Nas minhas andanças pela Net, descobri uma história de cordel, contada em verso, que muito me divertiu e resolvi partilhá-la. É um bocadinho longa, é verdade, mas também não precisa de ser lida toda de uma assentada. No final digo de onde a tirei, que eu não sou pessoa de me apropriar do alheio!
Sou poeta de cordel
Trago no sangue esta sina
Na arquitetura do verso
Minha mente não declina
Por isso vou construir
Mais uma obra com rima.
O que agora
vou versar
É fato, não é mentira
Aconteceu a uma jovem
Da cidade de Cupira
Em solo pernambucano
No Sitio da Macambira.
Francisca moça pacata
De perfeita educação
De casa só se afastava
Para seguir procissão
Ir a enterro de parente
E em dia de eleição
Filha educada e zelosa
Em casa tudo fazia
Costurar, bordar, Cingir
Francisca tudo sabia
Era na cozinha a fada
Que todo homem queria
Sua fama de pureza
Corria toda cidade
Os moços todos sonhavam
Gozar de sua amizade
E prêmio maior seria
Desposar essa beldade.
Porém vê-la para muitos
Sorte grande já seria
Pois Francisca não ousava
Andar pela freguesia
Por segurança, em casa
Tinha tudo o que queria.
De segunda a sexta-feira,
Para educar a donzela
Uma freira contratada
Estava sempre com ela
Pois Francisca era uma jóia
Educada, santa e bela.
Por outro lado Raimundo
Um cidadão galhofeiro
Era a imagem do cão
Preguiçoso e bagunceiro
Que tinha passado uns tempos
Lá no Rio de Janeiro
É fato, não é mentira
Aconteceu a uma jovem
Da cidade de Cupira
Em solo pernambucano
No Sitio da Macambira.
Francisca moça pacata
De perfeita educação
De casa só se afastava
Para seguir procissão
Ir a enterro de parente
E em dia de eleição
Filha educada e zelosa
Em casa tudo fazia
Costurar, bordar, Cingir
Francisca tudo sabia
Era na cozinha a fada
Que todo homem queria
Sua fama de pureza
Corria toda cidade
Os moços todos sonhavam
Gozar de sua amizade
E prêmio maior seria
Desposar essa beldade.
Porém vê-la para muitos
Sorte grande já seria
Pois Francisca não ousava
Andar pela freguesia
Por segurança, em casa
Tinha tudo o que queria.
De segunda a sexta-feira,
Para educar a donzela
Uma freira contratada
Estava sempre com ela
Pois Francisca era uma jóia
Educada, santa e bela.
Por outro lado Raimundo
Um cidadão galhofeiro
Era a imagem do cão
Preguiçoso e bagunceiro
Que tinha passado uns tempos
Lá no Rio de Janeiro
Com sotaque carioca
Puxando para o paulista
Raimundo lá em Cupira
Parecia um artista
Todas as moças da cidade
Figuravam em sua lista.
Um sujeito extrovertido
Bem quisto pela cidade
Amigo de todo mundo
Por sua sagacidade
Bonito, bom de conversa
Mas de pouca qualidade.
Todas as moças da cidade
Tinham a ele namorado
Mas nenhum pai gostaria
De ver Raimundo casado
Com sua filha e vivendo
Pra dentro do seu cercado..
Mas sabemos que o destino
Traça seu próprio caminho
E dessa forma juntou
Como galhos para um ninho
Raimundo e Francisquinha,
O "gato" e o "passarinho".
Um parente de Francisca
Naqueles dias morreu
Nesse velório a mocinha
Ao Raimundo conheceu
E seu doce coração
Por ele forte bateu.
Francisca não conhecia
A maldade desse mundo
E caiu fácil na lábia
De seu galante Raimundo
Que na arte do xaveco
Era um verdadeiro imundo.
Botou a mão na mão dela
Falando com muito estilo
Francisca ouviu passarinhos
Cantando junto com grilo
E Raimundo foi em frente
Colocando a mão naquilo.
Francisca endurecida
Fitava o namorado
Que pegando a mão dela
Com carinho e com cuidado
Foi pondo sem cerimônia
Encima do seu cajado.
Francisca por puro instinto
Segurou o animal
Porém num susto em seguida
Tirou a mão do local
E perguntou: Raimundinho,
Pra quê guardas este pau?
Raimundo muito sacana
Com toda tranqüilidade
Disse: Francisca querida
Quanta ingenuidade
Isso aí é uma agulha
De costurar virgindade
Francisca examinou-a
E disse: Como é grossinha
E prosseguindo o exame
Encontrou uma fendinha
E perguntou ao Raimundo:
É aqui que põe a linha?
Seguiu dizendo: Raimundo
Gostei dessa novidade
Se essa agulha aí
Faz o que dizes de verdade
Levantas, vem e costura
Logo a minha virgindade.
Raimundo quis sair fora
Mas Francisca de pressinha
Fechou a porta da frente
Em seguida a da cozinha
E já retornou à sala
Sem vestido e sem calcinha.
Raimundo ficou sentado
Com o rosto empalidecido
E Francisca insistindo
Costura noivo querido
Pegando no instrumento
Sentiu ele amolecido.
Deu um salto para trás
Dizendo: pode ir embora
Porque homens mentirosos
Eu conheci muitos aí fora
Mas um frouxo e boxador
Fostes o primeiro agora.
Olhando para Raimundo
Disse dando uma risada:
Vou revelar-te uma coisa
Raimundo meu camarada
O padre que entra e sai
Aqui, sou eu disfarçada.
Puxando para o paulista
Raimundo lá em Cupira
Parecia um artista
Todas as moças da cidade
Figuravam em sua lista.
Um sujeito extrovertido
Bem quisto pela cidade
Amigo de todo mundo
Por sua sagacidade
Bonito, bom de conversa
Mas de pouca qualidade.
Todas as moças da cidade
Tinham a ele namorado
Mas nenhum pai gostaria
De ver Raimundo casado
Com sua filha e vivendo
Pra dentro do seu cercado..
Mas sabemos que o destino
Traça seu próprio caminho
E dessa forma juntou
Como galhos para um ninho
Raimundo e Francisquinha,
O "gato" e o "passarinho".
Um parente de Francisca
Naqueles dias morreu
Nesse velório a mocinha
Ao Raimundo conheceu
E seu doce coração
Por ele forte bateu.
Francisca não conhecia
A maldade desse mundo
E caiu fácil na lábia
De seu galante Raimundo
Que na arte do xaveco
Era um verdadeiro imundo.
Botou a mão na mão dela
Falando com muito estilo
Francisca ouviu passarinhos
Cantando junto com grilo
E Raimundo foi em frente
Colocando a mão naquilo.
Francisca endurecida
Fitava o namorado
Que pegando a mão dela
Com carinho e com cuidado
Foi pondo sem cerimônia
Encima do seu cajado.
Francisca por puro instinto
Segurou o animal
Porém num susto em seguida
Tirou a mão do local
E perguntou: Raimundinho,
Pra quê guardas este pau?
Raimundo muito sacana
Com toda tranqüilidade
Disse: Francisca querida
Quanta ingenuidade
Isso aí é uma agulha
De costurar virgindade
Francisca examinou-a
E disse: Como é grossinha
E prosseguindo o exame
Encontrou uma fendinha
E perguntou ao Raimundo:
É aqui que põe a linha?
Seguiu dizendo: Raimundo
Gostei dessa novidade
Se essa agulha aí
Faz o que dizes de verdade
Levantas, vem e costura
Logo a minha virgindade.
Raimundo quis sair fora
Mas Francisca de pressinha
Fechou a porta da frente
Em seguida a da cozinha
E já retornou à sala
Sem vestido e sem calcinha.
Raimundo ficou sentado
Com o rosto empalidecido
E Francisca insistindo
Costura noivo querido
Pegando no instrumento
Sentiu ele amolecido.
Deu um salto para trás
Dizendo: pode ir embora
Porque homens mentirosos
Eu conheci muitos aí fora
Mas um frouxo e boxador
Fostes o primeiro agora.
Olhando para Raimundo
Disse dando uma risada:
Vou revelar-te uma coisa
Raimundo meu camarada
O padre que entra e sai
Aqui, sou eu disfarçada.
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:)) Amiga Janita, à quanto tempo eu não lia e ria com um poema de cordel :)
ResponderEliminarA Francisca de ingénua não tinha nada, e o Raimundo é um frouxo vaidoso :D
Viva o humor!
beijinhos
Amiga Fê:
EliminarSabendo eu como ultimamente tens andado tristinha, fico muito feliz por esta historieta ter contribuido para te fazer rir.:))
Que, ao menos, não nos tirem a capacidade de soltarmos umas gargalhadas!
Beijinhos.
Simplesmente adorei...
ResponderEliminarObrigado pela partilha.
João Roque:
EliminarAinda bem que gostaste, João!
Vamos partilhando aquilo que por um motivo ou por outro, achamos que possa ter interesse ou seja divertido, consoante o tema, não é?
Beijinho.
Uma história deliciosa e uma Francisca de se lhe tirar o chapéu.
ResponderEliminarSaudação da amiga de longe, e continua a publicar histórias divertidas como esta, e não te metes em politiquices, minha cara Janita.
Olá, Ematejoca!
EliminarQue bom teres gostado! Pensava que este tipo de estórias de cordel não fizessem o teu género. Não há dúvida que o teu sangue lusitano fala sempre mais alto!
Saudações amigas.
ResponderEliminarAdorei os versos... li tudo de uma assentada!
E inspirada neles dedico-te mais este acróstico.
Já alegria nunca falta
Ao cantinho da Janita
Num lugar bem prazeiroso
Inspirador e catita.
Tem boa disposição,
Amigos e é bonita.
Beijinhos rimadores
(^^)
P.S. também adoro este tema... mas prefiro a versão original. Em cachopas, eu e a minha irmã cantávamos esta música a duas vozes!!
AFRODITE:
Eliminarés uma Deusa
prendada para a poesia.
Dás Amor e tens Beleza
que mais a Janita queria?!
Por acaso também prefiro a versão original.
Hei-de ir ao teu cantinho ver o galã que me "arranjaste".lol
;))
Beijinhos brejeiros.
Olá, Janita!
ResponderEliminarÉ longa mas lê-se duma assentada, esta história brejeira e bem contada.
E viva a boa disposição, que tanta falta neste triste reino faz...!
Bom resto de semana.
Beijinhos
Vitor
Olá, Vitor!
EliminarAs tuas histórias também são bem bonitas e algumas até têm o seu quê de brejeirice que tanto nos diverte.
Nos tempos que correm é quase obrigatório não perder a boa disposição, não achas? :)
Beijinhos e um abraço.
Eu li tudo e chorei a rir, obrigada amiga por este momento!
ResponderEliminarEstá demais.
antiga mas sempre bom de ouvir os ABBA.
Beijinho e uma flor
Amiga Flor de Jasmim:
EliminarNão imaginas como fico contente em saber que "choraste" a rir!
É por isso que adoro a blogosfera!
Umas vezes emocionamo-nos até às lágrimas e outras até choramos de tanto rir. Comigo acontecem as duas coisas com frequência.
Adoro ouvir os ABBA. Tenho montes de LPs deles.
Beijinhos, Adélia!
Adorei. O texto é mais que uma obra com rima - é uma obra-prima. Até a brejeirice cai bem, o que não é fácil!
ResponderEliminarA Chiquitita não está mal - sempre está melhor que "aquele" Zé Maria...
(Já em puto me irritava quando diziam para o ar - "Coitado do Zé Maria, que era burro e não sabia")
:)
beijo
José Moura Pereira:
EliminarO que eu já me ri com o teu comentário!:))
Realmente, "aquele" Zé Maria...caramba...nem me lembrei!
Se fosse agora, teria escolhido outro nome!:))
Adorei o teu sentido de humor. Assim é que eu gosto!
Beijinho.
Tu descobres cada coisa, Janita! Fartei-me de rir e não achei nada longo, porque é muito divertido
ResponderEliminarBeijos
Aleluia! Aleluia! Aleluia!
EliminarO Carlos e eu estamos finalmente de acordo: a história não é nada longa porque é muito divertida.
Meu querido CBO.
EliminarSó o saber que te fiz rir já me fez ganhar o dia!:-)
Beijinhos.
Li de uma assentada
ResponderEliminarMas por causa do adiantado da Madrugada
Tive que me conter na risada
Adorei esta camarada
Que pra brincadeira era bem danada
(eu e as quintilhas)
lolololololol=)))
Beijinhos de abalada
:)))))))))
Olá L.O.L!
EliminarTenho sentido a tua falta na blogosfera.
Nunca mais te encontrei no Carlos ou no Rui.
Olá ematejoca
EliminarTenho andado por aí. Sabes como é! Sigo quase 300 blogues. Não é fácil estar em todas as paradas. rsrsrsrsrs=))
Olha, Mestre:
EliminarÉs tu com as quintilhas e eu com as "quadrilhas".
Queres ver estas?:
Levantas-te de Madrugada
Em busca do teu amor
Encontraste um laranjal
Carregadinho de flor…
Por causa da camarada
Danada prá brincadeira
Contiveste uma risada
E abalaste com canseira...
Beijinhos sem abalos.
Olá Janita, confesso que ainda não li o seu post todo, porque já estou a cabecear em hora avançada. No que a Franciscas diz respeito, amo o filme do Manoel de Oliveira com esse nome e baseado no não menos fabuloso "Fanny Owen" da Agustina (Bessa-Luís). Ah e gosto de si!
ResponderEliminarbeijos.
Desculpa Janita de responder aos teus comentários, mas não resisto, mas tu já me conheces do CR.
EliminarTambém amo esse filme de Manoel de Oliveira, mas eu amo todos os filmes desse realizador genial.
Amo a obra de Agustina Bessa-Luís, incluindo "Fanny Owen".
Olá querido Hugo!
EliminarNão fiques no computador quando fizeres o turno da noite, olha que dormir é meio sustento.
Eu também gosto do nosso centenário Manoel de Oliveira e da Agustina, mas não sei porquê não gosto das Franciscas. Ah, mas adorei saber que gostas de mim! ;)
Beijinhos, Hugo.
Eu logo vi que ela não era assim tão inocente a ponto de não saber a finalidade final de um cajado! Ah ah ah ah.
ResponderEliminarSr. Matumbo:
EliminarQuanto me honra com a sua visita!:)
Seja Bem-Vindo! Já estive na sua nova residência, mas passei um pouco de corrida só para deixar a minha marca. Hei-de voltar com tempo para saber se a cubata é mais melhor boa que a barraca...lol
Por acaso eu acredito que a tal Francisca não soubesse bem qual a finalidade final de um cajado.
Lá na minha terra, por exemplo, não há pastor que não tenha um. E qual é a finalidade dele? Guardar o gado ou encostar-se a ele e passar plas brasas? :)))))
Um abraço!
Janita
ResponderEliminarvoltei para te dizer que também tenho discos de vinil dos ABBA, só se houvem em gira-discos.
Beijinho e uma flor
Flor,
Eliminarmas o meu velhinho gira-discos ainda está a postos para o que der e vier! É uma preciosicidade que só funciona em ocasiões muito especiais.
Beijinhos.
Nada melhor para esquecer por momentos os tempos dificiris do que esta deliciosa poesia.
ResponderEliminarRi com gosto e, confesso, não estava à espera deste final.
A Chiquitita vem sempre bem.
Manuel.
EliminarQuando não podemos remediar o que está mal, rir é sempre o melhor remédio! :)
Esta Chiquitita traz-me lembranças muito boas.
Um beijo.
Claro que, se se começa é impossível deixar de ler tudo ! eheh
ResponderEliminarEstá delicioso e cheio de humor ! :))... Ah !... Grande (e reguila) Francisquinha ! eheh
Sabes que o Autor é ROSENILDO DE LIMA SILVA (Nildo Cordel) ?...
Beijinho
.
Olá, Rui!
EliminarQuando publiquei os versos pareceram-me longos de mais para que os leitores tivessem paciência de os ler.
Afinal enganei-me e todos têm sido unânimes em dizer que os leem de uma assentada: eheheh
Eu própria já os li várias vezes e agora não os acho tão longos.
Eu coloquei o link do autor, Rui. Não sei se acedeste a ele, mas na verdade, pensei que "Nildo Cordel" fosse pseudónimo.:)
Beijinhos, Rui!
PS. O teu enigma é que está bravo de levar a bom termo!...
Minha querida Janita
ResponderEliminarAdoro estes versos de cordel, são maravilhosos e o vídeo completou bem...que tristezas não pagam as dividas que dizem que nós temos.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Hello, Janita.
ResponderEliminarLovely your works, full of joy.
Thank you World-wide LOVE, and your Support.
The prayer for all peace.
I wish You all the best.
Have a good weekend. from Japan ruma ❀
A danada Francisquinha
ResponderEliminarSenhor Raimundo enganou
Virgindade ela não tinha
Ele com a mão naquilo pegou!
A história da Francisquinha é longa mas é muito engraçada.
Bom fim de semana para você, amiga Janita, um abraço Eduardo.
Boa noite Janita!
ResponderEliminarGostei de aqui vir
li tudo duma assentada
levei o caminho a rir
com a poesia engraçada
O Raimundo o fanfarrão
a Francisquinha "marafada"
Ele com a agulha na mão
mas tava toda amolengada.
Obrigada por me fazer rir
Foi os ventos fortes
que me trouxera aqui
Beijinho,
José.
Minha cara, estou feliz
ResponderEliminarPor seu compartilhamento
Como poeta precisamos
De gente com sentimento
Que dê a nosso trabalho
O seu reconhecimento.
Sou poeta cordelista
Dom recebido do céu
Pessoas como você
Pra santa só falta um véu
Um beijo deste poeta
Assino: Nildo Cordel.