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Retalhos de Vidas Vividas.
Minha Mãe levantou pedrasDaquele chão empedradoQue num tempo longínquoHavia sido uma cavalariçaNa casa emprestada a meu TioPelo dono de uma HerdadeOnde havia sido trabalhador,Durante quase toda a sua vida adulta.
Solteirão, que na juventude
Tinha sido marinheiro,
Ali acabaria os seus dias de velhice.
Minha Mãe, quis ir viver com o irmão. (2 anos mais novo, sentindo-se sua protectora - como sempre - desde que aos 11 e 13 anos, respectivamente, ficaram órfãos de mãe)
Fazer-lhe companhia - disse-nos - a mim e à minha irmã.
Sempre que os visitava ficavaboquiaberta com os bonitos canteirosde lindas flores que iam embelezandoaquele espaço, junto e à volta do alpendrecom telheiro onde, suponho, tenha sido olugar das manjedouras - sei lá- digo eu!Agora, remodelado a seu gosto
Um dia, perguntei-lhe:
Fez sinal para que me aproximasse
Dizendo-me baixinho ao ouvido
Para que o meu Tio a não ouvisse:
"-Levanto-me cedo, mal amanhece e vou ao Jardim Público
O mesmo onde tu brincavas quando saías da escola.
Então, sob o olhar vigilante e cúmplice do Primo António,
que é agora o jardineiro, tiro uma 'pernadinha' aqui, outra ali, com raiz.- Ninguém nota nada, e vou embelezando este deserto..."
Já ambos partiram e, segundo sei, lá no Eden onde ambos residem agora, são abençoados pelo Criador.
O meu Tio pela honradez e lealdade de carácter.
Mestre João Moreno - como respeitosamente era tratado lá na terra, e já antes havia sido tratado seu Pai; meu Avô.
A minha saudosa Mãe, por ter apenas mudado de lugar uns raminhos de plantas.
Tornando mais agradável, perfumado e florido
o espaço inóspito, onde antes só havia pedras.
Não merecia o castigo de ficar a penar no Purgatório...
Isso, qualquer ateu deduz!
ADENDA: Tudo o que escrevi acima poderia ter sido invenção minha, mas não foi. Jamais usaria o nome e imagens de familiares que me são queridos para contar estórias. Quem conheceu estes meus familiares sabe que é verdade. Desde o apego de minha Mãe pelo irmão, como os factos que contei. Os factos, as palavras poderiam não ter sido exactamente assim como as descrevi.
É evidente que não tenho fotografias que testemunhem o levantamento dos paralelos do quintal da pequena casa onde tudo aconteceu, mas tenho esta foto para testemunhar que, esteja minha Mãe onde estiver, para além de saber que tudo isto é verdade, descansará com infinita Paz, pois nem a morte a separou do seu mano mais novo. Os seus restos mortais repousam juntos na mesma campa.
Descansem em Paz queridos Mãe e Tio João , e perdoem-me perturbar a vossa memória. Esta será pois a última vez que de vós falarei publicamente. Infelizmente, existem pessoas que não merecem ouvir a verdade, de tão habituados estarem a contar mentiras.
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Um memorável retalho de vida.
ResponderEliminarSob monte de pedras também nascem flores e assim o que era feio ficou belo e perfumado. As plantas nos dão exemplo de resiliência.
Bela postagem Janita com uma saudade que não dói.
Abraços e feliz domingo
É verdade, Toninho. A saudade destes dias é tão doce que não magoa quando os recordo.
EliminarMuito obrigada, um grande abraço
Uma narrativa muito doce e tranquila que gostei imenso! A foto do nascer do sol igualmente bela.
ResponderEliminarBeijos e um bom domingo
Grata pela doçura das tuas palavras, Fatyly.
EliminarBem-hajas, um grande abraço e uma boa semana.
Eu já tinha ouvido falar nesta famílias dos Morenos! Agora, sabendo que nela houve um marinheiro, começo a sentir-me um membro dessa família!
ResponderEliminarSim, já tínhamos conversado sobre a nossa árvore genealógica. Sinta-se em família, Tintinaine. Pena o meu Tio ter sido homem de poucas falas - até nisso se parecia com meu Avô - e nunca ter mencionado pormenores sobre essa fase da sua vida.
EliminarObrigada, um abraço.
Alentejanitamiga
ResponderEliminarAqui não aparece a rua resposta validissíma. Mesmo assim, errare humano est.
Oscula et Gorgonzola caseum
Henricus
Desculpa HenriquAmigo, se não consegues ser mais claro e deixar o Latim de lado, olha, fala-me a cantar...
EliminarÓsculos e amplexos, tb para ti.
Bom dia
ResponderEliminarA vida é feita de retalhos .
Juntá-los e recordá-los é gratificante.
JR
Assim é, e cada retalho tem a sua cor, tamanho e feitio.
EliminarObrigada, boa semana
Olá, Janita!
ResponderEliminarQue belo pedacinho da história da vida da sua mãe! Qual purgatório, qual quê! Ela deve é andar toda feliz a compor os canteiros do céu!
Acreditasse eu nesse céu e juraria que a minha mãe também por lá anda a tentar enchê-los de sardinheiras que eram as suas flores favoritas.
Um beijinho
Olá, Maria João.
EliminarVê-la por aqui já me enche o coração de alegria!
Acredito que sim, as flores eram tudo para minha Mãe.
Sim, sardinheiras também havia muitas, mas não neste jardim improvisado neste quintal pertença dos descendentes do Sr. Major Lobão. Essas e outras flores tínhamos na nossa casa também lá na terra, quando eu era criança. Tudo isto aconteceu muitos anos depois.
Um Beijinho grande e o meu sincero agradecimento pela sua visita.
“Retalhos de vidas…” fez-me recordar Retalhos da Vida de um Médico de Fernando Namora.
ResponderEliminarRetalhos de Vida de uma Família Alentejana seria um bom título para o teu livro.
Pelas fotos imagino uma família muito bonita!
Gostei!!
SIM, Catarina, quando falo em retalhos de vida também me vem à ideia esse romance de Fernando Namora. :)
EliminarPor sinal, o meu filho já me disse para ir escrevendo as minhas memórias...Quem sabe um dia o faça?
Beijos.
Recordações que marcam a vida. Publicação que muito gostei de ler.
ResponderEliminar.
Saudações poéticas. Domingo feliz.
.
Muito obrigada, caro Rycardo.
EliminarSaudações e uma boa semana.
Que pensará (dirá?) o Noah, quando for do seu entendimento, as histórias que a avó lhe vai contar? "Oh avó, tens cá umas invencionices do caraças!. Ou leste isso onde? É mesmo verdade que nesse tempo era assim? Mostra lá as fotos". E a avó dirá: era assim, naqueles tempos. Olha as fotos".
ResponderEliminarVotos de boa semana.
Quem não sabe o que lhe dizer, sou eu.
EliminarPreferi escrever um apêndice ao que já havia escrito.
Boa semana.
PS_ Quando a minha Mãe partiu ainda nenhum dos meus 3 netos tinha nascido.
A vida também é feita de pequenos e grandes retalhos,
ResponderEliminarBoa semana Janita
Grata Zaratustra!
EliminarMais palavras, para quê... Se tudo já foi dito?!
Boa semana!
Os nossos mortos
ResponderEliminarnão morrem
(e aqui ficou
a tua bela homenagem
a quem continuas a amar)
Beijo
Os nossos entes queridos morrem para a vida, como um dia acontecerá connosco, Rogério, mas continuam vivos em nós enquanto tivermos memória.
EliminarBeijinhos, gratos, meu amigo!
Amor fraternal, Janita.
ResponderEliminarAssisti a um caso que me marcou muito.
Ela tinha uma doença oncológica que se sabia ser terminal.
E o irmão repetia incessantemente que morreria se ela morresse.
Sobreviveu uma semana.
Desistiu de viver.
Beijinhos, boa semana
O Pedro tem uma qualidade rara, hoje em dia, que eu própria gostaria de ter. Talvez, mercê dessa sua capacidade de compreender e aceitar o 'outro', mesmo quando com ele discorda de alguma forma, sem acusações nem recriminações, eu o admire e respeite tanto. Obrigada por isso.
EliminarSinto-me imensamente grata pelo Pedro trazer sempre à tona, o melhor que há em mim.
Não é qualquer pessoa que me aceita como sou ; voluntariosa, obstinada e teimosa, por isso, não tem faltado na minha vida quem me puxe para baixo e torne pior do que sou...sem fazer o mínimo esforço para me entender.
Havia uma rubrica nas Selecções do Reader's Digest, que tinha por título "O Meu Tipo Inesquecível".
Casa pessoa , famosa ou anónima, escrevia uma curta crónica sobre alguém que jamais esqueceriam pela admiração que lhe inspiraram, com bons e melhores exemplos.
Após o falecimento inesperado, precoce e devastador, de uma pessoa que era o suporte moral e psicológico, da sua família e da minha, era ele, o meu cunhado Carlos que partiu com 40 anos de idade, que eu associava ao " meu tipo inesquecível". Hoje, posso dizer que o Pedro se juntou a ele, pelas qualidades de carácter e bem fazer.
E mais não direi, caso contrário, até lhe pode parecer um elogio de mau agouro. Cruzes, nada disso! Foi somente uma associação de ideias.
Beijinhos, boa semana
Não sabia que era de Serpa (devo andar distraído). Um meu antigo colega de escola foi Presidente da Câmara muitos anos (o João Rocha, que foi aí parar porque se terá casado com uma alentejana dessas bandas).
ResponderEliminarA história verdadeira que conta é uma homenagem muito bonita que faz à sua mãe e ao seu tio.
Boa semana minha amiga Janita.
Beijinhos.
É ver como o mundo é pequeno, amigo Jaime!
EliminarO Presidente João Rocha que toda a gente sabia ser de Viana do Castelo e foi para lá como docente, só posteriormente casou e se candidatou.
Não havia quem não reconhecesse que, não sendo um filho da terra, foi quem mais fez em prol da então Vila de Serpa. Foi ele que durante um certo período de grande seca - não me recordo o ano - decretou que o Jardim Público deixaria de ser regado. Sacrificou a beleza, em prol das necessidades dos habitantes. Para evitar que os detritos domésticos se acumulasse e desse origem á propagação de doenças, criou um slogan que foi colocado junto de todos os contentores: "Lixo Posto ao Sol-Posto" e que todas as paredes, interiores e exteriores, das casas fossem caiadas ( com cal, não pintadas) de branco.
Não foi à toa que João Rocha foi Presidente da Câmara durante cerca de trinta anos. Quando veio a lei da impossibilidade de mais de dois mandatos, saiu. E deixou saudades!
Grata, amigo Jaime. Adorei relembrar estes pormenores que não sendo assistidos por mim, diariamente, foram-me sendo contados por familiares e amigos sempre que lá ia.
Beijinhos e uma óptima semana.
Em tudo há gente do "bota abaixo" e pela tua adenda senti isso e dar troco ou importância é tempo perdido.
ResponderEliminarRepito que fizeste uma bela homenagem aos teus que já partiram e bola p'ra frente!
Beijos e um bom dia
Querida Fatyly, não serão bem do género "bota abaixo", creio até que não houvesse a mínima intenção de ofensa, apenas não foram sensíveis ao que escrevi e senti. Pensaram que fossem historietas: "umas invencionices do caraças"...como disse o 500.
EliminarSó me senti magoada porque, conhecendo-me há tanto tempo, afinal...não me conhecem.
Obrigada pelo apoio.
Beijinhos e boa semana.
Parece que fui mal interpretado, o que lamento. O que eu disse foi que o Noah haveria de pensar serem invencionices, não o que a Janita escreveu e que lhe haveria de contar. Como também disse, o passado, mesmo não muito antigo, pouco diz aos jovens de hoje, de tal modo o Mundo mudou e não só a tecnologia, mas os usos e costumes e a porca miséria em que Portugal vivia até, pelo menos, a década de 60 do século passado. em que a emigração começou em força. E, sim, como os familiares, amigos ou meros vizinhos se ajudavam mutuamente,
ResponderEliminarO que a Janita escreveu não foi uma estória e isso bem entendi, que fique claro.
Vai desculpar, mas nada do que diz me faz sentido.
EliminarEsta publicação foi para contar um facto ocorrido, não tem dada a ver com as dificuldades da vida num passado não muito distante, nem com a actual tecnologia ou a do futuro, e muito menos com netos ou bisnetos.
Boa noite!
Se for preciso e se a Janita quiser, eu posso sair feito Rambo e ir partir as fuças a alguém. Só tem que me dar instruções precisas, não vá eu ir, chegar, enganar-me e partir as fuças à(s) pessoa(s) errada(s).
ResponderEliminarE no máximo só aceito partir as fuças a três pessoas. Mais que isso, já fica cansativo para os braços.
:-D :-P
Tonto...Tonto e tonto!! :)))
EliminarMas foi bom saber...Ó se foi!