segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

OS CINCO SENTIDOS...

...Porque, sim!

São belas - bem o sei, essas estrelas, 
Mil cores - divinais têm essas flores; 
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: 
      Em toda a natureza 
      Não vejo outra beleza 
      Senão a ti - a ti! 

Divina - ai! sim, será a voz que afina 
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. 
será; mas eu do rouxinol que trina 
      Não oiço a melodia, 
      Nem sinto outra harmonia 
      Senão a ti - a ti! 

Respira - n'aura que entre as flores gira, 
Celeste - incenso de perfume agreste, 
Sei... não sinto: minha alma não aspira, 
      Não percebe, não toma 
      Senão o doce aroma 
      Que vem de ti - de ti! 

Formosos - são os pomos saborosos, 
É um mimo - de néctar o racimo: 
E eu tenho fome e sede... sequiosos, 
      Famintos meus desejos 
      Estão... mas é de beijos, 
      É só de ti - de ti! 

Macia - deve a relva luzidia 
Do leito - ser por certo em que me deito. 
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia 
      Sentir outras carícias, 
      Tocar noutras delícias 
      Senão em ti! - em ti! 

A ti! Ai, a ti só os meus sentidos 
      Todos em um confundidos, 
      Sentem, ouvem, respiram; 
      Em ti, por ti deliram. 
      Em ti a minha sorte, 
      A minha vida em ti; 
      E quando venha a morte, 
      Será morrer por ti. 


Poema de Almeida Garrett, in "Folhas Caídas'"

  
                                                                                

Aqui declamado por João Villaret.





32 comentários:

  1. O que é bom é bom, até em forma de sentidos.
    João Villaret foi um enorme declamador.
    Fizeste bem trazer aqui estas pérolas.
    Beijio, Janita, boa semana.

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    1. O título do poema é o mesmo que dei ao post, António.

      Para que se forme a pérola, muito tem a ostra que sofrer...

      Beijinho, boa semana, para ti também, António.


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  2. Concordo com o António: fizeste muito bem trazer aqui estas pérolas. Tenho aqui ao lado o livro e o CD.

    Uma semana poética são os meus sinceros votos.

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    1. Que bom, Teresa. Tens, então, um punhado de pérolas, contigo! :)
      Para ti desejo uma semana com tudo o que te fizer feliz, querida Teresa.
      Beijinho.

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  3. Respostas
    1. Pois sim e porque sim, pois claro! :)

      Um beijo, Luísa.

      Boa semana. ( o melhor possível )

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  4. Visão, audição, olfato, paladar e tacto, Tão bem expressos neste poema !!! ... e como eles se transformam numa vida ... "em ti" !
    Bonito !!! ... e então declamados por este "monstro sagrado" da declamação, maravilhoso !

    Beijo, Jani ! :)

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    1. Oh, Amigo Rui...puseste o 'cê' no tacto e não puseste no olfacto, porquê?? Estou a brincar, não te zangues. :))

      Fiquei muito contente por ter escolhido um poema que também te agradou. Ando assim numa fase de boas escolhas... :)

      Um beijo, Rui. :)

      (muita paciência tens de ter para me aturar)

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  5. Um poema muito bonito e declamado a primor por esse grande declamador, que foi João Villaret.
    Obrigado.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. Temos bons declamadores, ou tivemos, mas Villaret é inigualável.
      Eu é que agradeço a sua apreciação, amiga Elvira.

      Um abraço, boa semana.

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  6. Este poema é lindo e muito bem dito pelo Villaret, que era um portento.
    Bji.

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    1. Ler o poema e de seguida ouvi-lo, dito ma magnífica voz de J.V. é um encanto, uma maravilha, um êxtase...

      Obrigada, José, boa semana.

      Beijinho

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  7. Lindíssimo, foi bom voltar a ouvir.

    Beijinho Janita, tem uma boa semana.

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    1. Também acho lindos estes poemas, Adélia. Sempre tão românticos e actuais.

      Um beijinho e excelente semana, Flor.

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  8. Adorei as Folhas Caídas no tempo do liceu. Poemas lindos, leves, verdadeiramente românticos...

    Beijinhos poéticos

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    1. Alguém tão sensível e romântica como tu, só poderia gostar, Graça. Gostamos...:)

      Um beijinho com laivos de poesia.

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  9. Romântico? Sou um pouco
    um tanto quanto tenho de louco
    Tivesse eu o génio de Villaret
    e teria empunhado o poema
    e, apagadas as velas
    seria minha a cena

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    1. Ah, Rogério, Rogério…
      Alguém que trata
      por miúda a companheira
      de meio século, em cena,
      é um romântico incurável
      empunha qualquer poema
      sem nunca denotar canseira…

      ;))

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  10. Grande romântico, o grande Garrret!

    Beijinhos!

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    1. Sem dúvida, Vieira Calado.

      Que belos eram os poemas
      dos homens românticos de outrora
      tão diferentes da poesia d'agora...

      Beijinhos

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  11. Habituei-me a ouvir o grande João Villaret desde pequenino lá em casa.
    Ainda hoje se ouve sem cansar.
    Beijinhos

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    1. Eu não era pequenina, mas era adolescentezinha. Ainda não havia televisão lá em casa, via-o e ouvia-o na pastelaria que ficava ao lado do prédio onde morava.
      O que eu gostava de ouvir a Procissão...

      Beijinhos.

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  12. Passei por aqui para ver se havia novidades e deixei esturricar as batatas.

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    1. Ehehehe...Batatas nunca deixei esturricar, agora o arroz, quantas vezes se queimou por causa dos blogues...o arroz e os tachos!!

      Beijinhos, sem cheiro a esturro.:)

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  13. Querida Janita:
    Agora que ando a aprender a arte de declamar, agora diz-se dizer poesia, tenho que te dizer que este lindo poema de amor faz parte do meu reportório.
    Curiosamente, embora Villaret fosse um enorme actor não dizia poesia respeitando o poema e a pontuação, como podes verificar pelo vídeo, simplesmente dizia-o como o sentia e improvisando por vezes.

    Um beijinho

    Um beijinho

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    1. Ai, é, amiga Fê??
      Tens a vida cheia, toda virada para as artes. Que bom!!

      Já antes se chamava diseur a quem 'dizia poesia', isso não é novo. Novidade, foi eu ter ficado a saber que além de andares a aprender, ou melhor, aperfeiçoar a arte de escrever poesia, também a dizias com arte.

      Já sabes, vai treinando, porque numa próxima vez que falarmos ao telefone, vais declamar-me ou 'dizer'-me, este poema. Vou, desde já, começar a apurar o sentido da audição.
      :)

      Beijinhos, querida Fê. Força!!

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  14. Um mimo para mim, este post, a lembrar o que é bom. É o bom é sempre bom qualquer que seja o tempo é o espaço.
    Obrigado. Agora, passo...
    Bj.

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    1. Obrigada, caro Agostinho.

      O que é bom, é ver passar por aqui, neste meu modesto espaço, gente que sabe passar com graça e elegância, como todos os que por cá passam, aliás.
      Agora, vou eu passar, em passo lesto, ao post de trás...

      Beijo. :)

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  15. Muito belo o poema, e ao lê-lo se sente quase como uma carícia.
    Beijokas arreimadas a sorrisos!

    §-ouvir Villaret é sempre um prazer!

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    1. Olá, querido amigo Kok!
      Também tu és um romântico. Só assim, entenderias este poema como uma carícia...e é! :)

      Beijokas, muitas e sempre com o sorriso que mereces. :)

      *-*

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