quinta-feira, 5 de maio de 2022

FOTOGRAFAR SENTIMENTOS.

 


"O Fotógrafo"  Poema de Manoel de Barros


Difícil fotografar o silêncio.

Entretanto tentei. Eu conto:

Madrugada minha aldeia morta.

Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas,

Eu estava saindo de uma festa.

Eram quase quatro horas da manhã.

Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.

Preparei minha maquina.

O silêncio era um carregador.

Tive outras visões naquela madrugada.

Preparei minha máquina de novo.

Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.

Fotografei o perfume.

Via uma lesma pregada na existência mais do que pedra.

Fotografei a existência dela.

Via ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.

Fotografei o perdão.

Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa

Fotografei o sobre.

Por fim enxerguei a Nuvem de Calças

Representou para mim que ela andava na aldeia

de braços com Mayakovski - seu criador

O Fotografei a "Nuvem de Calças" e o poeta.


* * * 

[ Aos interessados em ler alguns poemas do autor referido neste poema, ou seja, de Vladimir Mayakovsky, faça favor de clicar  AQUI ]



Já eu, que não sou fotógrafa nem poeta, não fotografei o perfume nem o silêncio nem a madrugada. Fotografei a fotografia de um passado  distante, do qual ainda lhe sinto um leve aroma de saudade.

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💙💛

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33 comentários:

  1. Tambem prefiro fotografar algo/alguem concreto. : )

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    1. Talvez porque nem tu eu sejamos poetisas, querida Catarina, só conseguimos fotografar o que se vê e é palpável. Creio bem que nem é uma questão de preferência. Deve ser algo que mora fundo na alma dos poetas e, esse dom, passou por nós, sem parar, na hora em que nascemos. :)) Que dizes?
      Grande abraço.

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    2. O meu pragmatismo conduz-me a esta preferência.
      Estou totalmente de acordo contigo. : ) O talento poético e a sensibilidade a que ele está associada quando chegou perto de mim desviou-se... : )

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    3. :)) Foi justamente por eu saber desse teu lado pragmático que fui ver se a tua resposta estaria em spam, uma vez que nunca deixas uma pergunta sem resposta. Lá estava ele... veio a reboque comigo... :)

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  2. As fotos da infância são sempre nostálgicas.
    O poema publicado é de um grande poeta e de uma grande inventiva.
    Boa Noite. Um abraço.

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    1. Infância essa que nem é a minha, Luís, mas a de pessoas a quem estou ligada por laços de ternura e de sangue.
      Manoel de Oliveira foi um Poeta excepcional, que pertenceu ao PCB. Algo o desiludiu e acabou por tomar outro rumo fora do seu país de origem.
      Um abraço.

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    2. Perdão...quis dizer Manoel de Barros, obviamente!
      O cineasta estará a pensar em mim?

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  3. Quem tem uma voz tão grave pode dizer os nomes da lista telefónica que soa bem na mesma.
    Beijinhos, bfds

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    1. A voz grave e pausada, Pedro, é a de Eduardo Tornaghi. :)
      Infelizmente, o som deve muito à perfeição. Ainda hesitei antes de o colocar, mas o Tornaghi tem algo que me atrai. Se calhar é aquele seu jeito de cofiar a barba...:))

      Beijinhos, bom fim-de-semana.

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  4. A sua foto é linda. O poema muito bom. Vladimir Mayakovsky é um dos meus poetas de eleição. Já algumas vezes passou pelo Sexta, a última vez no dia 1 de Maio.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. Nem me apercebi disso, amiga Elvira.
      Andei uns dias um bocado em baixo e sem condições de andar pela blogosfera, de modo que não tomei conhecimento da passagem de Mayakovsky pelo seu Sexta.
      Já eu, só fiquei a conhecer o poeta russo depois que o Professor Sant'Anna me falou no poema referido por Manoel de Barros.
      Um abraço e obrigada, amiga.

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  5. Um belo poema de que gostei bastante e também de ver a foto de um passado para recordar e "saborear".
    Gostei do video.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Sabe, Francisco? Estas recordações estão tão distantes da realidade actual, que me parecem ser coisa de outras vidas que não a minha.
      É ao fazer a comparação com as pessoas retratadas, de como eram e hoje são, que me apercebo de como estou pertinho de chegar à minha meta.
      A vida é mesmo um "ai", que mal soa!
      Um abraço e bom fim-de-semana, Francisco.
      Obrigada.

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  6. Bom dia
    Gosto de poesia e de fotografia e não podia ficar indiferente perante este lindo cenário .
    Quantas vezes uma foto nos mostra o sentimento da pessoa .

    JR

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    1. O Poeta falou nas coisas fotografadas, eu fotografei um momento do Passado. Também ele se não pode agarrar, não é verdade?
      Os meninos, aqui, estavam com um ar algo apreensivo. Se calhar não paravam quietos e o fotógrafo era exigente. :)
      Boa tarde, JR!

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  7. Embora já tenha lido alguma coisa deste poeta, não conhecia este poema e está muito interessante! A foto está muito gira bem ao estilo da época.
    Não consegui ver e ouvir o vídeo porque as colunas estão constipadas. Volta e meia ficam assim, coitadas:)))
    Beijocas e um bom dia

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    1. Creio tratar-se de um poema invulgar, Fatyly.
      Pelo tema e pela forma peculiar como o poeta o descreve.
      No vídeo, o som deixa muito a desejar, mas não encontrei outro.

      Beijos e obrigada.

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  8. Fotografaste a foto da silenciosa beleza e inocência da tua infância.
    Isso é vpoesia!

    Abraço

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    1. Não é da minha infância, querida Leo! Se bem que, nesta altura, eu fosse pouco mais do que uma criança. :)
      A menina do centro é muito parecida comigo. Aliás, já publiquei uma foto minha, mais ou menos com a mesma idade, em que se pode verificar essa semelhança. Também não admira; é minha filha! :))
      Só para teres uma noção...essa menininha, é hoje uma quinquagenária tão bem conservada como eu era com a sua idade. Actualmente, aposto que já ninguém dirá parecermos irmãs. Finalmente... Eheheheheh
      Já o menino da direita, meu sobrinho mais velho...Santo Deus, como ele envelheceu! Parece meu pai... :(

      Um forte abraço, Leo.
      Obrigada.

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  9. Poema deslumbrante que muito de deliciou ler.
    .
    Feliz fim-de-semana.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  10. Bonita publicação. A sua foto é maravilhosa. Tão bom esta saudade!
    -
    Beijos, e um bom fim de semana.

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  11. A poesia de Manoel de Barros tem um quê infantil que nos comove sempre ,Sua fotografia tem muito isso, a singeleza da infância que lembra madrugadas, perfumes e nuvens.
    Com são ternas as lembranças ! anotei aqui do Vladimir Mayakovsky, para depois pesquisar. Gostei de lembrar do Tornahhi que agora promove saraus de poesia , gostava mais de vê-lo atuar.
    Abraço ,Janita , muitos abraços,.
    Estou quase voltando ao Rio de Janeiro e tenho já saudades de casa ...

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    1. Olá, Lis.
      Foi justamente essa quase infantilidade deste poema, que me levou na procura de fotos antigas de meninices a p&b. :)
      Gostei que o tivesses mencionada.
      Amiga, quando estamos ansiosas esperando algo, o tempo custa a passar. Lembro da tua ansiedade antes de viajares para a Suíça. Quando estiveres em casa...sentes saudades daí. O ser humano é feito de insatisfações e ainda bem. É isso que faz girar o mundo. :)
      Grande abraço, querida Lis.
      Fica bem.

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  12. Gosto muito da poesia Manoel de Barros, por ele usar poucas metáforas, uma poesia gostosa de ler e que muitas vezes nos identificamos. Tem um espírito ótimo, vejo nos poemas.
    Custei a reconhecer o Eduardo Tornaghi. Rssss Adorei essa tua escolha.
    Quando vejo fotos antigas minhas, principalmente em preto/branco, tenho uma impressão que tirei em outras vidas...rsss, como passa o tempo, amiga!
    Beijinho, minha querida, um ótimo fim de semana!

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    1. Olá, amiga Taís.
      A poesia de Manoel de Barros é tão gostosa de ler que, creio não haver quem não goste. É leve, facilmente entendível e acessível no uso das palavras. Também gosto muito. :)
      Obrigada amiga, um beijinho enorme e tudo de bom.

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  13. Linda partilha com Manoel com sua poesia de altíssima sensibilidade, que consegue tocar no silencio, nos cantos dos pássaros e ate engarrafar. Um olhar lindo para dentro da sua criança viva e pulsante.
    Gostei e fui ao link, muito bom Janita.
    Abraços e bom fim de semana com poesia e paz.

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    1. Olá, Toninho.
      Sorri com dessa sua expressão de "até engarrafar", referindo o bêbado da rua deserta do poeta, que também já via coisas...:)
      Muito grata pelas suas lindas e amistosas palavras.

      Um forte abraço com o meu carinho.

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  14. Um poema lindo de Manoel de Barros que desconhecia.
    Gostei da voz do declamador.
    Fotografar o silêncio é muito difícil, há dias tentei e saí-me mal.
    Aquela foto de infância é bem bonita e concerteza bateu a saudade da infância
    Beijinhos amiga Janita

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    1. Olá, querida Manu.
      Que bom teres feito a tentativa de fotografar o silêncio. Vais ver que da próxima vez te sairás bem. :))
      Beijinhos e tudo de bom, amiga Manu.

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  15. Gosto muito de fotografia.
    Ler o poema de Manoel de Barros, faz-me reforçar esse gosto.
    Beijinhos, Janita.

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    1. Ainda bem, António. Fiquei contente por teres gostado deste poema invulgar.

      Beijinhos e tudo de bom, amigo.

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  16. Great poem I loved and nice photo

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