terça-feira, 30 de novembro de 2021

"Um Bichinho Que Só Se Vê Ao Microscópio...

                                                  ... põe uma civilização de pernas para o ar."

 Disse o poeta, autor do poema:


Lisboa Ainda


Lisboa não tem beijos nem abraços
Não tem risos nem esplanadas
Não tem passos
Nem raparigas e rapazes de mãos dadas.


Tem praças cheias de ninguém
Ainda tem sol mas não tem
Nem a gaivota de Amália nem canoa.


Sem restaurantes, sem bares, nem cinemas
Ainda é fado ainda é poemas
Fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa.


Cidade aberta
Ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste
E em cada rua deserta,
ainda resiste.


 Manuel Alegre

(Março de 2020)


 




O bicho mau não és tu
Inofensivo caracol
Pois tudo aquilo que queres
É pôr teus pauzinhos ao sol.
 
Um ser calmo e solitário
Passeias-te lentamente
Procurando uma parceira
Ter crias como toda gente.

Tantas voltas dá o mundo
Onde é que isto vai parar?
Nas voltas das variantes
Ficamos de pernas p'ró ar.


Mas como disse o poeta 

Que faz a cidade grande

O povo nunca desiste

Mesmo andando lentamente

Assim como tu caracol

Vai seguindo sempre em frente

Dá luta ao bicho.

- Resiste! -



🐌🐌🐌🐌🐌🐌🐌



domingo, 28 de novembro de 2021

DAS VOLTAS PRODIGIOSAS DA VIDA.

De volta ao escritor e poeta José Saramago, trago-vos a derradeira parte da sua autobiografia. Se algo mais sair a público, e eu creio que sairá, será escrito por alguém que não o Nobel da Literatura. Talvez a sua viúva, Pilar-del-Rio. Talvez...

Uma imagem que exprime a plena Felicidade de ambos.
Há, no olhar do escritor, uma ternura imensa.



AQUI - AQUI - e AQUI

Poderá o leitor ler, ou reler, aquilo já anteriormente publicado neste espaço.

***
«Autobiografia de José Saramago»

[4ª e última parte]

(...)
Sem emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar, tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor.
No princípio de 1976 instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance "Levantado do Chão", em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca.
Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de "Levantado do Chão", nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada "A Segunda Vida de Francisco de Assis" e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: "Memorial do Convento", 1982, "O Ano da Morte de Ricardo Reis", 1984, "A Jangada de Pedra", 1986, "História do Cerco de Lisboa, 1989.
Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.

Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos, minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano publiquei a peça "In Nomine Dei", ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera "Divara", com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster (Alemanha), em 1993. 
Não foi esta a minha primeira colaboração com Corghi: também é dele a música da ópera "Blimunda", sobre o romance "Memorial do Convento", estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os Nomes e O "Conto da Ilha Desconhecida". Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.

O Encontro de duas Almas Desassossegadas?!


Em consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas, sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas.
Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), "A Caverna" (2000), "A Maior Flor do Mundo" (2001), "O Homem Duplicado" (2002), "Ensaio sobre a Lucidez" (2004), "Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido" (2005), "As Intermitências da Morte" (2005) e "As Pequenas Memórias" (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: "A Viagem do Elefante", um conto, uma narrativa, uma fábula.
No ano de 2007 decidiu criar-se em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos, como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de 2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa, para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a intensificar e consolidar os objectivos a que se propôs na sua Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação cultural e propostas transformadoras da sociedade.

[Fonte: Fundação José Saramago/Autobiografia de José Saramago.]

Nota: Depois de "A Viagem do Elefante", José Saramago escreveu "Caim ",  "O Caderno I" e "O Caderno II", livros que não chegou a acrescentar à sua Autobiografia. Como todos sabemos, José Saramago faleceu em 18 de Junho de 2010.

Alegria

Já ouço gritos ao longe 
Já diz a voz do amor 
A alegria do corpo 
O esquecimento da dor 

Já os ventos recolheram 
Já o verão se nos oferece 
Quantos frutos quantas fontes 
Mais o sol que nos aquece 

Já colho jasmins e nardos 
Já tenho colares de rosas 
E danço no meio da estrada 
As danças prodigiosas 

Já os sorrisos se dão 
Já se dão as voltas todas 
Ó certeza das certezas 
Ó alegria das bodas 

José Saramago, in "Provavelmente Alegria". 
Lisboa: Editorial Caminho, 1985.

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Uma vez mais quero deixar expresso o meu profundo agradecimento, a todos os leitores, visitantes e amigos
 que me têm acompanhado nesta
 homenagem ao nosso 
escritor/poeta José Saramago, Nobel da Literatura. 
Muito Obrigada!



❤   ❤   ❤   ❤   ❤ 
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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

FRUTO SEM PECADO.

 



Renasço em cada manhã

E quantas vezes for preciso.

Em cada manhã irei colher

O fruto do Paraíso

Para conhecer o sabor

Do que é pecar, sem pecado

Do que é morrer por saber

Que se algum dia pequei___

___foi por excesso de juízo!




 

Fotos de hoje, cedinho, - se atentarmos à época e às condições climatéricas da zona onde me encontro, obviamente. A propósito; alguém sabe o nome do fruto deste Paraíso?



 B O M   D I A.


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

QUISERA SER...E SOU!!!

 

Foto e palavras minhas, naturalmente.

 

Quisera ser a estrela que brilha no firmamento

Ter asas e voar para longe deste lugar triste


Mas sinto-me presa ao chão,  só voo em pensamento

São meus os caminhos da fantasia onde já pouco ou nada existe.


Porém...Mente quem disser que só se vive uma vez.


No céu impera a escuridão sem que morra a quimera.

Quem disse que só se renasce na primavera,

não sabe o que diz, não me conhece.


Criei o meu próprio sonho que nunca se desfez.

Vês? 



Em jeito de canções ao gosto dos leitores, cá está a esplêndida voz da Lara Fabian, sugerida pelo Joaquim Ramos,

 a dizer-nos: "Quédate"!



Se houver mais algum/a leitor/a com uma canção preferida que se enquadre na publicação e coincida com o gosto da autora, pode pedir. 
Será com igual agrado que a publicarei. 👍

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E agora chegou a vez do 'Cara' que toda a Mulher sonha,

que a Fatyly sugeriu. 

É um Cara perfeito, só espero que se não torne enjoativo

 com o passar do tempo.

Desfrutem, meninas! 😍



❤  ❤  ❤  ❤  ❤

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terça-feira, 23 de novembro de 2021

NO ESCURINHO DO CINEMA....

 ...quando há umas horas atrás comentava no blogue da amiga Elvira Carvalho, veio-me à ideia uma cantilena que aprendi na adolescência e, como tudo o que aprendemos cedo raramente esquecemos, fiquei com a dita cantiga na ideia. Então, resolvi partilhar a historieta com quem por aqui faz o favor de passar.




Meu marido pra sair arranja sempre um assunto
Há dias disse-me a sorrir precisava de sair pra ir velar um defunto.
Saiu de casa à noitinha e disse-me assim:  

"Olha meu bem__ só volto de manhãzinha

e pra não ficares sozinha, vai chamar a tua mãe"


Deveras aborrecida às nove horas resolvi.
Pensei ir com a minha mãe querida 
gozar um pouco da vida ao Cinema Tivoli.


Cheguei tinha começado  era uma fita moderna.
Fui para o lugar indicado  e reparei 
que ao meu lado alguém me apalpava a perna.


Tentei fazer alarido, mas fiquei muda de repente
Afinal, esse atrevido era o bom do meu marido
Que estava na câmara ardente.


Ele disse-me a sorrir:

"Não faças caso ó minha louca
Não estejas a discutir,
quando eu tornar a mentir___
___pões-me pimenta na boca"


Eu então dei por resposta:

"Saíste fora do normal.
Por esta é que eu não esperava
o defunto que velavas__
__leva um lindo funeral"


Quem quiser colaborar pode cantar comigo:

POR ESTA É QUE EU NÃO ESPERAVA

 O DEFUNTO QUE VELAVAS

LEVA UM LINDO FUNERAL....

❤ ❤



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domingo, 21 de novembro de 2021

CANTIGA DE EMBALAR.

 



Cai a folha triste e só
Vinda não se sabe de onde
Cair em outro lugar 
Que não o de onde nasceu.
Esperando ter companhia
Naquela hora tardia
Para onde o vento a varreu.

O gato Malhado acercou-se
Olhou, mas não se deteve
Passou por ela e andou.


Quando sentiu o roçar
Da folha vinda plo ar
Pensou ser algo diferente.
Não reconhecendo naquela
Tão triste e baça folhinha
A mesma dos verdes anos,
Passou por ela indiferente.

É assim o Outono da Vida
Quando se perde a frescura
Já ninguém nos reconhece...


[As fotos têm esta cor meio esquisita em virtude das minhas experiências com o editor de imagens. Lá chegarei à perfeição, só preciso de prática e tempo...]

🍂🍂🍂🍂🍂🍂🍂🍂🍂

🐱🐱🐱🐱🐱



sexta-feira, 19 de novembro de 2021

MOMENTO SÓ RISO.

 Vamos descontrair?

Então oiçam atentamente e saibam porque razão os divórcios tendem a aumentar. 


                                                            



Afinal, a minha relutância em efectuar compras pela Internet

tinha uma razão de ser. Nunca comprei nada online!

Parece que adivinho... 

Por acaso o pastor alemão até me parece ser 

 simpático e afável, mas... nunca fiando.




Quem o mandou provocar? Falta de respeito!

Interromper o sono descansado de uma pessoa...

Eu fazia o mesmo ou pior um pouco.




Ah...esta não é sobre alentejanos.

Mas poderia ser... 😏






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FIQUEM BEM E SEJAM FELIZES!

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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

QUEM ADIVINHA AS ADIVINHAS? (REEDIÇÃO)

 

Vamos lá ver quem acerta

Quem é que sabe dizer

Não fiquem de boca aberta

Só precisam responder.



Não é nenhuma salada

Nem salgalhada sequer

  Trago-vos um passatempo

    Somente para me/vos entreter.

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Quem quiser alinhar somente tem que responder indicando o número da adivinha e a solução.  😊


1 - Tenho um brinco com que brinco,

Tenho um brinco que enlouquece.

Quanto mais o brinco brinca,

Mais o brinquinho lhe cresce.


2 - Seis meninas viviam na mesma rua.

Uma enganou-se na casa,

Todas elas se enganaram.


3 - Qual é a coisa, qual é ela,

Que quem encomenda não precisa

Quem faz não usa e quem usa não vê?


4 - O que é que em pequenino é macho e em grande é fêmea?


5 - Qual é a coisa, qual é ela,

Que antigamente faziam com a boca

E agora faz-se com o dedo? 


6 - Diga lá senhor estudante

Que estuda filosofia

Qual o bichinho que voa 

E dá leite quando cria. 


7 - Menina, vamos para a cama

Fazer o que Deus mandou,

Juntar pêlo com pêlo

Menina dentro ficou.


8 - Não é boina nem chapéu

Não é coisa de enfeitar

Mas é posto na cabeça

Porque é ali o seu lugar.  


9 - Em cima de ti me ponho

Em cima de ti me tenho

Que Deus me dê toda a força

Para te meter o que tenho. 


10 - Capinha sobre capinha

Capinha do mesmo pano

Nem que te deites na adivinha

Não adivinhas num ano. 


😍  😍


É puxar plas cabecinhas

Porque pensar é indolor.

Isto são simples adivinhas

Com sorrisos e bom humor.


😘   😊   😋   😜   😝


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Em menos de 24 horas iniciei e termino este passatempo. 😳 😀

Num próximo, serão as respostas dos participantes enviadas para o meu e-mail de modo a não deixar que o interesse esmoreça. De qualquer modo, é com gosto que faço referência a um desfecho inesperado.

Mas vamos por partes... 

Eis as soluções para as dez adivinhas:

1- Acordeão 

2- Botões de camisa

3- Caixão

4 - Cebolo e cebola

5- Apagar a luz

6- Morcego 

7 - Menina do olho

8 - Dedal 

9 - Bota 

10 - Cebola 

Agradeço a colaboração de Todos os amigos e visitantes que sempre acolhem com enorme generosidade as minhas brincadeiras. 

Participaram neste passatempo a Fatyly - Marli - Catarina - Joaquim Rosário - Manu - Miguel - Rosa dos Ventos - Rycardo - Luís Rodrigues, a quem agradeço pela sua engenhosa e criativa participação onde o bom humor prevaleceu, Faço questão de publicar a sua lista de respostas às adivinhas.

1 - auscultadores

2 - GPS

3 - óculos escuros

4 - José Castelo Branco

5 - skype

6 - vaca do António Costa

7 - escovar o cabelo deitada

8 - capachinho

9 - bicicleta

10- 7 saias da Nazaré.


Pela sua natural semelhança e actualidade, não sendo estas as

 respostas, poderiam perfeitamente ser, se analisadas à luz dos

 tempos que correm.


OBRIGADA A TODOS.


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terça-feira, 16 de novembro de 2021

UM JEITO SEDUTOR.

 

Foto minha.

Deixei a minha porta entreaberta para

quando na minha rua passasses

visses que estava à tua espera e

pudesses, enfim, entrar.

No seio da minha casa, no meu leito...


Passaste a assobiar uma canção em voga

Mãos nos bolsos, ar distante, jeito gingão.

Eu a espreitar-te pela fresta da janela encostada

Vi que nem olhaste e passaste ao lado do portão.


Fechei a minha entrada ao delírio, à fantasia.

Saí também para a rua vestida a preceito...

Passei por ti na esquina da minha rua

Fingi que não te vi, segui ladeira acima

Inventei um caminhar sedutor _ e depois,

_ depois?... Tomei- lhe o jeito!...


🎻 🎻 🎻 🎻 🎻




🎻 🎻 🎻 🎻 🎻

domingo, 14 de novembro de 2021

É NO SILÊNCIO QUE OUVIMOS O PULSAR DA VIDA.

 Dando continuação ao meu simples contributo nas celebrações do centenário do escritor e Nobel da Literatura José Saramago, trago mais um dos seus belíssimos poemas.


É Tão Fundo O Silêncio…

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

 José Saramago, in “Provavelmente Alegria”.

* * * * 

«Autobiografia de José Saramago»

Continuação DAQUI e DAQUI 


(...)

"Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998. 

Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei "A Viúva", mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de "Terra do Pecado." Escrevi ainda outro romance, "Clarabóia", que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu… A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena.

Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria "Os Poemas Possíveis" , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.

Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade saramago_antiga permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. 

Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi. 
Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara «Os Poemas Possíveis», uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, «Provavelmente Alegria», e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante, duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.

Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve, esses textos representam uma “leitura” bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe político-militar de 25  daquele mês, que travou o processo revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director."




💎  📘  💎

Tal como  tenho vindo a afirmar nas publicações anteriores, dedidadas ao nosso Nobel, 
darei por terminada esta série,
quando finalizar a sua autobiografia.

O meu agradecimento a todos os leitores, visitantes e amigos que me têm acompanhado nesta
modesta homenagem ao escritor/poeta José Saramago.






(Fotos do escritor retiradas da Net - a das rosas é minha.)


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sábado, 13 de novembro de 2021

OS AMORES DOS POETAS.

 «O poeta, sensível e até mais sensível porventura que os outros homens, imolou o coração à palavra, fugiu da autobiografia, tentou evitar a todo o custo a vida privada. 
Ai dele se não desceu à rua, se não sujou as mãos nos problemas do seu tempo, mas ai dele também se, sem esperar por uma imortalidade rotundamente incompatível com a sua condição mortal, não teve sempre os olhos postos no futuro, no dia de amanhã, quando houver mais justiça, mais beleza sobre esta terra sob a qual jazerá, finalmente tranquilo, finalmente pacífico, finalmente adormecido, finalmente senhor e súbdito do silêncio que em vão tentou apreender com palavras, finalmente disponível não já tanto para o som dos sinos como para o som dos guizos e chocalhos dos animais que comem a erva que afinal pôde crescer no solo que ele, apodrecendo, adubou com o seu corpo merecidamente morto e sepultado.»

Ruy Belo


Ruy Belo acreditava que o sentido das coisas morava na Poesia e que foi graças à sua vulnerabilidade e sensibilidade perante a vida, que se tornou poeta. 
De todos os temas que aborda na sua escrita, a solidão e a morte são os que tomam principal destaque.

Para contrariar, um pouco, esta quase generalidade da sua poesia, escolhi este poema sobre as coisas que o Poeta disse amar e todos os Poetas amam e enaltecem.

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"Amei a Mulher Amei a Terra Amei o Mar"

Amei a mulher amei a terra amei o mar
amei muitas coisas que hoje me é difícil enumerar
De muitas delas de resto falei.

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Das três  coisas que o poeta enumerou 
trago-vos a foto de uma delas,
comum no amor de todos os Poetas.
As duas restantes serão mais personalizadas...