quinta-feira, 10 de agosto de 2017

HÁ DIAS QUE AMANHECEM PARA SER TRISTES...

A mulher que há vários anos trata da qualidade da sua visão, através dos cuidados médicos que lhe prestam no Hospital de São João, deslocou-se hoje àquela unidade hospitalar para mais uma consulta de rotina.
Recordava-se bem da longa espera que teve de suportar na última vez que lá esteve. Saiu, por isso, cedo de casa. Coisa rara: o trânsito fluía alegremente, talvez por ser Agosto e estar tudo de férias. Ah, o querido mês de Agosto…

Chegou cedo, com cerca de quarenta minutos de antecedência. Logo à entrada teve uma grata surpresa: o pequeno, mas bem apetrechado bar da entrada, que havia sido retirado e não estava lá no ano passado em que esperou horas a fio pela consulta, sem mais nada para além das odiosas máquinas que fornecem bebidas e comida de plástico, lá estava; airoso e redecorado à maneira.

Logo ali, sorriu agradada pela surpresa. Mais ainda, quando reparou nos bonitos quadros expostos nas alvas paredes. Bonitos pensamentos emoldurados, enfeites floridos com rosas e outras flores, davam ao espaço um ar de saúde para a alma e para vista.  Sacou do telemóvel e começou a clicar deliciada. Que bonito post iria escrever …

Passou pelo segurança exibindo o documento comprovativo da consulta e lá seguiu pelo longo corredor em direcção ao serviço de consultas externas de oftalmologia. Tirou a senha e, quando chegou a sua vez, poucos minutos depois, já a funcionária da recepção  lhe dizia para aguardar. Sentou-se ao lado de uma linda e sorridente garotinha de quatro anos, com um nome lindo (?): Francisca. Soube-o, porque uma senhora sentada na outra cadeira, ao lado, lho perguntou, já que a personagem desta narrativa se havia embrenhado na leitura do livro que, desta vez, não se esqueceu de meter no saco.

Passado o tempo não mais do que o de ler duas páginas, e ainda antes da hora marcada, o médico, jovem e de ar afável, assomou à porta da sala de espera e chamou pelo seu nome. Incrédula, guardou apressadamente o livro. No interior da sala de consulta, mas na entrada, de sorriso nos lábios e mão estendida para um simpático cumprimento, o médico de barba negra cerrada, convidou-a s sentar-se.
 Sim senhora, estava tudo muito bem, a tensão ocular óptima , mas que se fosse mentalizando para uma nova intervenção cirúrgica à vista direita, sem urgência, mas daqui a mais uns anitos...

Ela, habituada a tagarelar com os médicos que antecederam este, desconhecido, ainda tentou encetar um diálogo. Com um sorriso, mas sem palavras, deixou-a sempre sem resposta. E não é que ela gostou dessa eficiência, calada, sóbria e competente? Adorou saber que, dali em diante, seria ele o seu médico assistente.
Quando, já de nova consulta marcada, seguia de regresso ao longo dos imensos corredores, constatou que poucos minutos passavam da hora para que esteve marcada a sua consulta. 
Que maravilha! Pousou a tralha, normal das mulheres, no parapeito de uma das janelas e resolveu telefonar para uma pessoa de família, que vive por ali perto para a convidar para almoçar. Poderíamos ir onde lhe apetecesse, ela que convidava teria muito gosto em pagar o almoço.
Que tinha chegado das compras, que não lhe dava jeito… mas então vou passar eu por tua casa e dar-te um abraço...Oh que pena, mas tenho de ir ao cabeleiro. A que horas?…ah…fazer madeixas…sem a deixar terminar a frase e já com o tom de voz um pouco ríspido: A que horas?... Bem…humm…daqui a uma hora…
Às vezes penso se terei escrito um T, de tonta, na testa.
Ok, para a semana começam as minhas férias e nessa altura combinamos qualquer coisa.

Tristonha, mas não derrotada, teve uma ideia: O neto…estava já de férias escolares, terminado o 12º com boas notas…estágio feito…quem sabe? – Sim, avó?…olha lá J, estou a sair do hospital…blá, blá, blá…e pensei…
Oh, avó, desculpa, mas já tinha combinado uma saída com a D (namorada).
Repete a resposta que havia dado antes…e uma sensação de abandono e vazio toma-lhe conta das entranhas.
Ao passar junto do bar, lindo, airoso e remodelado, já perto da saída, não olhou para as paredes nem para os bonitos quadros…
de todas as fotos, só esta lhe diz que deve ir com calma, sim, mas, hoje, sem Alma…




Saiu do hospital em passo lento, arrastando os pés, cabeça baixa, olhar fixo nas ‘alparcatas’…


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24 comentários:

  1. É preciso ir dar dois pares de estalos a alguém?
    Eu disponibilizo-me a isso e faço-o de bom agrado! Sou perito em dar pares de estalos. Só preciso de saber as moradas. Chego lá, faço o serviço, chape-chape, chape-chape e já está. Sem perguntas nem conversa fiada. É trabalho bem feito e certeiro.
    :-D

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    1. Se um dia precisar, já sei a quem recorrer, Remus.
      Foi bom saber que a estalada, sem dar azo a conversa fiada, é a sua especialidade. Eu cá sou mais, pouca porrada e muita conversa, depois sofro as consequências...:)

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  2. O facto de acontecer a toda a gente, não faz que o desânimo, a tristeza diminue. Nessa altura, é de focar nas boas notícias recebidas e ir dar um giro mesmo que sozinha relembrando como a vida é bela!!

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    1. É o que faço quando estou virada para o desprendimento, Catarina, mas hoje, acho que a mulher precisava de aconchego.

      :)

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  3. Subscrevo as palavras da Catarina (bom, mas com a mesma disponibilidade do Remus). :)

    Um abraço bem apertado

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    1. Obrigada pelo abraço, NI!
      'Ela' estava a precisar muito...:)

      Beijo

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  4. Conheces aquele abraço que nao deixa espaço para a 5rosteza e desânimo ?

    Abraço...

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    1. Conheço sim, Ricardo. Não recebo/dou muitos, mas já tenho dado e recebido alguns.
      Era um desses que ontem eu estava a precisar. :)

      Beijinho

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  5. Janita?

    Olha que para desanimar um homem aqui no teu cantinho
    ė tentar provar que não se é robô !
    E nem por isso deixo de cá vir a sorrir, entendida a mensagem?

    Outro abraço grande



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    1. Se essa 'coisa' te aparece, passa adiante e faz de conta que não vês. Não sei como isso acontece, mas nada posso fazer.
      Entendi...entendi! :))

      Um Grande Abraço!

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  6. Nunca ando só,
    tenho sempre
    ou Minha Alma
    ou Meu Contrário
    ao meu lado

    (por vezes
    "tanta" gente
    até chateia...)

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    1. Por andar sempre com essas duas companhias agarradas a mim é que ontem me apetecia ter outras Almas e outros Contrários, para variar, Rogério.
      Mas já passou...:)

      Um abraço.

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  7. Vamos lá levantar esse ânimo.
    É uma ordem!
    Beijos, bfds

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    1. Oh, amigo Pedro, por quem sois...com uma voz de comando dessas, como posso atrever-me a desobedecer?!?!

      Beijos, bom fim de semana. :)

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  8. mas isso é lá motivo para desanimar? estarmos doentes, ou que nos falte de repente alguém próximo, isso sim... agora lá porque alguém nos diz que nã pode estar, são eles que perdem minha amiga :)
    acredita que o cigano sabe disso :)
    beijos, Janita

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    1. O J. teve desculpa. Um encontro com a mais-que-tudo é sagrado :). Depois disso já me telefonou várias vezes e amanhã vamos estar juntos, mas aquela minha familiar mentiu-me descaradamente, e se há coisa que não suporto é que me mintam. Seria preferível dizer abertamente que não tinha disponibilidade e pronto. Depois, Manel, naquele momento apetecia-me tanto partilhar o meu contentamento com alguém...Sei lá, acho que foi mais por aí...eu ter tempo e todos estarem ocupados.
      Eu sei que tu sabes. :) Valeu o apoio amigo, ciganito, valeu mesmo. Obrigada, de coração.
      Beijos, Manel.

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  9. Janita, Provavelmente um dia igual a todos os outros só que todos nós temos dias mais sensíveis em que as coisas nos magoam mais...
    O "Tempo" é o que mais distancia as pessoas, os novos não têm tempo para nada e os mais velhos sobra-lhes tempo para tudo :)))
    Festejar a alegria do diagnóstico e melhores dias virão.
    Beijinhos virtuais

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    1. Também tenho pensado muito na forma como reagi a duas recusas seguidas a um convite meu, Papoila. Acho que ando super sensível, tanto mais que se aproximaram as minhas férias (começaram hoje), altura em que ia sempre matar as saudades do meu filho, mudar de ares, receber e dar afagos...Este ano, com ele tão longe, nada disso vai acontecer. No meu subconsciente já se tinha instalado a solidão e aqueles 'nãos' foram a gota que fez transbordar o cálice da minha amargura, creio! :)

      Beijinhos e abraços - virtuais? Valem apenas um pouco menos do que os verdadeiros. :)

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    2. Ora aí está a grande razão da tua tristeza, já estavas debilitada e foi só mais um empurrãozinho ...pronto agora já passou essa nuvem e vem o sol :)))
      Abraço.bjs

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  10. São dias. Apenas dias. Já, já, passa. Bjs. :)

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