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By Dina Belenko |
Não vi, não ouvi, não assisti. Mas sei, caro leitor, que
isto aconteceu; é verdadeiro. Foi-me contado há muitos anos por pessoa idónea e
de inteira confiança: minha Mãe!
Escondido
que estava este incidente, na gaveta onde repousam as memórias bizarras,
porém, de pouca monta, foi-me reavivado há pouco pela leitura d’algo que me fez
sorrir, duplamente agradada.
Passando aos factos, resumo o que me foi contado: Uma jovem
mulher que, por motivos que não vêm ao caso, casou, já entradota na idade, tida
como apropriada, ao tempo, como a idade casadoira. Tão cedo quanto pode, levou o
marido à sua terra Natal – por sinal, minha também.
Queria mostrar o marido a toda a gente, qual troféu merecido. Homem por sinal bem-apessoado, um
beirão de Almeida, que conheceu não sei onde nem quando, provar a toda a gente
que, a que já diziam solteirona, havia saído do rol das tias, e, concomitantemente, mostrar ao marido a terra onde nascera.
Ora, tal acontecimento, não poderia acontecer, - com o devido
pedido de desculpas pela redundância -, num dia qualquer de um qualquer mês do
ano. Tinha de haver assistência. A Vila precisava estar a rebentar pelas
costuras, de conhecidos, desconhecidos e familiares de visita à terra. Para isso,
nada melhor do que a festa da Santa Padroeira que era celebrada, desde tempos imemoriais,
por alturas da Páscoa.
No momento em que, na Praça da República, se ouvia o som
dolente do Cante Alentejano e se um alfinete tivesse caído do céu, não chegaria a
tocar o chão, a orgulhosa esposa que seguia uns passos na frente do marido,
de braços abertos ia gesticulando e dando cotoveladas para a direita e para a esquerda,
afastando entraves ao caminho daquele seu legítimo pedaço de mau caminho, quiçá
o mel, quiçá o sal, quiçá a pimenta da sua vida, gritando a plenos pulmões:
- Deixem passar o meu marido!