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Foto minha |
O pequeno Santo de pedra ocupava um nicho escuso numa ala lateral da velha Catedral. Ninguém se lembrava muito bem de quem ele fora, mas tal facto constituia de certo modo uma garantia de respeitabilidade. Pelo menos era isso que o Duende dizia.
O Duende era um belíssimo espécime antigo de pedra cinzelada, e encontrava-se instalado sobre a mísula que ressaía da parede fronteira ao nicho do pequeno Santo. Estava relacionado com alguns dos mais distintos habitantes da Catedral, tais como as esculturinhas bizarras dos bancos do coro e da divisória de madeira que separava o Altar-Mor do resto do templo e até com as gárgulas alcandoradas nas altitudes do telhado. Todos os animais e homúnculos fantásticos que se acachapavam ou empiralavam em madeira ou pedra ou chumbo, lá em cima nas abóbadas, ou ao fundo da cripta, era de certo modo seus parentes; tratava-se, por consequência, de uma pessoa de reconhecida importância no mundo da Catedral.
O pequeno Santo de pedra e o Duende davam-se muito bem, embora encarassem a maior parte das coisas de pontos de vista diferentes. O Santo, um filantropo do modelo antigo, pensava que o mundo, tal como ele o via, era bom, mas podia ser melhorado. Compadecia-se em particular dos ratos de igreja que eram miseravelmente pobres. O Duende, por outro lado, entendia que o mundo, tal como o conhecia, era mau, mas achava preferível não procurar reformá-lo. Estava na natureza dos ratos de igreja serem pobres.
__Mesmo assim - dizia o Santo - sinto muita pena deles.
__Claro que sente - dizia o Duende - ; é da sua natureza sentir pena deles. Se deixassem de ser pobres, o senhor não poderia preencher as suas funções de santo. O seu lugar tornar-se-ia numa sinecura.
Teve esperança de que o Santo lhe perguntasse o que era uma sinecura, mas o outro refugiou-se num silêncio de pedra. Talvez o Duende tivesse razão, pensava, mas fosse como fosse gostaria de fazer qualquer coisa pelos ratos de igreja antes de chegar o Inverno. Eram tão pobrezinhos!
Um belo capítulo que gostei de ler.
ResponderEliminar.
Saudações poéticas.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Se o Rycardo gostou deste capítulo por certo vai gostar dos restantes que prometo não serem muitos, pois já constatei que a maioria dos leitores não aprecia textos longos.
EliminarTalvez opte também por outra letra que facilite mais a leitura.
Grata por ter vindo.
Bom fim de semana.
Olá, querida Janita
ResponderEliminarPelo que disse do autor, os seus "contos satíricos e macabros expunham a natureza da sociedade". O Santo e o Duende já trazem as características do bom e do mau, do que tem compaixão e o outro que acha perfeitamente normal que haja pobreza, sendo próprio da sua condição.
Gostei muito desta pequena passagem. Virei ver o desenvolvimento da trama.
Muito obrigada pela sua presença lá no Xaile. Vai ser um mês muito intenso. :)
Beijinhos
Olinda
Olá, querida Olinda!
EliminarDe quando em vez, não muitas, vou ao meu baú biblioteca e, quando revejo e releio estas minhas preciosidades literárias, sinto vontade de as partilhar aqui. Sei que não é este o melhor local. A blogosfera, já de si tão cansada, gosta de publicações que não retenham o visitante/leitor muito tempo no mesmo blog. Somar e seguir que o tempo é pouco...é uma pena, mas é a mais pura verdade. Porém, se eu não usar este meu espaço virtual, para dar uso às coisas que gosto, onde e como o poderei fazer?
Depois, ninguém obriga ninguém a ler, contudo, sei que haverá sempre quem aprecie estes contos que têm um final rico e surpreendente. :)
Grata pela sua presença, Olinda!
Foi num mês de Fevereiro que vim ao mundo, logo também é muito especial para mim...
Beijinhos.
Mais um escritor que desconhecia. Gostei do que li.
ResponderEliminarGrata pela partilha.
Beijinhos amiga Janita
😘
Nada a agradecer, querida Manu.
EliminarHaverá sempre um escritor desconhecido que espera para ser lido...:)
Conto contigo para futuras leituras. Este livro é uma caixinha de surpresas.
Beijinhos e um bom fds.
Sol e calorzinho temos. Aproveita e vai até à praia molhar os pés!!
Pois, por cá continuamos na eterna luta! Bom fim de semana!
ResponderEliminarA vida é, foi e será, uma luta constante.
EliminarAgora, nem todos os lutadores pugnam pelos mesmos ideais.
Bom fim de semana também para si!
Bom dia
ResponderEliminarGostei e cá fico à espera da continuação .
BFS
JR
Olá, JR!
EliminarMais dois capítulos vai ter. Assim, mais pequenos, cansam menos e dão tempo para o leitor se situar na história e no seu contexto. :)
Obrigada!
Desconhecia o autor e o que aqui mostras, pelo menos para mim é uma escrita bem rebuscada não acessível a muitos, sobretudo aos mais novos.
ResponderEliminarBeijos e um bom fim de semana
Não me parece que a escrita seja rebuscada, Fatyly.
EliminarTemos é que nos situar na época. Quanto a não ser uma leitura acessível aos mais jovens, a culpa não é do escritor. Esta gente moderna que nasceu e cresceu no tempo dos stupidphones, tem é pouco vocabulário, sinal de pouca leitura, é o que é!!
Beijos e bom fds, amiga!
Não conhecia este escritor.
ResponderEliminarGostei do que li.
Aguardo continuação mas também irei pesquisar.
Mena
Olá, Mena!!
EliminarQue bom saber que gostou. Isso denota que aprecia uma boa história contada noutros parâmetros que fogem ao trivial.
Também o seu blog foge ao vulgar de Galileu...:) Já lá estive e adorei os seus quadros feitos a partir de flores secas.
Uma delícia!
Hei-de lá voltar para comentar e trazê-la para a minha lista.
Beijinho.
Não conhecia
ResponderEliminarGostei do conteudo e tipo de letra usado
🙂
Tinha pensado alterar o tipo de letra para outra mais redondinha, Já não o farei! Fica esta letra que até lembra a escrita do século XIX.
EliminarObrigada, Miguel. 🙂
Bom Domingo!
Pois, não resisto a uma evocação com esta fonte caligráfica. Ainda no curso Primário, tive uma professora maravilhosa, chamava-se Renlda, que dividia pauta da caligrafia em duas para que eu diminuísse o tamanho da minha letra. Pacientemente, ela o fazia. E repetia o seu gesto todos os dias. Por alguma razão, eu sabia que ela gostava de mim... Quanto ela me ajudou na caligrafia! Não tenho uma caligrafia bonita, reconheço. Pelo menos, minhas garatujas não preenchem a pauta atravessando a outra, como eu fazia nas primeiras letras. Bem, hoje, só escrevemos digitalmente. O que fazer?
ResponderEliminarConto-lhe esta pequena história para dizer que gostei da fonte. Igualmente, gostei da primeira parte da história. Vou conhecer um pouco mais deste escritor. Não o conhecia (como brincamos por aqui, nunca o vi tão gordo, risos). Prendeu-me, sim. Fiquei curioso para conhecer o final.
A segunda leitura é que conta, já dizia uma mestra querida, relerei a primeira para encadeá-la à segunda... Uma maravilha!
Seguro minha ansiedade porque ainda não cresci. Ainda sou um menino!
Beijinhos, minha amiga! Aproveita o final de semana!
Olá, JC! Também tenho as minhas histórias que lembro amiúde dos tempos da escola primária. Em todas me sinto reconhecida ao acaso ou o que fosse, que me encaminhou para uma professora óptima. Dona de uma paciência sem limites, avessa a castigos violentos e com um sentido pedagógico pouco usual para a época, em que o uso da palmatória era o pão nosso de cada dia. Tive muita sorte!
EliminarQuanto a esta história que iniciei com a ideia de ir introduzindo outras publicações pelo meio, o José Carlos com a sua observação de encadear a primeira na segunda, fez-me mudar de ideias. Em três episódios fica a históris do Santo e do Duende contada, assim não se perderão os meus leitores pelo caminho. Será fácil o seguimento.
Amanhã sairá o 2º capítulo... :) A ansiedade não se irá apoderar do meu amigo. Era o que mais faltava, andar por aqui a provocar ataques de ansiedade nas pessoas a quem quero bem.
Beijinhos, meu amigo José Carlos.
Um feliz domingo.