coisa é a opinião de cada um. Diz-se que "até um relógio parado dá as horas certas duas vezes por dia".

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins

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    1. Entre, tome assento, e sinta-se à vontade, Sandra. :)

      Gostei de 'ouvir' a sua opinião que, por sinal, coincide com a minha.

      Gostei desse aparte do relógio parado.:)

      Não é à toa que um blogue, que tenho o enorme prazer de ler e ter na minha lista, diz que não há nada mais livre do que um relógio parado! Apeteceu-me acrescentar: «Livre e verdadeiro»!

      Um beijo nortenho, e o meu obrigada, pela sua oportuna colherada. :)

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  17. Mais do que certa que podem existir duas, três, quatro, cinco, etc., tantas quantas as pessoas que viveram algo, e podem ainda multiplicar-se as versões enquanto o tempo passa, e será verdade quando se crê no que se diz ou lembra
    agora vou ler os comentários que antecedem para saber a resposta...

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    1. Ehehehehe...Tão certa é a verdade como dois e dois serem cinco, Gábi?

      Beijinho

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  18. Já de volta
    Enquanto lia pensei nas vezes em que gostaria de ter uma máquina do tempo para saber como é que algo realmente se passou
    Gostei das imagens em cima e da porta
    um beijinho

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    1. Pois eu não era bem uma máquina de tempo que gostaria de ter. Era um fato que me tornasse invisível.
      Presenciaria variadíssimas conversas e situações, para as puder ter como certas...isso, do diz que diz, nunca é confiável. :)

      Obrigada, Gábi.

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