É um direito adquirido. :) Não um erro nem um defeito.
Cega-Rega
É difícil. Isto de começar num montouro, e só parar na
crista dum castanheiro, tem que se lhe diga. É preciso percorrer um longo
caminho. Embrião, larva, crisálida...
Todas as estações do íngreme calvário da
organização. Animada pelo sopro da vida, a matéria necessita do calor dum
ventre. Antes dessa íntima comunhão, desse limbo purificador, não poderá ter
forma definitiva. Custa. Mas a lei natural é inexorável.
Exige consciência de cosmos antes da
consciência de ser. O calor dá no ovo. Aquece-o e amadurece-o. A casca quebra.
Depois... Ah, depois é essa descida ao húmus, essa existência amorfa, nem
germe, nem bicho, nem coisa configurada.
IMAGEM DAQUI |
Largos dias assim. Até que finalmente em
cada esperança de perna nasce uma perna, e cada ânsia de claridade é premiada
com dois olhos iluminados. Cresce também uma boca onde a fome a reclama, e
surgem as asas que o sonho deseja...
É difícil, mas vai. Desde que haja
coragem dentro de nós, tudo se consegue. Até fazer parte do coro universal.
(…)
- Muita alegria tem tal bicho!
- A alegria passa-lhe... É deixar vir o Inverno...
A pressurosa formiga! A coitada! Como se
trabalhar fosse um destino!
- E temo-lo aí, não tarda muito.
Evidentemente. Mas que lhe importava? A
escolha estava feita. Que as folhas do calendário, como as das árvores, fossem
caindo, e que os ceifeiros lançassem as gadanhas ao trigo maduro, numa
condenação de galerianos. Que nas tulhas se acumulassem toneladas de grão. Ao
lado dos celeiros atestados, ficaria um celeiro vazio. Um símbolo de
inquebrantável confiança.
- Mas em quê? - Perguntava um
pardal suspicaz.
Outro que não compreendia. Outro que só
concebia a existência a saltar de migalha em migalha.
-
Chega-lhe, Cega-Rega!
O Poeta!…Louvado seja Deus! Até que enfim lhe aparecia um irmão!... Um
irmão que sabia também que cantar era acreditar na vida e vencer a morte…
A morte que a espreitava já, com os
olhos frios do Inverno...
Da página 85 à 89.
(Excerto do conto «Cega-Rega» de Miguel Torga)
------------------------------------------------------------------------------
Liberdade
—
Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga
======================================================
Boa noite, Janita. Toma lá uma beijoca :-)
ResponderEliminarAceito com prazer a beijoca e até retribuo, Noname, mas...já foste ver o teu e-mail?
EliminarJá viste a mensagem que te enviei ontem? Vai lá ver, sff... Mau Maria!!
Beijocas atentas e obrigadas! :-))
Estás muito inspirada!
ResponderEliminar:)
Achas, Catarina? Então ainda não viste nada!... :-))
EliminarJá fui ao teu blogue, mas vi lá tantas prendas que nem tive coragem de entrar. eheheh
Beijinhos.
Olha, tenho essa mesma edição dos "Bichos" de Torga... :)
ResponderEliminarEspero que tenhas tido um Feliz Natal e que este período de festas siga, para ti e os teus, agradavelmente.
E também está assim de folhas amarelecidas, como o meu, Luísa? Adoro estas edições antigas, que não troco por nenhuma mais moderna.
EliminarEspero que o período festivo possa seguir bem, e o mesmo espero e desejo para ti...tudo sobre rodas, para deslizar melhor. :-)
Beijo.
Boa tarde. Independentemente da publicação que li com toda a atenção, passando para desejar um ANO NOVO de 2018, muito feliz, extensivo a família e amigos..
ResponderEliminar.
hoje: * Embriaga-me nas tuas Emoções *
.
Continuação de boa festas.
.
Boa tarde e obrigada, Gil.
EliminarO mesmo lhe desejo.
Lá irei embriagar-me, também. :)
Que as Festas sigam Felizes.
Um abraço.
A avó costumava ler para mim este livro quando eu era criança, obrigado pela recordação que evocaste!
ResponderEliminarAbraço grande
Como sabes, só evoco boas memórias, querido Ricardo! :-)
EliminarE então? Tudo bem por aí?
Abraços e beijos.
conta-me como foi...:)
Já contei...
EliminarOutro abraço...grande...;-)
...e eu, adorei ouvir!! :-)
EliminarAbraços.
Feliz ano 2018 repleto de oportunidades, saúde, esperança e prosperidade.
ResponderEliminarAG
Muitíssimo obrigada pelos seus votos, caro António.
EliminarIgualmente lhe desejo o melhor, para si e os seus.
Um abraço.
Belíssima partilha querida amiga ,aproveito também para lhe desejar um 2018 próspero cheio de felicidade ,muitos beijinhos
ResponderEliminarMuito obrigada pelo carinho sempre expresso em simpáticas palavras, Emanuel.
EliminarUm beijinho e um 2018 também muito feliz para si.
Ó senhora da casa!
ResponderEliminarAquela fotografia dos insectos é de vossa senhoria? Foi a vossa senhoria que andou a bater o obturador para fazer aquela fotografia?
Mil perdões, Mr. Remus.
EliminarPor uma distracção, lamentável, não dei os devidos créditos ao autor da fotografia. Erro, esse, que já foi devidamente corrigido.
Grata pelo simpático e atencioso alerta, ficarei eternamente em dívida para com vossa Senhoria.
Não era um alerta, era somente uma pergunta. Porque para o caso que me viesse dizer que a fotografia era sua, eu até já tinha estendido o tapete, para fazer cinco vénias, daquelas de batem com a testa no chão.
EliminarLamento, mas não faço vénias dessas sem tapete. O chão é muito frio e as minhas artroses já não me deixam fazer essas coisas.
Mas então como a fotografia não sua... assim sendo, acho que vou ter que enrolar novamente o tapete. Em todo caso ele fica aqui ao pé, porque tenho um pressentimento que ele vai ser necessário brevemente.
;-)
Não creio...Não creio que alguma vez vá precisar desse tapete, aqui neste espaço, Remus. Pode guardá-lo sine die...
EliminarCreio eu. Acho que daqui a umas semanas, já estarei a fazer a vénia.
EliminarPor precaução, já ando a aplicar hidratante nos joelhos.
:-)
Sabe de algo que eu não saiba? Hummmm...vou ficar de atalaia.
Eliminar:)
A gente que se preza sabe.
ResponderEliminarSabe que pão é pão, mas antes
de o ser é terra e predras,
é suor e dor.
Gostei a valer, Janita, de ver aqui o Torga.
Eu, que espero na estação, sem horário, não atino com o comboio. Chego atrasado como o alfaiate de Braga que ia ao Porto, quando ia. Mas, como é sempre tempo, aqui vão os meus votos de boas festas: saúde e alegria a cada dia.
Bj.
O meu Amigo tem sempre um lugar de honra reservado neste humilde, mas honrado cantinho. Pode vir quando puder e quiser, caro Agostinho. Será sempre um prazer receber a sua visita
EliminarSe anda pela blogo já deve ter nova publicação que, por alheamento meu, me passou despercebida. Já vou na sua peugada. Antes, quero desejar-lhe tudo o que de melhor houver e lhe faltar. Saúde - que nunca é demais - e Alegria.
Um beijinho com Amizade, caro Poeta.
O homem que me habituei a ver na Portagem em Coimbra.
ResponderEliminarAustero, reservado, às vezes até antipático.
Beijinhos
O Pedro teve o privilégio de conhecer Torga.
EliminarQuem o conheceu pessoalmente refere essa aparente austeridade e antipatia.
O fotógrafo Eduardo Gageiro, contou certa vez, na TV, uma entrevista com ele e a história deliciosa sobre o seu cachet e a pequena vingança de o fotografar em meias- sem sapatos - no seu consultório em Coimbra.
No meu blogue há, por aí, uma publicação sobre esse tema.
Beijinhos
Amei a postagem!
ResponderEliminarBeijo
Continuação de boas festas.
E eu amei vê-la por cá com um novo e bonito visual, Cidália.
EliminarBeijinhos e continuação de dias felizes.