Dando continuação ao meu simples contributo nas celebrações do centenário do escritor e Nobel da Literatura José Saramago, trago mais um dos seus belíssimos poemas.
É Tão Fundo O Silêncio…
É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.
José Saramago, in “Provavelmente Alegria”.
* * * *
«Autobiografia de José Saramago»
(...)
"Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998.
Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei "A Viúva", mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de "Terra do Pecado." Escrevi ainda outro romance, "Clarabóia", que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu… A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena.
Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria "Os Poemas Possíveis" , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.
Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade saramago_antiga permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então.
Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi.
Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara «Os Poemas Possíveis», uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, «Provavelmente Alegria», e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante, duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.
Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve, esses textos representam uma “leitura” bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe político-militar de 25 daquele mês, que travou o processo revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director."
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Tal como tenho vindo a afirmar nas publicações anteriores, dedidadas ao nosso Nobel,
darei por terminada esta série,
quando finalizar a sua autobiografia.
O meu agradecimento a todos os leitores, visitantes e amigos que me têm acompanhado nesta
modesta homenagem ao escritor/poeta José Saramago.
(Fotos do escritor retiradas da Net - a das rosas é minha.)
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Estou gostando de acompanhar esse série e a homenagem é mais do que merecida! bjs, lindo domingo!chica
ResponderEliminarMais do que merecida sobretudo se partir de mim, Chica!
EliminarAté descobrir a sua poesia sempre tive um pé atrás, em relação a Saramago devido à experiência tida com o seu estilo de escrita.
Obrigada e uma boa semana.
Louvo esta sua homenagem dedicada ao nosso mais destacado autor. Associo-me e acho justo, este homem "subiu corda à pulso" e isso desagradou a, alguns, apesar de tudo chegou alto.
ResponderEliminarUm abraço.
Muito obrigada, Luís!
EliminarEsta minha tendência para me antecipar aos acontecimentos, desta vez não me vai calhar bem, pois no dia 16, dia do nonagésimo nono aniversário do autor, ou mantenho a publicação ou escrevo outra com mais um excerto da sua autobiografia e um poema, o que representará uma repetição nada convidativa, ou outra coisa qualquer...está a ver este dilema, não está?
Um abraço. :)
Se todos os dilemas da vida fossem assim, fáceis de resolver, não haveria preocupações.
EliminarUm abraço.
No meu comentário anterior há duas gralhas, repito a parte errada "subiu a corda a pulso", "desagradou a alguns"
Sem problema, Luís. Como conheço a expressão "subir na vida a pulso", entendi bem o que disse.
EliminarQuanto ao meu 'dilema' também foi somente força de expressão. :)
Outro abraço.
Coincidência extraordinária!! “Entrei” no teu blogue e estava na mesma posição que este senhor. A diferença é que o meu queixo estava apoiado na mão esquerda. Há coisas!!! )))
ResponderEliminarSerá isto um sinal de que devo dar uma outra oportunidade a José Saramago?! Hmmm vou ler agora com atenção o que transcreveste.
: )
E ainda a MRP dizia que não há coincidências, ai não que não há!!!! 😊
EliminarDá sim, Catarina, a José saramago e a ti mesma. Vale a pena...Ó se vale!
Beijinhos
"As palavras mais simples, mais comuns,
ResponderEliminarAs de trazer por casa e dar de troco,
Em língua doutro mundo se convertem:
Basta que, de sol, os olhos do poeta,
Rasando, as iluminem."
Saramago, pois claro.
:)
De quem mais se não de Saramago, né, Luísa? 😊
EliminarGosto muito deste poema, ou não fosse eu a mulher das palavras simples e de dar o troco...ahahahahah.
Beijinhos
Lido, visto e aprovado.
ResponderEliminarbji.
Folgo em saber, obrigada!
EliminarBeijinhos e boa semana
Essa tua postagem sobre um dos meus mais queridos escritores está ótima, esse poema sobre o silêncio é lindo, e se pensarmos bem... mexe um pouco com o espírito da gente.
ResponderEliminar"(...) Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado..."
Uma boa semana, querida!
Beijinho
Como todos os homens/mulheres que se notabilizam, há sempre uns que idolatram, outros que atacam. Acho que agora me saí bem, não concorda, amiga Taís? :)
EliminarA Taís está a seguir a autobiografia do escritor? Vale a pena, mesmo quem já conhece relembra certos pormenores.
Um beijinho e boa semana.
Tenho acompanhado e lido com muito interesse embora já tivesse conhecimento de parte da sua biografia que estudámos na aula de Literatura Portuguesa na Universidade Sénior no ano em que estudámos O Memorial do Convento e terminámos com a visita ao Convento. Confesso que só li o livro por obrigação já que tínhamos que fazer trabalhos sobre ele. Adoro os seus poemas, mas este livro quase me afastou da sua prosa.
ResponderEliminarAmiga, não comento muito ultimamente. Não consigo acompanhar todos os blogues, assim leio os que consigo mas raramente comento algum para não criar atritos com ninguém.
Abraço, saúde e uma boa semana
Muito curiosa essa sua revelação, amiga Elvira. O livro que refere, tem merecido, pelo menos por aqui, muitos elogios. Lá está, nem nos gostos literários podemos estar todos no mesmo lado da barricada.
EliminarQuanto à sua preocupação com a ausência de comentários, pela parte que me toca pode dormir descansada. Não reparo nisso nem comento os outros blogues só porque me comentam, até porque vou a alguns espaços 'botar palavra' e nunca comentaram este cantinho. Gosto, falo, não gosto ou não tenho nada de interesse para dizer; calo! Atritos? Por a Elvira ir 'ali' e não vir 'aqui'? Por amor de Deus... Até parece que não me conhece, amiga!
Um forte abraço com votos de melhoras, Elvira.
Obrigada por nos dar a conhecer maus uma parte da Biografia De José Saramago! Fico sem palavras, porque me sinto "ignorante"!
ResponderEliminar-
Beijo, e um excelente Domingo
Amiga Cidália, desculpe a franqueza, mas se passar e não ler, não ouvir nem quiser saber, ficará a dizer que é "ignorante" pelo resto da sua vida. :(
EliminarNós é que temos de ir atrás do conhecimento, não o contrário.
Como bem sabe, ninguém nasce ensinado.
Beijo e boa semana.
Homenagem merecida. José Saramago um grande escritor, romancista, poeta, que amo ler.
ResponderEliminar.
Bom domingo … cumprimentos
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Haja quem ame a escrita de José Saramago! Há muita gente que gosta, mas «amar» vai muito para além do gosto.
EliminarParabéns, Rycardo.
Boa semana.
Saudações blogueiras.
De Saramago tenho bastantes livros em prosa mas em poesia só tenho o Provavelmente Alegria.
ResponderEliminarTambém gosto da sua poesia.
Abraço
Com o teu gosto tão eclético, querida Leo, ficaria surpreendida se dissesses o contrário.
EliminarUm grande abraço e uma boa semana.
Como é sabido, não me limito à escrita e já anunciei ir, através da "Desenhando Sonhos, fazer pressão para que todas as companhias de Teatro que exibem em espaços (teatros) municipais encenem Saramago, a celebrar o seu centenário
ResponderEliminarCaso haja uma publicação comum, dela constará este poema (e outros)
Abraço
Não senhor! O meu Amigo não se aquieta, não se fica pelas palavras.
EliminarO Rogério é um homem de acção e, por isso, teve sempre a minha profunda admiração.
Força, vá em frente.
Atrás de si irá sempre gente.
Forte Abraço.
Na poesia alinho.
ResponderEliminarNão é brilhante mas é interessante.
Na prosa é que é mais complicado.
Beijinhos, boa semana
Então, Pedro, alinhamos ambos.
EliminarE não é que na escrita da sua autobiografia, Saramago pontuou tudo certinho? Mistérios inexplicáveis!
Beijinhos, boa semana.
Merecida esta homenagem, apesar de não conseguir lê-lo, há que admirá-lo.
ResponderEliminarBeijinhos amiga e boa semana
Olá, amiga Manu!
EliminarMas da poesia gostas, não gostas?
Não sendo uma poética cheia de floreados - e talvez por isso me encante - é muito significativa e bela. Eu gosto!
Beijinhos e boa semana, Manu.
Gosto muito. Já te enviei uma história dele em banda desenhada: A maior flor do mundo.
EliminarBeijinhos 😘
Obrigada, querida Manu.
EliminarJá te respondi.
Beijinhos e abraços.🤗
😘
Gosto de alguns poemas mas quanto à prosa...hummm
ResponderEliminarJá sabes por já o disse aqui.
Fizeste tu muito bem porque deu-te prazer nesta homenagem.
As tuas rosas são linda e o mais engraçado é que senti o cheiro o que sempre me acontece quando vejo algo da natureza.
Beijocas e um bom dia
Bom dia, Fatyly! :)
EliminarSim, sobre a prosa estamos faladas e esclarecidas, acerca do gosto pela poesia também. Pergunto: gostaste deste poema ou não?
As rosas são da mesma roseira da que tenho ali na foto na lateral direita e dediquei a um casal de namorados que, entretanto, se zangou!! :)))
A diferença é que esta foto foi captada ao anoitecer.
Ficou linda, não ficou?
Esqueci-me de a personalizar. Ainda irei fazer isso, antes que me a roubem...eheheheh
Beijinhos.
Fica bem.
Bom dia, Janita
ResponderEliminarDo meu painel tenho reparado nesta homenagem a Saramago, pelo centenário do seu nascimento, e eu com vontade de aqui vir.
Fiquei a saber de muitos pormenores da sua vida através da biografia que nos trouxe e também de alguns poemas. Devo dizer que não conheço muito da sua poesia e tive agora a oportunidade de tomar contacto com esse lado de José Saramago.
Quando surgiu a notícia de que tinha sido laureado com o Prémio Nobel de Literatura, eu não tinha lido dele um livro sequer. E disse, então, a uma colega que coleccionava a obra para o pai, um grande apreciador: "E agora, que é que eu faço? Não sei nada dele. Está bem de ver que toda a gente vai começar a falar deste Senhor...
Bom, mãos à obra! Comecei pelo livro "Levantado do chão"! Quase que ia morrendo de falta de ar, pela sua densidade, pela ausente pontuação...enfim, o que lhe digo é que gostei tanto que acabei por ler tudo o que havia, em prosa, na altura. :)
Agora, seguindo o exemplo da Janita, vou procurar saber mais sobre a Poesia.
Louvo a sua iniciativa, homenageando com esta série a grande figura que é José Saramago. Muito obrigada.
Beijos
Olinda
Boa tarde, Olinda!
EliminarSe com estas minhas publicações dos poemas de José Saramago, levei a que houvesse um maior e mais abrangente leque de pessoas a ver ou rever, a sua obra, é algo que me alegra imensamente e me deixa feliz.
Pelo que a Olinda conta e já aqui me têm referido, chego à conclusão de que desisti rápido demais. Foi justamente pelo "Levantado do Chão" que me iniciei na sua escrita, e foi uma surpresa pouco agradável a forma como escrevia, escrevia, e me fazia perder o rumo. Não gostei, não me captou a atenção, ora um leitor desatento é um leitor perdido do autor. Seja lá em que género de leitura for.
Fico muito sensibilizada pela sua extrema simpatia, Olinda.
Muito obrigada.
Beijinhos e boa semana.
Almejo deste senhor não só o talento, mas também a prolífica vontade de criar.
ResponderEliminarSó a velhice e a doença lhe tirou essa capacidade de trazer sempre mais coisas novas.
Invejável.
Miguel,
EliminarEscrever poesia já o Miguel faz. Tem também o seu estilo muito próprio, tanto mais que, penso eu, um escritor não alcança a fama de um dia para o outro. Ao escrever a sua biografia Saramago conta que depois de ter escrito o romance"Clarabóia", iniciou mais dois que não passaram das primeiras páginas, enquanto se debatia na dúvida quanto ao título a dar aos dito livros, diz ele: ...A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena..
Imaginava lá ele que ainda um dia estaria na Suécia a receber o galardão máximo para um escritor?! A vida dá muitas voltas, é o que é. :)
Força de vontade não se vende nem se compra, mas quem tem alguém que o incentive, já representa um grande passo em frente.
Boa noite. :)
Lindo poema do Saramago e belíssima homenagem, esta que prestas ao mesmo Janita. Ótima escolha. Parabéns!
ResponderEliminarAbraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
Olá, Rosemildo.
EliminarMuito obrigada por, nestas suas breves vindas à blogosfera, nunca se esquecer de vir até ao meu Cantinho.
Também lhe desejo tudo de bom e mando um abraço.
Nada fácil a tarefa de abordar Saramago, mas ele vale o empenho...
ResponderEliminarabraço
Olá, Maceta!
EliminarValer o empenho eu acredito que sim, mas a minha dificuldade na abordagem é que tem de ganhar peso e força. A sua poesia é tão fácil gostarmos dela... :)
Um abraço e obrigada pela visita.
Vim palpitar aqui com um pequeno de depoimento de Saramago a propósito da sua literatura. Vejamos o que ele disse; "Os textos não nascem do nada, nascem de alguém que está vivendo, mesmo que não esteja escrevendo, então tudo é uma relação que vai pelo
ResponderEliminarinterior da vida e que une tudo a tudo..."
Abraços, Janita!
Fez muito bem em vir dar palpite, Poeta Sant'Anna, para mim é sempre um privilégio ter a sua companhia.
EliminarGostei desse pensamento. Fica tudo muito mais perto e acessível, não é?
Obrigada e um abraço amigo.
Muito bem Janita,
ResponderEliminarparabéns por esse trabalho de homenagem a Saramago :)