sábado, 19 de janeiro de 2019

Deveria Ser Diferente.

Foto Minha.
Escultura Tragédia do Mar - Matosinhos

Devia morrer-se de outra maneira.

Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, 
fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer:

 "Fulano de tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio."

E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida.


Apertos de mãos quentes.
Ternura de calafrio."Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos… em seguida, os lábios…depois os cabelos…) a carne, em vez de apodrecer,  começaria a transfigurar-se em fumo… tão leve…tão subtil…tão pólen…como aquela nuvem além (vêem?) - nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...



“Devia Morrer-se de Outra Maneira” – de José Gomes Ferreira




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37 comentários:

  1. Estou aqui como que "emperrada" sem saber o que dizer. Nao acontece muitas vezes.

    Bom fim de semana com pensamentos positivos e mais alegres. : ))

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    1. Querida Catarina

      Para não me alongar demasiado na resposta, deixo-te AQUI este link onde poderás saber tudo acerca da tragédia ocorrida neste local em 1947. Daqui partiram para o mar e nele perderam a vida, 152 pescadores.
      A foto tirei-a vai fazer um ano, ontem achei que este texto do Poeta portuense encaixaria bem nela.
      Depois, minha amiga, como bem sabes, a vida não são só, e apenas, riso e gargalhadas. Que encanto teria a Vida se assim fosse? Que valor teriam para nós, aquelas pequenas/grandes alegrias?

      Beijo e feliz fim de semana com os teus entes queridos. :)

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  2. Acabei de ler um dos teus comentários algures. Estás doente com a gripe... Cuida bem de ti. Descanso e mezinhas caseiras se não te foram receitados antibióticos.
    Bjos

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    1. Tenho de começar a mentalizar-me de que já não possuo a resistência física de antigamente e aceitar a toma das vacinas que me são disponibilizadas pelos técnicos de saúde...

      Antibióticos não tomo, até porque não tenho febre, mas, pela primeira vez na minha vida, esta noite senti imensa dificuldade em respirar.:(
      Obrigada pelos teus cuidados, cá os vou seguindo e tomando os tais caldinhos de galinha, que, juntos, nunca fizeram mal a ninguém. :))

      Beijinho e obrigada. :)

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  3. Dessa maneira não gostaria de morrer Nita ;)
    Beijinho

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    1. Nenhuma forma de morrer será boa, mas, o afogamento, deve ser das piores.

      Beijinhos, querida Mena. :)

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  4. Apesar de focar a morte, são literariamente muito bonitas as palavras e o conceito!
    Parabéns pela partilha
    Bom fim-de-semana
    Abraço
    VB

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    1. E não fará a morte parte da Vida, Victor?
      Não será por ignorarmos as coisas, menos boas, que elas deixarão de existir. Há um tempo para tudo... Para rir e para meditar.
      Abraço, bom fim de semana.

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  5. Boa noite Janita!
    Gostei da ideia... se temos de morrer; deveria ser sem sofrimento!
    Beijo com carinho.��
    Feliz e abençoado fim de semana!����������

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    1. Boa tarde, amiga Josélia Micael.

      É sempre com muito gosto que recebo a sua visita neste meu cantinho.

      Não é ideia minha...é um conceito generalizado, que os Poetas sabem descrever com o seu quê de fantástico!

      Bom FDS

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  6. Profundas e reflexivas tuas palavras! Deveria ser tranquilo,sem dor! beijos praianos,chica

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  7. Este trecho do José Gomes Ferreira tem sempre o condão de me deixar sem palavras... no entanto, aqui fica o meu beijinho de todos os dias, Janita.

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    1. Por vezes, basta-nos ler e ficar em silêncio meditativo, Maria João. Acontece-me muitas vezes, não saber encontrar descodificação para os sentimentos que me provocam determinados poemas ou textos. Nem tudo necessita análise e conclusão objectiva, não concorda?
      E o meu beijinho de retribuição também aqui fica, com muito gosto. :)

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    2. Concordo e vou um pouco além, Janita; quase todo o bom texto poético deveria poder remeter-nos para esse saudável silêncio meditativo. A (excessiva) velocidade a que agora vivemos, impede-nos dessa fruição que sempre nos foi essencial enquanto espécie. É essencialmente a velocidade que nos está a mudar. E está-nos a mudar mais e muito mais depressa do que aquilo que consciencializamos.

      Beijinho e um bom Domingo :)

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    3. Eu sabia que a Maria João me iria compreender! :)
      Obrigada por ser quem/como é!

      Um beijinho grato.

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  8. Também eu fiquei sem palavras...
    Sem palavras mas não sem um abraço bem apertadinho, para ti, amiga Janita.
    Beijo e feliz fim-de-semana (já sem gripe).

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    1. Isso da gripe já me ter abandonado é que é mais difícil, Teresa.
      Comigo tudo me custa a pegar, mas quando me pegam, pegam-me forte: o bom e o mau!!

      Beijinhos gratos e votos de um excelente fim de semana

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  9. Paradoxalmente bonito!
    E e tao dura, tão triste, tão dolorosa a morte!

    Um abraço desejando as melhoras

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    1. Verdade, Leo! O paradoxo está em como podemos encontrar beleza num tema tão doloroso. Mas acontece, os Poetas/Escritores se encarregam de o fazer acontecer.

      Um abraço e o meu sincero agradecimento.

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  10. O poema de José Gomes Ferreira é muito interessante, apesar de estranho. Estranha-se mas logo a seguir entranha-se.

    Beijinho, Janita, bom fim de semana.

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    1. Tudo se nos entranha, se soubermos encontrar espaço em nós, para acolher o que nos parece estranho! :)

      Beijinho, bom fim de semana, António.

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  11. Muito bem, mas deixou-me sem palavras :))

    O nosso amigo Gil António, diz :- Refresquei-me nos pingos do teu olhar

    Bjos
    Votos de um óptimo Sábado

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    1. Uma poetisa sem palavras, Larissa? Não me diga! :)

      Beijos, bom FDS

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  12. Também "emperrei" ! :((

    Um texto (José Gomes Ferreira) que nos deixa "emperrados, sem saber o que dizer" (Catarina), a pensar muito seriamente e cheios de dúvidas sobre o seu teor, que creio eu, alguns não chegaram a entender!

    Uma belíssima "ajuda" com a foto e a hiperligação deixada no comentário da Janita ao da Catarina, que todos deverão ler, para melhor compreensão do texto e do post !

    Resultado : Um post extraordinário !!! ... Parabéns, Janita !

    Um Grande Abraço !!!

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    1. Querido Amigo Rui.

      Muito obrigada por este comentário e por vires em meu 'auxílio'. Sei que irias 'descodificar' a junção que fiz do texto, com a minha foto e a ligação ao trágico acontecimento, cuja escultura é tão significativa.
      Provavelmente, se tivesse logo adicionado o link da Wikipédia, todos teriam entendido... Mea culpa!

      Um abração grato, pelas tuas sempre oportunas e amigas palavras.

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  13. A Todos os Amigos e Visitantes.

    Na legenda, sob a fotografia, já se encontra o link que vos levará à narrativa da tragédia que ocorreu em 1947, bem como todos os dados acerca da Escultura/Homenagem.

    Obrigada a TODOS!

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  14. Boa tarde, Janita!
    Não sei que diga. Deu-me um nó aqui no sistema que em levou Setembro de 2009...! É que, morrer afogado deve ser das coisas mais horríveis, mas morrer queimado não deve ser muito diferente.É que já senti na pele e na carne o que é ser queimada...Conscientemente.É muito triste quando morrem assim desta forma trágica, ganhando o pão. Aliás...todas as mortes são tristes sobretudo quando ninguém está a contar.

    O poema é lindamente triste!
    Obrigada pela partilha.

    Beijo. bom fim de semana.

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    1. Boa noite, Cidália.
      Este é um tema que nos traz sempre memórias dolorosas.
      Não percebi bem essa sua frase a negrito, mas não se preocupe.

      A desgraça espreita-nos a cada passo, e há coisas que não podem ser remediadas depois de acontecerem, nem sequer preveni-las, até.
      É ver o caso do menino Julen que, em Málaga, caiu no buraco com um diâmetro minúsculo.

      Um beijinho com votos de tudo de bom na sua vida.

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  15. Como é belo esse poema, Janita. Pena, mesmo, não podermos evitar as tragédias. Pena a morte não ser assim, como uma nuvem que se dissolve no ar.

    [As melhoras, dessa gripe...]

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    1. Seria bom que a morte, que todos sabemos ser certa, viesse sem dor nem sobressalto, mas assim como não escolhemos o modo como vemos a luz, também as trevas nos estão destinadas e como vierem assim as aceitaremos.
      O poema é muito belo, sim, Luísa.

      Obrigada. Vamos ver como passo a noite.

      Beijinho.

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  16. Lembro-me de ter lido a história desse naufrágio, quando andei a pesquisar os acontecimentos mais marcantes no ano de 1947, ano em que nasci.
    O texto do José Gomes Ferreira é emocionante.
    Espero que esteja melhor. Já experimentou pôr um pires com uma cebola cortada ao meio? Muita gente me tem dito que se dá bem. No início do mês o meu marido constipou-se e sentia o nariz muito entupido, tinha dificuldade em dormir. Pôs a cebola ma mesinha de cabeceira e começou a dormir melhor e dois dias depois não tinha sinal da constipação.
    Para mim não dá que eu durmo de máscara por causa da apneia.
    Abraço, bom domingo e rápidas melhoras.

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    1. Obrigada, Elvira.

      Se o forte cheiro a cebola me deixar dormir - é que dos meus cinco sentidos, o olfacto é o mais desenvolvido - esta noite colocarei a cebola à cabeceira. Amanhã já lhe direi se, comigo, resultou.
      Abraço e bom resto de Domingo.

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  17. Lindo o o texto e José Gomes Ferreira!
    Seria tão mais bonito podermos convidar com um postalinho bonito a nossa hora da partida!
    Conheço o monumento, mas não sabia a trágica história.
    Muito obrigada pela partilha!

    Beijinhos Janita

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    1. Pois se convidamos todas as pessoas que nos são mais chagadas, para todos os acontecimentos importantes da nossa vida, porque não haveríamos de fazer o mesmo para nos acompanharem na nossa última longa viagem?
      Creio que José Gomes Ferreira, acertou em cheio, Manu!

      Beijinhos, boa semana.

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  18. O pior seriam as despedidas... (pelo menos para mim que não lido nada em com despedidas!) De resto parecer-me-ia bem! :)

    Beijinhos.

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    1. Graça.

      Eu já comecei a lidar bem com as despedidas; basta que digamos apenas: Até já!
      Afinal, é o destino, deste caminho, que todos estamos a percorrer.

      Beijinhos.

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