Disse Deus na Primavera: – Ponham a mesa às lagartas! E a cerejeira cobriu-se imediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e verdejantes.
A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se, abriu a boca, esfregou os olhos e pôs-se a comer tranquilamente as folhinhas tenras, dizendo:
– Não se pode a gente despegar delas. Quem é que me arranjou este banquete? Então Deus disse de novo: – Ponham a mesa às abelhas! E a cerejeira cobriu-se imediatamente de flores, milhões de flores delicadas e brancas.
E a abelha matinal, aos primeiros raios da aurora, pousou sobre elas, dizendo: –Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão lindas em que o deitaram.
Provou, exclamando: – Que deliciosa bebida! Não pouparam o açúcar!
No Verão disse Deus: – Ponham a mesa aos passarinhos! – E a cerejeira cobriu-se de mil frutos apetitosos e vermelhos.
– Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa hora; temos apetite; e ganharemos forças para cantar uma nova canção.
No Outono disse Deus: – Levantai a mesa; já estão satisfeitos. – E o vento frio das montanhas começou a soprar; e fez estremecer a árvore.
As folhas tornaram-se amarelas e avermelhadas, caíram uma a uma, e o vento que as lançara ao chão erguia-as novamente, fazendo-as remoinhar.
Chegou Dezembro e disse Deus: – Cobri o resto! – E os turbilhões dos ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descansa.
Guerra Junqueiro
[ Transcrito do livro "Contos para a Infância "]
"Contos para a Infância" deveria ser de leitura obrigatória para todos, adultos incluídos.
ResponderEliminarBela partilha, Janita. Grato por ela.
Beijinhos
Deveria, António, mas não é. Este livro, e mais onze, com a mesma encardenação de alto relevo de G.J. fazem parte da minha jóia da coroa literária. De quando em vez, volto a eles e nunca dou o meu tempo como perdido.
EliminarUm beijinho e bom resto de domingo, António!
Quem não se encanta com tanta beleza!
ResponderEliminarFoi bom relembrar!
beijos,chica
Entre todos os escritores portugueses da Literatura clássica, Guerra Junqueiro é o que mais me encanta,pela forma simples e bela como tratou a nossa Língua.
EliminarUm beijinho, Chica!
Desconhecia.. Mas achei interessante. Obrigada pela partilha :)
ResponderEliminar.
Beijos e um ótimo Domingo.
Nada a agradecer, Cidália. Para mim, isto não é 'trabalho' é prazer. :)
EliminarAh, o Natal; as músicas natalícias estridentes, a iluminação excessiva e o habitual apelo ao consumo... Tudo isto já nada me diz.
Beijinhos
Como não ficar encantada com esta magia literária?!
ResponderEliminarTudo se renova e acaba no tempo certo , na natureza nada é por acaso.
Preciso dizer que adorei?
Beijinhos Janita
Concordo integralmente com tudo o que escreveste, Manu!
EliminarNão, não precisas porque já o disseste! : )
Beijinhos.
Estima, guarda bem esse livro
ResponderEliminarE oferece-o ao teu Noah
quando for mais crescido
Beijinho aos dois
Melhor estimado não poderia estar, Rogério.
EliminarEste, e os outros que fazem parte desta colecção.
Há mais de trinta anos que os tenho na minha mão!
Beijinho meu.
Venham mais, please!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Vamos ver quando me dá novamente a vontade de transcrever contos para o blog, mas se o Pedro clicar ali, nas 'Etiquetas', no nome do escritor, por certo lhe aparecem mais alguns.
EliminarBeijinhos, boa semana
Adoro contos. Gostei imenso deste. Procurei este livro na biblioteca. Em digital, não têm.
ResponderEliminarHabituaste-te ao 'digital' e não queres outra coisa, Catarina.
EliminarComigo passa-se o contrário.
Para leres mais algum conto de GJ, por aqui, faz como recomendo ao Pedro; clica no nome do autor. :)
Beijinho
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarEntão, este TIR arrepiou caminho e não deixou sequer uma nota do seu rumo? Tá mal!! 😏
EliminarBom dia
ResponderEliminarGostava de adquirir este livro.
JR
Boa tarde, JR!
EliminarSe calhar, agora, só se for nos alfarrabistas.
Contudo, nada como tentar saber nas boas livrarias.
Boa semana
Parte deste conto fazia parte de um dos livros da Primária, talvez da 3a classe.
ResponderEliminarAchava-o lindo e continua a ser!
Abraço
Foi durante a 'Primária' que foi despertando em mim o bichinho da Poesia e da Literatura. Hoje em dia, para além de aprender a ler, escrever, alguma coisa de geografia e gramática, a atenção dos catraios não é captada para lhes incentivar o gosto pelos bons autores.
EliminarBeijinho
Estamos sempre a aprender! Gostei de ler!
ResponderEliminarCom tudo e com todos aprendemos, meu amigo.
EliminarQue bom ter aprendido algo por aqui!
Boa semana.
Um conto encantador, como muitos outros deste escritor, que anda meio esquecido.
ResponderEliminarBoa semana.
Beijinhos.
Eu diria que, para muitos, Junqueiro é um ilustre desconhecido, amigo Jaime.
EliminarBeijinhos, boa semana.
Nunca esqueci este conto e adorei reler. São obras geniais que adoro!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Tudo o que nasce da mente dos génios é de facto genial.
EliminarAssim haja quem ame - e divulgue - as suas obras.
Beijinhos e boa semana.
Será que a infância de hoje conhece esses contos?
ResponderEliminarE isso apesar de todas as escolas de agora disporem de uma biblioteca.
Abraço de amizade, Janita.
Juvenal Nunes
Sabe o que eu penso Juvenal? Não conhece a infância nem a juventude e, se calhar, dos adultos, poucos!
EliminarCom amizade, um abraço!
Cem anos de Guerra Junqueiro e a sua obra continua fresca e bela como as cerejeiras em flor 🌺
ResponderEliminarAbraço da amiga que apoia o pedido do Pedro: Venham mais, por favor!!
Com pedidos tão veementes, virão com certeza, Teresa!
EliminarQuanto ao nosso escritor - sei que também o admiras - passaram cem anos após a sua morte e cento e setenta e três do seu nascimento, no entanto, tal como poeticamente referes, toda a sua obra parece ter, e tem, a pujança do hoje do agora.
Beijinho
Não tenho a certeza, mas creio que o poema é de Os Simples, escrito depois da sua fase de "revolucionário".
ResponderEliminarbji.
Ora essa!! Então, se eu afirmo ter transcrito o conto do livro cuja capa vos mostro, vem-me dizer que crê o que não vê?
EliminarLá fui pegar n'Os Simples e no índice constam os seguintes poemas:
Iº - A Moleirinha
II º- O Cadáver
IIIº- Eiras ao Luar
IVº - As Ermidas
Vº - Canção Perdida
VIº - O Pastor
VIIº - O Cavador
VIII - Os Pobrezinhos
IXº - Campo Santo
Paciência de Santo tenho eu para aturar 'isto'.
Bji.
Desculpe o incómodo da minha proverbial desatenção
ResponderEliminarOra, José, não sabe já que eu fervo em pouca água, não devo nada ao socialmente correcto, mas, no fundo, sou uma boa pessoa? 😊
EliminarBeijinhos
Gostei de ter conhecido essa árvore. Linda!
ResponderEliminarBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Grata pela visita e pelo convite, Jovem Jornalista.
EliminarIrei conferir, sim!
Até mais.