segunda-feira, 30 de agosto de 2021

SONHO VS VIDA.

 



"Sonhe com aquilo que deseja ser"

Disse-me Clarice* quando a encontrei

Mas como vou sonhar se eu quero viver

E aquilo que vivo não é o sonho 

que em vão procurei?


Navego num Rio que corre entre fragas

Nasci perto de outro que foi Odiana

Vou dourando a vida  fecho as minhas chagas

Navegando a eito conheci o Tejo 

- sou alentejana - 


É nas tuas margens, meu Douro lodoso

Que hoje sonho o Cante e o Fado canto

Com  meu coração sempre saudoso

Vivo entre três Rios em eterno pranto.

      *







sábado, 28 de agosto de 2021

Maria Antonieta Conta...

 ...como aprendeu a gostar de grelos.


Maria Antonieta é uma velha amiga que conheço desde os tempos de juventude. Contou-me ela, certo dia, num dos nossos momentos de desabafos e lembranças mútuas que, sempre teve boa boca tudo o que fosse comestível marchava. Desde pequena que era assim. Caldo verde com carapauzinhos fritos e ervilhas estufadas com ovos escalfados eram, no entanto, os seus pratos preferidos.
Só havia algo que nunca conseguiu tragar: grelos. Fossem de couve ou de nabo. De nabos, então, com aquele sabor acre, azedo, nem pensar…Davam-lhe  volta ao estômago e não havia nada a fazer.

Pois num belo dia em que acompanhou uma sua prima-irmã, que andava a mudar de casa, lá para os lados de Benfica, após muitas voltas e reviravoltas, idas à mercearia do bairro pedir caixas de cartão, embalar roupas de cama, embrulhar louça em papel de jornal, ouvir os monólogos da prima; - isto vai para o lixo, isto vou dar à minha vizinha… ai não é bom de mais, vou mas é ficar com isto e mais tarde resolvo.

Sobe e desce escadas…quando chegou ao entardecer é que se lembraram que desde o frugal dejejum não havia entrado nas suas bocas qualquer espécie de alimento. Maria Antonieta sentia a barriga colada às costas. 
Na casa, prestes a ficar devoluta, a despensa estava vazia. Contou-me ela que a vontade de comer passou a fome, fome mesmo, daquela de esganar.

Lembrou-se a prima de ir ver se na mercearia haveria algo que pudessem cozinhar, já que naquele tempo não existiam restaurantes de take away. Ficou Maria Antonieta em casa a embalar os últimos trastes. Quando se sentou à mesa, improvisada, que em tempos normais servia para passar roupa a ferro, viu sair das mãos da prima uma fumegante travessa de batatas cozidas, um chouriço de carne cortado em rodelas grossas e algo verde e de cheiro pouco apetecível: os malfadados grelos.
Nesse dia forçou-se a comê-los pois não quis dizer que não gostava, e, a partir desse jantar, que lhe soube como o melhor manjar que só sabe dar valor quem já sentiu fome, dizia e garantia Maria Antonieta, que nem na noite de Consoada dispensava uma boa e fumegante travessa de grelos cozidos a acompanhar o bacalhau.
Poderia faltar o peru, grelos; nunca!

Quando hoje fui fazer a minha caminhada, que já não fazia há mais de uma semana, não pude deixar de pensar na Maria Antonieta e nesta passagem da sua vida, quando vi que aquele campo de cultivo, onde apenas uma semana atrás verdejava algo que me parecia erva, estava agora repleto de verdes e tenros grelos…

E vós, como ides de apetência por hortaliça ácida?

POSTAL  REEDITADO 
 
Podeis  rever os mesmos grelos... AQUI
(agora não é tempo deles)



quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Amor Sem Esperança.

 



Amor sem fruto, amor sem esperança
É mais nobre, mais puro,
Que o que, domando a ríspida esquivança,
Jaz dos agrados nas prisões seguro.

 

Meu leal coração, constante e forte,
Vendo a teu lado acesos,
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos,
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte.

Forjando contra mim, por ordem tua
Mil setas venenosas,
Em prémio destas lágrimas saudosas,
Inda assim continua
A abrasar-se em teus olhos... Vis amantes,
Corações inconstantes,
De sórdidas paixões envenenados,
Vós, a cujos ardores,
A cujos desbocados
Infames apetites
A Virtude, a Razão não põe limites,
Suspirai por ilícitos favores,
Cevai-vos em torpíssimos desejos.


Tratai, tratai de louco um amor casto,
Que eu nos grilhões que arrasto;
Tão limpos como o Sol, darei mil beijos.
Peçonhenta aliança,
Vergonhoso prazer, de vós não curo
De ti, sim, porque és puro,
Amor sem fruto, amor sem esperança.


 Manuel Maria Barbosa du Bocage, in "Excerto de Flérida - Idílio Pastoral"


Fotos minhas.



quarta-feira, 25 de agosto de 2021

PARA SORRIR...Ou Talvez Não!... 😉

 Homens versus Mulheres.

😏



assim👍 ou assim👎


Esta é própria dos homens sádicos
👎


Já esta, por ser a última, é para o pessoal mais perspicaz.

Sorrir faz bem à saúde...Sorriam!!

😇  😈  😇  😈


terça-feira, 24 de agosto de 2021

LUGAR VAZIO.

 



Quem se lembra da última vez que se apaixonou

que sentiu o coração estalar

 de emoção e alegria?


Eu já esqueci a doce sensação de viver nas nuvens.

Hoje, tudo são recordações,

 e minha alma é uma casa vazia.


 




 



 

domingo, 22 de agosto de 2021

MÚSICA A QUATRO MÃOS....

...ao piano já nós vimos e mais do que uma vez... 

                                                                             


                 

...mas e à guitarra?   Quem antes deles já o fez?...  



Desfrutem. 

Tanto mais que a jovem tem um sorriso lindo... 

😘   


F E LI Z   D O M I N G O!  


 
  

sábado, 21 de agosto de 2021

ANÉMONAS NA CIDADE.

 




Pareciam cair do céu como se fossem aves voando.
Coloridas, leves e soltas em ânsia da liberdade sonhada.
Quase pousavam na cabeça dos transeuntes.
- "Olhem-nos, trouxemos o mar até vós" - pareciam dizer.
Quem as olha, quem as vê balouçando suaves e belas?
Ninguém! 
Só eu me extasio, qual criança que vai à cidade grande 
e se deixa maravilhar pela  curiosa novidade

Como se fossem anémonas flutuando ao sabor 
das águas azuis do mar 
deixam-se envolver pelo meu olhar
 onde cintila uma luz muito especial
Quase vos posso jurar que me sorriram, 
agradecidas pelo deslumbramento de uma criança deste tamanho...

...havia tanto tempo que tentavam despertar
 o interesse das crianças pequenas...



 

👼   👩  👦 
👵


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Ah...A Poesia...

 Ah, Um Soneto...

Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear ...

No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...

Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

☆  ☆  ☆

Foto Janita


Já eu - Janita - falo de prisões e de evasões,
sejam plantas, gentes, 
corações
não existem amarras  
nem paixões
que possam prender quem tem
 a Liberdade como sua única forma de viver.

Assim és, assim sou, assim seremos até morrer!

   ☆   ☆  ☆  ☆   

terça-feira, 17 de agosto de 2021

UM BOTÃO MILAGROSO.

  


 

Quisera ter um botão
de múltiplas funcionalidades
que desligasse com um toque
os meus sentires magoados.

 

Quisera com muito afinco
ter um outro para a tristeza
e mais outro e outro mais 
que parecendo ser iguais
terminavam desigualdades.

 

Fosse este botão milagroso, 
mandasse eu
nas  emoções,
eliminava doenças tudo 
seriam benquerenças.

 

Daria eu vida eterna 
às mais desvairadas Paixões.




 

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domingo, 15 de agosto de 2021

A COMOÇÃO DO CORONEL... COITADINHO!!

 "O Sonho" de Pablo Picasso

Eu que me comovo

Por tudo e por nada

Deixei-te parada

Na berma da estrada

Usei o teu corpo

Paguei o teu preço

Esqueci o teu nome

Limpei-me com o lenço

Olhei-te a cintura

De pé no alcatrão

Levantei-te as saias

Deitei-te no banco

Num bosque de faias

De mala na mão

Nem sequer falaste

Nem sequer beijaste

Nem sequer gemeste,

Mordeste, abraçaste

Quinhentos escudos

Foi o que disseste

Tinhas quinze anos

Dezasseis, dezassete

Cheiravas a mato

A sopa dos pobres

A infância sem quarto

A suor, a chiclete

Saíste do carro

Alisando a blusa

Espiei da janela

Rosto de aguarela

Coxa em semifusa

Soltei o travão

Voltei para casa

De chaves na mão

Sobrancelha em asa

Disse: fiz serão

Ao filho e à mulher.

Repeti a fruta

Acabei a ceia

Larguei o talher

Estendi-me na cama

De ouvido à escuta

E perna cruzada

Que de olhos em chama

Só tinha na ideia

Teu corpo parado

Na berma da estrada...

....Eu que me comovo

Por tudo e por nada.

Poema de António Lobo Antunes 




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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

AINDA NAVEGANDO....

 ....enquanto o vento me soprar de feição!




Não é feito para mim

batel algum em que reme.

Mais ao vento solto a vela

e não ponho a mão no leme.


Navegarei confiado

num piloto que nem vejo.

Dentro de mim ou de fora

há seu saber e manejo.


Seja o esquife o de voar

de onda a onda e haja sorte.

Seja o de me abrir em terra

a porta viva da morte.


* * * 


As palavras poéticas são de uma das personalidades mais extraordinárias do século XX.   O filósofo / poeta / ensaísta / professor e pedagogo: 


Agostinho da Silva
13/02/1906 - 03/04/1994

 

As fotos são minhas.


terça-feira, 10 de agosto de 2021

Sem Princípio Nem Fim.

 



É dentro da noite cerrada 

que eu procuro um farol, uma luz.

Teço sombras, crio asas, adentro no sonho feroz.

 Porém...

 ...Desperto no pesadelo feito de sombras,

carregando a minha sempiterna e pesada cruz.


🕁


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

DEDICATÓRIAS SURPRESA. #2

Eis Audrey Hepburn, a inesquecível namoradinha de todos os  mancebos, (ou quase) que marcou uma geração __ou, quiçá,  duas!




O amigo que vou surpreender, hoje, costuma andar por AQUI.

E esta José, heim?    😇






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domingo, 8 de agosto de 2021

HOJE VAMOS SORRIR. 😊

Estas são made in Brasil







Já estas são nossas. 😂




E é só isto!!!

INTÉ!!

👻


sábado, 7 de agosto de 2021

Um Soneto Por Semana #19

 

Serpa - numa das minhas visitas ao Lar de idosos onde se encontrava um meu Tio.
Ao fundo, a Igreja de S.Francisco.




Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da desventura,
Pela baça tristeza envenenados.

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura; 
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania.

Desculpa tendes, se valeis tão pouco,
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco . 



 Manuel Maria Barbosa du Bocage

1765-1805





sexta-feira, 6 de agosto de 2021

DEDICATÓRIAS SURPRESA. #1

 

Esta primeira publicação da minha nova rubrica é em homenagem a uma grande amiga que hoje faz anos. É portanto, uma pequenina princesa. 👸




Parabéns Manu, muita alegria, risos, Amor, sol e calor humano, é  o que desejo para este teu Dia, querida Amiga. 
Sê Feliz... hoje e sempre. ❤

A minha Amiga Manu tem o seu atelier    fotográfico, onde existe um  belo e atento olhar,  colocado AQUI






❤     ❤    ❤


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

DO SONHO POR ENTRE A NEBLINA.

 



Ao abrir janela pela manhã, não é o sol matinal que vejo.

Em pleno Agosto vejo a neblina de Janeiro

Como pode alguém sorrir?

Como poderei dar brilho

ao meu olhar?

Fecho os olhos e imagino-me 

pairando sobre o meu chão:

a bela e vasta planície alentejana, 

coberta de espigas de trigo,

de rubras papoilas e malmequeres

pintados de luar...


 

 🌻    🌞   🌼

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

SEM PALAVRAS...

 ...porque os passes de mágica saboreiam-se em silêncio.




A TODOS OS AMIGOS E VISITANTES DESTE CANTINHO DESEJO UMA
FELIZ SEMANA!

😊   😚




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