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Quis cantar-te uma Balada
Com algo para te dizer
Nada tenho que te diga
Tudo o que dizes me fatiga
Melhor é emudecer...
Deixemos que seja a Música
a falar por nós.
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Quis cantar-te uma Balada
Com algo para te dizer
Nada tenho que te diga
Tudo o que dizes me fatiga
Melhor é emudecer...
Deixemos que seja a Música
a falar por nós.
...Afinal, de quem é a enxada?
Do agricultor que a comprou ou da comprativa
que com ela se amanhou?
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...VIM DIZER-TE.
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"Si a tu ventana llega una paloma
Imagem recolhida na Net. |
La Paloma - Instrumental
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Enquanto vou tratar uma enxaqueca que não me larga há muitos dias, deixo-vos a ouvir esta canção que amo de paixão!
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Na ausência de uma imagem, escolhi este pormenor da Catedral de Salisbury no Reino Unido. |
Continuação:
As pessoas que moravam em casa do bedel* repararam num passarito castanho que esvoaçava pelo recinto da Catedral e cujo canto acharam admirável.
_Mas é uma pena- diziam - que todo aquele chilreio se perca e desperdice longe do alcance do ouvido, sobre o parapeito.
Eram pobres mas conheciam os princípios de economia política. Assim, apanharam o pássaro e meteram-no numa gaiolinha de verga que penduraram do lado de fora da porta.
Nessa noite o pequenino cantor não apareceu no seu refúgio habitual e a torva imagem sentiu-se mais triste e abandonada do que nunca. Talvez que o seu amiguinho tivesse sido apanhado por algum gato vadio ou ferido por uma pedrada. Talvez... talvez tivesse voado para outro poiso. Mas quando a manhã rompeu chegou-lhe aos ouvidos, acima do rumor e do tropel da Catedral desperta, uma débil e dilacerante mensagem do prisioneiro da gaiola de verga, lá muito em baixo.
E todos os dias, no pino da tarde, quando os pombos empanturrados pelo almoço se mantinham numa silenciosa modorra e os pardais se banhavam nos charcos das ruas, o cântico do passarito elevava-se até aos parapeitos - um cântico de insatisfação, saudade e desespero, um apelo que jamais poderia ser atendido.
Os pombos notavam, nos intervalos entre as horas das refeições, que a torva figura se inclinava cada vez mais para fora da vertical.
Um dia não chegou nenhum som da gaiola de verga. Foi no dia mais frio desse Inverno, e os pombos e os pardais do telhado da Catedral olhavam ansiosamente para todos os lados, procurando as migalhas de comida de que dependiam para sobreviver no inclemente Inverno.
_ A gente da casa do bedel não atirou nada para o monturo? - perguntou um pombo para outro que espreitava por cima da aresta do parapeito setentrional.
_ Apenas um passarito morto - foi a resposta.
Nessa noite ouviu-se um som de coisa que se racha no telhado da Catedral, seguido de um estrondo como o de um grande pedregulho que cai. O corvo do campanário disse que a geada esta a afectar o edifício e, como ele conhecera muitas geadas, deve ter sido isso. De manhã descobriram que a figura da Alma Perdida caíra da sua cornija e jazia agora numa massa desfeita de caliça diante da porta da residência do bedel.
_ É melhor assim - arrulharam os anafados pombos, depois de terem reflectido durante alguns minutos sobre o assunto - Agora vão com certeza colocar no seu lugar um bonito anjo. Temos a certeza de que vão lá pôr um anjo.
- Depois d'alegria... a do-o-or-r-r-r... - dobrava o sino grande.
FIM.
* Penso que bedel seja a designação da pessoa responsável pela catedral.
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A TODOS OS VISITANTES E AMIGOS DESEJO
UMA SANTA E FELIZ PÁSCOA.
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O autor: H.H Munro - SAKI |
Continuação:
Todas as noites se insinuava confiantemente no seu canto contra o peito de pedra da imagem cujos olhos sombrios pareciam velar sobre as suas sonecas. A avezita solitária acabou por sentir um profundo afecto pelo seu protector igualmente solitário e, durante o dia sucedia-lhe pousar sobre uma goteira ou em qualquer botaréu trinando as suas mais doces melodias em homenagem à efígie que todas as noites o abrigava. E, ou fosse obra do vento ou desgaste do tempo, ou ainda consequência de outra influência qualquer, o certo é que a face tensa e agressiva da estátua parecia perder gradualmente parte da sua expressão dura e infeliz.
Dia após dia, enquanto decorriam as longas e monótonas horas que precedem a noite, chegavam aos ouvidos de pedra, fragmentos do cântico do seu pequenino protegido e, quando a tarde caía e o sino tocava as vésperas e os grandes morcegos cinzentos deixavam as traves do telhado da torre sineira, o passarito de olhar vivo regressava, assobiava meia dúzia de notas sonolentas e ia aconchegar-se entre os braços que esperavam por ele.
Esses foram dias felizes para a imagem triste. Somente o grande sino da Catedral troava diariamente a sua mensagem escarninha:
«Depois d'alegria...a do-o-o-or-r-r-r...»
Continua.
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