Perante tão cruel infortúnio fica a ansiosa donzela em fofo leito, desfeita em lágrimas sentidas...
Agora com o seu sonho desfeito lá terá que se preparar para novas investidas...
Tentei encontrar um poema de Bocage que casasse bem com este caso. Após algum tempo de infrutíferas pesquisas, acabei por me inspirar no 'soneto da donzela ansiosa' e escrevi eu este simples poeminha.
Creio que assim fica o ramalhete mais compostinho... Porém, o julgamento ficará a cargo dos meus caríssimos leitores/leitoras.
Guimarães Rosa foi avisado por uma cigana: «Vais morrer quando realizares a tua maior ambição»
Coisa estranha: com tantos deuses e demónios que este homem tinha dentro de si, era, no entanto, um cavalheiro muito formal. A sua maior ambição consistia em que o nomeassem membro da Academia Brasileira de Letras.
Quando o designaram, ele inventou desculpas para adiar a sua entrada. Inventou desculpas durante anos: a saúde, o tempo, uma viagem...
Até ter decidido que já eram horas.
Realizou-se a cerimónia solene e, no seu discurso, Guimarães Rosa disse: «As pessoas não morrem. Ficam encantadas.»
Três dias depois, numa tarde de Domingo, ao voltar da missa, a mulher encontrou-o morto.
Texto de Eduardo Galeano, transcrito do seu livro: "Dias e Noites de Amor e de Guerra".
Pág. 167
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João Guimarães Rosa foi um poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos.
«Esta noite cantarei" - disse- «e de manhã chorarei»
E chorou, quando o sol espreitou sobre o horizonte...
[Eduardo Galeano]
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Nota: Tudo nesta vida é um dar e receber. Neste convívio virtual no nosso blogobairro, tudo é igual como acontece na vida real. Partilhamos ideias, sonhos, alegrias e tristezas, tudo através dos comentários que recebemos e oferecemos nos nossos cantinhos. Isso é o mínimo com que podemos retribuir a atenção de quem nos visita, oferecer também umas palavras em troca dessa gentileza. Ultimamente, pelos motivos que já mencionei, não o tenho feito, apesar de hoje, no final do dia, me ter sido comunicado que a anomalia técnica, que me impediu de vos visitar, estava reparada. Entretanto, voltei aos meus livros e a outras actividades que havia posto de lado em prol da blogosfera. Aos poucos irei voltando.
Agradeço de todo o coração a atenção que me têm dispensado.
Um abraço carinhoso e o meu muito obrigada a todos vós, amigos virtuais.
ESTE É PARA OS QUE DIZEM ESTAR FARTOS DE VER E OUVIR
TANTO FALATÓRIO NA REALEZA...
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NOTA: ESTA PUBLICAÇÃO ESTÁ UM POUCO "FORA DE PRAZO" POIS EM VIRTUDE DE UMA ANOMALIA TÉCNICA SÓ AGORA ME FOI POSSÍVEL FAZER A EDIÇÃO. SÓ A PARTIR DO PRÓXIMO DIA 19 - SEGUNDA-FEIRA - O EXPEDIENTE DESTE ESPAÇO SERÁ COMPLETAMENTE RESTAURADO. O MEU AGRADECIMENTO A TODOS OS VISITANTES E AMIGOS.
"Não podemos pretender ser os primeiros, ou os preferidos, somos apenas quem está disponível, os restos, as sobras, os sobreviventes, o que vai ficando, os saldos, e é com esse pouco nobre que se erigem os maiores amores e se fundam as melhores famílias..."
Javier Marías
O escritor Javier Marías, autor de romances como "Coração tão Branco" ou "Todas as Almas", morreu este domingo, dia 11 de setembro, aos 70 anos, num hospital em Madrid, após o agravamento da doença pulmonar de que sofria.
Há já uns anos que tenho no meu espaço o blog, com o seu nome, que me ia dando a conhecer as suas mais recentes obras literárias bem como os prémios com que ia sendo distinguido. Penso, que seria/seja a sua editora a gerir esse espaço na blogosfera. A notícia da sua morte foi algo que me colheu de surpresa, uma vez que desconhecia a doença e o internamento do escritor.
Valéria pede ao Pai que vire o disco. Explica-lhe que Arroz con leche* vive no outro lado.
Diego conversa com o seu companheiro interior, que se chama Andrés e é o seu esqueleto.
Fanny conta que hoje mergulhou com a sua amiga no rio da escola, que é muito fundo, e que lá embaixo era tudo transparente e viam os pés das pessoas grandes, as solas dos sapatos.
O Cláudio agarra num dedo de Alejandra e diz «empresta-me o dedo» e mergulha-o na caçarola de leite que está ao lume, porque quer saber se não está muito quente.
Do quarto, a Florência chama-me e pergunta se sou capaz de tocar no nariz com o lábio de baixo.
Sebastián propõe que fujamos num avião, mas avisa-me de que é preciso ter cuidado com os serámofos e com a hécile.
Mariana, no terraço, empurra a parede, que é o seu modo de ajudar a Terra a girar.
Patrício segura um fósforo aceso entre os dedos e sopra a chamazinha que nunca se apagará.
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* Canção tradicional infantil. (N.T.)
Nota da administradora do espaço:
Caros Amigos, visitantes e leitores que me acompanham nesta jornada blogueira. Como podem constatar recuei no número das páginas do livro que ando a ler e pensei partilhar convosco alguns textos, não todo o conteúdo do livro, obviamente. E recuei porquê?
Pois para vos mostrar que este é um livro especial, feito de textos e narrativas escritas pelo seu autor, durante o exílio. Não aquilo que alguns de vós pensasteis quando leram a Adenda que introduzi na primeira publicação acerca desta obra. O que une estes textos aparentemente dispersos, é a vontade do autor: Eduardo Galeano, cristalizar os dias intermináveis e as noites passadas em claro, onde entre a censura e o cadafalso escolheu Amar e Lutar.
Por favor, não deixem de exprimir as vossas opiniões de acordo com os textos que forem sendo apresentados.
...a minha modesta e sentida homenagem. Ainda que o faça usando palavras de outrém... pois qualquer coisa que eu escrevesse...seria muito, muito pouco, para quem tanto merece.
Os corpos, abraçados, vão mudando de posição enquanto dormimos, olhando para aqui, olhando para acolá, a tua cabeça sobre o meu peito, a minha coxa sobre o teu ventre, e ao girarem os corpos vai girando a cama e giram o quarto e o mundo.
«Não, não», explicas-me, julgando estar acordada. «Já não estamos aí. Mudámo-nos para outro país enquanto dormíamos»
Eu contava-te histórias de quando era pequeno e tu vía-las acontecer na janela.
Vias-me em miúdo a andar pelos campos e vias os cavalos e a luz e tudo se movia suavemente.
Então apanhavas uma pedrinha verde e brilhante do peitoril da janela e apertava-la no punho. A partir desse momento eras tu quem brincava e corria na janela da minha memória e atravessavas, galopando, os prados da minha infância e do teu sonho, com o meu vento na tua cara.
- Tive um sonho horrível. Conto-o amanhã, quando estivermos vivos. Quero que já seja amanhã. Porque não fazes do agora amanhã? Como gostaria que já fosse amanhã.
Breve nota da autora do blog: Como se pode constatar pela numeração de páginas destes textos poéticos, não há uma sequência nem coordenação de temas, apesar do autor do livro -"DIAS E NOITES DE AMOR E DE GUERRA" - lhes atribuir o mesmo título. Assim são feitas as nossas memórias. Voam, leves e soltas, ao sabor dos ventos que habitam na nossa alma.