Ó raça triste, ó raça espúria
De miseráveis sem valor
Sob o azorrague e sob a injúria
É de comédia a vossa fúria
É de entremez a vossa dor.
Que admira que uma pantera
De garras d’aço e olhar sombrio
Coma, num bom jantar de fera,
Um povo podre, que tolera
Os dentes maus dum cão vadio?!
Pois esse povo agonizante
Quando revive para a História
E vai, frenético e radiante,
Saudar a estátua do gigante
Cantor da sua eterna glória.
E ousais falar, bocas impuras
Em glória, em honra, em Pátria, em Deus!
E ousais erguer das sepulturas
Nossas hercúleas armaduras
Chatins! Chatins! Pigmeus! Pigmeus!
(…)
Vede lá, pois, corvos funéreos
Que orgia opípara de rei!
Goelas sinistras de Tibérios
Roucos glutões de cemitérios
Comei! Comei! Comei! Comei!
O garfo e a faca, o dente e a presa
Cravai, cravai nesse festim
Comei, limpai de todo a mesa
Que nem suspeita d’impureza
Dessas carcaças reste, enfim!
E por padrões assinalados
De tantas glórias imortais,
Basta que o ferro dos arados
Encontre um dia entre os silvados
Blocos dos nossos pedestais!
Boa escolha!
ResponderEliminarBom sábado Nita
Bjitos
Não foi esta, uma escolha aleatória, Mena!
EliminarHouve uma intenção...
Tudo de bom, Nina! :)
Beijinhos
Um belo poema de guerra Junqueiro.
ResponderEliminarBeijinho e um bom Sábado, Janita,
Tal como a maioria dos poemas de GJ, também este não foge à regra da crítica social e política, Maria João.
EliminarO poema é bastante extenso, dele, recolhi a parte mais significativa e adequada à actualidade.
Um beijinho e bom Domingo, querida Mª João.
Percebi, pelas reticências entre parêntesis, que não estava transcrito por inteiro, Janita. Mas foi muito bom, o que dele recolheu.
EliminarBeijinho e um excelente Domingo.
Boa tarde. Foi uma boa escolha. Adorei ler. Obrigada :))
ResponderEliminarHoje » Um sonho de nada
Bjos
Votos de um óptimo Sábado
Ainda bem, Larissa.
EliminarA poesia também tem uma função que extrapola os sonhos de amor.
Já ontem tinha lido e comentado o seu 'Sonho de nada'. :)
Beijinhos e bom Domingo.
Não conheço nada de Guerra Junqueiro. Adorei o poema que escolheu!
ResponderEliminarEmoções loucas, frenéticas...
Beijos e um excelente fim de semana
Que pena, Cidália.
EliminarMas, aqui no meu cantinho pode(ria) encontrar - se o desejasse - muita coisa da sua obra.
Beijos e uma boa noite.
Já (se) sabia que a Janita aprecia o GJ e o poema publicado é "actual".
ResponderEliminarSó agora vi as tiras do post anterior, que me deram gozo. O Edibar é um mau-caracterista e consorte uma peste.
Bji. e bfs
Sabia o meu Amigo porque está atento (apesar de ser distraido) ao que por aqui se vai passando. :)
EliminarQuanto ao Edibar e à sua consorte, pela apreciação feita, estão bons um para o outro. Também já havia pensado nisso! :))
Beijinho, bom Domingo.
Gostei de ler.
ResponderEliminarNão conheço grande coisa da poesia de Guerra Junqueiro, mas lembro perfeitamente que foi um seu poema, que me fez apaixonar pela poesia. Era bem pequena, tinha aprendido a ler havia pouco tempo. Meu pai comprava sempre um almanaque que lhe dizia em que meses e fases da lua devia fazer as variadas sementeiras, daquilo que cultivava no terreno que o patrão lhe deixara trabalhar. Na contracapa desse almanaque vinha este poema.
Morena
Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'
Foi o meu encontro com a poesia, e foi paixão à primeira vista.
Um abraço e bom fim de semana
Fiquei muito contente por saber que temos um Amor comum, Elvira! :)
EliminarComo pode ver AQUI, vai fazer sete anos que o publiquei.
Embora não tenha sido este 'Morena' o meu primeiro amor em poesia, e sim, os poemas dos meus livros de Leitura na escola primária, hoje, ensino básico. Ainda hoje os lembro e sei de cor.
Um abraço, bom Domingo!
Temos outra coisa em comum. Eu também não gostava do meu nome.
EliminarFicava "danada" quando passava e a malta gritava : D. Elvira
pó...pó...
Abraço
...se nos pusermos a analisar bem os nossos percursos de vida, Elvira, ainda encontramos mais coisas em comum. :)
EliminarAbraço, bom Domingo!
Janiiiiiiiita
ResponderEliminarO mê afilhado, voltou :-))
Beij em TU
Ah, que grande alegria me trazes, Amigona!! :))
EliminarE logo ontem que me deitei cedo... Vou já no seu encalço!!
Beijinhos, Nn. :))
Acho que o tê afilhado andou com uma asa empanada, Noname! Tadinho do nosso menino!
EliminarTomara que arribe e fique cá ca gente...para sempre! :)
Foi um grande defensor do povo. Um povo que continua a necessitar que alguém o defenda...
ResponderEliminarDefensor e, simultâneamente, impulsionador à acção, à fuga da apatia, ao 'deixa andar' tão próprio do nosso povo.
EliminarFala, fala, fala e nada faz para mudar o rumo das coisas que vão mal...
Bom Domingo, Catarina.
Beijos! :)
Esse hábito estava tão arreigado em mim que também eu falava, falava sem tomar nenhuma ação. Queixava-me constantemente, era muito frustrante até para mim (com um pouco de exagero, claro!!). Felizmente, ao longo dos anos aprendi que quando não gostamos de alguma coisa, é melhor tomar uma decisão positiva e deixarmo-nos de críticas negativas que não levam a lugar nenhum. Esta sociedade moldou-me para melhor!
Eliminar: )
Engraçado...não te imagino nada a queixares-te constantemente!
EliminarLá está, boas as influências desse belo país que adoptaste e te adoptou! Fez de ti uma Mulher guerreira. :)
Quem vê caras (neste caso "escritas"), não vê corações. :)) eu acho que era caquenha. Ahahah talvez não fosse muito exagerada na caquenhice visto que sempre tive um grande grupo de amigos e amigas ou então eram tão pacientes que me aturavam com simpatia. :))
EliminarAinda tenho que ir ver o que é isso de «caquenha», agora tenho uma amiga à espera para irmos tomar café, vim só agendar o postal que sai às 14:00. Eu acho é que eras muito retraída, Catarina.
EliminarPelo menos é essa a ideia que tenho, de quando te conheci no blogue do nosso amigo CBO. Lembras-te? :))
Beijocas.
Janita, mais perfeita não podia ser a escolha do poema.
ResponderEliminarGuerra Junqueiro assertivo, contundente, corajoso.
"Ó raça triste, ó raça espúria
De miseráveis sem valor"
Tudo dito!
Beijo e bom domingo, amiga.
Foi essa a intenção, Teresa, face a tantos escândalos escabrosos que nunca mais param de acontecer neste nosso jardinzito à beira-mar plantado, e quase murcho...
EliminarBeijinhos e obrigada por não te esqueceres cá da mocinha!! :))
Guerra Junqueiro teve uma enorme importância socila na época e até lhe chamaram o "Vítor Hugo Português", sempre contra a burguesia corrupta,.
ResponderEliminarParece que a história se repete , daí que este poema tenha sido uma boa escolha.
Beijinhos Janita
Tens razão, Manu. Curiosamente, GJ foi tido como ateu, mas o que ele sempre combateu foi a forma como a Igreja interferiu, negativamente, junto da sociedade e do poder governamental corrupto.
EliminarBeijinhos, Manu!
Se conhecia não me lembrava de todo...
ResponderEliminarAdorei.
Um belo hino contra a burguesia.
Beijinho
Vamos lendo tanta coisa ao longo da nossa vida que, chegamos a um ponto, já nos confundimos, não é M V Baú?
EliminarBeijinhos. :)