sábado, 29 de maio de 2021

DEPOIS DE AMANHÃ.

                                


Hoje não quero pensar em nada que me canse,

Nada que me entristeça,

Nada que me derrote, me desanime.

Coisas doces... dêem-me doçuras.

Sejam palavras, olhares, mimos, ânimo, afecto.

Adoçaram-me a boca.

Falta-me a doçura de que a alma precisa

para não me amargar.


 

Quero estar preparada para o amanhã 
que já se faz anunciar.
Tenho o plano traçado,
tudo está delineado 
na minha mente.


E, por favor, não me perguntem nada.
Nada direi ...
                Só depois de amanhã...
 



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quinta-feira, 27 de maio de 2021

HISTÓRIA COM ESTÓRIAS DENTRO.




 A PANELA DE FERRO E A PANELA DE BARRO


A panela de ferro, um certo dia,

Ao sair do esfregão da cozinheira,

     Mui fresca e luzidia,

Disse à de barro, sua companheira: 

     «Vamos dar um passeio,

Fazer uma viagem de recreio».


     - «Iria com prazer, disse a de barro,

     Mas sou tão delicada,

Que, se acaso em seixo ou tronco esbarro,

     Lá fico esmigalhada,

Acho mais acertado aqui ficar,

     Ao canto do lar.

     Tu, sim, que vais segura

A pele tens mais dura»


     - «Se é só por isso,  podes ir comigo;

É medo exagerado o teu; - contudo,

     Se houver qualquer perigo,

     Serei o teu escudo»


A tal dedicação, a tal carinho,

Não pode a companheira replicar,

     E as duas a caminho,

Lá vão nos seus três pés a manquejar.


Mas, ai! não tinham dado quatro passos

Numa vereda estreita,

Eis que se tocam __ e a de barro é feita,

    Coitada, em mil pedaços!


Para sócio não busques o mais forte,

Que te arriscas decerto à mesma sorte.  


  Acácio Antunes

        [das Fábulas de La Fontaine]

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NOTA: Nesta publicação não me foi possível inserir as imagens que pretendia. Fotografei a ilustração que acompanha esta história, do livro de onde a transcrevi, e sempre me aparecia esta mensagem:

"Ocorreu um erro inesperado ao processar a sua seleção. Tente novamente mais tarde."

Se acaso já vos aconteceu o mesmo, gostaria de saber como, e se, resolveram mais esta dificuldade do Blogger.  Obrigada!

ADENDA: Finalmente resolvida, e removida, a dificuldade na ilustração de prosas e poemas, lá estão as amigas panelas e, aqui está, a minha habitual oferta florida para os meus leitores. 


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terça-feira, 25 de maio de 2021

ASSENTOS & PEDALEIRAS.

 



"A BICICLETE"

MOTE

Meu amor já veio de França,
Trouxe-me uma biciclete;
Ele diz que aquilo cansa,
Mas também não paga frete.

GLOSAS

No dia em que ele chegou
Foi ao meu sítio passear,
Pra me ver e pra mostrar
A lembrança que comprou.
Quando em minha casa entrou,
Eu vi a linda lembrança,
E assim me nasceu a esperança
De andar naquilo também...
Fui dizer à minha mãe:
Meu amor já veio de França.

"Se queres. monto-te agora..."
Montou-me, mas foi agoiro,
Aquilo deu logo um estoiro.
Ele disse: "Não demora."
Tirou a coisa pra fora,
Que noutra coisa se mete.
Deu seis sacadas ou sete,
E logo a roda se encheu.
Enfim, para andar mais eu
Trouxe-me uma biciclete...

Às vezes manda-me pôr
No quadro, à frente, e abala.
Depois é ele que pedala,
Mas entrega-me o guiador.
Já tenho dito: "Ai, amor,
Com que força isto avança."
Gosto de andar nesta dança,
Pois não pedalo, nem nada;
Eu vou muito descansada,
Ele diz que aquilo cansa.

Na velocidade, murmuro,
Digo: "Ai, amor, vou pró céu...
Vê lá se rompe algum pneu,
Conta amor com algum furo..."
Diz ele: "O pneu está duro,
Só um prego que se espete,
Ou alguma camionete
Que não buzine, nem toque."
Sujeita-se a gente ao choque,
Mas também não paga frete!

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Claro! Está mais que visto. 
Quem escreveu isto
Foi o Poeta que adoro, 
Por ele eu canto e choro
E mesmo sem pedalar,
Eu quero é rir e cantar.
Quem for de erudições
Não me venha com sermões
Pois gosto de ser assim
Sou doida, mas não sou ruim.


Como já perceberam, a última Glosa (ou o que lhe quiserem chamare a foto, são da autora do blogue.
O poema,  é do Poeta popular - que amo de paixão - 
António Aleixo



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segunda-feira, 24 de maio de 2021

VINHO DO PORTO.

 

Caves de Vinho do Porto - Gaia -
Foto minha


Há lugares especiais que marcam as nossas vidas com gratas lembranças.

Deles guardamos o cheiro, palavras soltas, sorrisos e sabores.

De repente, anos depois, quando nos deparamos com a recordação visual desse lugar, apercebemo-nos, ao olhar para trás, que não foi o lugar em si que nos marcou e fez feliz, apesar dos cheiros e dos sabores agradáveis.

Foi a acompanhia. 

Foi a alegria verdadeira e única,

de termos connosco todos os que amamos ____

____  hoje separados e  tão distantes uns dos outros,

mas sempre próximos pelos laços do amor e do sangue.


Também nos acompanha hoje. a recordação da voz do nosso saudoso Carlos Paião.


 



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sábado, 22 de maio de 2021

GATARIA.

 



Chegaram nem sei de onde

Trazidos não sei por quem.


Foram ficando e comendo

Foram-se ambientando


Foram crescendo e gostando.

Não sei de onde vieram


Mas se agora me os pedissem

Não os daria a ninguém.





😺    😻     🙀

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Desejos Absurdamente Legítimos.

 

MORTE


Morte, dizei-me

Dia, hora, local.

Tenho de procurar

As minhas cuecas pecaminosas,

Marcar uma consulta

Com um pedicuro.


Eunice de Souza 

  (1940 - 2017)                                        




"Eunice de Souza, escritora indiana, deixou uma poesia, íntima, ácida, feminista e directa. Pouco conhecida, materializou o verbo poético em língua inglesa e cresceu sob a influência da cultura indiana e católica, o que marca seu texto em tom de crítica."  





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Também à autora deste blogue lhe assiste o  direito de fazer o seu pedido à mesma entidade, homessa!

***

Também não quero, 

Ó  Morte 

ser apanhada de surpresa!

Avisa-me com tempo

O dia certo em que chegas.


Há tanta loucura que não fiz

Há tantos beijos 

que não dei.


Não me ceifes a vida, 

Ó Morte

Sem que se cumpra o meu desígnio: 

 Conhecer e amar loucamente aquele pelo qual 

aqui cheguei...


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quarta-feira, 19 de maio de 2021

OS AIS DA MARIA....

 

A UmaMaria é uma amiga recente, boa conversadora, culta, simpática e de trato afável.  Diz ela que espera a aposentadoria para criar um blog...Entretanto vai circulando pela blogosfera espalhando bom humor e opinando, com assertividade e bom senso, sobre os diversos temas que vão sendo abordados, aqui e ali. Este seu comentário deu ensejo a este postal em sua homenagem:

"Há muitos, muitos anos, devia ter uns 20 e poucos, fui tratar um dente. O médico ainda nem me tinha tocado e eu já estava aos ais! Passei uma vergonha...."


                                                                                  



Foi mais ou menos isto que aconteceu contigo, ou os teus Ais foram mais expressivos, Maria?

😂😂😂😂😂😂😂








segunda-feira, 17 de maio de 2021

DOS JULGAMENTOS.

 



Alimento da Alma.


Não me julgues mal pelo que digo

Não deixes de me querer por não confiar

Eu sou o produto dos tempos em que vivo.

Onde é proibido confiar, crer e sonhar.


Quisera ser aquilo que já fui

Acreditar no amor e na  bondade.

Hoje sou o produto que não quis

Sem crenças nem fé, até na amizade.


Porém, espero e creio poder ainda ser

Não o ser perfeito, porque tal não existe

Mas quero voltar a poder acreditar


Naquilo em que um dia acreditei

Sem reservas, só crer por crer

Em ti, e na força que ainda em mim persiste.


Fotografias e palavras da autora do blogue.





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sábado, 15 de maio de 2021

VOZ LUNAR.

 

Foto Minha

Que voz lunar insinua

o que não pode ter voz? 


Que rosto entorna na noite

todo o azul da manhã? 


Que beijo de oiro procura

uns lábios de brisa e água? 


Que branca mão devagar

quebra os ramos do silêncio?


 Eugénio de Andrade


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quarta-feira, 12 de maio de 2021

AMIGOS IMPROVÁVEIS?

 Não! Provavelmente os melhores amigos!

Os mais protectores e mais solidários.



Um exemplo para muitos  humanos, por vezes, insensíveis  até à voz do sangue.

Vamos aprender a dar sem pensar no retorno...vejamos este poema:

 

–Te amo... ¿Por qué me odias?

–Te odio... ¿Por qué me amas?

  Secreto es éste el más triste

  y misterioso del alma.


 Mas ello es verdad... Verdad

dura y atormentadora!

–Me odias porque te amo;

te amo porque me odias.

 

                   [ Autora: Rosalía de Castro ]

❤ 

Para quê a contradição?... Porquê não amar simplesmente deixando falar o coração? Assim...


Amo-te mesmo que me não ames
Sem segredos, quero a tua felicidade.
Se me não amas, que ao menos
         me não odeies, deixa que te ame eu ____ 
____em segredo.

 

 ❤    ❤


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segunda-feira, 10 de maio de 2021

L E I L O E I R A.

 


 Vou vender o meu jardim com flores

 Relva verde, malmequeres às cores

 Borboletas e passarinhos

 Ninhos de melros e estorninhos.


 Acho que se o leiloar

Será mais rentável e

divertido

Bato na mesa com o martelinho

Grito __ quem dá mais?

Há grande algazarra, uma confusão.


 Chegando a hora de o entregar

 Choro com saudades

 Desfaço o leilão

 e volto para casa com as flores na minha mão.



 

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sábado, 8 de maio de 2021

Já Fui Feliz Aqui. # LXII

 

Casa do Alentejo - Lisboa - Outubro de 2017
(Não tenho bem a certeza, mas devo ter sido eu a fotógrafa,
uma vez que não me vejo entre os convivas)

Há momentos que vivemos e não voltam.

Não voltam os bons nem os maus.

Ainda bem que assim é

por que momentos há que,

 se voltassem,

talvez já não trouxessem

o encanto, a alegria e o espanto

que senti e  se foi esvaindo com o tempo.

Para tudo há um tempo certo, penso.


Assim, guardo em mim, intocável,

 a alegria e a emoção

 daquele dia memorável...




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Nota: Ao fundo, vemos o saudoso Amigo Rui Espírito Santo, em amena cavaqueira, com a fugitiva  Graça Sampaio.

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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Mademoiselle Kina.

 





Eu tenho 
Dois amores
Parecidos, mas não iguais
E são ainda parentes
de quem gostaram mais 
- e mais delas gostou - 
Uma, toda ela é nobreza
Chama-se Pórcia, é da realeza
Rosto pálido
a quem o Sol nunca beijou.




Já esta outra, simples e morena

É bem mais bela, 

donzela sem exotismos.

É moça do Povo, 

chama-se Joaquina

E cismou agora ( aonde já se viu?)

de querer ser tratada por...

                                                       ....Mademoiselle Kina.

 

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quarta-feira, 5 de maio de 2021

TAMBÉM POR AQUI....

 ....existe um pequeno Paraíso.

E a Primavera manifesta-se, generosa, verdejante e bela.





As hortênsias começam a ganhar forma. À medida que forem crescendo
e tomando beleza e cor, ir-vos-ei dando conta dessa transformação.

Também as coroas-de-rei se vão formando...


A dália, cujos bolbos nunca retiro da terra, receando esquecer-me

 de os plantar, mesmo lutando contra a força perniciosa

 das ervas daninhas, lá vai mostrando que ainda está viva e resiste... 



Neste ponto, olho para o fundo do quintal e vejo algo vermelho

que me chama a atenção. Fui ver...


...Entre uma pernada caída do dióspireiro e um tufo de alecrim,

está uma papoila desmaida e frágil, quase sem cor.


O vermelho do seu trajar não é vermelho-sangue,

não é da cor de um rubi....


Mas é uma papoila que me foi enviada, por uma força

generosa, sabendo da minha saudade de ti...


❤  ❤  ❤  ❤  ❤

segunda-feira, 3 de maio de 2021

OUTRAS FORMAS DE VOAR.

 "Pouco no mundo teremos visto se não tivermos olhado os pássaros"


Fotografia da Luísa. Abusivamente tomada de empréstimo AQUI


      Escreveu a frase que encabeça o postal, um escritor moçambicano  por cuja escrita me apaixonei há largos anos.
       Dito assim, nesta forma algo poética, até parece poesia isto que escrevo. Mas não é. 
       Penso, repenso e medito longamente, cada vez mais, no voo que me aguarda. Pensamento que dantes me apavorava e hoje encaro com uma paz interior que me apazigua e me faz bem.
       Este meu voo interior, feito de momentos fugazes, é quase sempre interrompido quando sinto esta dor física atroz que me prende, não uma asa, não as duas, mas ambas as pernas. Ora uma, ora outra, mais a esquerda.
   Pergunto-me e pergunto-vos: Será que os pássaros conseguem voar  sem pernas? É que receio, na hora do meu voo derradeiro, perder o sentido de direcção, me enganar no destino e ficar pairando no ar, ou voando em círculos, qual alma penada. (Ou nem sequer conseguir levantar voo, o que seria bem pior.)


          Pavão e pavoa, vieram do Alentejo.




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domingo, 2 de maio de 2021

Meu Nome É...Pórcia.

 




Poderia chamar-me

Violeta, Isabela 

ou Efélide,

[mais conhecida por 

Sardenta.]

Mas não.

Sou a Pórcia

rica herdeira de todos os mercados

do Mercador de Veneza.

Vivo sempre mascarada

afilada para enfrentar 

todos os carnavais

deste Reino e 

de outros que tais.

Que se digladiem

que se enfrentem 

de espada em riste 

e à cinta. 


Meu lema é ser mais eu

por que outra não serei______

_____ sendo de família nobre

 vivo em casa  da Dona Plebe

_______ feliz, neste lar plebeu.


EU...? Eu Sou mais Eu.




💙 💜 💛

sábado, 1 de maio de 2021

MAIAS DE MAIO - GIESTAS EM FLOR __ VENHAM OUVIR A FLAUTA DO PASTOR .

 


Maio maduro Maio, quem te pintou?

Quem te quebrou o encanto, nunca te amou.

Raiava o sol já no Sul.

E uma falua vinha lá de Istambul.


Sempre depois da sesta chamando as flores.

Era o dia da festa Maio de amores.

Era o dia de cantar.

E uma falua andava ao longe a varar.




Maio com meu amigo quem dera já.
Sempre no mês do trigo se cantará.
Qu'importa a fúria do mar.
Que a voz não te esmoreça vamos lutar.

Numa rua comprida El-Rei pastor.
Vende o soro da vida que mata a dor.
Anda ver, Maio nasceu.
Que a voz não te esmoreça a turba rompeu.


Fotografias minhas.
A do cabeçalho é de ontem, as restantes de há dois anos.



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