quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

DAS OFERENDAS.




CONTO DE FADAS

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras de uma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é d'oiro, a onda que palpita.

Dou-te comigo o mundo que Deus fez 
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A Princesa do conto: “Era uma vez...”
*
Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"

Pelo título do poema, pensamos que se nos vai deparar uma história de amor perfeita, mas o nome do poema engana. 
Florbela fala-nos sobre um amor fracassado, sobre abandono e saudade. Talvez um dos seus casamentos falhados (foram três!) tenha inspirado a autora nestes versos. Talvez...!

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Nota: A imagem das flores, exóticas, em cima,  também foi uma oferenda; de uma boa, longa e pura amizade!



22 comentários:

  1. As flores são muito bonitas. Li o poema e acho que a obra de Florbela Espanca é muito sofrida e negativa excepto alguns poemas!
    Beijocas e uma boa tarde!

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    1. Lá bonitas são as flores, sim, mas quando olho bem para elas parecem-me cogumelos.
      Se a vida da Poetisa foi marcada por depressões e desencantos, numa procura incessante da felicidade que nunca encontrou, é natural que os seus poemas sejam o espelho da sua alma.

      Beijos e um bom dia, Fatyly.

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  2. A vida amorosa de Florbela Espanca ainda é algo reservado.

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    1. Olá, Poeta e artista plástico multifacetado!
      Muito grata lhe fico por ter vindo fazer-me companhia.

      Acerca da Poetisa alentejana e segundo reza a sua biografia, Florbela Espanca, poetisa portuguesa, nascida em Vila Viçosa, foi uma das primeiras feministas de Portugal.
      A sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, na qual o sofrimento, a solidão e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz. ( Afinal, o desejo normal de todo o ser humano, seja poeta ou não seja )

      Sobre a sua vida amorosa, é normal que esteja envolta num certo e reservado mistério, se atentarmos nem todos os seus relacionamentos amorosos serem do conhecimento público, mas que lá que teve três maridos, teve!

      Se não vejamos:

      " Após sofrer um aborto espontâneo, Florbela permaneceu doente por um longo período. Em 1921, divorciou-se de Alberto e passou a viver com um oficial de artilharia, António Guimarães e, sofreu com o preconceito da sociedade.
      Em 1923, publicou o “Livro de Sóror Saudade”. Nesse mesmo ano, enfrentou novo aborto e separou-se do marido.
      Em 1925, casou-se com o médico Mário Laje, em Matosinhos."


      Como todos sabemos, foi em Matosinhos que a Poetisa veio a morrer vítima de uma excessiva dose de barbitúricos, aos 36 anos de idade.
      Como poderá ser alegre a poesia de uma pessoa que teve uma vida tão infeliz?

      Aceite um abraço meu.

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  3. Bela flor Janita e trazer Florbela é de uma feliz generosidade, que muito gostei de ler. A vida dela cheia de baixas não poderia inspirar conto de fadas onde tudo termina bem.
    Gostei e grato pela partilha.
    Carinhoso abraço e feliz fim de semana.
    Bjs no coração amiga.

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    1. Olá Toninho.
      Grata lhe fico eu pela gentil visita e palavras.
      Um beijinho e um bom fim de semana.

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  4. Esta mulher passava o imenso sofrimento que a invadia e perseguia para tudo o que escrevia.
    Beijinhos, bfds

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    1. Tal e qual, Pedro.
      Florbela foi uma alma inquieta e em constante sofrimento interior.
      Beijinhos e um bom fim de semana

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  5. A Florbela é a única poetisa portuguesa que conheço!!!

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    1. Mas temos outras e boas, Tiintinaine.
      Um abraço, bom fim de semana

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  6. Bom dia
    É Florbela Espanca , e está tudo dito.

    JR

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    1. Relativamente à carga emotiva que passava para os seus poemas, sim, era única.
      Boa noite!

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  7. De outros posts, eu e a Maria J. B. Sousa já sabemos que a Janita tem um amante peruano. Ainda não conseguimos foi apanhar o casalinho a jeito... mas estamos atentos, muito atentos.

    Claramente esta planta foi, novamente, uma oferta do tal peruano. É que pelas cores, até faz lembrar um xaile do povos dos Andes.
    :-P

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    1. 😅 Para a maioria dos portugueses a palavra "amante" sugere uma relação amorosa ilícita e vergonhosa, ou seja, amar fora 'da lei', para mim, não!
      Para mim, amante é aquele/a que ama alguém ou é amado/a. Por isso sim senhor, tenho, não um, mas vários amantes, platónicos , entenda-se... nada que exceda a decência e os bons costumes...Por sinal, nenhum é peruano e nunca nenhum me ofereceu flores... Azar o meu! 😛
      😂 😋
      Abraços a rir às gargalhadas.

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  8. A sua vida foi marcada por desafios pessoais, incluindo a luta contra a solidão e a busca por um amor idealizado, temas que permeiam os seus poemas. Entre as suas obras mais conhecidas estão "Livro de Mágoas" e "Charneca em Flor", que revelam a sua habilidade em expressar sentimentos complexos e universais.

    Boa noite 😘 desejando-te um fim de semana florido 🌺

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    1. Bom dia, Teresa!

      Dizes bem: a busca ( ou não, mas o desejo) por um amor idealizado pode ser a causa de muitas frustrações. Só que umas pessoas conseguem ultrapassar as desilusões, outras, emocional e mentalmente mais débeis, ficam presas a essa infelicidade. Julgo ter sido o caso de Florbela.
      Tudo isto são conjecturas minhas, obviamente.

      Um abraço com votos de um bom fim-de-semana.

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  9. As flores são muito bonitas.
    O poema da Florbela é lindo, mas como sempre de uma tristeza imensa.
    Bom fim de semana.
    Beijinhos Janita

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    1. As flores são uma oferta do nosso amigo Kok que, de vez em quando, me envia flores da sua varanda. Flores essas que a sua Lina - (ga)Lina, como ele lhe chama, dado ser a dona do seu galinheiro, - cultiva com ternura e muito amor.
      Quanto à Sonetista Florbela, estamos plenamente de acordo.
      Foi uma pessoa triste que escreveu poemas tristes.
      Beijinhos, Manu.
      Bom fim de semana

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  10. A tristeza e a ternura do poema jamais podem ser compensadas pela beleza visual daquelas flores lindas e cheirosas. "Lendo" ambas diria que a beleza é maioritariamente mais perfumada nos versos da Florbela.
    Beijinhos e sorrisos º_º

    §-mas as flores (também) são lindas ;) ;)

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    1. Não coloquei ali as flores para servir de compensação.
      Elas merecem mais do que ser simples prémio de consolação, Kok!
      Quanto ao poema e a tristeza que por ele perpassa já foi tudo falado e refalado... Não me apetece falar mais de coisas tristes.
      "Quero cantar, ser alegre,
      Não me deixo entristecer.
      Quem é triste morre cedo,
      Inda não quero morrer."

      😋
      Beijinhos, Kok. 😘 😘

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  11. Janita,
    Amo Florbela sempre.
    Lindos versos e quando penso nessa Poeta
    eu lembro que quando ouvi para 1a vez
    foi por Miguel Falabela interpretando,
    então fui conferir:
    que amor era esse?
    que mulhr era essa que escrevia
    assim tão profundamente sobre esse amor?
    Estudando entendi que era um amor
    que ela não teve a oportunidade de
    viver. Era o amor maternal.
    Então me apaixonei definitivamente
    por ela e por seus versos.
    Obeigada por nos brindar
    com + essa linda publicação.
    òtimo fim de semana
    Bjins
    CatiahôAlc.
    entre
    sonhos e delírios

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    1. Olá, Cátia!

      Não foi apenas a ausência de amor maternal que tornou Florbela triste e amarga, foi a ausência pura e simples de toda e qualquer forma de amar.
      AQUI podemos ouvir Falabela declamando alguns dos seus poemas e isso é francamente notório.

      Um abraço grato pela oportunidade que me deu, de ouvir este actor que tanto admiro, pela versatilidade das sua actividades artísticas.
      Bom fim de semana.

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