(...)
“Quando vou a escolas as crianças fazem
muitas perguntas, mas, por vezes, com uma audiência adulta, ninguém quer intervir.
Perguntar é uma exibição de ignorância e há alguma vergonha em fazê-lo, uma
espécie de pudor, porque as dúvidas despem-nos: de repente estamos publicamente
a mostrar a nossa nudez intelectual.
Mas nem todos crescem assim. Temos bons
exemplos ao longo da História: Sócrates fazia das perguntas o esteio dos seus
diálogos, e, claro, não temia confessar a sua ignorância.
Os japoneses têm um ditado curioso a esse
respeito: “Perguntar pode envergonhar-nos durante um momento, mas ficar calado,
num silêncio ignorante, é uma vida inteira de vergonha”.
Da próxima vez que usarmos a palavra “didáctico”
no “mau sentido”, talvez seja altura de olhar para dentro e tentar perceber
onde é que enterrámos a criança que já fomos.”
Quando, hoje, li esta crónica do escritor Afonso Cruz, colaborador na Revista NM do JN, da qual transcrevo este curto excerto, abri um sorriso rasgado de orelha a orelha. Até pensei cá com os meus botões: isto veio cair como sopa no mel. E senti dentro do peito um secreto regozijo.
Ah...aquele lado mauzinho que guardamos em nós - todos os que ainda não enterrámos a criança que um dia fomos. :)
Eu explico melhor: - há dias comentei aí num conceituado blog, usando uma palavra repetida referindo-a no plural, mas com apóstrofe. Como todo o comentário era escrito em tom de brincadeira, nem sequer me perguntei se estaria certa ou errada, no que ao escrever em bom português concerne.
De pronto se levantou a sábia voz de um assíduo comentador daquele espaço que, assobiando para o lado, me (?) fez saber que o plural era manifestamente inadequado.
Ao invés de ignorar a resposta - coisa própria de gente crescida - retorqui com uma pergunta à qual respondeu um outro comentador. Que não, não era no plural que estava o erro havia sido nessa apóstrofe, não no plural em si...
Qual criança que não se inibe em manifestar a sua ignorância lá voltei à carga perguntando ao outro: então diga-me lá como deveria expressar-me, s.f.f.
A resposta veio pronta, inequívoca e prazerosa, porém, a reboque, veio a prova provada de quem tem sempre razão e nunca se engana...Foi uma pena, ah...que pena tive!
Ninguém percebeu nada? Então...não perguntem! Não irei responder. :))) Isto é coisa minha, um desabafo, por assim dizer...
Gostaria muito, isso sim, que me dessem a vossa opinião a respeito do tema tratado pelo cronista, ou seja, porque razão as pessoas sentem tanto constrangimento em fazer publicamente perguntas acerca de temas em que gostariam, e poderiam, ver as suas dúvidas esclarecidas e o não fazem por vergonha. Sobranceria? Medo de desnudar a sua intelectualidade ou a falta dela?
Muito Obrigada. :)
Em tempo: A crónica tem por título: "Crianças Perdidas"
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