sexta-feira, 28 de abril de 2023

CALEM-SE AS PALAVRAS

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Quis cantar-te uma Balada

Com algo para te dizer

Nada tenho que te diga

Tudo o que dizes me fatiga

Melhor é emudecer...


Deixemos que seja a Música

a falar por nós.







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terça-feira, 25 de abril de 2023

TAL TÁ A MOENGA?!....OU, O DESNORTEIO SEGUINTE.

 ...Afinal, de quem é a enxada? 

Do agricultor que a comprou ou da comprativa

que com ela se amanhou?




Uma enxada que é de todos
Mas foi comprada por um
Não cava nem deixa cavar
Nem tem préstimo nenhum.
Depois de tantas cavadelas
À volta da reforma Agrária
Digam lá o que disserem
E eu sei que todos dirão:
Isto é de muito mau-gosto
E até já passou à estória.

Agora tudo fia mais fino
Andam a ver levantar os aviões
Correm atrás dos milhões e tudo o resto
Será apenas e só memória...
na memória
    de alguns!



Contudo e apesar de tudo:

Viva o 25 de Abril.

Sempre!

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sexta-feira, 21 de abril de 2023

DE REPENTE...

 

...VIM DIZER-TE.



De repente 
Descobri um escritor com Alma de Poeta.
Está triste, ansioso, 
Vive em permanente
desassossego

Habita nele um menino
com medo de crescer
de sofrer
de não ser amado como sempre
sonhou

De repente 
quando menos esperava
tudo mudou.
O Poeta amadureceu
e a criança 
que havia nele - sem nunca o abandonar
foi quem o revelou.



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quinta-feira, 13 de abril de 2023

LA PALOMA.

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"Si a tu ventana llega una paloma

Trátala con cariño que és mi persona"

Imagem recolhida na Net.


La Paloma - Instrumental

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Enquanto vou tratar uma enxaqueca que não me larga há muitos dias, deixo-vos a ouvir esta canção que amo de paixão!

ATÉ  BREVE.

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terça-feira, 11 de abril de 2023

FLORESTA MÁGICA.

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Foto que captei de um programa
 que passa aos domingos na TV.




Se o Paraíso existisse
e nele eu pudesse viver.
De bom grado  morreria 
e de novo nasceria
Nesta floresta encantada.

Soubesse eu lá encontrar 
Alguém
Com um EU 
igual 
ao Meu.


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domingo, 9 de abril de 2023

MENINA.

 




Menina vestida de branco
E de semblante preocupado
Será que tu já previas
Que o teu futuro seria
De solidão e agonia
Pelo teu destino traçado?


De Senhora das Dores vestida
Cumpriste uma promessa antiga
Feita em momento de grande dor
Pela Tia, mulher dura e corajosa

Quando soubeste o motivo
Disseste logo que irias
Naquela  Procissão penosa.

Penosa pelo lento caminhar
Feito sob um sol ardente
Desde a Vila até ao Cerro
Onde morava e ainda mora;

A Senhora de Guadalupe
Na modesta Capelinha
Onde vai rezar quem é crente.

De recordação trouxeste
Um retrato a preto e branco
E os pés cansados, doridos 
Rebentando em bolhas de água.

Sem um lamento da sua boca sair
Contente pela missão cumprida
A menina, voluntária quase à força
Voltou para casa...
... quase feliz e a sorrir.😊



 


sexta-feira, 7 de abril de 2023

A IMAGEM DA ALMA PERDIDA. III

 🔆 🔆 🔆

Na ausência de uma imagem, escolhi este pormenor da
Catedral de Salisbury no Reino Unido.

Continuação:


     As pessoas que moravam em casa do bedel* repararam num passarito castanho que esvoaçava pelo recinto da Catedral e cujo canto acharam admirável.

   _Mas é uma pena- diziam - que todo aquele chilreio se perca e desperdice longe do alcance do ouvido, sobre o parapeito.

     Eram pobres mas conheciam os princípios de economia política. Assim, apanharam o pássaro e meteram-no numa gaiolinha de verga que penduraram do lado de fora da porta.

     Nessa noite o pequenino cantor não apareceu no seu refúgio habitual e a torva imagem sentiu-se mais triste e abandonada do que nunca. Talvez que o seu amiguinho tivesse sido apanhado por algum gato vadio ou ferido por uma pedrada. Talvez... talvez tivesse voado para outro poiso. Mas quando a manhã rompeu chegou-lhe aos ouvidos, acima do rumor e do tropel da Catedral desperta, uma débil e dilacerante mensagem do prisioneiro da gaiola de verga, lá muito em baixo. 

     E todos os dias, no pino da tarde, quando os pombos empanturrados pelo almoço se mantinham numa silenciosa modorra e os pardais se banhavam nos charcos das ruas, o cântico do passarito elevava-se até aos parapeitos - um cântico de insatisfação, saudade e desespero, um apelo que jamais poderia ser atendido.

     Os pombos notavam, nos intervalos entre as horas das refeições, que a torva figura se inclinava cada vez mais para fora da vertical.

     Um dia não chegou nenhum som da gaiola de verga. Foi no dia mais frio desse Inverno, e os pombos e os pardais do telhado da Catedral olhavam ansiosamente para todos os lados, procurando as migalhas de comida de que dependiam para sobreviver no inclemente Inverno.

  _ A gente da casa do bedel não atirou nada para o monturo? - perguntou um pombo para outro  que espreitava por cima da aresta do parapeito setentrional.

 _ Apenas um passarito morto - foi a resposta.

Nessa noite ouviu-se um som de coisa que se racha no telhado da Catedral, seguido de um estrondo como o de um grande pedregulho que cai. O corvo do campanário disse que a geada esta a afectar o edifício e, como ele conhecera muitas geadas, deve ter sido isso. De manhã descobriram que a figura da Alma Perdida caíra da sua cornija e jazia agora numa massa desfeita de caliça diante da porta da residência do bedel.

  _ É melhor assim - arrulharam os anafados pombos, depois de terem reflectido durante alguns minutos sobre o assunto - Agora vão com certeza colocar no seu lugar um bonito anjo. Temos a certeza de que vão lá pôr um anjo.


  - Depois d'alegria... a  do-o-or-r-r-r... - dobrava o sino grande.


 FIM.

* Penso que bedel seja a designação da pessoa responsável pela catedral.

🔆🔆🔆


A TODOS OS VISITANTES E AMIGOS DESEJO 

UMA SANTA E FELIZ PÁSCOA.

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quinta-feira, 6 de abril de 2023

A IMAGEM DA ALMA PERDIDA. II

 🔆 🔆 🔆

O autor: H.H Munro - SAKI


Continuação:


     Somente a efígie da Alma Perdida lhe deu um lugar de refúgio. Os pombos não consideravam seguro empoleirarem-se num relevo que se inclava tanto para fora da vertical e que, além disso, se encontrava num local demasiado sombrio. A figura não tinha as mãos na postura piedosa dos outros dignitários de pedra; estava com os braços cruzados como que numa titude de desafio, e a cava que formavam proporcionava ao passarito um confortável poiso onde descansar.

    Todas as noites se insinuava confiantemente no seu canto contra o peito de pedra da imagem cujos olhos sombrios pareciam velar sobre as suas sonecas. A avezita solitária acabou por sentir um profundo afecto pelo seu protector igualmente solitário e, durante o dia sucedia-lhe pousar sobre uma goteira ou em qualquer botaréu trinando as suas mais doces melodias em homenagem  à efígie que todas as noites o abrigava. E, ou fosse obra do vento ou desgaste do tempo, ou ainda consequência de outra influência qualquer, o certo é que a face tensa e agressiva da estátua parecia perder gradualmente parte da sua expressão dura e infeliz.

    Dia após dia, enquanto decorriam as longas e monótonas horas que precedem a noite, chegavam aos ouvidos de pedra, fragmentos do cântico do seu pequenino protegido e, quando a tarde caía e o sino tocava as vésperas e os grandes morcegos cinzentos deixavam as traves do telhado da torre sineira, o passarito de olhar vivo regressava, assobiava meia dúzia de notas sonolentas e ia aconchegar-se entre os braços que esperavam por ele.

Esses foram dias felizes para a imagem triste. Somente o grande sino da Catedral troava diariamente a sua mensagem escarninha:

    «Depois d'alegria...a do-o-o-or-r-r-r...»

Continua.




terça-feira, 4 de abril de 2023

A IMAGEM DA ALMA PERDIDA. (*)

🔆 🔆 🔆



 

Havia certo número de figuras de pedra esculpida, dispostas a intervalos ao longo dos parapeitos da velha Catedral; algumas dessas estátuas representavam anjos, outras reis e bispos, e quase todas exibiam atitude de piedosa exaltação e compostura.

Mas uma figura, perdida no fundo da gélida ala setentrional do edifício, não ostentava coroa, nem  mitra, nem auréola, e a sua face era dura, amarga e abatida; deve ser um demónio, declaravam os gordos pombos azuis que se empoleiravam todo o santo dia a apanhar o sol nos rebordos do parapeito; mas o velho corvo do campanário, que era uma autoridade em arquitectura eclesiástica, afirmara que era uma alma perdida. E a coisa ficou por aqui.

Num dia de Outono voou para o telhado da Catedral um passarito de voz doce que fugira das campinas nuas e das sebes sem folhas, procurando um poleiro abrigado onde passar o Inverno. Tentou pousar as patinhas fatigadas debaixo da sombra da grande asa de um Anjo ou aninhar-se nas dobras esculpidas de um manto real, mas os anafados pombos expulsaram-no de todos os poisos onde assentava, e os barulhentos pardais repeliram-no dos parapeitos. 
Nenhum pássaro respeitável cantava com tanto sentimento, piavam uns para os outros, e o vagabundo teve de afastar-se.

Continua.

(*) Este conto foi escrito em 1891. ( Nota da edição americana de "The Short Stories of SAKI" )

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Nota da autora do blogue: SAKI, é o pseudónimo do escritor britânico Hector Hugh Munro (1870-1916), que os meus estimados leitores já conhecem desde que publiquei o Conto "O Santo e o Duende". Lembram-se?
Os contos, além de satíricos e, por vezes, macabros, trazem assuntos variados, mas sempre com final surpreendente. 




domingo, 2 de abril de 2023

HONI SOIT QUI MAL Y PENSE. (*)

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Não Matem A Liberdade

Não matem a liberdade, 
A alegria inocente
De ver que há gente contente 
Divertir-se a rir sem maldade.

A maldade está na mente 
Doente e fraca de siso
De quem já perdeu o rumo
E não sabe discernir 
De onde vem o prejuízo.

Se a Humanidade ao vir ao mundo
Traz tudo de fora e ao léo
Que bicho lhes foi morder
Pra ver maldade na Arte de um nu
Do inocente David _que já 
Já era famoso no mundo
Antes da hipocrisia nascer...?

(*) "Envergonhe-se quem nisto vê malícia".

Nota: As palavras são minhas e a imagem roubei-a no blog: "A Gaffe e as Avenidas".

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