“A essa hora, meia-noite seria, Dom
Alexandre de Aguilar, infamado, desprezado, e solitário na sua angústia,
esvaziava garrafas de conhaque, no intento de aturdir-se e responder com a
gargalhada do ébrio ao grito da vergonha. Os deploráveis perdidos, que se valem
desta triaga, parece que a si propriamente se estão castigando com mais crueza
do que poderia castigá-los a justiça humana.”
Ah, Camilo, Camilo, para fugir
da vergonha, apetecia, a muito boa gente, alhear-se da realidade nem que para
tal tivesse que se refugiar no álcool. No entanto, a noção d’O Bem e o Mal – e a vergonha - ficaram perdidas, algures, pelos caminhos da
vida, por terceiros, que jamais se auto-castigaram ou sequer se reconheceram culpados....Ou, então, pior ainda, nunca vergonha tiveram.
Vergonhas? Ora, ora o que há demais são poucas vergonhas e as verdadeiras vergonhas são tão poucas que até é uma vergonha tão poucas serem.
ResponderEliminarNão tenho a certeza de que o que aqui deixo escrito faz algum sentido; espero bem que sim porque se não, é uma vergonha!
Beijinhos com sorrisos
Tu, Kok, mais esses teus trocadilhos, fizeram-me lembrar de um amigo e colega de trabalho, também ele alentejano com forte sotaque, que nunca perdeu nos anos de vida pela capital e me fazia sempre rir por terminar as frases que queria enfatizar, não com o 'inha' mas com 'ita'. Então, quando alguma moça se mostrava mais atiradiça, a outros, não a ele, dizia com ar reprovador: «Já não há vergonhita nenhuma»
EliminarBeijinhos, envergonhados, q.b.
A minha avó costumava dizer que "A vergonha era verde, veio uma cabra e comeu-a" E parece que desde aí, o mundo ficou sem ela.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Tinha razão a senhora sua Avó, Elvira.
EliminarPor outro lado, o meu Avô sempre disse que a vergonha era o bem maior e mais valioso que alguém podia deixar como herança.
Creio que, na sua simplicidade, ele tinha a vergonha como sinónimo de dignidade e honradez. Tal qual ele sempre viveu e pela qual pautou o seu comportamento.
Talvez até um pouco demais. Quem dera tivesse sido menos severo e rígido nos seus princípios e tivesse, assim, poupado algum sofrimento à filha mais nova.
Beijinhos
Olá Janita.
ResponderEliminarAdoro ler mas, Camilo Castelo Branco não faz parte das minhas preferências. Acho muito deprimente, morre toda a gente.
Concordo todavia com a sua reflexão. Absolutamente.
A noção do bem e do mal dentro de cada um de nós, que pode levar ou não a ter vergonha.
Assunto pesado mas, necessário e muito actual. Muito.
Para finalizar e se me permite, deixo a sugestão do livro que acabei de ler: "O homem que gostava de cães" - Leonardo Padura.
Por acaso, vai de encontro a este seu post. Foi o primeiro livro que li deste autor e gostei muito.
Um abraço do Algarve,
Sandra Martins
Talvez aquilo a que a Sandra chama 'deprimente' seja o realismo com que Camilo escrevia. Afinal, na vida real, no fim também morre toda a gente. :)
EliminarCreio que desse escritor que refere nunca li nada.
Já desde a passada semana que espero receber um livro encomendado e até agora não chegou. Não sei o que se passa com a Wook.
Beijinhos e um abraço especial, a partir do Norte.
Afinal sempre houve quem sentisse vergonha e quem bebesse uns copitos a mais. Tudo diferente, tudo igual
ResponderEliminar.
Felicitações poéticas
Proteja-se
Beber para esquecer já o faziam o Agostinho e a Agostinha. :)
EliminarObrigada, Ricardo
Embora a escrita de Camilo Castelo Branco não tenha o calibre da escrita do Eça de Queirós, tenho toda a obra de Camilo. Escreveu sempre muito à pressa para receber dinheiro para pagar as dívidas.
ResponderEliminarContinuação de boas leituras 📚
Sabes como é que diz o nosso Amigo Pedro Coimbra, Teresa?
Eliminar"Opinião é que nem cu, cada qual tem o seu".
Pois eu, gosto ainda mais de Antero de Quental do que de Eça.
Coitado do Camilo, aquela sua louca paixão pela Ana Plácido, quase lhe dava cabo da vida. Mas após a morte do marido bem que se desforraram.
Beijinhos.
O Antero é POETA; o Eça é ESCRITOR!!
EliminarAi, credo...até me assustaste!
EliminarE depois? É tudo Literatura! :)
O que eu queria dizer é que, o Eça é o meu deus na PROSA; Luís de Camões e Cesário Verde os meus deuses na POESIA.
EliminarTenho este livro. Provavelmente a mesma edição porque a capa também é branca. Era o meu escritor de eleição quando era adolescente. Creio que li todos os seus livros. Uma das qualidades que mais apreciava nele era que as suas descrições não eram tão longas como as do Eça pelas razões que a Teresa apontou. A paixão por Camilo era tão grande que todos os meus amigos tinham conhecimento deste facto. :))
ResponderEliminarJá nem sei há quantos anos tenho este e outros livros, igualmente antigos, Catarina.
EliminarEstás a ver? Eu sou igual, sempre tive uma queda por Camilo desde o seu 'Amor de Perdição'. :))
Beijos, Catá!
Camilo era um mestre da língua e da escrita. Li e gostei de quase toda a sua obra. Recentemente revisitei alguns dos seus livros.Pena que não tivesse tempo para rever alguns dos textos pela pressa de os ver publicados.
ResponderEliminarbjis
Era sim senhor! Revisitar livralhada é o que tenho feito nestes dias de clausura. Já anseio pela leitura de um novo livro e um novo autor.
EliminarBeijinhos
O meu professor de Português no meu 7.º ano dos Liceus, dizia que Camilo era importnatítssimo porque além de bom escritor era um excelente "escriba" da língua portuguesa.
ResponderEliminarE razão tinha o teu Prof. Ricardo. Porque razão, hoje em dia, uma boa parte da nossa juventude tem um vocabulário tão limitado? Falta de leitura de bons autores portugueses!
EliminarAbraço.
ResponderEliminarHoje a vergonha caiu em desuso
e os que a usam são apontados
apupados, vilipendiados
Tenho vergonha dos tempos que vivemos
onde os sem-vergonha reinam e determinam
a grande inversão de valores
o mal é defendido como bem
e pratica-se o bem
sempre olhando a quem
(hoje sinto-me como Alexandre de Aguiar,
e vou beber copoe e copos de Grants
até a crise me passar...)
Meu amigo não faça isso
Eliminarpara esquecer não se enfrasque
a falta de vergonha persiste
e não haverá quem o desenrasque...:)
Abraço, Rogério. :)
Gostei da publicação. Nunca li nada do Camilo Castelo Branco, penso eu! :)
ResponderEliminar-
Desalento...
Beijos e uma excelente noite!
Não, Cidália? Deve ter lido e já não se lembra.
EliminarQuem não leu, pelo menos, o 'Amor de Perdição' que fez chorar as pedras da calçada?
Beijo.
Como não sou uma pedra da calçada, não chorei, mas gostei!!
EliminarIsso és tu, Teresa, Mulher de aço... Já eu, chorei baba e ranho, na verdade li-o ainda muito novita, talvez por isso não estivesse preparada para tanto desgosto...
EliminarBem, não sou assim tão maniqueísta que me possa atrever a dissertar sobre o bem e o mal numa caixinha de comentários :)
ResponderEliminarPara os outros animais, que não nós, humanos, os afectos coexistem pacificamente com paixões e pulsões, e os conceitos de bem e mal só emergem quando passam a coabitar connosco. Nós somos diferentes. Não somos melhores nem piores, somos apenas diferentes, passe o raio do "cliché". A ética e a moral são um privilégio e uma responsabilidade exclusivamente nossa e o facto de eu me ter por uma incurável rebelde, não faz de mim um ser indiferente à ética.Pelo contrário, considero-me profundamente ética.
E pronto! Lá estou eu a divagar em torno do tema... vou mas é calar-me porque ainda tenho alguma vergonha na cara ;)
Beijinho, Janita :)
Respeitaria se houvesse por aí uma certa dualidade de critérios, mas o conceito de bem e mal, exige efectivamente um largo debate e tempo para o fazer. :)
EliminarCom certeza, minha amiga, rebeldia não significa falta de ética. Simplesmente, cada ser humano tem o direito de pensar por si e agir em conformidade com o seu sentir. Isso de andar a toque de caixa também não se enquadra na minha 'caixa'.
Fale à vontade, aqui não tem tempo de antena fixo nem limitado.
Beijinhos, Maria João. :)