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Foto minha |
II
Enquanto reflectia no caso foi surpreendido por qualquer coisa que lhe caiu entre os pés, produzindo um duro tinido de metal. Tratava-se de um táler* novinho em folha; um dos corvos da Catedral que coleccionava objectos diversos, voava com a moeda para uma cornija de pedra que ficava mesmo por cima do nicho do Santo quando o bater da porta da sacristia o sobressaltou fazendo-o soltar a presa. Desde a invenção da pólvora de caça, os nervos do corvo já não eram o que tinham sido noutros tempos.
__ Que é isso que caiu aí? - perguntou o Duende.
__ Um táler de prata - disse o Santo - Realmente é uma grande sorte; agora já posso fazer qualquer coisa pelos ratos de igreja.
__ Como o conseguirá? - perguntou o Duende.
O Santo reflectiu.
__ Aparecerei numa visão à empregada que varre a igreja. Dir-lhe-ei que há-de encontrar um táler de prata entre os meus pés e que deve ir com ele comprar farinha e deixá-la no meu nicho. Quando ela encontrar a moeda, compreenderá que o sonho era verdadeiro e apressar-se-á a cumprir as minhas instruções. Assim os ratos terão comida para todo o Inverno.
__ Claro que o você pode fazer isso - observou o Duende - quanto a mim, só consigo aparecer em sonhos às pessoas depois de elas cearem tarde uma grande pratada de coisas indigestas. As minhas oportunidades com a mulher da limpeza são portanto muito limitadas. Afinal de contas ser santo também tem as suas vantagens.
Enquanto isto se passava, a moeda continuava aos pés do Santo. Estava muito areada e rutilante e exibia numa das faces uma bela estampagem das armas do Eleitor. O Santo começou a reflectir que uma tal oportunidade era demasiado rara para se desperdiçar precipitadamente. Talvez a caridade indiscriminada se tornasse nociva para os ratos de igreja. Afinal de contas, era da natureza deles serem pobres, dissera-o o Duende, e o Duende em geral tinha razão.
__Tenho estado a pensar - disse por fim para o vizinho - que seria muito melhor se eu mandasse comprar, em vez da farinha, um táler de velas para serem colocadas no meu nicho.
Continua.
* O táler foi uma moeda de prata usada na Europa por quase quatrocentos anos.
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Bom dia
ResponderEliminarO conto vai ter com certeza uma boa mensagem.
Vamos esperar pela última parte .
Bom domingo
JR
Vamos lá ver o que os meus estimados leitores vão achar do desfecho desta história que acaba já no próximo capítulo.
EliminarComo vê, é curtinha, para não cansar. O bom destes contos é que o escritor não se prende com pormenores que possam ir além do necessário, só o suficiente para que o leitor se situe sem o maçar. Os ingleses têm essa particularidade que aprecio.
Boa semana, caro JR, o domingo chegou ao fim, no meio de tantos afazeres quase nem dei por ele passar.
Oi, Janita. voltei atrás para ler o capítulo 1 para poder acompanhar! Agora vamos esperar o último O tamanho está ótimo, ninguém mais quase lê coisas grandes, inclusive eu!
ResponderEliminarBeijos, lindo domingo e semana! chica
Olá, querida Chica.
EliminarEste conto vai ser publicado todo de seguida para não vos quebrar o ritmo da leitura. :)
Boa semana e um beijinho
Querida Janitamiga
ResponderEliminarDe repente lá vou eu à Wikipédia por tua causa, alentejana duma cana, para saber mais sobre Hector Hugh Munr, mais conhecido por Saki e não encontro mais nada além da nota que publicaste sobre ele. Porque, em boa verdade, eu estava a leste dele. Nem sequer sabia que existia. Por isso surge-me a pergunta: Que diabo, onde o foste desenterrar? O conto que vens publicando, que vou seguir atentamente, por enquanto aguça-me o apetite…
Só tu podias praticar uma tal façanha pois creio que muto pouca gente – pelo menos aqui em Portugal – soubesse ou saiba algo sobre ele, o que só confere mérito à tua publicação. Verei (veremos, penso) como este conto vai acabar…
Beijos & queijos
Henrique
Bolas!!! Por causa de uma história sem H, eliminei a minha extensa resposta esquecendo de a copiar. Que diacho, Henrique...explicava-te tim-tim por tim-tim tudo o que querias saber e fiquei sem nada... nem sequer a vontade de repetir por não me lembrar do que escrevi ficou.
EliminarDesculpa, Henrique, se por acaso sbscreves os comentários, ou alguém que aqui venha, o tiver, agradeço me o enviem ou a ti. nem sei se isto é possível...:(
Um beijinho.
Oh! Será que o Duende conseguiu "converter" o Santo, com as suas teorias? Comprar um táler de velas em vez de farinha? A sério? E lá surgiu que, talvez, a caridade indiscriminada não fosse coisa boa. Já tenho ouvido que quando as coisas são de graça, elas não são valorizadas, tem de ser cobrada nem que seja uma quantia simbólica.
ResponderEliminarEnfim, nisso das esmolas sabemos que não há almoços grátis :)
Veremos como o autor descalça a bota e se no fim teremos uma lição de moral como nas fábulas.
Estou a adorar, querida Janita.
Bom domingo.
Beijinhos
Olinda
Pois é, querida Olinda...se não houve 'conversão' das ideias do Santo de pedra, vai ver houve 'reconversão' da piedade e compaixão pelos 'pobrezinhos'.
EliminarMudam-se os tempos e os locais de acção, mas os factos permanecem.
No entanto isto só vai terminar no próximo capítulo. Depois vou gostar de saber qual a ilação que tiraremos desta história.
Como cada cabeça sua sentença, vai ser interessante saber as vossas opiniões. 😊
É verdade, como escreveu um outro escritor britânico, de seu nome, David Lodge, "Um almoço nunca é de graça"... :)
Beijinhos e boa semana na senda do Amor... 😍
Ora muito bem. Gostei... Vamos lá continuar!! 🌹
ResponderEliminarBeijos
Bom Domingo...
Espero que continue a gostar, Cidália.
EliminarNão dói nada ler estas historietas e sempre se vai aprendendo alguma coisinha mais. 👍
Beijinhos e uma semana em beleza, com temperaturas de primavera.
Hello! Very inspiring and interesting post :)
ResponderEliminarGreetings from Poland!
Hello, Klaudia.
EliminarThank you for your visit and kind words... 😊
Claro que a história está ficando interessante. Retomei o capítulo anterior para não perder o fio da meada, enquanto a vida vai fluindo entre um taler, o Santo, o duende, a empregada, o corvo, a caridade criando no leitor um interesse que desaguará numa lição para os homens. Será que ainda cola?
ResponderEliminarReconheçamos que o narrador sabe dosar as medidas dos ingredientes para tornar apetitoso o prato que nos oferece. Sem gula, sirvamo-nos!
Beijinhos, minha amiga Janita!
Creo bem que hoje em dia, a cola que poderia unir pensamentos ou lições de bem-viver e amaciar corações gélidos, sem compaixão pelos menos afortunados, já deve ter sido falsificada pelos chineses, caro José Carlos. Contudo, se o final for nesse sentido, fica a boa intenção do escritor que a inventou e a minha que a trouxe à luz destes frios e egocêntricos dias do século XXI...o resto cada um pensará o que bem entender.
EliminarAcho que um pouco de gula na mastigação e deglutição da boa escrita, nunca será indigesta.
Beijinhos com carinho.
Bom parece que até os Santos por vezes se tornam egoístas.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
Assim parece, Elvira!
EliminarQuando se começa a ponderar demasiado os prós e os contras do altruísmo, até os Santos perdem a santidade e ficam avaros... :)
Um abraço e uma boa semana
Olá, querida Janita, errei! Para entender tenho de descer mais, mas aqui já é tarde, também, menos 3horas, e o sono bateu, voltarei para entender essa história direitinho. Quando terminei a leitura, fiquei mais perdida do que cachorro em Procissão! Li a chica e compreendi que tenho de ler o anterior.
ResponderEliminarBeijinho, uma boa segunda, já que está já dormindo...rsss
Nada de se sentir perdida, querida Tais...ainda agora a Procissão vai na Praça! Depois, os erros que se cometem de noite, podem sempre corrigir-se pela manhã. Nesta procissão entra tudo...rato, gato, cachorro, duendes, corvos e até dragões alados, imagine...!😊
EliminarBeijinho e uma boa semana, amiga. 🌺
E eu vou continuar a seguir.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
E o próximo capítulo já desvenda o fim da história, Pedro!
EliminarBeijinhos e uma boa semana.
Há quem diga que dar aos pobres é alimentar a pobreza. Por isso, nada de farinhas, comprem-se velas para alimentar o espírito...
ResponderEliminarEstou a gostar deste conto, muito interessante.
Boa semana, amiga Janita.
Abraços.
😊 Essa é uma filosofia de vida que já deve vir do tempo da outra senhora, amigo Jaime.
EliminarEu aprendi na catequese que quem dá aos pobres empresta a Deus...já a minha bondosa Mãe dizia que são os pobres que dão a outros ainda mais pobres do que eles - no caso 'nós'. Dizia minha Mãe à minha tia Gertrudes, egoista até à medula, quando esta a criticava por dar azeite e pão a uma vizinha. Senhora idosa que cuidava dos netos enquanto o filho trabalhava.
Mas Santo é Santo...tem obrigação de ser bondoso.
Como será que isto vai acabar? 😊
Um beijo amigo, caro Jaime.