Retrato de Matilde Urrutia terceira esposa de Pablo Neruda, by Diego Rivera
( Fonte)
"O Amor por Matilde e os Versos do Capitão"
"Vou contar-vos agora a
história deste livro, um dos mais controvertidos daqueles que escrevi.
Foi durante muito tempo um segredo, durante muito tempo não ostentou o meu nome na capa, como se o renegasse ou o próprio
livro não soubesse quem era o pai. Tal como os filhos naturais, filhos do amor natural, «Los versos del capitán» eram, também, um «libro natural».
Foi durante muito tempo um segredo, durante muito tempo não ostentou o meu nome na capa, como se o renegasse ou o próprio
livro não soubesse quem era o pai. Tal como os filhos naturais, filhos do amor natural, «Los versos del capitán» eram, também, um «libro natural».
Os poemas que contém foram escritos aqui e ali, ao longo do meu desterro na
Europa. Foram publicados anonimamente em Nápoles, em 1952. O amor por Matilde,
a nostalgia do Chile, as paixões cívicas, recheiam as páginas desse livro, que
teve muitas edições sem trazer o nome do autor.
Para a 1ª edição, o pintor Paolo Ricci conseguiu um papel admirável e antigos tipos de imprensa «bodonianos», bem como gravuras extraídas dos vasos de Pompeia. Com fraternal fervor, Paolo elaborou também a lista dos assinantes. Em breve apareceu o belo volume, com tiragem limitada a cinquenta exemplares. Festejámos largamente o acontecimento, com mesa florida, «frutti di mare», vinho transparente como água, filho único das vinhas de Capri. E com a alegria dos amigos que amaram o nosso amor.
Alguns críticos suspicazes atribuíram a motivos políticos a publicação anónima do livro. «O partido opôs-se, o partido não o aprova», disseram. Mas não era verdade. Felizmente, o meu partido não se opõe a nenhuma expressão da beleza.
A única verdade é que não quis, durante muito tempo, que aqueles poemas ferissem Delia, de quem estava a separar-me.
Delia del Carril, passageira suavíssima, fio de aço e mel que me atou as mãos nos anos sonoros, foi para mim durante dezoito anos uma companheira exemplar. O livro, de paixão brusca e ardente, atingi-la-ia como uma pedra atirada à sua terna compleição. Foram estas, e não outras, as razões profundas, pessoais e respeitáveis do meu anonimato.
O livro tornou-se depois, ainda sem nome e apelido, num homem, homem natural e valoroso. Abriu caminho na vida e eu tive, por fim, de o reconhecer. Andam agora pelos caminhos, quer dizer, pelas livrarias e as bibliotecas, os «versos do capitão» assinados pelo capitão genuíno.
[ Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi" ]
Para a 1ª edição, o pintor Paolo Ricci conseguiu um papel admirável e antigos tipos de imprensa «bodonianos», bem como gravuras extraídas dos vasos de Pompeia. Com fraternal fervor, Paolo elaborou também a lista dos assinantes. Em breve apareceu o belo volume, com tiragem limitada a cinquenta exemplares. Festejámos largamente o acontecimento, com mesa florida, «frutti di mare», vinho transparente como água, filho único das vinhas de Capri. E com a alegria dos amigos que amaram o nosso amor.
Alguns críticos suspicazes atribuíram a motivos políticos a publicação anónima do livro. «O partido opôs-se, o partido não o aprova», disseram. Mas não era verdade. Felizmente, o meu partido não se opõe a nenhuma expressão da beleza.
A única verdade é que não quis, durante muito tempo, que aqueles poemas ferissem Delia, de quem estava a separar-me.
Delia del Carril, passageira suavíssima, fio de aço e mel que me atou as mãos nos anos sonoros, foi para mim durante dezoito anos uma companheira exemplar. O livro, de paixão brusca e ardente, atingi-la-ia como uma pedra atirada à sua terna compleição. Foram estas, e não outras, as razões profundas, pessoais e respeitáveis do meu anonimato.
O livro tornou-se depois, ainda sem nome e apelido, num homem, homem natural e valoroso. Abriu caminho na vida e eu tive, por fim, de o reconhecer. Andam agora pelos caminhos, quer dizer, pelas livrarias e as bibliotecas, os «versos do capitão» assinados pelo capitão genuíno.
[ Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi" ]
=======================================================
=====================================
Pablo Neruda, expoente máximo dum largo filão de criadores literários originários do Chile, curiosamente em muitos casos paralelos ao torturado/dilacerado Chile de Pinochet, cujos nomes que melhor conheço talvez sejam os mais populares, como para lá do próprio Pablo Neruda são: Isabel Allende, Roberto Bolaño e Luis Sepúlveda _ deste último tenho a colecção quase toda. Enquanto do próprio Pablo jamais li o que fosse, não por qualquer especifico motivo, mas tão só porque salvo uma excepcional obra ou outra que procurei em objectivo enquanto desta/e ou daquela/e outra/o autora/or, de resto sempre fui de adquirir livros ao sabor do momento e/ou da circunstancial providencia, o que precisamente até ao momento ainda não coincidiu com qualquer obra de Pablo Neruda. Mas a história do inicial anonimato por detrás deste "os versos do capitão" parece-me muito bonita e honorável, talvez própria dos verdadeiros génios universais!...
ResponderEliminarObrigado pela referência...
Abraço amigo, com votos de excelente semana
Sou grande apaixonada pela poesia e poetas ibero-americanos de uma maneira geral, mas especialmente, Chilenos e Argentinos.
EliminarDo Neruda já publiquei vários poemas, de quando em vez lá me surge, vinda do nada, a ideia de o procurar e trazer até ao meu espaço. :)
Nesta partilha de afectos e gostos pessoais, vamos descobrindo afinidades com outros amigos e companheiros, navegantes neste mar imenso em que todos somos simples cascas de noz. Assim me vejo: uma eterna aprendiz desejosa de saber sempre mais.
Agradecendo a companhia, aí vai, navegando, um abraço amigo, Victor. :)
...pois que coincidimos no relativo à "casca de nós" e ao "eterno aprendizado" pois que de facto como disse o genial poeta: "quanto mais sei, mais sei que nada sei", sendo que por mim mesmo descobri há muito que o pico da minha sabedoria está precisamente no facto de eu saber que sei pouco ou nada, porque tudo o que eu sei não chega nem jamais chegará para deixar de me surpreender com a magia da própria vida!
EliminarUm reforçado abraço de amizade ;)
...já eliminei um comentário para corrigir uma redundância e agora caí noutra: "...pois que..." e mais à frente na mesma sequência de novo "...pois que...", mas neste caso prefiro deixar a nota que a Janita saberá ressalvar!
EliminarOlá Janita!
ResponderEliminarEsta tua postagem pegou-me de surpresa, admirador que sou de Pablo Neruda, sempre procurando saber mais coisas de sua trajetória de poeta, desconhecia essa obra e essa paixão do poeta. Parabéns pelo excelente texto e também pelo vídeo.
Uma ótima semana.
Um abraço.
Pedro
Olá, amigo Pedro!
EliminarFico imensamente satisfeita por esta minha escolha lhe ter agradado tanto! Sabendo-o um Poeta com imensa sensibilidade para os temas do seu país e do mundo, não posso deixar de me alegrar por lhe ter trazido, neste lado do Oceano, um pouco da vida e amores de Neruda.
Grata pela visita e simpatia.
Um abraço amigo e tudo de bom.
gostei deste post. :)
ResponderEliminarboa semana Janita
:) E eu, querida Laura, fico feliz por teres gostado!
EliminarUm beijinho e boa semana para ti também.
Não sei porquê mas deste teu texto fixei-me em:
ResponderEliminar"A única verdade é que não quis, durante muito tempo, que aqueles poemas ferissem Delia, de quem estava a separar-me."
E no entanto não lhe importava que a Matilde se sentisse ferida se soubesse a razão porque ocultava os versos?
Que motivos levam um homem a amar outra mulher sem conseguir "libertar-se" de outra?
Sentimentos contrários (culpa/pena?) que nunca se explicam porque não desejam dissecá-los, porque incomodam, porque simplesmente é mais cómodo "deixá-los morrer"?
O amar se confunda muitas vezes (vezes demais) com paixão ou simplesmente com desejo!
O desejo é "súbito", a paixão é mais demorada, mas o amor permanece muito mais tempo.
Sabe-se que as paixões não duram muito tempo e também se sabe que os desejos são pouco mais que efémeros; não admira então que a Poetiza afirme: amar, amar eternamente...
Beijokas (com amizade sem termo)
Como deves calcular ( e se não calculavas, ficas agora a saber), não serei eu propriamente a pessoa mais indicada para esclarecer essa tuas dúvidas, meu querido Kok!!
EliminarPorém, é minha convicção de que o ser humano só tem poder para dominar, controlar, o seu comportamento e atitudes. Já no que concerne a assuntos em que o coração fala mais alto que a que a própria razão, não há como evitar que se ame alguém ainda antes do 'contrato' com outra pessoa ter sido rescindido.
Creio que o que Neruda fez, foi ocultar a musa do seus 'Cem Poemas de Amor' até ter a sua situação legalizada. Digo eu, porque assim o acredito.
Sou grande defensora das coisas do coração, não compactuo é com mentiras e disfarces. Essa coisa da mentira piedosa, sempre me repugnou.
Olha, agora já nem sei se não me terei desviado do tema...eheheheh
Beijokas com amizade e sorrisos eternos e leais. :))
Conheço o texto porque tenho o livro.
ResponderEliminarNão conhecia esta pintura do Diego Rivera que me agrada muitíssimo.
Beijinhos da amiga "quase" de perto 🏖
O marido de Frida Kahlo,foi tão bom pintor, ou melhor, do que ela. E grande amigo de Neruda e Matilde. Vês lá entre os caracóis do seu cabelo o perfil de Pablo? Esta tela foi uma oferta intencional de Rivera. :)
EliminarAmiga, já que vais ficar perto faz lá um esforçozinho e vai abraçar-nos a todos no Domingo! Isso é que era!! :)
Beijinhos.
Riquíssima partilha querida amiga ,desejo-lhe uma semana muito feliz ,beijinhos no coração ,felicidades
ResponderEliminarMuito obrigada pelo carinho e atenção, Emanuel!
EliminarUm beijinho amigo!
Não conhecia o texto. Dele só li, "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada"
ResponderEliminarGostei de ler. Obrigada
Abraço e uma boa semana
Este texto faz parte do livro acima referido, Elvira.
EliminarUm abraço e muito obrigada por tudo, com votos de excelente semana.
Confesso que sobre Neruda sou quase ignorante, mas este texto é bem interessante.
ResponderEliminar(Vá "lá" ver o meu silêncio)
...Um silêncio tão 'falador' como nunca lhe tinha 'ouvido'!:)
EliminarGostei muito do seu bem-falar, José!!
Eles não sabem nem sonham o que perderam...
Beijinho.
Gostei imenso, desconhecia por completo esta obra!
ResponderEliminarBoa semana Janita.
Beijinho grande
Querida Adélia, que bom poder trazer a este humilde espaço, algo que gostes! Fiquei muito contente.
EliminarUm beijinho e votos de tudo de bom, para todos vós!
Sou fã dos poemas de Pablo Neruda, este não conhecia. Subscrevo o comentário do Kok.
ResponderEliminarDeixo-te um poema dele recitado por Madona
https://www.youtube.com/watch?v=T5yADgMzGJo
E como já li que estás a chocar uma constipação, desejo-te rápidas melhoras.
Beijinhos Janita
Manu, vou ver o que declamou a Madona e já volto! :)
EliminarGostei, mas...isto dos 'ses' deixa-me sempre triste!...
EliminarMelhor mesmo é não conjecturar o futuro, ir vivendo simplesmente.
Obrigada, Manu. Não conhecia o poema.
Hoje, sinto-me melhor, mas à medida que vai avançando o dia vou voltando a sentir a cabeça pesada.
Não posso ir para a rua sem o meu sombrero, o sol é fogo!
Beijinhos, Manu!
Fiquei intrigado!
ResponderEliminarPorque é que a imagem associada a este post possui aquele círculo vermelho? É para realçar o quê? Uma parte do cabelo? Ou será que existe algo naquela zona, que por acaso não consigo descobrir o que seja?
Perante esta minha dúvida tão aflitiva, acho que nem vou conseguir ficar tranquilo durante a tarde. Acho que vou ter que tomar um Xanax ou algo para para me acalmar.
:-D
Se o Remus viesse aqui com a mesma atenção com que eu vou olhar os seus «Pontos de Vistas»...saberia a resposta!
EliminarAnda uma pessoa a colocar os links nas 'Fontes' e ninguém se digna dar uma vista d'olhos? Assim não dá!!
Claro, óbvio...o Neruda está lá entre os caracóis da sua amada Matilde, ora essa!!!!!!!!!!!!!!
Remusinho, logo venha cá ver um retrato muita lindo que tirei ontem, mas agora não tenho vagar para ficar mais tempo na conversa.
Abraços !! ;)
Mas... Mas... Os links passam despercebidos. Num texto a cinzento, ter os links também a cinzento, eles acabam por passar despercebidos.
EliminarE... e... Para além de ler o que a Janita escreve, ainda sou obrigado a ler o que os outros escrevem em outros blogues, para perceber o que a Janita quer transmitir? Isso não é pedir muito? Isso não é muito trabalho? Se eu quisesse seguir os outros blogues seguia. Com isso, está a obrigar-me a ler coisas em outros blogues... e obrigar uma pessoa a fazer algo, nunca é boa política.
Mas...mas...agora, fez-me corar até à raiz dos cabelos, Remus! Bolas...e não é que tem razão? Nuca mais colocarei 'fontes'...se me acusarem de plágio mando-os ter com o Remus. Está decidido!
Eliminar:)