...e da pintora portuguesa que ontem partiu: Paula Rego.
(Antes de ser mundialmente conhecida pelo seu talento, foi uma Mulher que viveu um grande Amor.)
Uma História de Amor.
Conheceram-se em 1953, na Slade School of Fine Art, em Londres, onde ambos estudavam. Paula Rego tinha 18 anos, Victor Willing 25. Falaram-se pela primeira vez numa festa de estudantes muito regada a álcool, com muito sexo à mistura. Acabaram na cama.
Paula era virgem e acha, comentaria mais tarde, que se apaixonou por Victor logo naquele dia. Ele era um homem muito bonito, sedutor, um intelectual, excelente pintor e, ainda por cima, dançava bem.
Não voltaram a encontrar-se. Tiveram que tempos sem se ver.
Um dia, Paula tinha ido ao cinema, e ela que nunca saíra de um filme a meio, naquele dia teve um pressentimento e saiu.
Encontrou-o a atravessar a rua. Ele convidou-a para ir ao seu estúdio, dizendo que a queria pintar nua (o quadro haveria de fazer furor numa exposição individual de Victor, em 1955).
Pouco tempo depois, Paula engravidou. E engravidou, engravidou, engravidou… Nove vezes. E das nove vezes abortou – Victor era um homem casado, a relação estava condenada.
(Quando, nos anos noventa, realizou a série de quadros com o tema Aborto, Paula sabia do que pintava…)
Só à décima gravidez decidiu ir até ao fim.
Quando soube da decisão, assustado, Victor abandonou-a e voltou para a mulher. Em desespero, Paula contou aos pais. José Figueiroa Rego meteu-se num carro e foi busca-la a Londres.
Algumas semanas mais tardes, sem uma única mala, apenas com a roupa que trazia vestida, Victor apareceu na casa da família de Paula, na Ericeira. Decidira separar-se da mulher e assumir a relação com a amante: o amor falara mais forte que a obrigação institucional. Isto, em 1957.
Instalaram-se num celeiro convertido em estúdio e puseram-se a pintar, enquanto os filhos iam nascendo e se iam criando: três no total. Em 1959 casaram-se oficialmente.
Victor era um pintor lento, de processo demorado, muito exigente, produzia pouco, e Paula sentia-se muito presa ao que tinha aprendido na Slade, aborrecia-se, não sabia o que fazer.
Foi ele que a encorajou, que a incentivou a pintar os famosos “bonecos”, a passar para a tela os desenhos infantis que Paula tinha por hábito fazer no final das cartas que enviava à filha quando estava fora: “A Arte não existe na cama que lhe foi feita; foge a sete pés assim que lhe pronunciam o nome; adora o incógnito. Os melhores momentos são quando se esquece do próprio nome.”
A partir de 1962 começaram a dividir-se entre Londres e Portugal. Lá os invernos, cá os verões.
Em 1966, após a morte do sogro, Victor passou a ocupar-se dos negócios da família de Paula, uma fábrica de componentes eletrónicos. O negócio correu-lhes mal e, em 1976, tiveram de desfazer-se de tudo (incluindo a casa da Ericeira) e fixar residência em Londres.
Viveram períodos de grande amor, foram infiéis um ao outro, passaram ambos por fases depressivas, tiveram momentos de maior ou menor inspiração artística e passaram por grandes dificuldades económicas.
(Só no final dos anos 80 é que Paula passou a vender a sério. No início, vendia muito pouco. Na sua primeira mostra individual em Portugal, em 1965, dos 19 quadros expostos, nem um só foi comprado.)
Permaneceram juntos até 1988, o ano do falecimento de Victor, em virtude de uma doença que durante anos o destruiu: a esclerose múltipla.
Ela não mais o esquecerá.
FONTE do texto
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Paula Rego, foi ontem juntar-se ao grande amor da sua vida!
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