domingo, 8 de setembro de 2024

QUANDO O ESPAÇO VAZIO DAS PEDRAS REMOVIDAS SE TORNA NUM BELO JARDIM.

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Retalhos de Vidas Vividas.


Minha Mãe levantou pedras
Daquele chão empedrado
Que num tempo longínquo
Havia sido uma cavalariça
Na casa emprestada a meu Tio
Pelo dono de uma Herdade
Onde havia sido trabalhador,
Durante quase toda a sua vida adulta.
 

Solteirão, que na juventude 

Tinha sido marinheiro,
Ali  acabaria os seus dias de velhice.
Minha Mãe, quis ir viver com o irmão. (2 anos mais novo, sentindo-se sua protectora - como sempre - desde que aos 11 e 13 anos, respectivamente, ficaram órfãos de mãe)
Fazer-lhe companhia - disse-nos - a mim e à minha irmã.

Sempre que os visitava ficava
boquiaberta com os bonitos canteiros
de lindas flores que iam embelezando 
aquele espaço, junto e à volta do alpendre
com telheiro onde, suponho, tenha sido o
lugar das manjedouras - sei lá- digo eu!
Agora, remodelado a seu gosto

Um dia, perguntei-lhe:

-"Mãe, aonde vai comprar toda esta variedade de flores tão bonitas"?
Fez sinal para que me aproximasse 
Dizendo-me baixinho ao ouvido
Para que o meu Tio a não  ouvisse:

"-Levanto-me cedo, mal amanhece e vou ao Jardim Público
O mesmo onde tu brincavas quando saías da escola.
Então, sob o olhar vigilante e cúmplice do Primo António,
que é agora o jardineiro, tiro uma 'pernadinha' aqui, outra ali, com raiz.- Ninguém nota nada, e vou embelezando este deserto..."

Já ambos partiram e, segundo sei, lá no Eden onde ambos residem agora, são abençoados pelo Criador.
O meu Tio pela honradez e lealdade de carácter.
Mestre João Moreno - como respeitosamente era tratado lá na terra, e já antes havia sido tratado seu Pai; meu Avô.


A minha saudosa Mãe, por ter apenas mudado de lugar uns raminhos de plantas.
Tornando mais agradável, perfumado e florido
o espaço inóspito, onde antes só havia pedras.
Não merecia o castigo de ficar a penar no Purgatório...
Isso, qualquer ateu deduz!



ADENDA:  Tudo o que escrevi acima poderia ter sido invenção minha, mas não foi. Jamais usaria o nome e imagens de familiares que me são queridos para contar estórias. Quem  conheceu estes meus familiares sabe que é verdade. Desde o apego de minha  Mãe pelo irmão, como os factos que contei. Os factos, as palavras poderiam não ter sido exactamente assim como as descrevi.
É evidente que não tenho fotografias que testemunhem o levantamento dos paralelos do quintal da pequena casa onde tudo aconteceu, mas tenho esta foto para testemunhar que, esteja minha Mãe onde estiver, para além de saber que tudo isto é verdade, descansará com infinita Paz, pois nem a morte a separou do seu mano mais novo. Os seus restos mortais repousam juntos na mesma campa.
Descansem em Paz queridos Mãe e Tio  João , e perdoem-me perturbar a vossa memória.  Esta será pois a última vez que de vós falarei publicamente. Infelizmente, existem pessoas que não merecem ouvir a verdade, de tão habituados estarem a contar mentiras. 

Cemitério de Serpa



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32 comentários:

  1. Um memorável retalho de vida.
    Sob monte de pedras também nascem flores e assim o que era feio ficou belo e perfumado. As plantas nos dão exemplo de resiliência.
    Bela postagem Janita com uma saudade que não dói.
    Abraços e feliz domingo

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    1. É verdade, Toninho. A saudade destes dias é tão doce que não magoa quando os recordo.
      Muito obrigada, um grande abraço

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  2. Uma narrativa muito doce e tranquila que gostei imenso! A foto do nascer do sol igualmente bela.
    Beijos e um bom domingo

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    1. Grata pela doçura das tuas palavras, Fatyly.
      Bem-hajas, um grande abraço e uma boa semana.

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  3. Eu já tinha ouvido falar nesta famílias dos Morenos! Agora, sabendo que nela houve um marinheiro, começo a sentir-me um membro dessa família!

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    1. Sim, já tínhamos conversado sobre a nossa árvore genealógica. Sinta-se em família, Tintinaine. Pena o meu Tio ter sido homem de poucas falas - até nisso se parecia com meu Avô - e nunca ter mencionado pormenores sobre essa fase da sua vida.
      Obrigada, um abraço.

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  4. Alentejanitamiga
    Aqui não aparece a rua resposta validissíma. Mesmo assim, errare humano est.
    Oscula et Gorgonzola caseum
    Henricus

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    1. Desculpa HenriquAmigo, se não consegues ser mais claro e deixar o Latim de lado, olha, fala-me a cantar...
      Ósculos e amplexos, tb para ti.

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  5. Bom dia
    A vida é feita de retalhos .
    Juntá-los e recordá-los é gratificante.

    JR

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    1. Assim é, e cada retalho tem a sua cor, tamanho e feitio.
      Obrigada, boa semana

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  6. Olá, Janita!

    Que belo pedacinho da história da vida da sua mãe! Qual purgatório, qual quê! Ela deve é andar toda feliz a compor os canteiros do céu!
    Acreditasse eu nesse céu e juraria que a minha mãe também por lá anda a tentar enchê-los de sardinheiras que eram as suas flores favoritas.

    Um beijinho

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    1. Olá, Maria João.
      Vê-la por aqui já me enche o coração de alegria!
      Acredito que sim, as flores eram tudo para minha Mãe.
      Sim, sardinheiras também havia muitas, mas não neste jardim improvisado neste quintal pertença dos descendentes do Sr. Major Lobão. Essas e outras flores tínhamos na nossa casa também lá na terra, quando eu era criança. Tudo isto aconteceu muitos anos depois.

      Um Beijinho grande e o meu sincero agradecimento pela sua visita.

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  7. “Retalhos de vidas…” fez-me recordar Retalhos da Vida de um Médico de Fernando Namora.
    Retalhos de Vida de uma Família Alentejana seria um bom título para o teu livro.
    Pelas fotos imagino uma família muito bonita!

    Gostei!!

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    1. SIM, Catarina, quando falo em retalhos de vida também me vem à ideia esse romance de Fernando Namora. :)
      Por sinal, o meu filho já me disse para ir escrevendo as minhas memórias...Quem sabe um dia o faça?
      Beijos.

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  8. Recordações que marcam a vida. Publicação que muito gostei de ler.
    .
    Saudações poéticas. Domingo feliz.
    .

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    1. Muito obrigada, caro Rycardo.
      Saudações e uma boa semana.

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  9. Que pensará (dirá?) o Noah, quando for do seu entendimento, as histórias que a avó lhe vai contar? "Oh avó, tens cá umas invencionices do caraças!. Ou leste isso onde? É mesmo verdade que nesse tempo era assim? Mostra lá as fotos". E a avó dirá: era assim, naqueles tempos. Olha as fotos".
    Votos de boa semana.

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    1. Quem não sabe o que lhe dizer, sou eu.
      Preferi escrever um apêndice ao que já havia escrito.
      Boa semana.
      PS_ Quando a minha Mãe partiu ainda nenhum dos meus 3 netos tinha nascido.

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  10. A vida também é feita de pequenos e grandes retalhos,
    Boa semana Janita

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    1. Grata Zaratustra!
      Mais palavras, para quê... Se tudo já foi dito?!
      Boa semana!

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  11. Rogério V. Pereira09 setembro, 2024 00:44

    Os nossos mortos
    não morrem
    (e aqui ficou
    a tua bela homenagem
    a quem continuas a amar)

    Beijo

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    1. Os nossos entes queridos morrem para a vida, como um dia acontecerá connosco, Rogério, mas continuam vivos em nós enquanto tivermos memória.
      Beijinhos, gratos, meu amigo!

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  12. Amor fraternal, Janita.
    Assisti a um caso que me marcou muito.
    Ela tinha uma doença oncológica que se sabia ser terminal.
    E o irmão repetia incessantemente que morreria se ela morresse.
    Sobreviveu uma semana.
    Desistiu de viver.
    Beijinhos, boa semana

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    1. O Pedro tem uma qualidade rara, hoje em dia, que eu própria gostaria de ter. Talvez, mercê dessa sua capacidade de compreender e aceitar o 'outro', mesmo quando com ele discorda de alguma forma, sem acusações nem recriminações, eu o admire e respeite tanto. Obrigada por isso.
      Sinto-me imensamente grata pelo Pedro trazer sempre à tona, o melhor que há em mim.
      Não é qualquer pessoa que me aceita como sou ; voluntariosa, obstinada e teimosa, por isso, não tem faltado na minha vida quem me puxe para baixo e torne pior do que sou...sem fazer o mínimo esforço para me entender.

      Havia uma rubrica nas Selecções do Reader's Digest, que tinha por título "O Meu Tipo Inesquecível".
      Casa pessoa , famosa ou anónima, escrevia uma curta crónica sobre alguém que jamais esqueceriam pela admiração que lhe inspiraram, com bons e melhores exemplos.
      Após o falecimento inesperado, precoce e devastador, de uma pessoa que era o suporte moral e psicológico, da sua família e da minha, era ele, o meu cunhado Carlos que partiu com 40 anos de idade, que eu associava ao " meu tipo inesquecível". Hoje, posso dizer que o Pedro se juntou a ele, pelas qualidades de carácter e bem fazer.
      E mais não direi, caso contrário, até lhe pode parecer um elogio de mau agouro. Cruzes, nada disso! Foi somente uma associação de ideias.
      Beijinhos, boa semana

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  13. Não sabia que era de Serpa (devo andar distraído). Um meu antigo colega de escola foi Presidente da Câmara muitos anos (o João Rocha, que foi aí parar porque se terá casado com uma alentejana dessas bandas).
    A história verdadeira que conta é uma homenagem muito bonita que faz à sua mãe e ao seu tio.
    Boa semana minha amiga Janita.
    Beijinhos.

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    1. É ver como o mundo é pequeno, amigo Jaime!
      O Presidente João Rocha que toda a gente sabia ser de Viana do Castelo e foi para lá como docente, só posteriormente casou e se candidatou.
      Não havia quem não reconhecesse que, não sendo um filho da terra, foi quem mais fez em prol da então Vila de Serpa. Foi ele que durante um certo período de grande seca - não me recordo o ano - decretou que o Jardim Público deixaria de ser regado. Sacrificou a beleza, em prol das necessidades dos habitantes. Para evitar que os detritos domésticos se acumulasse e desse origem á propagação de doenças, criou um slogan que foi colocado junto de todos os contentores: "Lixo Posto ao Sol-Posto" e que todas as paredes, interiores e exteriores, das casas fossem caiadas ( com cal, não pintadas) de branco.
      Não foi à toa que João Rocha foi Presidente da Câmara durante cerca de trinta anos. Quando veio a lei da impossibilidade de mais de dois mandatos, saiu. E deixou saudades!

      Grata, amigo Jaime. Adorei relembrar estes pormenores que não sendo assistidos por mim, diariamente, foram-me sendo contados por familiares e amigos sempre que lá ia.
      Beijinhos e uma óptima semana.

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  14. Em tudo há gente do "bota abaixo" e pela tua adenda senti isso e dar troco ou importância é tempo perdido.
    Repito que fizeste uma bela homenagem aos teus que já partiram e bola p'ra frente!
    Beijos e um bom dia

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    1. Querida Fatyly, não serão bem do género "bota abaixo", creio até que não houvesse a mínima intenção de ofensa, apenas não foram sensíveis ao que escrevi e senti. Pensaram que fossem historietas: "umas invencionices do caraças"...como disse o 500.
      Só me senti magoada porque, conhecendo-me há tanto tempo, afinal...não me conhecem.
      Obrigada pelo apoio.
      Beijinhos e boa semana.

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  15. Parece que fui mal interpretado, o que lamento. O que eu disse foi que o Noah haveria de pensar serem invencionices, não o que a Janita escreveu e que lhe haveria de contar. Como também disse, o passado, mesmo não muito antigo, pouco diz aos jovens de hoje, de tal modo o Mundo mudou e não só a tecnologia, mas os usos e costumes e a porca miséria em que Portugal vivia até, pelo menos, a década de 60 do século passado. em que a emigração começou em força. E, sim, como os familiares, amigos ou meros vizinhos se ajudavam mutuamente,
    O que a Janita escreveu não foi uma estória e isso bem entendi, que fique claro.

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    1. Vai desculpar, mas nada do que diz me faz sentido.
      Esta publicação foi para contar um facto ocorrido, não tem dada a ver com as dificuldades da vida num passado não muito distante, nem com a actual tecnologia ou a do futuro, e muito menos com netos ou bisnetos.
      Boa noite!

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  16. Se for preciso e se a Janita quiser, eu posso sair feito Rambo e ir partir as fuças a alguém. Só tem que me dar instruções precisas, não vá eu ir, chegar, enganar-me e partir as fuças à(s) pessoa(s) errada(s).
    E no máximo só aceito partir as fuças a três pessoas. Mais que isso, já fica cansativo para os braços.
    :-D :-P

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    1. Tonto...Tonto e tonto!! :)))
      Mas foi bom saber...Ó se foi!

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