segunda-feira, 9 de setembro de 2024

PASSEIO PELO RIO DOURO.

 


À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando 
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.




 
Lá não terá socalcos

Nem vinhedos

Na menina dos olhos deslumbrados;

Doiros desaguados

Serão charcos de luz

Envelhecida;

Rasos, todos os montes

Deixarão prolongar os horizontes

Até onde se extinga a cor da vida.




 


Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança

Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

S. Leonardo de Galafura

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[ Fotografias minhas - Poema de Miguel Torga ]


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22 comentários:

  1. Lindo passeio, fotos bem especiais e poesia!
    Ótima semana, beijos, chica

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    1. Não é à toa que este rio e toda a rota por onde passa é D'ouro, Chica.
      Beijinhos.

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  2. Publicação maravilhosa que muito gostei de ver e ler. Deixo o meu elogio.
    Cumprimentos

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  3. Um vídeo interessantíssimo para admirar a paisagem e lembrar um dos meus escritores portugueses preferidos — transmontano, está claro.
    Ao ver as belas fotografias recordei o maravilhoso passeio pelo Douro do Porto até à Régua com duas alemãs amigas.
    Boa noite para ti e até amanhã com as terças-feiras musicais 🎶🎶🎶

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    1. Se não tivesses mencionado as Terças-Feiras musicais nem me lembrava, Teresa.
      Já está preparada, mas sem agendamento de hora. Até à meia-noite é terça-feira.
      Um abraço

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  4. Que saudades tenho deste lugar e destas fotos.
    Já fiz este precurso e adorei.
    O poema é sublime.
    Beijinhos Janita

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    1. Podes voltar sempre que quiseres, Manu. O rio Douro e os Cais de ambas as margens nunca saem daqui, à tua espera!
      Beijinhos

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  5. Quando passar pelo Cais Capelo & Ivens tire uma fotografia especial.
    Lugar mágico!
    Beijinhos

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    1. Para o Pedro, especialmente, esse Cais terá um encanto cheio de magia, suponho!
      Beijinhos

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  6. Logo que li os primeiros versos, adivinhei que eram palavras do Torga. O miradouro de Galafura fica perto da terra onde ele nasceu e deve ter lá ido vezes sem conta para admirar o Douro.

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    1. No vídeo, podemos ouvir justamente isso que o Tintinaine diz.
      Depois de conhecermos o estilo poético de Torga, facilmente o reconhecemos nos versos que escreveu.
      Um abraço.

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  7. Não conheço o Douro e fico sempre encantada pelas reportagens que fazes! Adorei vir aqui e obrigada pelo passeio e diria com o Torga:)
    Beijos e um bom dia

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    1. Para tudo nesta vida, há sempre uma primeira vez, Fatyly.
      Poderás vir num qualquer dia, quando menos esperares.
      Beijinhos

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  8. Conheci o dr. António Coelho da Rocha no seu consultório em Coimbra onde ao longo de três dias me confessou que escrevia muito mais do que dava consultas... E quando, no meio da charla ma perguntou qual da sua vastíssima obra preferia lhe respondi que eram os «Bichos» que, aliás, conservo, cuidadosa e religiosamente autografado por ele.
    «Bichos» é um livro de contos publicado pela primeira vez em 1940. Atingiu, em edição de autor, 11 edições. Bichos combina a requintada escrita de Torga, tornando cada animal apresentado numa pessoa.
    Se ainda não o leram, tomo a liberdade de o fazer; para mim é uma «pequena obra prima». Mas, voltando ao poema que publicas, mais um exemplo do génio de Torga que, para mim, deveria ter recebido o Nobel. Mas, não era comunista, nem tinha a Pilar del Rio...
    As tuas fotos, maravilhosas, se o Torga ainda fosse vivo, diria que ilustram e de que maneira essa maravilha da Poesia. Muito obrigado querida Amiga.
    Beijos & queijos de cabra transmontanos
    Henrique

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    1. HenriquAmigo, permite-me um pequeno reparo. O verdadeiro nome do escritor/médico/poeta, que escolheu o pseudónimo literário de Miguel Torga - por razões já aqui explanadas - era Adolfo Correia da Rocha.
      Quando aos "Bichos" também o tenho, por sinal já bem velhinho. Quando o encontrar, numa nova edição, hei-de comprar, a exemplo do que já fiz com os seus "Contos da Montanha" .
      Eu é que te agradeço a presença assídua, meu Amigo.
      Beijinhos e queijos alentejanos.

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  9. Bom dia
    Um trabalho de se lhe tirar o chapéu, digno de ser publicado em qualquer canal de TV.
    Parabéns amiga.

    JR

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    1. Bom dia, amigo Joaquim.
      Agradeço a sua imensa generosidade, embora lhe reconheça um certo exagero, levado pela sua inestimável amizade. :)
      Um abraço.

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  10. Nostálgico este post. Mas, é uma nostalgia boa. Para mim, pelo menos.
    Tanto o passeio de barco como a visita ao Miradouro me deixaram muito boas recordações.
    Miguel Torga é mais um dos grandes autores portugueses.
    Um abraço Janita,
    Sandra Martins

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    1. Sabe Sandra? Penso que das coisas más que a todos acontece nesta vida, ninguém sentirá saudades = nostalgia, penso, (logo existo 😊 ) Pelo que, para mim, toda a nostalgia é boa. A melancolia é que nem por isso!
      No Miradouro nunca estive, mas na terra natal do poeta, já.
      Cá para mim, Torga, não é «mais um dos grandes». É o grande!

      Um abraço, Sandra e tudo de bom na sua vida.

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  11. Mas que bem.... Faz cruzeiros no Douro, vai com a cabeça ao vento e às tantas também deve beber cálices de vinho do Porto.

    E o próximo?
    Vai num daqueles cruzeiros que saem Leixões rumo ao mar do norte?
    Vai ver as baleias e as orcas?
    :-)

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    1. 😊 Ah, pois faço...
      Todos os direitos me assistem.
      Há tantos anos a viver no Norte
      Maldita seria a minha sorte
      Se permanecesse no Cais
      Sem ver os socalcos marginais
      Que em todo o percurso existem. 😛

      Não, Remus! Baleias e orcas são peixões que me intimidam.
      Prefiro ir ver os golfinhos... quer ir comigo?

      Um abraço.

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