Foto minha
“NUVENS”
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
Álvaro de Campos in "Poemas"
( Heterónimo de Fernando Pessoa)
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Querida amiga,
ResponderEliminaré fantástica a actualidade deste texto!
Beijinho e tenha uma óptima semana!
Lindíssimo texto e foto! beijos,chica e linda semana!
ResponderEliminarMinha querida
ResponderEliminarUm texto do nosso Pessoa e sempre actual, poderia ter sido escrito hoje que mostra a realidade nua e crua de nós todos que estamos num barco sem fundo...num mar sem cais.
Adorei a escolha do texto e deixo o meu beijinho carinhoso.
Sonhadora
Angustiantemente sentido... e verdadeiro!
ResponderEliminarNas nuvens, como se costuma dizer muitos andam.
ResponderEliminarNão sabem como fazer
Mas sem saber mandam
Desta triste realidade
Da pouca esperança em que vivemos
Que não nos tirem a liberdade
Única riqueza que, ainda, temos
De uma vida complicada
Como Janita, bem escreve
Numa correria agitada
Quem a vive padece.
Com estima e carinho
Para minha amiga Janita
Receba com jeitinho
Em seu cabelo linda fita
Para mais talentosa ficar
Só quem sente é que grita
Para seus direitos alcançar.
Um beijo
Eduardo.
Cara Janita
ResponderEliminarNunca foi um grande leitor dos nossos clássicos. Hoje leio com voracidade tudo o que apanho. Escolhi o Fernando Pessoa como um dos principais, como encontramos nas suas palavras tanta semelhança com os tempos que correm.
Será uma fatalidade?
Abraço
Minha querida amiga
ResponderEliminarÉ preciso algum cuidado com a tristeza de Pessoa. Contagiante e sombrio como a noite, mas também tão real como a verdade.
Estás triste?
Beijinho
Si siempre tendremos por desgracia algún día triste,pero con eso debemos de contar que en el devenir de la vida no todo es felicidad.
ResponderEliminarEs un bellisimo texto real de lo que a diario nos ocurre.
Saludos
Quando comecei a ler, pensava que estava a fazer uma descrição do presente. Mudámos tão pouco...
ResponderEliminarBoa semana
Olá, Janita; boa noite!
ResponderEliminarPensei que já estivesse ultrapassada essa questão com o blogger, mas já percebi que não ...
Já tentaste eliminar provisoriamente links a blogues contaminados...?
Poderá resolver, se daí vier o contágio.Assim é uma maçada, para lhe não chamar chatice...!
Quanto ao texto do Fernando Pessoa, apetece-me chamar-lhe o poema do desencanto; o Olhar as pessoas que que vão, que voltam , que giram à sua volta,fazendo parte dos seus dias tristes.
A escolha é boa,o poema é tristinho - e que não conhecia.
Beijinhos; boa semana.
Vitor
Olá querida Janita,
ResponderEliminarApre, estou a cair na realidade, aquela que nem em todas as alturas é bem vinda, por cutucar com aquilo que sabemos mexe com o que por momentos preferia não pensar.
Fiz uma pausa e olhei a lua que mais me pareceu uma barca e me deixei embalar nas ondas que parecem lhe dar movimento, e nesse instante fui por momentos embalado para outros patamares, menos tristes, me apaziguando um pouco.
Voltando a ler Álvaro de Campos e estas nuvens voltei à realidade tocante por se constatar que os anos passam, mas os cenários no presente apesar do colorido com que se nos apresentam se mantém infelizmente pouco ou nada alterados.
Beijo e kandandos com carinho.
Silêncio e sombras, Janita, nada descreve melhor a grandiosidade das nuvens!
ResponderEliminarEntra partidas e chegadas, elas, (as nuvens) estão sempre bem presentes!
Beijinho,
Ana Martins
Minha querida amiga Janita
ResponderEliminarjá quase ninguém acredita
que as nuvens vão desaparecer
sim porque esta nuvens são fume
incêndios nos sítios do costume
num país que esta sempre a arder
Temos que reinventar alegria
para ir vivendo o dia-a-dia
no mundo de "Silencio e Sombras"
eu mostro o meu descontentamento
quando passo ao pé dessa gente
nem sequer olho para as trombas
Não fique triste por causa disse,
eu sempre ouvi dizer tristezas não pagam dívidas.
Um beijinho grande,
José.
Minha querida amiga, a foto é linda!
ResponderEliminarFernando Pessoa nunca esteve tão actual.
Leio os seus poemas e textos sempre com renovada admiração.
"Não sentem: por isso são deputados e financeiros"
Beijinhos
Olá Janita! Vi agora o seu comentário no blog da Fê.Pois, talvez seja por isso que tenho tido poucos comentários. Espero que esses problemas com o blogger passem rapidamente... para nossa satisfação.
ResponderEliminarO F.Pessoa é o maior... não há dúvida.
Eu acho que é por ler as coisas dele que ainda estou por cá. E por mais algumas coisas.
Mil beijos.
Óptimo Feriado!
Viva a República! (se for monárquica, diga-me...).
Este é um daqueles poemas que apesar de ter tudo de verdadeiro e ser muito belo, não combina comigo hoje...
ResponderEliminarTalvez num dos frio de Inverno, hoje não!
Beijinho, Janita.
Ana Sofia
Querida amiga Janita!
ResponderEliminarBoa noite, eu é que agradece a sua amizade, e os seus lindos comentários que sempre faz lá no meu cantinho,são estas coisas que me dão força, para perseguir este caminho, que às vezes tem mais obstáculos, com que devia.
Você também está num lugar muito especial, e para sempre irá ficar.
Um beijinho grande, grande,
José.
Sim querida janita estou imensamente bem- está chegando o fim de ano, um ano sobretudo de crescimento espiritual, poético,humano e intelectual...Estou muito feliz- e a felicidade as vezes necessita ser molhada pelas lagrimas senão torna se muito seca- enfim obrigado querida pela presença sempre marcante. Este mês faço 2 anos de blogosfera e que bom te-la comigo.
ResponderEliminarabraços
Janita
ResponderEliminarSe Álvaro de Campos (F.Pessoa) escrevesse este texto nestes dias que passam, não admirava, pois a actualidade é desenrolada nestes termos.
Assim, tomamos Álvaro de Campos vs Fernando Pessoa, como um Profeta dos nossos Dias, ou... podemos concluir que foi sempre assim tão mau desde "aqueles" dias?
Beijos
SOL
Olá Janita
ResponderEliminarJá me fizeste rir... lá no Pé...!
Pois a cor do absurdo que defendo não é a cor da relva verdinha e encantadora! Mas sim a do vermelho da revolta, do querer, da paixão, da luta... permanente!
Beijinhos.
lindo, mas trágico, não, Janita? Boa noite , beijos
ResponderEliminarÉ muito engraçado isto e na sequência do seu post anterior eu vivo mais um paradoxo. Sou por natureza uma pessoa alegre e bem disposto (acho que já tive a minha dose qb de depressão e afundanço, mas isso nem vem agora para o caso). Nas coisas que faço, nas coisas que digo, nas coisas que escrevo e até nas coisas que calo tento sempre colocar um sorriso. Um sorriso verdadeiro, nada de cara engelhada, amarela. Prefiro ficar até vermelho de corado com uma gargalhada dada em lugar impróprio que reprimi-la. E no entanto..., no entanto é na escrita, na imagem, na presunção da tristeza que encontro tanta beleza. Este texto que a Janita fez o favor de nos oferecer é esplendoroso de beleza. Acredita que não só de Pessoa, mas também (um também muito grande) de Mário de Sá Carneiro. sou fã? Obrigado minha querida por nos trazer - às vezes andamos distraídos, ou passamos muito tempo sem estas abordagens - dizia eu, por nos trazer coisas tão belas. Um beijinho.
ResponderEliminarOi querida amiga. Vim agradecer tua amável visita ao meu diário de viagens e descobertas. Um dia ainda irei visitar essa tua maravilhosa terra-mãe. Um grande beijo. Tenha uma ótima semana. FIQUE COM DEUS.
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