Foi durante o ano de 1996 que tive o meu período Paul Auster! As minhas leituras foram sempre muito pragmáticas. Leio um livro de determinado autor e durante meses, já para não dizer anos, não sinto apetência por mais nenhum. E vou lendo e lendo sempre o mesmo autor até quase à exaustão. Já assim foi com Gabriel Garcia Marquez, Joanne Harris, Patrick Redmond, Jorge Amado, Elisabeth George e tantos outros. Quantas e quantas tardes de sábado passei na FNAC, de um Centro Comercial bem conhecido da cidade do Porto, a procurar novos romances do autor eleito, no momento. Depois que a Net e os blogues entraram na minha vida a leitura passou para segundo plano.
Contrariamente àquilo que possa parecer não venho falar de literatura apenas. Hoje ao arrumar uns livros na prateleira de uma estante, soltou-se uma folha com algumas anotações de dentro do romance Leviathan do escritor acima referido. Costumo anotar alguns parágrafos ou frases quando elas vêm de encontro a algo que se enquadra na minha própria vida ou por qualquer motivo me deslumbram especialmente. Da página 120 retirei esta frase: "Diz-se que uma máquina fotográfica pode roubar a alma a uma pessoa".
Da página 30 anotei um parágrafo que me fez lembrar de uma das minhas aventuras mais ousadas e solitárias de toda a minha vida. Tudo isto com uma data: 02/ 09/ 96 a 08/09/96.
"Não foi por pensar que podia realizar alguma coisa lá, mas porque sabia que não seria capaz de viver consigo mesmo se não fosse."
E fui pois, e li exaustiva e teimosamente Paul Auster e ouvi Nat King Cole e vi o Templo de Diana e a Capela dos Ossos... Sozinha...mas fui! Ai...Évora...Évora!
A Máquina Fotográfica
É na câmara escura dos teus olhos
Que se revela a água
Água imagem, água nítida e fixa
Água paisagem
Boca, nariz cabelos e cintura
Terra sem nome
Rosto sem figura
Água móvel nos rios
Parada nos retratos
Água escorrida e pura
Água viagem trânsito hiato.
Chego de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já suei o suor de oito séculos de mar
O tempo de onze meses de ordenado
Por isso, meu amor, viajo a nado
Não por ser português mal empregado
Mas por sofrer dos pés e estar desidratado.
Chego. Mudo de fato. Calço a idade
Que melhor quadra à minha solidão
E saio a procurar-te na cidade
Contrastada violenta negativa
Tu a única sombra murmurada
Única rua mal iluminada
Única imagem desfocada e viva.
Moras aonde eu sei.
É na distância
Onde chego de táxi.
Sou turista
Com trinta e seis hipóteses no rolo
Venho ao teu miradouro ver a vista
Trago a minha tristeza a tiracolo.
José Carlos Ary dos Santos
Imagens da NET
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Si aquí también lo tenemos ese gran comercio FNAC y en verdad encuentras lo que quieras y sino te lo traen.
ResponderEliminarSi te rompe el alma una cámara fotográfica cuando te contemplas en lo por ella captado.y te preguntas este esta soy yo,pues en el espejo todos los días parece que te ves mejor.
Saludos
A verdade é que quando tiro um retrato, quando consigo receber e perceber um olhar, é como se captasse uma alma. Mas sou mau leitor de almas. Quanto a leitor de livros, acho que vou ter vergonha de escrever isto mas nunca li Paul Auster, embora faça parte do recheio da minha biblioteca. Ainda não calhou. Até porque eu sou muito variado nas escolhas. Acabei de ler Rentes de Carvalho, já estou a ler Amin Mallouf :).
ResponderEliminarAi, que chatice, não escrevi no final da mensagem as minhas beijocas de boa noite / bom dia!
ResponderEliminarJanita, que postagem mais gostosa, parece que agora eu te conheço bem melhor. Cada um é de um jeito,não é mesmo? Eu nunca repeti, assim, em seguida, um autor, mesmo tendo gostado do livro e hoje, como você, a leitura ficou em segundo plano, o que é uma pena. Mas, blogar põe a gente em contato com o mundo e, pra quem, como eu, tem uma atividade solitária como a pintura, a conversa é muito importante. Quanto à máquina roubar a alma, sei que os índios, aqui, é que dizem isso e não se deixam fotografar (os que ainda não tem contato com a civilização). Um beijinho, uma boa noite pra você
ResponderEliminar"Diz-se que uma máquina fotográfica pode roubar a alma a uma pessoa". Bom isso era no tempo em que as pessoas tinham alma e as máquinas fotográficas nos davam o "negativo"...
ResponderEliminarQuanto ao hábito de anotares o que lês e te vai na alma (tua ainda a tens), que trabalhos te dá o nosso Ary, anotando cada verso seu...
Acho que uma máquina fotográfica não nos rouba a alma, mas capta o momento e muitas vezes, os estados de alma de quem é fotografado.
ResponderEliminarGrande poeta, Ary dos Santos!
Bom fim de semana!
Feliz fin de semana y feliz puente.
ResponderEliminarUn abrazo.
Eu não chamaria graaaaaaande aventura ir a Évora, mas pronto. Tivesse sido a Khandahar e aí sim, ficaria rendido ao teu espírito aventureiro. ;)
ResponderEliminarBeijocas!
Minha amiga:
ResponderEliminarQue post comovente e que te deve ter dado tanto prazer/sofrer fazer.
Tenho livros que marcam cada período da minha vida, nunca anotei nada, mas muitos têm as marcas de lágrimas e flores murchas guardadas com carinho.
Adoro Ary dos Santos e confesso que não conhecia este poema dele que tem a sua marca também.
Estou de partida, obrigada pelo teu carinho, prometo tirar fotografias...com alma :D
beijinhos
Um bom post, tal como nos habituaste!
ResponderEliminarMas um post intrigante... onde as coisas são ditas de um modo vago... misterioso até!
Mas que me deu que pensar... é verdade!
Beijinhos, Janita.
Boa noite amiga Janita, estou passando em seu cantinho, para lhe desejar um óptimo fim de semana.
ResponderEliminarGostei do poema, menos da tristeza que se pode transportar. Mesmo que possa ser a tiracolo. Neste caso está a referir-se à máquina fotográfica!
Durma bem e sonhe lindo,
Um beijo
Eduardo.
Tu e a tua alma de poeta,apresentando poemas lindos que nos deixam a pensar.
ResponderEliminarSabes amiga,ás vezes não dá muito jeito pensar...a cabeça está cheia de outras coisas mais assustadoras que nos tiram até o sono e a possibilidade de perceber quão bela a vida podia ser e damo-nos conta disso ao ler um belo poema.
Para ti um bom Domingo e uma ótima semana.
Um grande beijinho da amiga...Miuíka
Quando tiro fotografias não tenho a sensação de roubar nada, apenas a de que estou a capturar um momento da minha vida, que decidi guardar no baú das minhas memórias.
ResponderEliminarJá tive um período da minha vida em que também condicionava as minhas leituras pelos autores, mas hoje sou bastante mais eclético. No entanto, há autores que, logo que publicam um novolivro, e corro para Bertrand a comprar.
Fico sem palavras.
ResponderEliminarNão só por me deixar maravilhado com o que escreve mas muito especialmente pelos seus pensamentos.
É um encanto ler o que nos deixa.
Volto, para lhe deixar um
ResponderEliminarAVISO IMPORTANTE
Venho avisá-la, por falta de outros meios, que meu livro vai conter palavra sua. Posso? Trata-se da minha decisão de escrever um prefácio com comentários de amigos feitos durante a edição de capitulos no meu blogue. Espero que aprove...
Se quer ver a capa, visite o meu blogue.
Olá, Janita!
ResponderEliminarMuito tem este poste para debulhar, em particular o Ary, com o pensamento sempre atulhado de metáforas que nem sempre são pêra doce de decifrar para o comum dos mortais...!Mas, ainda assim, consegue-se chegar lá, ao sítio onde ele nos quer levar.
E por vezes também nós fazemos questão de irmos a algum lugar,real ou imaginário ... ou fazer algo aparentemente sem sentido, mas que no subconsciente não deixa de fazer sentido para nós: É assim como que uma aposta que fazemos com nós mesmos, e que depois sentimos que não podemos perder... sob pena de ficarmos mal connosco...não é...?
Gostei do post; parabéns!
E boa semana; beijinhos.
Vitor
A propósito de Paul Auster: li o último livro dele "Sunset Park" no original em inglês e foi uma delicia saber que o autor que tantos bons momentos nos proporcionou no passado, ainda continua com a escrita e principalmente a imaginação afiada.
ResponderEliminarIsto de coincidências tem mesmo a ver com Paul Auster... e juntar-lhe o Ary, deixa-nos uma imagem bem composta.
ResponderEliminarbeijinhos.
Olá Janita, até que enfim que consigo comentar em quase todos os blogs. Não tenho nada no mail que me tivesses mandado. Tive uns problemas com ele e quando o consegui abrir tinha mil oitocentos e tal mails. Estive a ver um por um e não achei nada. Agora vamos ao poema que cada vez que te leio deixas-me sempre a pensar. Amei demais este poema. Quanto ao roubar da alma... ninguém rouba sem consentimento e luta. Beijos com carinho
ResponderEliminarEsqueci-me de te deixar o mail. Beijos
ResponderEliminarroseira-branca@sapo.pt