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E assim, mesmo sem a maioria absoluta,
foi vencedor o Tema 1.
Que não desanime quem votou no Tema 2.
Ficará guardado para a Quaresma.
Desfrutem agora
todos
destes poeminhas.
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Capa do livro "O Amor Natural". Companhia das Letras. |
Publicado em 1992, cinco anos após a morte de Drummond (1902-1987), "O Amor Natural" surpreendeu aqueles que conheciam o poeta mineiro pelo seu lirismo romântico e a sua representação por vezes abstrata do amor.
O livro tem 40 poemas que tratam de sexo, desejo e prazer de forma direta e, alguns deles, explícita. A coletânea apresenta textos, na sua maioria, inéditos que ficaram na gaveta por longos anos e outros que tiverem circulação limitada a publicações para o público adulto e grupos artísticos e literários.
Como observou o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, na apresentação do livro lançado pela editora Record:
"As palavras às vezes copulam semanticamente, e o que encontramos nestas páginas é o êxtase poético de um autor que, ao mergulhar fundo nas suas próprias sensações, desnuda também o leitor, que se vê frente a frente com as suas próprias contradições ao pensar nos limites entre o erótico e o pornográfico, o sexo e o amor".
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Nota da autora do blogue:
Como, a meu ver, toda a pornografia é escabrosa e, pensando eu que, independentemente do conceito de Amar de cada um, o deve fazer e falar na sua intimidade, escolhi alguns poemas eróticos que não ferem a sensibilidade de ninguém. Minha, inclusivé. Depois, tudo o que for subentendido aguça muito mais o 'gozo' ( como diria o poeta).
E agora, vamos aos poemas.
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PARA O SEXO A EXPIRAR
Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor — o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.
Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.
Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
Enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.
Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de semen aljofrando o irreparável ermo.
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A OUTRA PORTA DO PRAZER
A outra porta do prazer,
porta a que se bate suavemente,
seu convite é um prazer ferido a fogo
e, com isso, muito mais prazer.
Amor não é completo se não sabe
coisas que só amor pode inventar.
Procura o estreito átrio do cubículo
aonde não chega a luz, e chega o ardor
de insofrida, mordente
fome de conhecimento pelo gozo.
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SOB O CHUVEIRO AMAR
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
Ou na banheira amar, de água vestidos,
Amor escorregante, foge, prende-se,
Torna a fugir, água nos olhos, bocas,
Dança, navegação, mergulho, chuva,
Essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo,
ou nos tornamos fonte?
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A BUNDA QUE ENGRAÇADA!
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora — murmura a bunda — esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gémeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se.Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na
carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda
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Nem me aquece, nem me arrefece : )
ResponderEliminarAndré é um bom declamador.
Boa semana, Janita.
Não te aquece, nem arrefece?
EliminarClaro! Como haveria de aquecer
o que já previa ser de arrefecer? : )
Dizes que não te aqueceram
os poemas aqui expostos.
Porém, eu não quero crer
que desgostos profundos d'amor
te possam ter ferido os gostos.
Já eu não direi o mesmo,
embora pensasse que sim.
A voz quente de André Morais
roçou pelos meus ouvidos
como se fosse marfim.
Como ouvi dizer um dia
à mãe da personagem Carmosina
a tal que ficou pra Tia
no romance do agreste:
"estou velha, mas não estou morta"!
E o calor da voz do André
despertou-me tudo o que não disseste!!
É verdade! Uma coisa é lermos, outra é ouvirmos.
Boa semana, Catarina!
Obrigada!
Que poetisa!
EliminarNão estou traumatizada por desgostos de amor. Simplesmente o meu gosto por poemas é muito seletivo. E estes não me disseram absolutamente nada. Bem, talvez tivesse uma reação/emoção... não gostei!
E sou aberta com este “não gostei”, porque os ditos poemas não são teus. Se fossem, não seria tão direta, embora nunca te mentisse. : ))
Vou de férias esta semana, mas creio que vou levar a tablet comigo. Se a levar, participarei no enigma seguinte. Se não o fizer é porque ando demasiado ocupada lá no sul. : ))
Compreendo! Compreendo e aceito!
EliminarNos gostos ninguém manda e nem sequer podemos dizer que este é melhor do que aquele. É diferente, simplesmente.
Diverte-te e desfruta da companhia dos teus entes queridos, Catarina.
Boa viagem e boa estadia.
Um abraço com a amizade que sempre nutri por ti e nada abala. :)
No livro de reclamações escreverei que não tive oportunidade de participar.
ResponderEliminarAinda assim, deixo um beijinho.
António,
Eliminarno dia 10 de Março não fiques a dormir na forma.
Todos os actos eleitorais têm horário e nâo é alargado.
Este teve 24 horas, os outros são das 8:00 às 19:00.
Beijinho agradecido!
E eu acrescentaria... nada de votos em branco. : )))
EliminarNão! Em branco, jamais!
EliminarTanto se lutou pelo direito ao voto que votar bem branco
seria sacrilégio!
Parece-me que este erotismo a partir do masculino é um pouco limitado.
ResponderEliminarVotar em branco é um desperdício!
Abraço
Quanto à limitação erótica não me posso pronunciar. Lamento!
EliminarEm erotismo sou uma nulidade. Este é daqueles temas que foi uma vez a Cascais para nunca mais. : )
Abraço.
Embora não tenha escolhido este tema, achei graça ao poema da Bunda :) :)
ResponderEliminarGostei muito de ouvir a declamação de André Morais.
Beijinhos Janita
É também a minha preferida, Manu! Tem graça e é muito original. : )
EliminarCreio que, para a parte feminina que me visita, o vídeo veio salvar a hora do Convento.
Beijinhos, Manu!
Como sou português, eu voto no Bocage. Esse era mais poeta e mais malandro e não tinha medo das palavras, usava-as todas sem a menor vergonha. Dos poemas acima transcritos, escolho a bunda, porque além de erótico é irónico e muito bem humorado. Benditos aqueles que se riem das coisas sérias!!!
ResponderEliminarMais poeta não seria, mais debochado, talvez.
EliminarTambém escolhi a Bunda porque lhe achei muita piada.
Tenha uma boa terça-feira Gorda e veja se a sua patroa lhe prepara um bom cozido à portuguesa!
: )
Gosto mesmo muito da poesia erótica.
ResponderEliminarPortanto, gosto da poesia erótica do brasileiro.
Mas gosto ainda mais da poesia erótica do noso BOCAGE.
Embora eu prefira ler a ouvir poesia, vou agora ouvir e ver o vídeo.
Abraço nesta terça-feira gorda.
Tive sempre um certo pudor em exteriorizar sentires e sentimentos íntimos. Não direi serem 'coisas' da minha geração porque a minha irmã - dou-a como referência por ser a pessoa mais próxima de quem cresci - era completamente o oposto a mim. Falava de tudo e de qualquer coisa sem a ter mínima noção. Quantas vezes me zanguei com ela a ponto de chorar de raiva.
EliminarAgora, que ela partiu, tudo me vem à ideia.
Enfim, parvoíces minhas.
Abraço, algo enjoada com as carnes do cozido em dia de comezaina gorda...:(
Gostei imenso de todos e não consigo dizer qual o melhor.
ResponderEliminarBeijos e um bom feriado
Obrigada, Fatyly e desculpa ter fechado os comentários pouco antes de tu votares, mas, mesmo que o teu voto fosse no outro sentido não iria alterar nada uma vez que não haveria empate.
EliminarBeijinho e boa semana.
Bom dia
ResponderEliminarSou um romântico por natureza e considero estes poema como de amor .
Gostei particularmente do " Sob o chuveiro amar "
Amanhã vou fazer uma pequena intervenção cirúrgica a um quisto no pulso direito . Não sei quando poderei voltar aqui . Espero que seja o mais rápido possível.
JR
Assim já fico mais tranquila, amigo JR.
EliminarSabe, não lido bem com 'coisas' que refletem apenas desejos carnais. Para mim, sem Amor não há sexo e sexo sem Amor chama-se outra coisa...
Desejo que a cirurgia corra pelo melhor e a convalescença e total recuperação seja rápida.
Tudo de bom, meu Amigo.
André Morais
ResponderEliminarde Andrade, belas palavras
tenho as mãos ocupadas
caso não, batia... palmas
Beijo assexuado
Rogério,
Eliminarjá pareces a Teresa a chamar Rui ao Montenegro. : ))
Beijo é beijo...Abraço é abraço.
Entre amigos não há homem ou mulher.
És mesmo tonto!!
Sem cérebro através do Carnaval 🤡
EliminarNo dia 10 de Março de 2024 não me engano no nome.
A poesia erótica nunca esteve entre as minhas temáticas favoritas. Tentei, em tempos, uma curta experiência com sonetos eróticos e redundou em desastre, pois ao quarto ou quinto soneto já estava enjoada daquilo até à medula... Não morri de amores pelo que li, nem pelo que ouvi, mas também não tive a oportunidade de votar porque os comentários já estavam encerrados quando cá cheguei.
ResponderEliminarUm abraço, Janita!
A Maria João ainda tentou e fez bem. Caso contrário não saberia desse seu natural repúdio. Sinceramente, não me considero uma pessoa exagerada e aborrecidamente púdica, mas existem certas cenas que só de as idealizar me sinto corar. Agora, a sós comigo mesma, não ponho freio na fantasia e deixo-a imaginar e voar por céus nunca vividos... 🤔
EliminarComo não tenho aqui nenhum emoji de carinha vermelha de vergonha, fica esse...
Um abraço, Mª João e obrigada!
O tema é de delicada abordagem, até porque entre o erótico e o pornográfico há curta margem de difícil ultrapassagem. Bocage usou ambas com competência, julgo eu. Por mim, prefiro o erótico ao debochado, até por que mais difícil e de mais exigência ao poeta e ou ao leitor.
ResponderEliminarDos publicados, o que mais apreciei - pareceu-me o mais erótico - foi o "sob chuveiro amar". Não pelas palavras, mas pelo diseur, gostei do vídeo.
Beijinhos
"Delicada abordagem"...eu não diria melhor, José. E adorei este seu comentário.
EliminarTambém achei muito subtil e interessante esse poeminha entre espumas. Fez-me lembrar a Rita Lee na sua banheira de espuma, falando bobagem e esfregando com água e sabão.
Grande Rita que soube viver e saborear cada instante da sua vida.
Obrigada, José.
Um beijinho