"O Fotógrafo" Poema de Manoel de Barros
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas,
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro horas da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha maquina.
O silêncio era um carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Via uma lesma pregada na existência mais do que pedra.
Fotografei a existência dela.
Via ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa
Fotografei o sobre.
Por fim enxerguei a Nuvem de Calças
Representou para mim que ela andava na aldeia
de braços com Mayakovski - seu criador
O Fotografei a "Nuvem de Calças" e o poeta.
* * *
[ Aos interessados em ler alguns poemas do autor referido neste poema, ou seja, de Vladimir Mayakovsky, faça favor de clicar AQUI ]
Já eu, que não sou fotógrafa nem poeta, não fotografei o perfume nem o silêncio nem a madrugada. Fotografei a fotografia de um passado distante, do qual ainda lhe sinto um leve aroma de saudade.
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Tambem prefiro fotografar algo/alguem concreto. : )
ResponderEliminarTalvez porque nem tu eu sejamos poetisas, querida Catarina, só conseguimos fotografar o que se vê e é palpável. Creio bem que nem é uma questão de preferência. Deve ser algo que mora fundo na alma dos poetas e, esse dom, passou por nós, sem parar, na hora em que nascemos. :)) Que dizes?
EliminarGrande abraço.
O meu pragmatismo conduz-me a esta preferência.
EliminarEstou totalmente de acordo contigo. : ) O talento poético e a sensibilidade a que ele está associada quando chegou perto de mim desviou-se... : )
:)) Foi justamente por eu saber desse teu lado pragmático que fui ver se a tua resposta estaria em spam, uma vez que nunca deixas uma pergunta sem resposta. Lá estava ele... veio a reboque comigo... :)
Eliminar: ))
EliminarAs fotos da infância são sempre nostálgicas.
ResponderEliminarO poema publicado é de um grande poeta e de uma grande inventiva.
Boa Noite. Um abraço.
Infância essa que nem é a minha, Luís, mas a de pessoas a quem estou ligada por laços de ternura e de sangue.
EliminarManoel de Oliveira foi um Poeta excepcional, que pertenceu ao PCB. Algo o desiludiu e acabou por tomar outro rumo fora do seu país de origem.
Um abraço.
Perdão...quis dizer Manoel de Barros, obviamente!
EliminarO cineasta estará a pensar em mim?
Quem tem uma voz tão grave pode dizer os nomes da lista telefónica que soa bem na mesma.
ResponderEliminarBeijinhos, bfds
A voz grave e pausada, Pedro, é a de Eduardo Tornaghi. :)
EliminarInfelizmente, o som deve muito à perfeição. Ainda hesitei antes de o colocar, mas o Tornaghi tem algo que me atrai. Se calhar é aquele seu jeito de cofiar a barba...:))
Beijinhos, bom fim-de-semana.
A sua foto é linda. O poema muito bom. Vladimir Mayakovsky é um dos meus poetas de eleição. Já algumas vezes passou pelo Sexta, a última vez no dia 1 de Maio.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom fim de semana
Nem me apercebi disso, amiga Elvira.
EliminarAndei uns dias um bocado em baixo e sem condições de andar pela blogosfera, de modo que não tomei conhecimento da passagem de Mayakovsky pelo seu Sexta.
Já eu, só fiquei a conhecer o poeta russo depois que o Professor Sant'Anna me falou no poema referido por Manoel de Barros.
Um abraço e obrigada, amiga.
Um belo poema de que gostei bastante e também de ver a foto de um passado para recordar e "saborear".
ResponderEliminarGostei do video.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Sabe, Francisco? Estas recordações estão tão distantes da realidade actual, que me parecem ser coisa de outras vidas que não a minha.
EliminarÉ ao fazer a comparação com as pessoas retratadas, de como eram e hoje são, que me apercebo de como estou pertinho de chegar à minha meta.
A vida é mesmo um "ai", que mal soa!
Um abraço e bom fim-de-semana, Francisco.
Obrigada.
Bom dia
ResponderEliminarGosto de poesia e de fotografia e não podia ficar indiferente perante este lindo cenário .
Quantas vezes uma foto nos mostra o sentimento da pessoa .
JR
O Poeta falou nas coisas fotografadas, eu fotografei um momento do Passado. Também ele se não pode agarrar, não é verdade?
EliminarOs meninos, aqui, estavam com um ar algo apreensivo. Se calhar não paravam quietos e o fotógrafo era exigente. :)
Boa tarde, JR!
Embora já tenha lido alguma coisa deste poeta, não conhecia este poema e está muito interessante! A foto está muito gira bem ao estilo da época.
ResponderEliminarNão consegui ver e ouvir o vídeo porque as colunas estão constipadas. Volta e meia ficam assim, coitadas:)))
Beijocas e um bom dia
Creio tratar-se de um poema invulgar, Fatyly.
EliminarPelo tema e pela forma peculiar como o poeta o descreve.
No vídeo, o som deixa muito a desejar, mas não encontrei outro.
Beijos e obrigada.
Fotografaste a foto da silenciosa beleza e inocência da tua infância.
ResponderEliminarIsso é vpoesia!
Abraço
Não é da minha infância, querida Leo! Se bem que, nesta altura, eu fosse pouco mais do que uma criança. :)
EliminarA menina do centro é muito parecida comigo. Aliás, já publiquei uma foto minha, mais ou menos com a mesma idade, em que se pode verificar essa semelhança. Também não admira; é minha filha! :))
Só para teres uma noção...essa menininha, é hoje uma quinquagenária tão bem conservada como eu era com a sua idade. Actualmente, aposto que já ninguém dirá parecermos irmãs. Finalmente... Eheheheheh
Já o menino da direita, meu sobrinho mais velho...Santo Deus, como ele envelheceu! Parece meu pai... :(
Um forte abraço, Leo.
Obrigada.
Poema deslumbrante que muito de deliciou ler.
ResponderEliminar.
Feliz fim-de-semana.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Bonita publicação. A sua foto é maravilhosa. Tão bom esta saudade!
ResponderEliminar-
Beijos, e um bom fim de semana.
A poesia de Manoel de Barros tem um quê infantil que nos comove sempre ,Sua fotografia tem muito isso, a singeleza da infância que lembra madrugadas, perfumes e nuvens.
ResponderEliminarCom são ternas as lembranças ! anotei aqui do Vladimir Mayakovsky, para depois pesquisar. Gostei de lembrar do Tornahhi que agora promove saraus de poesia , gostava mais de vê-lo atuar.
Abraço ,Janita , muitos abraços,.
Estou quase voltando ao Rio de Janeiro e tenho já saudades de casa ...
Olá, Lis.
EliminarFoi justamente essa quase infantilidade deste poema, que me levou na procura de fotos antigas de meninices a p&b. :)
Gostei que o tivesses mencionada.
Amiga, quando estamos ansiosas esperando algo, o tempo custa a passar. Lembro da tua ansiedade antes de viajares para a Suíça. Quando estiveres em casa...sentes saudades daí. O ser humano é feito de insatisfações e ainda bem. É isso que faz girar o mundo. :)
Grande abraço, querida Lis.
Fica bem.
Gosto muito da poesia Manoel de Barros, por ele usar poucas metáforas, uma poesia gostosa de ler e que muitas vezes nos identificamos. Tem um espírito ótimo, vejo nos poemas.
ResponderEliminarCustei a reconhecer o Eduardo Tornaghi. Rssss Adorei essa tua escolha.
Quando vejo fotos antigas minhas, principalmente em preto/branco, tenho uma impressão que tirei em outras vidas...rsss, como passa o tempo, amiga!
Beijinho, minha querida, um ótimo fim de semana!
Olá, amiga Taís.
EliminarA poesia de Manoel de Barros é tão gostosa de ler que, creio não haver quem não goste. É leve, facilmente entendível e acessível no uso das palavras. Também gosto muito. :)
Obrigada amiga, um beijinho enorme e tudo de bom.
Linda partilha com Manoel com sua poesia de altíssima sensibilidade, que consegue tocar no silencio, nos cantos dos pássaros e ate engarrafar. Um olhar lindo para dentro da sua criança viva e pulsante.
ResponderEliminarGostei e fui ao link, muito bom Janita.
Abraços e bom fim de semana com poesia e paz.
Olá, Toninho.
EliminarSorri com dessa sua expressão de "até engarrafar", referindo o bêbado da rua deserta do poeta, que também já via coisas...:)
Muito grata pelas suas lindas e amistosas palavras.
Um forte abraço com o meu carinho.
Um poema lindo de Manoel de Barros que desconhecia.
ResponderEliminarGostei da voz do declamador.
Fotografar o silêncio é muito difícil, há dias tentei e saí-me mal.
Aquela foto de infância é bem bonita e concerteza bateu a saudade da infância
Beijinhos amiga Janita
Olá, querida Manu.
EliminarQue bom teres feito a tentativa de fotografar o silêncio. Vais ver que da próxima vez te sairás bem. :))
Beijinhos e tudo de bom, amiga Manu.
Gosto muito de fotografia.
ResponderEliminarLer o poema de Manoel de Barros, faz-me reforçar esse gosto.
Beijinhos, Janita.
Ainda bem, António. Fiquei contente por teres gostado deste poema invulgar.
EliminarBeijinhos e tudo de bom, amigo.
Great poem I loved and nice photo
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