Ó raça triste, ó raça espúria
De miseráveis sem valor
Sob o azorrague e sob a injúria
É de comédia a vossa fúria
É de entremez a vossa dor.
Que admira que uma pantera
De garras d’aço e olhar sombrio
Coma, num bom jantar de fera,
Um povo podre, que tolera
Os dentes maus dum cão vadio?!
Pois esse povo agonizante
Quando revive para a História
E vai, frenético e radiante,
Saudar a estátua do gigante
Cantor da sua eterna glória.
E ousais falar, bocas impuras
Em glória, em honra, em Pátria, em Deus!
E ousais erguer das sepulturas
Nossas hercúleas armaduras
Chatins! Chatins! Pigmeus! Pigmeus!
(…)
Vede lá, pois, corvos funéreos
Que orgia opípara de rei!
Goelas sinistras de Tibérios
Roucos glutões de cemitérios
Comei! Comei! Comei! Comei!
O garfo e a faca, o dente e a presa
Cravai, cravai nesse festim
Comei, limpai de todo a mesa
Que nem suspeita d’impureza
Dessas carcaças reste, enfim!
E por padrões assinalados
De tantas glórias imortais,
Basta que o ferro dos arados
Encontre um dia entre os silvados
Blocos dos nossos pedestais!