Obtive esta foto, a partir do interior do Funicular do Porto, que liga a Batalha à Ribeira, na véspera do dia de Páscoa. Foi esta a primeira vez que utilizei este meio de transporte e fiquei deslumbrada. A vista que se desfruta sobre o Rio Douro e a Ponte D. Luís, é simplesmente soberba. Pena que a imagem não tenha qualidade. Ah...mas a minha próxima compra irá ser uma máquina fotográfica em condições! Isto de fotografar com um telemóvel, também ele sem qualidade, não resulta em fotos de jeito.
Amanhã, se não me surgir nenhum contratempo, atravessarei uma outra Ponte, rumo à margem esquerda de outro lindo Rio, o Tejo.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana e bom feriado do Dia 1º de Maio. Eu farei ponte, mas na quarta-feira espero estar de volta ao meu Norte.
"Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio Todos os lugares onde estive Todos os portos a que cheguei Todas as paisagens que vi
através de janelas ou vigias Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto,
Mas era apenas isso, era isso, mais nada? Era só a batida numa porta fechada?
E ninguém respondendo, nenhum gesto de abrir era, sem fechadura, uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso uma noção de porta, o projecto de abri-la sem haver outro lado?
O projecto de escuta à procura de som? O responder que oferta o dom de uma recusa? Como viver o mundo em termos de esperança? E que palavra é essa que a vida não alcança? Carlos Drummond de Andrade.
Gosto de abraços! Não existe contacto físico que transmita mais calor humano do que um abraço. Num abraço podemos dizer tanto...! Muito mais do que num beijo. Nos abraços poderá não haver paixão, desejo, mas existe todo um universo de ternura, afecto, amizade e também muito amor! Um abraço é o espelho dos sentimentos de quem abraça. Para todos vós, o meu forte abraço de muita amizade.
Canção dos Abraços.
São dois braços, são dois braços
servem pra dar um abraço
assim como quatro braços
servem pra dar dois abraços
E assim por aí fora
até que quando for a hora
vão ser tantos os abraços
que não vão chegar os braços.
Vão ser tantos os abraços
que não vão chegar os braços
prós abraços.
Num livro do autor Ruediger Schache, que ando a ler, há uma passagem que achei muito interessante e resolvi partilhar convosco. À primeira vista poderá parecer-nos que tudo isto é bastante óbvio, mas provavelmente não será tanto assim. Tanto mais que assumir medos não é fácil, por pensarmos ser uma fraqueza ou consequência de algo que nos marcou e não queremos sequer recordar.
Deixo à vossa apreciação...
A força que busca a proximidade.
"No fundo, todos desejamos proximidade. Como seres humanos, queremos ter a sensação de não estarmos sós e de sermos compreendidos. Como mamíferos que somos, o nosso corpo procura a proximidade e o contacto com outros. A criança dentro de todos nós procura segurança, protecção e um jogo em conjunto. Todas estas forças dentro de nós clamam por uma ligação e por um encontro com outras pessoas. Este é o nosso desejo profundo.
A força que rejeita a proximidade.
Essa força é sempre o medo! Os dois maiores medos são o medo de ser magoado e o medo de ser abandonado.
Pensamos que ser magoado só é possível quando mostramos o nosso lado sensível ao outro. Por isso, muitas vezes, são construídas várias fachadas como muros de protecção, umas a seguir às outras. Sempre que uma cai, a ameaça torna-se um pouco maior do que era.
Ser abandonado…só é possível se nos tivermos ligado antes. Quando nos abrimos e nos entregamos ao outro. O intelecto inconsciente, para realizar a sua missão de protecção, tenta evitá-lo. Inventa motivos, como por exemplo, o de não ter necessidade nem tempo para um relacionamento realmente íntimo."
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E agora a pergunta que se impõe: e quando estas duas forças entram em conflito...que fazer? Pois é...dessa parte o livro não fala! Alguém sabe?
Aproveitando o dia em que se assinala os 170 anos de ANTERO DE QUENTAL e sendo estemeu simples e despretensioso cantinho / refúgio - arriscando uma percentagem diria que 90% - dedicado à divulgação de poesia como um bom amigo já fez referência, e se ele o disse eu reitero, aqui fica mais um soneto...
Imagens da Net.
Mea Culpa
Não duvido que o mundo no seu eixo
Gire suspenso e volva em harmonia;
Que o homem suba e vá da noite ao dia,
E o homem vá subindo insecto o seixo.
Não chamo a Deus tirano, nem me queixo,
Nem chamo ao céu da vida noite fria;
Não chamo á existência hora sombria;
Acaso, à ordem; nem à lei desleixo.
A Natureza é minha Mãe ainda...
É minha Mãe... Ah, se eu à face linda
Não sei sorrir, se estou desesperado;
Se nada há que me aqueça esta frieza
Se estou cheio de fel e de tristeza...
É de crer que só eu seja o culpado!
Para além de ter nascido no Alentejo, em pouco mais me identifico com FLORBELA ESPANCA! No entanto senti, desde cedo, uma atracção quase mórbida pela sua poesia dramática, atormentada e intensa. Já publiquei alguns poemas e sonetos seus, mas este será, definitivamente, o último! Há tanta beleza nas pequenas coisas que nos rodeiam! Basta sabermos olhar à nossa volta e descobrirmos nela a poesia que nos vai na alma. Para quê amargar ainda mais a existência, com sonhos e quimeras? Adeus, Florbela!!!
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém.. Pelos castelos que eu ergui
P’las flores d’oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh’alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh’alma, alguém, tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d’oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?…
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras… sem quimeras?!
É no equilíbrio das coisas que reside a harmonia. Tudo aquilo que pecar por defeito ou excesso, desequilibra até os sentimentos e rouba harmonia à vida... Tudo ou nada não é fácil de aceitar e saber gerir... De novo me encontro a olhar, do terraço da casa, o meu jasmineiro trepador, florido e perfumado, mas agora com uma sombra no olhar já de novo triste e saudoso... A casa voltou a ficar silenciosa...silêncio de que houve momentos senti alguma falta e agora me pesa tanto... É apenas uma questão de dias. Depois, o hábito volta a instalar-se e tudo volta à normalidade...daquilo que cada vez me parece mais injusto e anormal.
Este, é mais um conto do escritor, poeta e dramaturgo de que tanto gosto: MIGUEL TORGA. Como todos os outros que aqui tenho trazido, faz parte do seu livro Contos da Montanha. Por ser de uma simplicidade enternecedora, é um dos que mais gosto! Hoje, lembrei-me deste conto...mas não me perguntem porquê...
O DESAMPARO DE S. FRUTUOSO.
Não tinha nenhuma razão particular para estar grata a Deus ou a qualquer dos membros da sua corte celestial. A não ser que considerasse um favor o simples facto de viver…
Esse privilégio, porém, fora dado a tantos, inclusivamente a toda a casta de bichos e ervas, que francamente! Não desfazia na obra de ninguém, é claro…malucava, apenas.
Zorra, criada aos baldões, sempre arrastada, mal se poderia considerar uma pessoa humana, quanto mais uma pessoa reconhecida ao Criador!
Sabia que S. Frutuoso não metia prego nem estopa nesse capítulo da geração dos mortais. Mas também não sentira ainda que os poderes de que ele dispunha a beneficiassem. Pedira-lhe ajuda numa ocasião em que uma pragana lhe cegara uma vista, e nada! Prometera-lhe uma vela na altura da pneumónica, e foi o que se viu: ia deitando os bofes pela boca. Nascera-lhe não sei quê num seio, rogara-lhe entre o cálice e a hóstia a esmola da cura, e o caroço cada vez crescia mais, de maneira que, a falar franco, não devia favores a ninguém.
Em todo o caso, doera-lhe ver o pobre santo naquele preparo. Que, considerando bem, a chuva caía em cima…e como parece que no céu é que estava o governo do mundo, não custava nada a quem lá morava…além de ser uma obra de caridade para com os que vivam cá neste vale de lágrimas.
Quatro meses de invernia, sem uma aberta, sem uma réstia de sol, nevões, nevões, e agora aquele dilúvio seguido. Um lindo serviço, não haja dúvida!
Como não era de arcas encoiradas, falara ao prior no destempero duma coisa assim.
- E que queres que te faça?
Sabia lá! Mas já que ele representava Cristo na terra, podia, talvez…
- Não há nada que ande tanto à vontade de Deus como o tempo, mulher! Nunca ouviste dizer?
- Eu não senhor!
- Pois é pena.
Pronto! Se era assim…ao menos ficava esclarecida. Em todo o caso punha as suas dúvidas quanto às vantagens, humanas e divinas, de tanto frio, tanto vento e tanta chuva. Chamassem-lhe maluca à vontade. Não concordava, não concordava!
Como havia o desgraçado do S. Frutuoso resistir àquilo? Fiada na caridade humana, fartara-se de pedir providências. Mas quê, ninguém quisera saber. Talvez por não terem visto o que ela vira…Vinha a passar, abrigara-se duma bátega mais valente no alpendre da capela, dera uma olhadela lá para dentro, e até os olhos se lhe arrasaram de lágrimas ao encarar o mísero, alagadinho, encolhido como um pito riço. Sempre era um santo, com mil diabos! Pois chovia-lhe em cima como se estivesse no meio da rua. Metia dó! Os pingos batiam-lhe na cabeça, escorriam-lhe pela cara abaixo, derretiam-lhe a pintura, transformavam-lhe o hábito num borrão esverdeado, e alastravam aquela nojeira pela toalha do altar.
Dera imediatamente o alarme. Valeu bem! Foi o mesmo que nada.
- Se vê que está mal, que se mude. Ou então que componha os astros…-respondera-lhe o Faustino, que não perdoava ao orago o atraso em que tinha as sementeiras.
O abade também nada adiantou. Que torna, que deixa…Ora, se os responsáveis procediam assim, não lhe competia a ela incomodar-se, de mais a mais estonada de fome e sem culpas no cartório. Evidentemente que era crente. Acreditava que há-de haver uma lei que nos governe. Isso, porém, não queria dizer que tivesse de se meter em brios de zeladora.
Mas o coração às vezes também manda. E o dela compadecera-se humanamente da sorte daquele desinfeliz que nem um cortelho vedado tinha para se abrigar.
Apenas por essa razão se tirara de cuidados e dera andamento à ideia de o acautelar de qualquer modo. Tecer a croça, francamente, custara-lhe pouco: até lhe servira de entretém. Agora subir a serra aos empurrões do vento e a furar as bátegas, isso sim, chegara para afligir! Mas acabou-se. Lá vestira o gabinardo ao miserável, e, apesar de encharcada, podia finalmente dormir em paz…