FLORES VELHAS
Fui ontem visitar o jardinzinho agreste,
Aonde tanta vez a lua nos beijou,
E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste,
Soberba como um sol, serena como um voo.
Em tudo cintilava o límpido poema
Com ósculos rimado às luzes dos planetas:
A abelha inda zumbia em torno da alfazema;
E ondulava o matiz das leves borboletas.
Em tudo eu pude ver ainda a tua imagem,
A imagem que inspirava os castos madrigais;
E as vibrações, o rio, os astros, a paisagem,
Traziam-me à memória idílios imortais.
E nosso bom romance escrito num desterro,
Com beijos sem ruído em noites sem luar,
Fizeram-mo reler, mais tristes que um enterro,
Os goivos, a baunilha e as rosas-de-toucar.
Mas tu agora nunca, ah! Nunca mais te sentas
Nos bancos de tijolo em musgo atapetados,
E eu não te beijarei, às horas sonolentas,
Os dedos de marfim, polidos e delgados...
Eu, por não ter sabido amar os movimentos
Da estrofe mais ideal das harmonias mudas,
Eu sinto as decepções e os grandes desalentos
E tenho um riso meu como o sorrir de Judas.
(...)
Mas quero só fugir das coisas e dos seres,
Só quero abandonar a vida triste e má
Na véspera do dia em que também morreres,
Morreres de pesar, por eu não viver já!
E não virás, chorosa, aos rústicos tapetes,
Com lágrimas regar as plantações ruins;
E esperarão por ti, naqueles alegretes,
As dálias a chorar nos braços dos jasmins!
Cesário Verde
_______________
Gostaria de colocar as dálias a chorar
nos braços, não dos jasmins que os não tenho,
mas nos braços da hortelã, e nem sequer consigo colocar as duas imagens a par.
Alguém faz o favor de me explicar como devo fazer?
Agradecida.
🧐 😥 🥺
PIEGUICES DO CESÁRIO... pois…(termo usado aqui como advérbio). : ))
ResponderEliminarPois é, Catarina, mas acontece que eu não quis chamar PIEGAS ao Cesário Verde, porque não acredito que haja pieguice nos poemas do poeta, sabes? Muita sensibilidade, isso sim.
EliminarMas, agora ando a publicar títulos 'chamativos' ...está a ver? ( Como diz o meu neto, a propósito de tudo e de nada, ou melhor, dizia)
Mas olha que isto não é uma aula de português, ok? 😅
Beijinhos
Piegas é uma força de expressão. Uma emoção que amedronta muitos homens. Não Cesário Verde.... essencialmente atendendo à época. Gosto de alguns dos seus poemas quando o tema é o campo.
EliminarTítulos chamativos... e enganadores, pelos vistos!! : ))))
Bjos
Ahahahahah...
EliminarPublicidade fraudulenta? Se calhar...
EliminarEU AMO AS PIEGUICES DO CESÁRIO.
ResponderEliminarO meu poeta português de eleição.
Sei quase de cor a sua pequena obra literária.
E não o acho piegas.
Abraço as dálias e levo o cheiro da hortelã-pimenta.
A obra de Cesário resume-se a um único livro. Obra não muito extensa, porém de grande intensidade poética.
EliminarTeve uma vida tão curta...nasceu no mesmo dia que eu nasci, só que no século XIX, e partiu com apenas 31 anos de idade.
Pouco tempo teve de vida, pelo que não poderia deixar extensa obra.
Um abraço querida Teresa.
Não pude deixar de sorrir com o comentário da Teresa. Uma das pessoas mais paradoxais e inconsistentes que conheço. De forma alguma em sentido derrogatório, quero que fique claro. : ))
ResponderEliminarClaro que não há qualquer intenção depreciativa na tua afirmação, Catarina. Eu sei isso e a Teresa também.
EliminarNo problem, I think... : )
Cesário? Ah, o Verde. Porque o Maduro não escreve assim.
ResponderEliminarBeijinhos, Janita ... com ironia.
Tá bem, António!
EliminarCantas bem mas não me alegras!
Beijinhos...sem ironia! 😊
hahahahaha
EliminarHoje estou muito intrometediça.
Dessa boa disposição é que a blogosfera anda carenciada, é só política e mais política... Intromete-te à vontade, Catarina.
EliminarJanita, gosto muito de Cesário e é gosto especialmente de gente sincera.
ResponderEliminarFico grata pelo comentário, mas desculpa dizer que não compreendeu o sentido do post.
O conceito do título é "força de vontade". Vencer pela luta e força de vontade interior, sem arrogância mas firmemente.
A minha vida é feita de luta e sacrifícios.
Penso de forma muito diferente do compadre.Ele é um insubmisso meio anarquista.Eu sou humanista , acredito que só a força da vontade humana pode mudar o mundo.
Não defendo a humildade no sentido em que a tomou , bem pelo contrário!
Um abraço
Olá, de novo Ana.
EliminarNão vou tentar ser mais papista que o Papa nem julgar a intenção com que a Ana escreveu aquele texto, mas eu tive a nítida sensação que aquele escrito tinha como alvo a minha pessoa, em virtude do meu comentário no blog do compadre Zé, seu marido e que segundo as suas palavras "lhe pertencia" , lembra-se?
Como não guardei o que escrevi , e aí sim, havia muita ironia da minha parte, o dito sr. o não publicou, fica difícil haver uma avaliação à distância de tantos dias.
Aí está algo que eu não entendo. Quem tem a caixa de comentários aberta, pode até nem querer ou ter tempo para interagir, mas caramba, publicar os comentários que não são ofensivos e até entram no jogo de palavras a jeito do foi publicado, até seria uma mais-valia para o escriba em questão.
Adiante.
Voltando à sua 'Volição' eu soube posteriormente o que significa, acha que iria ficar na ignorância? Claro que não, mas nem por isso minimiza esse engrandecimento da humildade com que pretendeu empolar a sua força de vontade em vencer na vida 'fazendo força', sem deixar de ser uma força da natureza , humilde q.b..
Resumindo, Ana. O que eu disse está dito e não retiro uma vírgula e o que a Ana escreveu, está escrito, contudo, sujeito ao critério ao critério dos seus leitores, entre os quais me incluo.
Um abraço.
Lastimo.
EliminarO Zé tem o pai moribundo. Não é assíduo no blogue.
Na altura ficou triste com o seu comentário, mas sei que tem intenção de publicar.
Não há nenhuma relação entre o meu escrito e o que ficou a pensar. O meu escrito, ( lá está, deformação profissional) é mais um grito a uma juventude amorfa. Quase sempre é a eles que me dirijo.
EliminarTristeza e profunda, será a de ter o pai à beira da morte, o que lamento sinceramente.
EliminarReceber um comentário que brinca sem ofender, não pode entristecer ninguém. Mas aguardemos a publicação. Se me excedi, o que não creio, serei a primeira a reconhecer isso, mas a Ana sabe o conteúdo, tenho a certeza.
Acredito, Ana.
EliminarPeço-lhe que fiquemos por aqui antes que me comece a sentir culpada de tanta mortificação. Afinal, uns andam por aqui para ir matando o tempo e interagindo com os amigos virtuais que se vão ganhando com tempo e convivência salutar.
Outros, como será o caso da Ana, para espalhar o seu saber numa continuação da sua carreira docente.
Um abraço, Ana.
Eu procuro na blogosfera as duas coisas que refere.
EliminarGosto muito da sua poesia cheia de cor, de cheiros mas também de melancolia!
ResponderEliminarNo exame do 7° ano calhou-me um poema dele para analisar.
" Ó virgens que passais ao sol poente, pelas estradas ermas a cantar..."
Abraço
Desculpa a intromissão, mas soneto: Ó Virgens!
EliminarO autor é o Antônio Nobre
Ó virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente
Que me transporte ao meu perdido lar...
Mil desculpas para a Janita também.
Tens toda a razão, calhou esse e o de Cesário Verde era Nas nossas ruas ao anoitecer, há tal soternidade, tal melancolia...
EliminarConfusões poéticas!
Abraço
EliminarNas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
É o poema de que mais gosto de todos os poemas portugueses.
Fazia parte do meu programa de recitações nas festas de familiares e amigos. Ganhei uma data de dinheiro.
Abraço-te, Leo, pedindo-te novamente desculpa.
Ê o sangue materno dos “malditos” professores.
Meninas, esse poema que de falais está incluído N'"O Sentimento de Um Ocidental" e chama-se 'Avé-Marias'. Cesário Verde dedica-o a Guerra Junqueiro.
EliminarAté mais logo.
Beijos abraços.
O poema pertence, de facto, a " O Sentimento de um Ocidental" e eu tenho sentimento de ligeireza! 😀
EliminarEu é que devia pedir desculpa!
Abraço para as duas
E ainda por cima com um erro que corrijo - soturnidade!
EliminarÉ a tal coisa, em vez de aprender com as vossas cabeças bem pensantes, estou cada vez mais pateta! 😀
Abraço
Eheheheh...Tudo bem, Leo! Quem nunca se enganou que atire a primeira pedra. E de pateta não tens nada, bem pelo contrário, tens a grandeza dos que sabem rir de si mesmos... Ora pois! 😍
EliminarBeijinhos e abraços.🌼
PS- Lembrei-me agora da 'promessa' da Teresa em publicar hoje a música dela. Vou lá espreitar.
Eu ouvi bem e gostei!
EliminarClaro que a nossa Teresa não ia escolher uma música qualquer!
Abraço
Mas eu já imaginava que fosse Música clássica Leo!
EliminarPara mim foi conforme o que já esperava, pois conheço as preferências musicais da nossa amiga Teresa Hoffbauer. Acontece que o som é quase inaudível e só pude ouvir uns sons meio sumidos.
Ainda pensei que fosse defeito do meu PC, sei lá, uma certa relutância aos sons de música dita erudita, mas a Teresa diz que só a ouviu com auscultadores. Comigo nem com o volume no máximo consegui ouvir em perfeitas condições.
Por vezes isso é defeito de quem cria os vídeos e os lança no Youtube. Do pouco que ouvi, gostei!
Abraço.
um dos expoentes da nossa poesia e talvez nunca tenha recebido o mérito que lhe é devido
ResponderEliminare fico-me por "Num bairro moderno"
E fica muito bem, Zaratustra!
EliminarÉ onde me fico imensas vezes, remoendo o pensamento de quão diferente é hoje em dia a vida na cidades, sobretudo em Lisboa.
Nenhum poeta retratou tão bem a sociedade do século XIX como o fez Cesário Verde, sem no entanto, deixar de olhar atentamente as moçoilas. Na 4ª e 5ª estrofes, deste belo retrato citadino, podemos confirmar isso:
E rota, pequenina, azafamada
Notei de costas uma rapariga
Que no xadrez marmóreo de uma escada
Como um retalho de horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
E eu, apesar do sol, examinei-a
Pôs-se pé; ressoam-lhe os tamancos
E abre-se-lhe o algodão azul da meia
Se ela se curva, esguedelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.
(...)
Lisboa, Verão de 1877.
Grata pela visita, caro Zaratustra.😊
Posso dizer uma graçola?
ResponderEliminarCesário Verde.
Joel Branco.
Samora...preto.
Já disse :)))
Beijinhos
Ehehehehe...Pode e deve Pedro!
EliminarDesde que no 27 de Junho de 2012 adentrei pelo "Devaneios a Oriente", pela mão do saudoso CBO das "Crónicas do Rochedo", que a sua boa disposição tem sido uma feliz constante nas vidas das moradoras do nosso blogobairro, especialmente na minha.
Com o Pedro há sempre horas para falar a sério e para brincar sem que isso se misture. Enfim, como eu gosto. 👍
Beijinhos e obrigada
O nosso saudoso amigo do Rochedo também nos desafiava de vez em quando a escrevermos uns textos com um determinado tema.
EliminarTambém nos fez falta!
Abraço
E verdade! O CBO lançava-nos reptos de toda a ordem. Ora eram desafios de escrita, ou de postais ilustrados e todos muito interessantes e desafiadores.
EliminarTenho imensa pena que tenham eliminado o blog, onde sempre poderíamos ir matar saudades. Ficou o Crónicas on the Rocks, mas já o fecharam também. Uma perda enorme!
Bastava cortarem os comentários e assim já não haveria comentários abusivos com publicidade de toda a ordem. Como acontece no Rui e na Teté.
Sabes, Leo? Um dia destes entrego a minha senha na mãos do meu filho ou neto mais velho, os únicos que se interessam por o que eu faço por aqui, para quando eu partir virem cá retirar os futuros comentários deixando os que já estão. Assim, todos poderão vir recordar o que disseram e eu respondi,
Creio que me revelo mais nos comentários do que nos textos e poemas que publico. : )
Abraço com amizade e estima.
O meu filho teve um blog muito interessante mas desistiu..
EliminarAinda não pensei no futuro do meu mas será fácil fazê-lo esfumar-se! 😀
Abraço
Foi pena o teu filho ter desistido do blog dele. Foi eliminado ou ainda está acessível a leitura? Se sim, podes enviar-me o link por mail, caso não queiras dizer publicamente. Prometo que leio apenas. :)
EliminarAbraço.
Do Verde gosto mais do vinho que do Cesário!
ResponderEliminarFoi poeta que "dei" nos meus tempos de estudante, para além do Camões e da F. Espanca, mas não me tornei fã. Uma questão de sensibilidade, mais própria de meninas que de meninos (como eu era, ao tempo).
Gostos e sensibilidades não se discutem. Simplesmente são o que são e não há nada a fazer se o próprio/a não quiser ser diferente.
EliminarE os seus olhos como vão? Estão a portar-se bem?
Continuação...😊
Fui habituada a ler, enquanto estudante, muitos poetas e lembro-me do quanto me marcou Cesário Verde.
ResponderEliminarEscolheste um belo poema.
Beijinhos Janita
Sim, amiga, foi um poeta muito analisado nas Escolas Secundárias, talvez devido ao seu léxico bastante metafórico.
EliminarTodos os poemas deste livrinho são um manancial de boa poesia.
Beijinhos Manu.