terça-feira, 29 de outubro de 2019

RECOLHIMENTO.


Tela de Alexander Sulimov


Sê sábia, ó minha Dor, e queda-te mais quieta.
Reclamavas a Tarde; eis que ela vem descendo:
Sobre a cidade um véu de sombras se projecta,
A alguns trazendo a angústia, a paz a outros trazendo

Enquanto dos mortais a multidão abjecta,
Sob o flagelo do Prazer, algoz horrendo,
Remorsos colhe à festa e sôfrega se inquieta,
Dá-me, ó Dor, tua mão; vem por aqui, correndo

Deles. Vem ver curvarem-se os Anos passados
Nas varandas do céu, em trajes antiquados;
Surgir das águas a Saudade sorridente;

O Sol que numa arcada agoniza e se aninha,
E, qual longo sudário a arrastar-se no Oriente,
Ouve, querida, a doce Noite que caminha.





[  Soneto de Charles Baudelaire ‘in’  "As Flores do Mal " 






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8 comentários:

  1. O malquequer é a flor do bem. Uma das flores que mais gosto.

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    1. Do Bem-me-quer, Catarina! :)

      Também é a minha flor preferida.

      Beijinhos.

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  2. Charles Baudelaire, esse poeta decadentista
    nascido há quase 200 anos, grande artista
    ainda hoje genialmente actual
    da festa saudosa ao bacanal

    A imagem acima é belíssima
    em posição fetal uterina

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    1. Isso são palavras tuas
      Ó Rogério, meu amigo
      Baudelaire é teu irmão
      ouve-o, ele fala contigo!

      A imagem é linda e pura,
      de bacanal nada tem
      enquanto a beleza dura
      não a olhes com desdém.

      Abraço matinal.

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  3. Mal me quer, bem me quer, quem me quer bem?
    Beijinhos

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    1. Querem-lhe bem os amigos e família, Pedro! :)

      Beijinhos.

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  4. Ontem falhei aqui. Bela tela.

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