segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Partilhando Leituras # 6

    A minha euforia, se ainda persistia em algumas zonas do meu cérebro, era quase nula nas restantes. A luz branca a que eu tinha voltado permitia-me ver mais claramente do que nunca a monstruosidade da traição deles. Está certo, eu  tinha ido armado. Tinha conspirado, arquitectado um plano, alugado um carro e atravessado a noite resolvido a matar o meu amigo de toda a vida. Mas ele estava a pedi-las! E ela também!


    Andei a pé.
    Emma.
    Estava bêbedo. Mas não de vinho. Ao fim de vinte e cinco anos de Serviços tenho uma resistência taurina. Mas, mesmo assim, bêbedo: cego, bêbedo de humilhação.
    Emma.
    Quem és ou finges que és, agora – de cabelo apanhado, a dar à perna? Que outras mentiras terás tu vivido enquanto se riam de mim pelas costas, vocês os dois – do Timbo, esse velho bafiento, esse retardado de sorriso bajulador?
    A fazeres-te de anjo. Empenhada nas tuas Causas Perdidas até altas horas da noite. Telefonemas, pedinchice, ares sérios, ares elevados, preocupada, distante, a pedires o Sunbean emprestado para ires num instante ao correio, à estação, a Bristol. Pelos oprimidos da terra. Pelo Larry.


    Andei a pé.  Enfureci-me.  Alegrei-me.  Enfureci-me outra vez.
    Mesmo furioso como estava, sabia que havia um terceiro elemento atrás de mim e um carro, carrinha ou táxi obediente ao seu serviço. E sabia, portanto, para minha grande fúria, que devia manter as aparências. Não devia esboçar qualquer gesto que pudesse sugerir que eu era mais qualquer coisa além de um administrador de Fundação e anterior espião no exercício legítimo dos seus afazeres. E estava grato, ao Larry, à Emma, e aos meus perseguidores, por me obrigarem a assumir esta responsabilidade. Porque o disfarce fora sempre uma actividade com as suas regras próprias, a disciplina que mantinha em guarda a anarquia, e neste momento a anarquia que havia dentro de mim gritava bem alto.
    Emma!  Diz-me por amor de Deus como é que ele te conseguiu fazer descer tão baixo?
    Larry!  Ès um sacana manipulador, vingativo e ladrão.
    Vocês dois!  Que diabo é que vocês querem e porquê?
    Cranmer! Não és um assassino!  Podes caminhar de cabeça erguida! Estás ilibado!


    Era um idiota.
    Um idiota desvairado, furioso, excessivamente controlado, mesmo sendo um idiota libertado. Tinha-me imaginado terrivelmente apaixonado e deixara entrar uma víbora na minha vida.
    Adorei-a, estraguei-a com mimos, servi-a, adorei-a, embasbaquei perante todas as suas idiossincrasias. Afoguei-a em joias e liberdade, fiz dela a minha mascote e o objecto do meu amor, a mulher que vinha acabar com todas as mulheres, o meu ídolo, deusa, filha e, como diria o Larry, escrava. Amei-a pelo amor que ela me tinha, pelos seus momentos de gravidade e riso; pela sua fragilidade e promiscuidade e pela confiança que ela punha na minha protecção.
    No meio da minha nova fúria sem limites, senti-me possuído de um verdadeiro furacão de irracionalidade: ela era uma armadilha, uma armadilha doce, posta no meu caminho por conspiração dos meus inimigos! Eu, Cranmer, um fugitivo, um romântico de gabinete, veterano de um punhado de amores inconsequentes, tinha caído que nem um patinho no mais estafado dos truques!
    Ela era uma armadilha desde o primeiro dia! Montada pelo Larry.
    Mas porquê? Com que finalidade?  Para me usarem como disfarce? Honeybrook como disfarce? Era absurdo de mais.
    Envergonhado por me deixar dominar por conjecturas tão fantasiosas e tão pouco profissionais, afastei-me delas e procurei outras maneiras de alimentar a minha crescente paranoia.
    O que sabia eu a respeito dela? A instâncias minhas, nada, excepto o que ela me tinha querido dizer de livre vontade, ou ao Larry, aos domingos, à minha frente.
    Nome italiano.
    Pai falecido.
    Mãe irlandesa.
    Uma infância à deriva, diletante.
    Um colégio interno em Inglaterra.
    Estudou música em Viena.
    Foi para o Oriente, tornou-se mística, abraçou todas as loucas causas do itinerário hippy, entregou a alma ao diabo.
    Fartou-se, fez um curso de verão em Cambridge e voltou para Londres. Entregou-se a todos os que lho pediram gentilmente. Assustou-se, encontrou o Cranmer, nomeou-o seu protector empenhado, amantíssimo e completamente cego.
    Conheceu o Larry. Desapareceu. Reapareceu com o cabelo apanhado, apresentando-se como Sally.
    A minha Emma. A minha falsa madrugada.

(Continua)




domingo, 28 de fevereiro de 2016

Passeio de Sábado...

..Por onde terei andado??... :)
  



Qual bando de pardais à
solta iam uns para cada lado....





Parece que vai chover...
Vamos correr e abrigar-nos 
em qualquer lado que nos possa acolher


A conversa era interessante
o tempo foi passando
eu para os relógios olhando.
     Qual deles marca a hora certa? 
    Ninguém sabe responder...

Mas um deles trabalhava
Quem sabe qual era a hora que
 o relógio certo marcava?


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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

The Day After...

...Depois da 'farra' de ontem...estou assim...!!


"The Day After" - Tela de Edvard Munch

Mas, muito feliz!!...



Por isto...







Por isto...











Por isto...













Por isto...








E, por outras preciosidades recebidas... por todo o carinho demonstrado...


MUITO OBRIGADA

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

DESEJOS { meus }


Desejo pra mim
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com meu amor
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de mim.
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais nem adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinhos


Sarar do resfriado 
Escrever um poema de Amor 
Que nunca será rasgado 
Aprender um nova canção 
Esperar alguém na estação 
Pôr-do-Sol na praia
Uma festa 
Um violão 
Uma serenata 
Recordar um amor antigo 
Ter um ombro sempre amigo 
Bater palmas de alegria 

Uma tarde amena 
Calçar um velho chinelo 
Sentar numa velha poltrona 
Alguém tocando violão para mim
Ouvir a chuva no telhado 
Vinho branco 
Bolero de Ravel 
E muito carinho seu.

   Valeu?...
:)


( Adaptação do poema "Desejos" de Carlos Drummond de Andrade )




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Partilhando Leituras #5


    Já uma data de domingos se passaram, mas todos os domingos se tornaram no mesmo. São o dia do Larry, depois o dia do Larry-e-Emma, depois um inferno, o que, apesar das variações, é igualmente sufocante. Mais precisamente, é um amanhecer de segunda-feira e os primeiros alvores cobrem os Mendips.
    O Larry deixou-nos há uma boa meia hora, mas o matraquear da sua caranguejola, com o motor aos traques e estampidos pela rampa do jardim abaixo ainda ressoa nos meus ouvidos, e o seu «Durmam bem, meus queridos», dito numa voz suavemente modulada, é uma ordem a que a minha cabeça  obstinadamente se recusa a obedecer – como aparentemente a Emma também, pois está de pé junto à janela do meu quarto, qual sentinela nua, vendo os castelos de nuvens negras fragmentarem-se e reagruparem-se outra vez contra a aurora incandescente. Nunca em toda a minha vida vi nada tão belo e inatingível como a Emma, com o seu longo cabelo negro pelas costas abaixo, toda nua, contemplando absorta a alvorada.
    - É isto exactamente que eu quero – diz ela, naquele tom tagarela e cheio de entusiasmo de que começo a desconfiar.
- Quero ser partida em pedaços e reconstruida de novo.
    - Foi para isso que vieste para cá, querida – lembro-lhe eu.
    Mas ela já não gosta de partilhar comigo os seus sonhos.
    - O que é que há entre vocês os dois – diz ela.
    - Que dois?
    Ela ignora a minha pergunta. Sabe, como eu também sei, que só existe um parceiro nas nossas vidas.
    - Que tipo de amigos eram vocês? – pergunta.
    - Não eramos namorados se é isso que estás a pensar.
    - Talvez devessem ter sido.
    Por vezes choca-me a sua tolerância.
    - Porquê?
    - Tinham-se libertado dessa tensão. A maior parte dos ingleses que eu conheço que andaram em  colégios particulares teve amores de juventude com outro rapazes. Não tiveste pelo menos uma paixoneta por ele?
    - Lamento mas não. Não tive.
    - Talvez ele tenha tido uma por ti: o cavaleiro resplandecente, seu mestre e seu modelo.
    - Estás a ser sarcástica?
    - Ele diz que o influenciaste muitíssimo. Que foste o seu mentor. Mesmo depois da escola.
    Chama-lhe manha, chama-lhe frenesi de apaixonado: estou frio de gelo. Operacionalmente gelado. Será que o Larry quebrou a omertà*, que o Larry, após vinte anos de pacto secreto, abriu o coração e se confessou à minha namorada?
    - Que mais te disse ele? – Pergunto, com um sorriso.
    - Porquê? Ainda há mais? – Ela está nua, ainda, mas agora a sua nudez já não lhe agrada e vai buscar uma écharpe para se cobrir antes de retomar a vigília.
    - Só queria saber que forma teria tomado agora a minha influência nefasta.
    - Ele não falou em nefasta. És tu que o dizes. – Era agora a sua vez de tentar ser engraçada. – Posso perguntar se estarei a ser apanhada entre vocês dois, não posso? Provavelmente estiveram juntos na prisão. Isso explicaria a razão porque o Tesouro te mandou embora com quarenta e sete anos.

    Tenho de acreditar para bem dela que isto não passa de uma brincadeira; de uma tentativa de fuga a um assunto que ameaça escapar ao seu controlo. Provavelmente está à espera que eu me ria. Mas subitamente o fosso que nos separa torna-se intransponível e ficamos os dois com medo.
    Nunca nos tínhamos sentido tão distantes ou ficado tão conscientemente sem palavras para dizer.

* Código de silêncio imposto pela Mafia aos seus membros  ( N. da T. )


(Continua)



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Bye-Bye, Blues...?





A quem dedico este post!! Hoje, é um dia especial...Espero!! :)


Son House,
O poeta do Blues que cantava canções profanas e religiosas com a mesma força, volúpia e intensidade! (1902-1988)


Viste??...



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A big hug, my friend...

;)



sábado, 20 de fevereiro de 2016

UMA ROSA.





O EXEMPLO DAS ROSAS

Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
— Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio:
— Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?


MANUEL BANDEIRA
In Lira dos Cinquenta Anos, 1940



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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

LEMBRAM-SE DELE??

A MIM FEZ-ME PASSAR MOMENTOS MUITO DIVERTIDOS...

...E  VÓS, MEUS AMIGOS  E AMIGAS... ?? :)





                                       







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

NBU * ( III )

Fast-food gourmet


Se a moda do gourmet já é parva que chegue, então o Fast-food gourmet é o pináculo do disparate. No fundo, adicionar a palavra gourmet, não é mais do que dizer que é um hambúrguer na mesma, só que no prato e mais caro.
Ele é cachorros gourmet, francesinhas gourmet, alheira com ovo gourmet, é tudo gourmet! 
Um bitoque é um bitoque e nunca pode ser gourmet! O mesmo como tantas outras comidas que são boas porque não são sofisticadas. 
Tasca gourmet? Não faz sentido, são conceitos que não ligam.
Aliás, a palavra gourmet está tão na moda que eu aposto que já alguma jovem disse ao namorado o seguinte:

 "Oh amor, não é nada pequeno, é gourmet. Se fosses Adão até podias tapar isso só com uma folhinha de rúcula." 


* NBU - Novos Bimbos Urbanos ( como é do conhecimento geral)

Nota da directora de redacção: É certo e sabido que estas sábias e indispensáveis informações já são mais conhecidas do que a fava rica, porém, aquando da última publicação, questionei os leitores acerca da sua pertinência e ninguém se manifestou contra. Lembram-se?!?! 
O que quero dizer com isto? Que, até haver manifesto em contrário, as publicações continuarão...:)




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

"ODE AO AMOR".

Alexander Sulimov


Tão lentamente, como alheio, o excesso de desejo, 

atento o olhar a outros movimentos, 
de contacto a contacto, em sereno anseio, leve toque, 
obscuro sexo à flor da pele sob o entreaberto 
de roupas soerguidas, vibração ligeira, sinal puro 
e vago ainda, e súbito contrai-se, 
mais não é excesso, ondeia em síncopes e golpes 
no interior da carne, as pernas se distendem, 
dobram-se, o nariz se afila, adeja, as mãos, 
dedos esguios escorrendo trémulos 
e um sorriso irónico, violentos gestos, 
amor... 
             Ah tu, senhor da sombra e da ilusão sombria, 
vida sem gosto, corpo sem rosto, amor sem fruto, 
imagem sempre morta ao dealbar da aurora 
e do abrir dos olhos, do sentir memória, do pensar na vida, 
fuga perpétua, demorado espasmo, distracção no auge, 
cansaço e caridade pelo desejo alheio, 
raiva contida, ódio sem sexo, unhas e dentes, 
despedaçar, rasgar, tocar na dor ignota, 
hesitação, vertigem, pressa arrependida, 
insuportável triturar, deslize amargo, 
tremor, ranger, arcos, soluços, palpitar e queda. 

Distantemente uma alegria foi, 
imensa, já tranquila, apascentando orvalhos, 
de contacto a contacto, ansiosamente serenando, 
obscuro sexo à flor da pele... amor... amor... 
Ah tu senhor da sombra e da ilusão sombria... 
rei destronado, Deus lembrado, homem cumprido. 

Distantemente, irónico, esquecido. 


Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'  


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Será Obrigatório Todos Namorarem no Dia dos Namorados?

E como será nos outros Dias De...?






Já pensaram nisso? Que mania essa de instituir dias para tudo! Abaixo os Dias De...Viva o livre arbítrio!!
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Pronto! Não se zanguem os apaixonados.

 Namorem muito e sejam Felizes!!
:)








sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

CANSAÇO...

Ultimamente, tenho-me sentido assim:


Ando a precisar de repouso...E, sem saber porquê, ocorre-me este pensamento:




Então, e por isso...


(...)

Há, nos meus olhos,
 ironias e cansaços

E cruzo os braços
 e nunca vou por ali


Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam os meus próprios passos... 

Ninguém me diga: "vem por aqui"! 

A minha vida é um vendaval que se soltou. 

É uma onda que se levantou.
 
É um átomo a mais que se animou...
 
Não sei por onde vou, 
Não sei para onde vou 
- Mas, sei que não vou por aí! 




(José Régio, Cântico Negro)

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Partilhando Leituras # 4

    Foi só o Larry chegar, e a Emma ficou milagrosamente curada. É meia-noite e está pronta para começar o dia de novo, como se jamais tivesse tido dores nas costas.
    Começamos a dançar.
    Dançar deixa-me sempre inibido, como o Larry sabe perfeitamente, ao passo que ele se sente como peixe na água: ora um majestoso dançarino de fox-trot, ao melhor estilo colonial, ora um cossaco tresloucado, ou lá o que é, mãos nas ancas, descrevendo em torno dela círculos imperiais, matraqueando o soalho envernizado com os meus chinelos de quarto. Cantamos, apesar de eu não ter voz. Primeiro reunimo-nos num triângulo apertado a ouvir o relógio bater a meia-noite.
   Depois damos os braços, um braço macio e branco para cada um, e cantamos a plenos pulmões o «Auld Lang Syne» enquanto o Larry, menino de coro em Winchester, brilha no descanto e o colar saltita cintilante no pescoço da Emma. E embora o seu olhar e os seus sorrisos sejam para mim, não preciso de lições sobre o amor, para saber que cada saliência e reentrância do seu corpo, da cabeça de azeviche à castidade do cair da sua saia é para ele que existe.
E, quando às três e meia, chega pela segunda vez naquela noite a hora de irmos dormir, e o Larry está prostrado na cadeira de baloiço, morto de tédio a olhar para nós, e eu, de pé atrás dela, lhe massajo os ombros, sei que são as mãos dele e não as minhas que ela sente no seu corpo.
   Então, lá fizeste mais uma das tuas viagens  digo-lhe eu na manhã seguinte, quando o encontro já na cozinha, a fazer chá e torradas. Não pregou olho. Toda a santa noite tive de suportar o cheiro pestilento dos seus pavorosos cigarros russos.
    É verdade, lá fiz diz por fim, concordando. Está a ser invulgarmente reticente quanto à sua ausência, o que faz reviver em mim a esperança de que terá encontrado uma mulher que seja sua.
     Médio Oriente?  arrisco.
    — Não propriamente. 
    — Ásia?
  — Não propriamente. Estritamente europeia, de facto. O baluarte da civilização.
     Não sei se está a tentar fazer-me calar, se a encorajar-me a prosseguir, mas, seja lá o que for, não lhe dou esse prazer. Já não sou o seu guardião. Os operacionais recolocados e quando é que o Larry alguma vez se colocou? – são responsabilidade dos Serviços Sociais, a menos que sejam dadas por escrito instruções diferentes.
    — Enfim, foi qualquer coisa agradável e pagã  - arrisco novamente, disposto a mudar de assunto.
  — Disso não há dúvida. Foi agradável e pagão. Para uma experiência natalícia integral, nada melhor que um cheirinho a Grozni em dezembro, uma delícia. Uma escuridão de breu, um fedor insuportável a petróleo, os cães andam bêbedos e os adolescentes andam carregados de ouro e de Kalashnikov na mão.
   Olho-o, perplexo.
     —  Grozni, na Rússia?
  Chechénia, mais precisamente. No norte do Cáucaso. Tornou-se independente. Unilateralmente. Moscovo está um pouco ressabiado.


(Continua)