Saudades da Terra
Uns olhos que me olharam com demora,
não sei se por amor se caridade
fizeram-me pensar na morte e na saudade
que eu sentiria se morresse agora.
não sei se por amor se caridade
fizeram-me pensar na morte e na saudade
que eu sentiria se morresse agora.
E pensei que da vida não teria
nem saudade nem pena de a perder,
mas que em meus olhos mortos guardaria
certas imagens do que pude ver.
Gostei muito da luz.
Gostei de vê-la
de todas as maneiras,
da luz do pirilampo à fria luz da estrela,
do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.
de todas as maneiras,
da luz do pirilampo à fria luz da estrela,
do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.
Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria
quando galga lambendo o dorso dos navios,
quando afaga em blandícias de cândida luxúria
a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.
E também gostei muito do Jardim da Estrela
com os velhos sentados nos bancos ao sol
e a mãe da pequenita a aconchegá-la no carrinho
e a adormecê-la
e as meninas a correrem atrás das pombas
e os meninos a jogarem ao futebol.
A porta do Jardim, no inverno, ao entardecer,
à hora em que as árvores
começam a tomar formas estranhas,
gostei muito de ver erguer-se
gostei muito de ver erguer-se
a névoa azul do fumo das castanhas.
Também gostei de ver, na rua, os pares de namorados
que se julgam sozinhos no meio de toda a gente,
e se amam com os dedos aflitos, entrecruzados,
de olhos postos nos olhos, angustiadamente.
E gostei de ver as laranjas em montes, nos mercados.
As mulheres a depenarem galinhas
e a proferirem palavras grosseiras,
os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões pesados,
os homens a aguentarem e a travarem os grandes camiões pesados,
e os gatos a miarem e a roçarem-se nas pernas das peixeiras.
Mas ... saudade, saudade propriamente,
essa tenaz que aperta o coração
e deixa na garganta um travo adstringente, essa, não.
Saudade, se a tivesse, só de aquela
que nas flores se anunciou,
se uma saudade alguém pudesse tê-la
daquilo porque não passou.
De aquela que morreu antes de eu ter nascido,
ou estará por nascer - quem sabe? - ou talvez ande
nalgum atalho deste mundo grande
para lá dos confins do horizonte perdido.
Triste de quem não tem,
na hora que se esfuma,
saudades de ninguém...
nem de coisa nenhuma!
António Gedeão
A todos os meus seguidores e amigos /as desejo um bom feriado e fim-de-semana. Fiquem bem e façam por ser felizes...fazendo felizes aqueles a quem querem bem. Espero voltar um qualquer dia da próxima semana. Beijinhos para todos.
Janita
Votos de bom feriado e fds :)
ResponderEliminarEu chego e você vai? Até a volta, então e aproveite o feriado. Beijinhos
ResponderEliminarBoas férias Janita
ResponderEliminarAbraço
Aqui estive com muito gosto.
ResponderEliminarVoltarei sempre que possível.
Bj.
Saudades do que não vivi
ResponderEliminarSaudades já, de si
(Também gostei do mar. Gostei de vê-lo em fúria
quando galga lambendo o dorso dos navios,
quando afaga em blandícias de cândida luxúria
a pele morna da areia toda eriçada de calafrios.)
Olá, Janita!
ResponderEliminarGedeão complexo e profundo, deixando-nos aqui o balanço por antecipação daquilo que ele imagina que irá sentir saudades na despedida desta vida.
E pobres daqueles que não terão saudades nenhumas...!
E que te saiba bem esta pausa, seja ela mais curta ou comprida...
Beijinhos.
Vitor
Um poema de uma humanidade tocante!
ResponderEliminar"Triste de quem não tem saudades"...
E sabes, Janita?!
Eu tenho muiiitas... muiiitas!
Obrigado por teres escolhido este poema do fantástico Rómulo de Carvalho.
Beijinhos.
Amiga Janita, já tenho saudades suas!
ResponderEliminarSe vier para os meus lados, diga qualquer coisa :)
Boa viagem!
beijinhos
Com tempo e sem tempo
ResponderEliminarNo tempo que o tempo tem
Demoro a dar-te tempo
O tempo que sempre vem
Beijinhos querida Janita
Buen poema para dejarnos una despedida,te esperaremos que vengas descansada y seguro que hasta rejuvenecida.
ResponderEliminarSaludos
Com que então fds prolongado, né? Ai se o Coelhito sabe...
ResponderEliminarHoje os comentários andam a pirar-se sem eu lhes dar ordem. Um bom fds!
ResponderEliminarBom feriado Janita!
ResponderEliminar:)
Querida Janita,desculpa de não agradecer a tua visita há mais tempo,mas não sei o que se passa com o meu pc,que não tenho conseguido comentar em nenhum blog,pois que quando clico para comentar,a internet desliga,tenho que reeniciar e começar tudo de novo e volta a acontecer,só agora me foi possível fazê-lo,mas estou a medo que de repente torne a acontecer.
ResponderEliminarAmiga,obrigada pela tua simpatia e amizade,para comigo.
Para ti um grande beijinho.
Miuíka
Então bom passeio. Hoje é dia de fados no pátio 24 e vou lá estar. Mas não creio que ande aqui pelas minhas bandas. Volte sempre.
ResponderEliminarAh e o Gedeão!! Saudades da poesia dele.
Minha querida
ResponderEliminarUm texto maravilhoso de António Gedeão que adorei.
Deixo um beijinho desejando um fim de semana cheio de paz e amor.
Sonhadora
Até à volta!
ResponderEliminarbeijinhos!
Beijinho e bom fim de semana!
ResponderEliminarJanita Amiga,
ResponderEliminar...saudades de ter feito as coisas melhor ou de outra maneira...
Muita felicidade para si e para os seus.
Um prolongado e feliz fim-de-semana.
Bj amigo,
J
Obrigado, Janita, por esta prenda maravilhosa do Gedeão e, também, pelos votos que, obviamente, retribuo.
ResponderEliminarBeijinho
Quicas
Olha, parabéns ao Gedeão por tão bel e profundo texto, muito forte e meigo também, ao mesmo tempo. Gostei mesmo. E a você, Janita, sempre antenada nas coisas boas, nos brindou com essa beleza. uito obrigado por tudo. Beijos.
ResponderEliminarJanita
ResponderEliminarAntónio Gedeão deixou-nos este belíssimo Poema de(a) Vida.
Gostei, gosto.
Beijos
SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/
Saudades do que não vivi
ResponderEliminartambém tenho a toda hora
e tenha saudades de si
e não a vi até agora
Saudades das coisas boas
saudades de coisas belas
saudades de algumas pessoas
de outras é melhor não telas
beijinho grande,
José.
Obrigado por me ter dado a conhecer este belo poema do António Gedeão.
ResponderEliminarNão conhecia e é magnifico.
Querida Janita.
ResponderEliminarSaudades de estar atento ao que é importante
Saudades de não ter pressa para chegar mais adiante
Saudades...tenho!
Beijo e kandandos de carinho
Minha Querida Amiga Janita,
ResponderEliminarQue saudades eu tenho das aulas com Gedeão meu professor! Saudades também das suas ausências aqui e além... e saudades do tempo perdido que acabei por não viver...
Beijinhos muito Amigos.
Quero expressar o meu reconhecimento a todos os queridos amigos/as que durante a minha ausência visitaram o meu cantinho e me deixaram as vossas palavras de carinho, incentivo e amizade.
ResponderEliminarTambém àqueles que passaram em silêncio, agradeço a visita e quero que saibam que os compreendo e estimo.
Para todos vai o meu carinho.
Bem-hajam!
Beijinhos.
Janita