quarta-feira, 20 de maio de 2020

Vulgaridade? Sim...


...mas bem real!

E, depois, apeteceu-me ser vulgar, mas realista.



* *
*


Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado:



Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem ascoroso;
A mais nevada mão sempre é forçoso
Que de sua dona o cu tenha tocado:

Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês podre gordura,
Fétida urina lança a qualquer hora.

Caga o cu mais alvo, merda pura:
Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti, mijo,  em ti cago, oh formosura.

******


Soneto da Porcaria -
 de Manuel Maria
(du Bocage)

*******









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29 comentários:

  1. Pelo lido
    e pelo tão bem dito
    se percebe
    porque razão era
    Bocage tido
    como poeta maldito

    Quanto a vulgaridades José Luís Borges um dia escreveu: “criar banalidades consiste em inventar histórias verdadeiras”

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    1. «Enleia-se por gosto a liberdade
      E depois, a paixão na alma se apura»

      O Poeta 'maldito'
      gostaria de saber
      do seu veredicto, Rogérito!

      :)

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    1. «Nascemos para amar e a Humanidade
      Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.»

      :)

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  3. Por que te foste lembrar do Bocage?!
    : )

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    1. Porquê, Catarina?

      Porque:
      «Amor ou desfalece, ou pára, ou corre
      E, segundo as diversas naturezas,
      Um porfia, este esquece, aquele morre.»


      Antes que morra, há que agarrá-lo! :)

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  4. Três vivas para o Bocage!! :))
    Beijinhos

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    1. Viva! Viva! Viva... Bocage! :))

      E vivamos nós também, para lhe louvar o talento, Pedro.

      Beijinhos

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  5. Eu gosto do Bocage.
    Tenho dois livros de poesia dele que li em 2015 na altura em que se comemoravam 250 anos do seu nascimento. Estudá-mo-lo nesse ano na UTIB e fomos visitar a sua casa museu em Setúbal.
    Abraço e saúde

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    1. Não sabia e fiquei contente por saber. Após tantos anos de má fama, o Poeta é ainda homenageado. Com toda a justiça, diga-se.
      Abraço.

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  6. Bom dia
    Não conhecia o soneto do "Bocage"
    Gostei de ver a Odete . Uma figura muito carismatica . mas com uma personalidade fora de série .

    J R

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    1. "Enleia-se por gosto a liberdade
      E depois que a paixão na alma se apura.
      Alguns então lhe chamam desventura,
      Chamam-lhe alguns então felicidade.


      Grande Poeta foi Manuel Maria Barbosa du Bocage.

      Boa noite!

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  7. Ahahaahahaha. Que cena...ousadia poética, lol
    .
    Saudações poéticas
    Cuide-se, proteja-se

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    1. Era assim, o Poeta:

      Magro, de olhos azuis, carão moreno,
      Bem servido de pés, meão na altura
      Triste de facha, o mesmo de figura
      Nariz alto no meio, e não pequeno

      Eis Bocage, em quem luz algum talento;
      Saíram dele mesmo estas verdades
      Num dia em que se achou mais pachorrento."


      Boa noite!

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  8. Looool só podia ser do Bocage! Adorei. Mas olhe que tem as suas verdades, daquele tempo!:))

    -
    Intempéries no sentimento imaturo

    Beijo, e um excelente dia :)

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    1. "Tu és doce atractivo, ó Formosura,
      Que encanta, que seduz, que persuade.


      Dir-lhe-ia o Poeta, se pudesse, Cidália! :)

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  9. Admiro Bocage, que também poetisa sobre a realidade !

    Beijinho, tudo de bom

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    1. O Poeta poetizava sobre tudo, São.
      Um homem culto e inconformado, que gostava de desafiar as normas que a sociedade impunha.

      Beijinho. Tudo de bom também para si.

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  10. Mesmo arredado da mesa oficial
    Merdaleja Bocage, o imortal.

    Um viva para a vulgaridade, Janita. :)

    Um beijinho :)

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    1. Mainada, AC!

      "Incapaz de assistir num só terreno
      Mais propenso ao furor do que à ternura
      Bebendo em níveas mãos por taça escura
      De zelos infernais letal veneno.


      Grata por apoiares a minha incursão na 'vulgaridade', Amigo AC. :)

      Beijinho.

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  11. Bocage é sempre um prazer ler, teve sempre esse bendito condão de escrever o que muitos pensavam e não diziam.

    Beijinhos Janita

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    1. Ali não havia lugar para a hipocrisia, Manu! :)

      "Devoto incensador de mil deidades
      (Digo, de moças mil) num só momento,
      E somente no altar amando os frades


      Beijinhos, Manu.

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  12. Não conhecia o Soneto da Porcaria, mas sei que já glosei o Soneto da Liberdade :)

    Beijinho, Janita :)

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    1. Olá, Maria João!
      Já estive no seu cantinho.

      Na verdade, o título do Soneto não é bem esse, acontece que me esqueci e, depois, (re)baptizei-o. Espero que isso não me traga algum dissabor.

      Beijinho, Mª João. :)

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    2. Eheheheh... não o conhecia de todo, com ou sem nome próprio :)

      Ao contrário da maioria, não li quase nada desse Bocage mais escatológico. E não o li apenas porque nunca o encontrei na biblioteca lá de casa.

      Outro beijinho :)

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  13. O poema conhecia. Só dele, mesmo.
    A Odete, que conhecia também como declamadora, está muito bem.
    1 bji.

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    1. No poema "Nascemos para Amar" até que o Poeta se portou muio bem.

      "Nascemos para amar, a Humanidade
      Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
      Tu és doce atractivo, ó Formosura,
      Que encanta, que seduz, que persuade.

      Enleia-se por gosto a liberdade;
      E depois que a paixão na alma se apura,
      Alguns então lhe chamam desventura,
      Chamam-lhe alguns então felicidade.

      Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
      Qual em suaves júbilos discorre,
      Com esperanças mil na ideia acesas.

      Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
      E, segundo as diversas naturezas,
      Um porfia, este esquece, aquele morre.


      Se não estou em erro já numa ocasião lhe deixei lá no seu Cantinho este Soneto, lembra-se ou não? :)

      Um beijinho.

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    2. Ah, e a camarada Odete Santos, está muito bem, sim senhor!

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