sábado, 22 de fevereiro de 2020

DA(S) COTOVELADA(S)



By Dina Belenko


Não vi, não ouvi, não assisti. Mas sei, caro leitor, que isto aconteceu; é verdadeiro. Foi-me contado há muitos anos por pessoa idónea e de inteira confiança: minha Mãe!

Escondido que estava este incidente, na gaveta onde repousam as memórias bizarras, porém, de pouca monta, foi-me reavivado há pouco pela leitura d’algo que me fez sorrir, duplamente agradada.


Passando aos factos, resumo o que me foi contado: Uma jovem mulher que, por motivos que não vêm ao caso, casou, já entradota na idade, tida como apropriada, ao tempo, como a idade casadoira. Tão cedo quanto pode, levou o marido à sua terra Natal – por sinal, minha também.

Queria mostrar o marido a toda a gente, qual troféu merecido. Homem por sinal bem-apessoado, um beirão de Almeida, que conheceu não sei onde nem quando, provar a toda a gente que, a que já diziam solteirona, havia saído do rol das tias, e, concomitantemente, mostrar ao marido a terra onde nascera.  

Ora, tal acontecimento, não poderia acontecer, - com o devido pedido de desculpas pela redundância -, num dia qualquer de um qualquer mês do ano. Tinha de haver assistência. A Vila precisava estar a rebentar pelas costuras, de conhecidos, desconhecidos e familiares de visita à terra. Para isso, nada melhor do que a festa da Santa Padroeira que era celebrada, desde tempos imemoriais, por alturas da Páscoa.

No momento em que, na Praça da República, se ouvia o som dolente do Cante Alentejano e se um alfinete tivesse caído do céu, não chegaria a tocar o chão, a orgulhosa esposa que seguia uns passos na frente do marido, de braços abertos ia gesticulando e dando cotoveladas para a direita e para a esquerda, afastando entraves ao caminho daquele seu legítimo pedaço de mau caminho, quiçá o mel, quiçá o sal, quiçá a pimenta da sua vida, gritando a plenos pulmões:

 -  Deixem passar o meu marido!






19 comentários:

  1. Ahahahhah
    Só não: quiça de afecto.Neste caso seria mais um, quiça lingua de fora e um nha nhanha nhanha... biram?!

    Boa tarde, Janita

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    1. Ehehehehehe
      Ninguém lhe cobiçava o troféu, ela é que achava ter descoberto a pólvora em tempo de guerra.

      Boa noite, Non! :)

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  2. E que tal se fosse o marido (devidamente instruído, claro!)a ir à frente, de cotovelos em riste, a proclamar: deixem passar a minha esposa? Não seria assim ela o "foco", como desejava? Quiçá!
    1 bji.

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    1. Isso é que tinha sido! Mas, na verdade, não foi assim que aconteceu, José.
      As historietas nós podemos alterar, os factos, não! :)

      Um beijinho e bom Domingo.

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  3. O acontecido, há muito acontecido
    terá sempre que ser apreciado como olhar desse tempo
    Casar era um selar, quase um sacramento
    não o ter, não casar, era quase um estigma,
    e querida amiga,
    eu ainda me lembro de, embora não estando a ser mostrado
    ser alvo de atenção por ser dela o namorado

    (Quanto ao Xilre, ainda aguardo,
    no seu belo escrever
    uma palavra-adubo, ou palavra-semente
    pois de qualquer ideia já estou descrente)

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    1. Rogério.

      O acontecido foi, de facto, há muito acontecido, sim!! :))

      Diz bem, ficar solteira era um estigma, mas felizmente os tempos mudaram.

      Ou 'ela' ser a notada
      por ser de tão jeitoso
      mancebo, a bonita namorada?

      Quanto ao Xilre, deixe-o lá
      porque a palavra dele raramente aduba
      outros cantos,
      mas vai semeando bons escritos
      e nós, suas leitoras
      ficamos quietinhas nos
      nossos recantos. ;)

      Um abraço.

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  4. :) Doces e divertidas memórias, Janita...

    Beijinho

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    1. Memórias que me
      foram passadas
      e, agora,
      reavivadas...:))

      Assim, à moda do Rogério.

      Beijinho, Mª. João. :)

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  5. Se o moço era bem apessoado, ainda correu o risco de alguma moçoila lhe cobiçar o marido :)

    Bom domingo !
    Beijinhos Janita

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    1. Por isso é que a possessiva esposa ia abrindo alas e advertindo do seu título de posse...ahahaha

      Beijinhos, Manu!

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  6. Tal a azáfama do cotovelo que, mais atrás, uma velhota dizia:
    - O cu? tou vê-lo. :)

    Um beijinho, Janita :)

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    1. Ehehehehe...Oh, AC, querem ver que tu andavas lá metido, no meio da multidão...??
      Já me fizeste rir a bom rir.

      Ainda bem, a ver se me passa a telha...:(

      Beijinho, AC. :)

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  7. Por completa impossibilidade de aceder à caixa de comentários, por motivo muito estranho, (mensagem que não solicitei/coloquei) ao qual sou alheia, Roadrunner
    deixou-me este comentário no seu blog:

    “Então se hoje qualquer “vedeta” de alguidar tem “direito” a uma trupe de seguranças a abrir caminho pela multidão, porque não o tal “apessoado”, até porque o inestimável valor é atribuído ao critério de cada um, pese embora, que neste caso, esse valor pareça que era só mesmo para a “segurança”. :)

    Muito Obrigada, Roadrunner .

    Tentarei tudo para resolver esta contrariedade.

    Um abraço.

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    1. Também não sei, Luísa! :)

      Bom e divertido Carnaval.
      Já viste que podem ir tomar banho de mar? :))

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  9. Que cena embaraçosa para o marido‼️
    Ainda bem que os tempos mudaram‼️

    Düsseldorf 🎈 HELAU 🎈


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    1. Um embaraço e tanto...imagina se fosse o contrário e uma de nós se visse nessa situação? Que horror, que vergonha... quando olhasse para trás já não me via!! :))

      Hoje, por aí, já está mais calor?
      Bom Carnaval, então!

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  10. Quando a idade avança e os preconceitos imperam não há melhor forma de contrariar "a coisa" do que um acto publicitário apregoado em dia de festa. Aliás quem melhor gaba o noivo senão a noiva?

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