[O céu da minha rua.]
NUVENS
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
13-5-1928
Poesias de Álvaro de Campos.
[Fernando Pessoa]
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Do céu gosto muito.
ResponderEliminarDo tom triste do poema é que nem por isso.
Beijinhos
Felizmente, nesse dia, enquanto fazia a minha caminhada olhei para o céu e até chamei a atenção da minha camarada das caminhadas e vizinha, para o belo efeito que o sol, escondido por entre nuvens densas, havia provocado. E vai daí... :-)
EliminarBeijinhos
O céu estava muito enfeitado nesse dia. É esta a minha interpretação, naturalmente, e é esta que me agrada.
ResponderEliminarQuanto ao poema... o poema é muito deprimente.
Abraço
Na primeira leitura o poema de Álvaro de Campos é muito deprimente, sim, Catarina. Experimenta ler devagar, degustando o sentido de cada verso e verás quanta verdade existe nele. Mais ainda do que no céu...que todos desejamos seja azul límpido e raramente se apresenta com estas nuances, não é? :-)
EliminarBeijinho
Nao digo que nao seja verdade, mas nao deixa de ser deprimente. : )
EliminarAbraco e porta-te bem. : ))
Sabes que hoje sinto-me mas é predisposta a portar-me mal? Eheheheheh..
EliminarAbraços e beijos
Que lindo, o céu da sua rua, Janita!
ResponderEliminarE também o poema triste de Álvaro de Campos porque a poesia, tal como a vida de cada um de nós, percorre todos os matizes da emoção e não precisa de estar sempre a sorrir para ser bela.
Um grande abraço!
Que lindo e pleno de sentimento é o seu comentário, querida Sonetista! Só uma alma poética pode entender o que vai noutras almas semelhantes. Essa é que é essa! :-)
EliminarUm grande e grato abraço.
O Álvaro era mesmo... Melancolicamente triste... Mas, para mim, tocava na alma como nenhum outro heterónimo...
ResponderEliminarAbraço, Janita
Também gosto de outro heterónimo, o "Guardador de Rebanhos", Gil. Talvez Pessoa se tenha vestido de muitas roupagens, para que cada heterónimo, revelasse cada estado pelo qual a sua alma atormentada navegava, talvez... :-)
EliminarUm abraço!
Já eu tenho uma teoria de que cada heterónimo correspondia ao que ele conseguia arranjar nesse dia... E sabemos que ele experimentou muitas substancias que, na altura, não eram proíbidas... O Herman brincou com isso de uma forma genial...
EliminarE digamos que se nesse dia tivesse apanhado um bocadinho da "Branquinha" não ia escrever algo tão triste... ;)
👍 😅
EliminarTriste poema e muito lindo teu céu!
ResponderEliminarGostei de ver! beijos, chica
Todos já sentimos estados de espírito alegres, até eufóricos, e outros mais tristonhos, consoante as vivências do nosso dia-a-dia. Os Poetas não são diferentes Chica. São gente, como nós.
EliminarBeijos
O Fernando Pessoa era afinal um mortal comum, tal como eu, que escrevo em perto de uma dúzia de blogs para expressar os meus sentimentos. Em cada um um tema e a camuflagem necessária para ninguém me reconhecer naquilo que escrevo! Eh, eh, eh!!!
ResponderEliminarNem mais, acabei de frisar isso mesmo na minha resposta à Chica!
EliminarAgora, quanto ao que o Tintinaine me diz, a seu respeito, tanto pode ser verdade como uma faceta dessa camuflagem... ou não!
Desta cantiguinha o meu amigo deve lembrar-se. Dizia assim:
"Quando a gente passa e um rapaz suspira,
pode ser mentira, pode ser mentira.
Mas por brincadeira e sem haver maldade,
pode ser verdade pode ser verdade..."
😊
Um abraço.
Bom dia
ResponderEliminarSe o céu está cinzento, o poema assim o diz.
JR
Nem mais, caro JR!
EliminarNisto dos blogs, a bota deve sempre bater certo com a perdigota!
😊
Gosto deste céu que não é tão triste como o poema.
ResponderEliminarBeijinhos Janita
Mas é mais forte e carregado de energia, Manu, não achas?
EliminarO poema é triste, porque a tristeza existe, já céus destes eu, por exemplo, nunca tinha visto nenhum igual. 😊
Beijinhos
Desalentado, o Álvaro de Campos. Há dias assim, na verdade.
ResponderEliminarO José sabe bem que nem todos os dias são iguais, nem céus, nem poemas e nem Poetas... 😊
EliminarGostei muito do céu porque também o vejo todos os dias! Já o poema é deprimente demais como outros dele. Já basta a loucura dos governantes que se julgam num pedestal e querem lá saber do povo...carne para canhão!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Ah, isso da loucura dos políticos, não é nem nunca serão os céus sequer os Poetas, que irão resolver. Se somos nós, povo, que os elegem culpemo-nos a nós!
EliminarDe resto, os Poetas continuarão a poetar e os céus a colorir-se dos tons que houver na atmosfera, estratosfera, sei lá...
Se até o Navarone teve canhões como não hão-de os governantes ter? 😊
Beijinhos
A escrita sabe a pouco, embora um pouco triste.
ResponderEliminarAs nuvens formam um quadro maravilhoso.
Beijinho, Janita.
Bem-hajas pelo simpático comentário, amigo António.
EliminarBeijinhos
Um céu fantástico, na sua beleza ameaçadora!
ResponderEliminarDias felizes!
Um beijinho
Olá, Ana, bom dia!
EliminarMesmo sem esperar que os autores dos comentários desaparecidos me peçam, de vez em quando vou espreitar a cx. Spam. Desta vez estavas lá tu...!
Obrigada, pela felicidade que me desejas.
Dias e noites tranquilas e felizes, é o que desejo também.
Beijinhos e BOAS FESTAS.
A lindíssima fotografia sintoniza plenamente com o poema de Alvaro de Campos.
ResponderEliminarBoa noite 😘 olhando a lua que ilumina o céu da tua rua.
Fico feliz, querida Teresa...feliz porque, tal como eu, concordares com a sintonia existente entre o poema e o céu algo conturbado que, naquele dia, serviu de manto à minha rua!
EliminarUm abraço, 🤗 sob um céu brilhante, mas algo deslavado.