Obsessão
Dentro de mim canta, intenso,
Um cantar que não é meu:
Cantar que ficou suspenso,
Cantar que já se perdeu.
Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido:
Cantar que passa perdido,
Que não é meu estando em mim.
Depois, sonâmbulo, sonho
Um sonho lento, tristonho,
De nuvens a esfiapar
E, novamente, no sonho
Passa de novo o cantar...
Sobre um lago, onde em sossego
As águas olham o céu,
Roça a asa de um morcego.
E ao longe o cantar morreu.
Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido...
E este cenário partido
Volta a voltar, repetido,
E o cantar recanta em mim.
*************
Francisco José Bugalho, in "Margens"
26 de Julho 1905, Porto
29 de Janeiro de 1949, Castelo de Vide
[ "O poeta da calma melancolia alentejana" ]
______________________________
Que canto tão triste
ResponderEliminarA que chama obsessão
Eu tenho a esperança em riste
E lha estendo em minha mão
Que recante
de hoje em diante
Beijo entristecido
Já fui cantar, no teu canto
EliminarO meu cantar em sobressalto
Atenta naquele meu recanto
E ergue o teu coração ao alto!
Beijos.
(Tentando fugir a um Fado triste)
Gostei do poema! Se de 1905 a 1949 foi o seu tempo de vida, ele não andou por cá muito tempo. O meu irmão mais novo viveu, exactamente, esse tempo.
ResponderEliminarDescobri, recentemente, este poeta que se fixou no Alentejo e por lá se finou. Gostei do seu estilo. Fico muito contente por também lhe agradar, o que em boa verdade, devo dizer não ser nada fácil.
EliminarMuito pouco tempo de vida, sim. Se temos só uma vida para viver, deveria ser longa, longa...até nos fartarmos de cá andar e pedir para ir embora, não acha?
Desconhecia mas apesar de melancólico gostei!
ResponderEliminarBeijos e um bom domingo
Tão melancólico, quão melancólicas são as paisagens alentejanas e os seus cantares.
EliminarBeijinhos e dias alegres.
O cabeçalho é especial hoje! Gosto.
ResponderEliminarParece que ontem foi o dia da melancolia para muitos blogues. Como não quis ficar também melancólica não comentei em nenhum. : )
Se ontem a melancolia andou no ar, hoje, em alguns sites não está melhor. Diria mesmo estar pior: é tétrica!!
EliminarAcho que, por aqui, nem está mal de todo! : ))
O gatinho do cabeçalho já não pertence ao mundo dos vivos.
Felizmente, fiquei com esta recordação.
Beijo
Belo poema, melancólico mas gostei!
ResponderEliminarAbraço
Se gostaste, é porque há no ADN de todos nós um pouco de atração pelo estado puro de melancolia. : )
EliminarAbraço.
😀
EliminarCitando Speedy Gonzalez - Arriba, arriba!!!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Ah, esse ratinho esperto é que levava bem a vida!! : ))
EliminarBeijinhos, boa semana
Não conheço na do poeta, mas gostei do poema. Está muito bem trabalhado e é agradável de ler.
ResponderEliminarObrigado pela partilha.
Um abraço e boa semana.
Talvez tenha sido o apelido do poeta que me despertou a atenção, a verdade é que li a sua biografia e algum conteúdo da sua obra e gostei muito.
EliminarEu é que lhe agradeço as visitas, caro Jaime.
Um abraço e boa semana.
Melancolia. Quem nunca não é?
ResponderEliminarApesar de tudo, também gosto do cabeçalho. Bem bonito o bicho.
Enquanto por cá andou, encantou de certeza.
A escolha da fotografia também se deveu á melancolia?
Um abraço,
Sandra Martins
Diz-se que só os tolos - quiçá, por alienados da crua realidade, -andam sempre alegres. Uma pessoa dita normal, tem os seus dias. Dias para a alegria e outros para a tristeza. Muitas vezes, sem motivo aparente, mas o nosso subconsciente está atento e de vez em quando desperta-nos da 'bobeira', como dizem os nossos irmãos de além-mar. : )
EliminarAcho que não, Sandra. A escolha da foto foi aleatória.
Embora sinta saudades de todos os animais que tenho criado por aqui e aqui têm crescido, quando um desaparece, como foi o caso do Malhado, o gato mais lindo e esperto que já tive, logo me trazem um recém-nascido. Este foi atropelado e o Malhado respondeu ao chamado do apetite sexual em fevereiro de 2023 e nunca mais apareceu.
Agora, tenho um todo negro com o rabo quadrado que já foi castrado...E não é que versejei? :))
Um abraço.
Nem mais. Comigo também acontece assim.
ResponderEliminarEntão venha uma fotografia do gato negro (eu adoro gatos pretos, sou ao contrário das outras pessoas!) com o rabo quadrado que já foi castrado (e assim não foge, o malandro).
E a ode aos gatos, de Pablo Neruda (creio eu).
Um abraço, Janita!
Sandra Martins
Por enquanto, o último felino que circula cá por estes domínios, ainda não teve o privilégio de ser fotografado...não calhou!
EliminarQuando o apanhar a jeito, numa pose que se lhe veja bem a cauda, e eu o telemóvel à mão, sai retrato!
Um abraço, Sandra.
Boa noite.