sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

BOAS ENTRADAS PARA TODOS VÓS....Até 2012...!

Imagem recolhida na Net.
Se alguém de declarar seu autor, darei o crédito devido ou retirá-la-ei.
Feito o balanço deste velho ano, que se despede, cheguei à conclusão que o saldo foi muito positivo, a nível pessoal!
Conheci pessoas muito interessantes e especiais que, hoje, são muito importantes na minha vida. Mantive os amigos queridos de anos anteriores.
Vi, com imensa alegria, serem realizados os sonhos de pessoas de quem gosto muito, nomeadamente, a publicação de livros.
Ri, sorri, enterneci-me, comovi-me e chorei...mas senti-me viva!
Se 2012 for igual, será muito bom...senão, cá estarei de peito aberto para enfrentar o que vier!

E o vosso balanço? Espero que tenha sido tão positivo quanto o meu.

E...para terminar o ano em beleza:

Vou procurar  alegria                        
Não quero a alma vazia
nem sentir a solidão.
Neste  final de ano
desejo  muito dançar....

Qual pássaro no infinito, voar…
Suavemente deixar-me
embalar
ao som de uma bela canção!

Desejo-vos uma excelente Passagem de Ano.
Divirtam-se! Vamos deixar as preocupações
para depois...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

VOU ACABAR COM A PASSIVIDADE ...ANO NOVO VIDA NOVA!

                                                                            

                                                                                   
        A Esterilidade do Quotidiano
"Rara será a existência que actualmente se não deixe balouçar ao sabor das correntes, cada hora impelida a um rumo diferente pela última notícia que se leu ou pela última conversa que se teve.
Sem fim a que aponte, a alma da maioria dos homens flutua na vida com a fraca vontade e a gelatinosa consistência das medusas; um dia se sucede a outro dia sem que o viver represente uma conquista, sem que a manhã que renasce seja uma criação do nosso próprio espírito e não o fenómeno exterior que passivamente se aceita e que por hábito nos impele a um determinado número de acções."

Agostinho da Silva
Ensaísta –Poeta - Filósofo


Sr. Professor, esteja o Sr. onde estiver, garanto-lhe, neste novo ano que se avizinha, tudo será alterado. Quebro rotinas, tabus, relógios, horários... Tudo...
                            

domingo, 25 de dezembro de 2011

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO...


Imagem recolhida na Net.


“Olhai os lírios do campo que não fiam nem tecem. E em verdade vos digo que nem Salomão em toda sua magnificência, se vestiu com tamanho esplendor”.


Este ensinamento foi-nos deixado há cerca de dois mil anos e, no entanto, continuamos a inquietar-nos pelo dia de amanhã...!






Entre as dores e alegrias das memórias do passado e a ansiedade e angústia quanto ao futuro, deixamos de viver em pleno o momento presente.
Todos sabemos disso e no entanto não conseguimos evitar que o nosso pensamento nos roube a felicidade que só pode ser encontrada no agora.
Não sendo este o Natal do meu descontentamento, não posso dizer que seja o mais feliz.
Hoje levantei-me com as galinhas - ou galos ! Eram seis da manhã, estava  na cozinha a tomar uma boa chávena de café.
Um sentimento de nostalgia levou-me até ao Alentejo, à minha infância e ao dia de Natal.
Neste dia, de manhã cedinho, passada a Consoada, ainda com o aroma delicioso das filhós estaladiças e do chocolate quente a impregnar toda a casa, era chegada a hora de receber os presentes deixados pelo Menino Jesus durante a noite. 
Eu disse presentes… ?? Eram sim! Mas não brinquedos…invariavelmente, uma cestinha com dulcíssimos figos do Algarve e um atadinho de tabletes de chocolate, embrulhado em prata colorida.
E como nós – eu e a minha irmã – ficávamos felizes!
Todos estes pensamentos me ocorreram em virtude de um certo descontentamento…e dos jogos electrónicos para a playstacion do meu neto…

Vou continuar a alimentar a minha saudade e deixar, não um vídeo de cânticos de Natal, mas uma bela voz, num magnífico hino à terra que me viu nascer, crescer e aonde fui tão feliz.


"É tão bom ser pequenino
Ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no   destino                                               
E ter quem goste de nós."

Não sei quem esta quadra inventou.
Mas foi a minha Mãe que me ensinou.

A todos desejo a continuação de 

      BOAS FESTAS. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É SEMPRE TEMPO...DE ACONTECER NATAL!

A todos os amigos/as, antigos, recentes e eventuais leitores, desejo FELIZ NATAL E BOM ANO NOVO.  Se mais não for possível, com saúde e alegria! A todos agradeço o carinho que me têm dispensado ao longo deste ano. Espero continuar a merecer o muito que me têm dado. Obrigada a todos!




Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.



Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.


Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


                                          
                                                Por favor, não deixem de ouvir o vídeo.
                                                  A música e letra são tão lindas!
Imagens da Net.

                                                               

                                                                                



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

RELÍQUIAS...

Ainda se lembram deles...assim? !
                 
                 
   Amor Vivo



Amar! Mas dum amor que tenha vida...

Não sejam sempre tímidos harpejos,

Não sejam só delírios e desejos
Duma douda cabeça escandecida...



Amor que viva e brilhe! Luz fundida

Que penetre o meu ser – e não só beijos
Dados no ar – delírios e desejos –
Mas amor... dos amores que têm vida...


Sim, vivo e quente! E já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...


Nem murchará do sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?


Poema de Antero de Quental

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domingo, 11 de dezembro de 2011

DAR E RECEBER.

Imagem da Net.
Podemos aquecer a vida do outro
com o nosso calor,
mas o outro tem o dever
de manter viva
a nossa chama.

Penso ser esse o caminho certo
da reciprocidade.





Para todos os que gostam de Fado e Samba.
                                                                       

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

" Falta-me egoísmo para ascender ao céu..."


Visitei, um dia destes, uma Exposição de pintura em Lisboa, de trabalhos realizados pelos alunos de uma Escola de Arte que um familiar meu frequenta e fiquei totalmente deslumbrada.
Aos meus olhos de leiga, qualquer esboço ou uma simples cena campestre já é uma obra de arte.

Mas não era o caso. Ali havia talento;  que a aprendizagem da técnica, sob a orientação de um óptimo Mestre, aprimorou. Segundo ele, modestamente nos disse, algumas alunas  já o haviam suplantado em sensibilidade, engenho e arte. Acho que foi só mesmo modéstia, apesar de eu as ver sorrir muito!
Este "Nu" é da autoria da aluna Isabel Guerreiro. Que lhes parece?

Ainda alimento a esperança de um dia ir viver para perto da capital e fazer, então, o inverso do que faço agora. Aí, virei visitar o meu querido Porto, de vez em quando!

 * * * * * * * * * * * * * *
"Como Eu não Possuo"
Olho em volta de mim. Todos possuem
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo, mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção para me afundar no lodo.
Não sou amigo de ninguém. Para o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
* * * * *
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e cor!...
Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.

Mário de Sá-Carneiro, in "Dispersão".

* * * * * * * * * *

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Saudades do que não vivi...

Saudades da Terra

Uns olhos que me olharam com demora,
não sei se por amor se caridade
fizeram-me pensar na morte e na saudade
que eu sentiria se morresse agora.
 
E pensei que da vida não teria
nem saudade nem pena de a perder,
mas que em meus olhos mortos guardaria
certas imagens do que pude ver.

Gostei muito da luz.
Gostei de vê-la
de todas as maneiras,
da luz do pirilampo à fria luz da estrela,
do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.
 
Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria
quando galga lambendo o dorso dos navios,
quando afaga em blandícias de cândida luxúria
a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.
 
E também gostei muito do Jardim da Estrela
com os velhos sentados nos bancos ao sol
e a mãe da pequenita a aconchegá-la no carrinho
e a adormecê-la
e as meninas a correrem atrás das pombas
e os meninos a jogarem ao futebol.

A porta do Jardim, no inverno, ao entardecer,
à hora em que as árvores
começam a tomar formas estranhas,
gostei muito de ver erguer-se
a névoa azul do fumo das castanhas.

Também gostei de ver, na rua, os pares de namorados
que se julgam sozinhos no meio de toda a gente,
e se amam com os dedos aflitos, entrecruzados,
de olhos postos nos olhos, angustiadamente.
E gostei de ver as laranjas em montes, nos mercados.
As mulheres a depenarem galinhas
e a proferirem palavras grosseiras,
os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões pesados,
e os gatos a miarem e a roçarem-se nas pernas das peixeiras.

Mas ... saudade, saudade propriamente,
essa tenaz que aperta o coração
e deixa na garganta um travo adstringente, essa, não.
Saudade, se a tivesse, só de aquela
que nas flores se anunciou,
se uma saudade alguém pudesse tê-la
daquilo porque não passou.

De aquela que morreu antes de eu ter nascido,
ou estará por nascer - quem sabe? - ou talvez ande
nalgum atalho deste mundo grande
para lá dos confins do horizonte perdido.

Triste de quem não tem,
na hora que se esfuma,
saudades de ninguém...
nem de coisa nenhuma!

António Gedeão


A todos os meus seguidores e  amigos /as desejo um bom feriado e fim-de-semana. Fiquem bem e façam por ser felizes...fazendo felizes aqueles a quem querem bem. Espero voltar um qualquer dia da próxima semana. Beijinhos para todos.

Janita

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

RECORDAR...É VIVER.


Ainda na senda do saudosísmo...quero partilhar com todos os meus amigos /as, que viveram a sua juventude nos anos 60 / 70, esta maravilha que recebi via e-mail, por parte de um bom amigo.

São relíquias eternas, que me transportam a tempos tão longínquos e gratificantes, que por vezes chego  a duvidar que existiram. 

Com o meu carinho para todos os jovens de sessenta...em  especial... e para todas as idades  em geral.
                                                                                                                                                                                  http://sz.com.sapo.pt/Anos_Dourados.html
                                                              
 Imagem da Net

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado: O Canto da Alma Portuguesa.


O Fado já foi considerado e reconhecido pela UNESCO, desde há poucas horas atrás, como Património Imaterial da Humanidade!
Num tempo em que a maior preocupação de todos nós se concentra, essencialmente, no  futuro dos nossos filhos e netos, face à grave situação de crise económica que o mundo atravessa, escolhi este Fado interpretado por Carlos do Carmo, para celebrar o acontecimento e, simultâneamente, homenagear todas as crianças que estão a aprender a ser HOMENS.  






"Os Putos"
   


Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira ,a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser, criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta

E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando ,na mão
A vontade que salta ,ao eixo
Um puto que diz,que não
Se a porrada vier,não deixo

Um berlinde abafado ,na escola
Um pião na algibeira,sem cor
Um puto que pede,esmola
Porque a fome lhe abafa,a dor.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.



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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Romance Existe na Graça de Dar de Graça?







As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo, porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.




Carlos Drummond de Andrade



domingo, 20 de novembro de 2011

EXPECTATIVAS.

Nenhum escritor soube descrever  com tanta precisão e realismo, a vida árdua e  os genuinos sentimentos das gentes transmontanas, como Miguel Torga o fez. 
Nem todos os seus contos terminam com um final feliz, daí o seu realismo, mas todos  são de uma riqueza humana tão grande, que sempre me enterneceram e fascinaram. Aliás, toda a obra deste homem admirável e internacionalmente reconhecido é fascinante.
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Quando, há poucas horas, - o tempo de transcrever o conto para o meu blog  e elaborar o post -  decidi publicar mais um conto de sua autoria, sorri com a lembrança de algo que muito me divertiu há uns meses atrás.
Foi uma crítica que li num blog, entretanto desaparecido, e que entendi ser-me dirigida.  Ou então, para além de outras manias também terei a da perseguição! Mas não. Seria demasiada coincidência. Tanto mais que tinhamos um contencioso e eu tinha publicado, nessa altura, algo de um famoso escritor que muito agradou a todos os meus leitores e amigos. A prova disso foram os numerosos e amáveis comentários que  recebi. Pois, essa crítica, dizia que para se ter um blog não era preciso saber escrever. Bastava transcrever histórias conhecidas de autores conhecidos e, passo a citar:
 " Receber montes de comentários de gente culta e até de "Dótores".
Esta introdução tem como finalidade, embora sabendo que o dito blog entregou a alma ao Criador, mas tendo eu esperança que o seu dono continue de boa saúde e com outro blog, dizer a esse ilustre desconhecido ( andando e borrifando-se para tudo e para todos - tradução livre do nome do finado blog- ) que este meu post lhe é dedicado, com um grande e amigável sorriso.

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"O Cavaquinho"



O Ronda era o homem mais pobre de Vilela. Mas teve uma tal alegria quando o filho, o Júlio, fez o primeiro exame com óptimo, que prometeu pela sua salvação que lhe havia de dar uma prenda no Natal. O rapaz ouviu-lhe a jura desconfiado.
Apesar dos dez anos, já conhecia a vida. Uma prenda, se nem dinheiro havia para a broa! Em todo o caso, pelo sim, pelo não, foi pondo de vez em quando uma acha na lembrança do pai, e em Dezembro, na véspera da feira dos 23, avivou a chama:
- Então sempre vai à Vila?
- Pois vou.
- E traz-me a prenda?
- Trago.
Fez-se silêncio. A ceia tinha sido caldo de couves e castanhas cozidas. Mais nada. A noite estava de invernia. Sobre o telhado caíam bátegas rijas de chuva. Mas a murra da castanha a arder e aquela firmeza com que o Ronda garantiu a promessa, doiravam tudo de fartura e aconchego.
- E o que é que me vai dar?
- Isso agora…
Foi preciso a mãe arrumar o assunto com as rezas e a cama.
- Infinitas graças vos sejam dadas. Meu Deus e meu Senhor…
As palavras saíam-lhe da boca, límpidas, quentes, solenes. E o pequeno, que já ouvira aquela lengalenga milhentas vezes, pôs-se muito espevitado, a tentar compreender o sentido íntimo de cada invocação.
- S. Bartolomeu nos livre das tentações do demónio, dos maus vizinhos à porta, das más horas…
Pai e filho respondiam à uma:
- Padre-nosso que estais no céu…
Contudo, a atenção do garoto não tardou a cansar-se. No terceiro mistério a sua voz cambaleava. E na salve-rainha, abóbada do solene ritual, parecia que levara com uma moca na cabeça.
Já ia a tombar, quando o amém definitivo o fez voltar à vida e lá conseguiu fitar o pai numa derradeira pergunta:
- Certo, certo, que traz?
- Tu parece que andas parvo, rapaz!
A mãe não podia compreender o que significava para ele receber uma prenda – estender a mão e ver nela, não a malga do caldo habitual, mas qualquer coisa de inesperado e gratuito, que fosse a irrealidade da riqueza na realidade duma pobreza conhecida de lés a lés. Por isso se arreliou tanto quando o viu, ao almoço, virar a cara aos carolos e ao meio-dia comer apenas o rabo de uma sardinha.
Coitada, via-se bem que gostava dele…E é tão fácil de perceber!
Quando a noite veio caindo, cansado de guardar o caminho velho por onde desde que o mundo é mundo se regressa da Vila, pediu à mãe que o deixasse ir esperar o pai. Só até à Castanheira…
Que não. Que tivesse juizinho. Olhou-a mais demoradamente. Tão sua amiga, tão boa, e não ser capaz de o entender!
Resignou-se. Ficaria ali até o pai apontar ao fundo da Silveirinha. E logo que o descortinasse, ó pernas!
Mas que seria a prenda? Que seria?
Da porta já não se enxergava nada. Além de que a chuva, o vento e o frio, que se juntaram, naquela hora, enregelavam tudo.
A tremelicar, foi-se chegando à lareira.
- O pai demora-se…
- Não que ir à Vila e voltar tem que se lhe diga…
Via-se bem que também ela estava inquieta. Seria que, como ele, esperasse por uma prenda?
Cerrou-se a escuridão. O aguaceiro agora caía a cântaros. Pelas frinchas da porta o vento ia dando punhaladas traiçoeiras.
- Que noite e aquele homem por lá!
O lamento da mãe acabou por encher a cozinha, já meio testa de fumo.
De súbito à ideia da prenda, que alegre o acompanhara, todo o dia, juntou-se-lhe uma outra, triste, imprecisa, que lhe meteu medo.
- O tio Adriano também foi, pois foi?
- Foi. Vai cear e dormir que são horas.
Embora obrigado, nem o caldo lhe passou pela garganta nem o sono, na cama, lhe fechava os olhos.
De repente sentiu passos no quinteiro. Até que enfim! Era o pai! O que seria a prenda?
A pessoa que vinha bateu ao de leve e chamou baixo:
- Maria…
- Quem é? - Perguntou a mãe.
- Sou eu, o Adriano…
O coração deu-lhe um baque. Então o tio Adriano sozinho?! Pôs-se a ouvir como um bicho aflito.
Daí a nada sabia que o pai fora morto num barulho, e que no sítio onde caíra, lá ficara, ao lado dum cavaquinho que lhe trazia…

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