segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O TEU RISO.


 Pablo Neruda e o seu último amor: Matilde.


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso

com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.


À beira do mar, no outono,

teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.


Ri-te da noite,

do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então, morreria.


Pablo Neruda in "Os Versos do Capitão"




                   



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37 comentários:

  1. Boa noite Janita. Excelente poema nos traz. Parabéns pela escolha. Obrigada

    Hoje temos para si:-Murmúrios em desnorte.
    -
    Bjos
    Votos de uma óptima noite

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    1. Boa noite, Larissa.

      Eu é que lhe sou grata. Pela visita, pela companhia e pelo convite. :)

      Beijinho.

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  2. Grande Poeta! O meu aplauso para a sua postegem!

    Boa noite
    Abraço

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    1. Postagem/Publicação. rsr

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    2. Olá, Bernardo.
      Grata pela sua companhia.

      Uma boa noite também para si.

      Um abraço. :)

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    1. Que bom teres gostado, querida Papoila! :)

      Beijinhos.

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  4. Muito bonito. Gostei especialmente de ouvir a declamação.

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    1. Há declamações deste poema em português, mas preferi esta, creio que tem mais impacto se ouvida no idioma do Poeta. :)

      Um beijinho, Luísa, uma boa semana.

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  5. É lá, tirar o ar?? na pode :) tou a brincar. Adoro esse poema do Pablo.
    Boa semana Janita

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    1. Em sentido figurado, metafórico, Mena.
      Não podemos levar à letra tudo o que os poetas escrevem. :)

      Boa semana, menina! ;)

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  6. Ai como tu andas eheheheheh

    Beijinho

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    1. Ora, Noname, que culpa tenho de ser uma romântica incorrigível?? :-)

      Beijinhos repenicados.

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  7. Tiraste-me o "Teu Riso"
    No momento preciso
    Mas nem por isso
    Me sinto aborrecido
    (até porque o poema
    é ... liiiindo )

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    1. LOL...
      O Rogério mencionou este Riso, mas preferiu outro género mais galhofeiro. Ora, para não ofender o Poeta fiz-lhe eu a homenagem correcta. Acha mal? Eu, não! :-)

      Um abraço risonho.

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  8. Um belo poema que gostei de ler e adorei ouvir.
    Obrigado pela partilha.
    Abraço e uma boa semana

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    1. Neruda se pudesse ler iria gostar de saber.
      Eu gostei muito que a Elvira tivesse gostado.
      Obrigada.
      Boa semana e um abraço.

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  9. Só li, não ouvi, mas basta para dizer: Belo.
    Excelente semana
    Abraço

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    1. Este Pablito deixou-nos um maravilhoso espólio poético.
      Bastante versátil, até.

      Um abraço, Victor. Obrigada.

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  10. E há sorrisos que nos deixam de rastos, Janita.
    Beijinhos

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    1. Sabe que não consigo encontrar uma boa resposta à sua afirmação, Pedro? Vou reflectir nesses sorrisos...

      Beijinhos, boa semana.

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  11. obrigado pela visita, não serei tao bom na escrita, mas tenho uma mistura de letras... "engraçadas"

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    1. Vi-o no blogue da Noname e, contra o que é meu hábito, fui espreitar. Achei imensa graça e comentei. Sabe que ainda estive uns segundos até descodificar a piada? :-))
      Veja se volta, lá ao seu recanto, com mais assiduidade, eu tenciono voltar. Gostei. Leve, despretensioso e relaxante...O meu género.
      Grata pela visita, volte sempre que quiser. :)

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  12. Bom dia. Sem dúvida que o riso/sorriso é a voz da alma.
    .
    Soneto: * Amor ... ou castigo do coração? *
    .
    Desejando um dia muito feliz
    .

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    1. A voz e o espelho, Gil António.

      Noite feliz.

      PS- Creio que o meu último comentário levou sumiço. Não o vejo lá. Têm ido dar uma vista de olhos ao Spam? Não sei se esses desaparecimentos, misteriosos, acontecem com outros bloggers, mas, esse facto, tira-me muito a disposição de comentar. Lamento, mas sou sincera.

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  13. Adorei ouvir Pablo Neruda, e como sempre emocionam-me os seus versos.
    Que nunca nos tirem o riso.

    Beijinhos Janita

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    1. A voz que se ouve no vídeo não é a de Neruda, mas é sempre agradável de ouvir um poema declamado.
      Pois, Manu, que nunca ninguém queira rir tirando-nos o riso a nós.

      Beijinhos e obrigada.

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  14. Bom dia Janita!

    Excelente poema. O sorriso é sem duvida muito importante. Amei!!

    Beijo e um excelente dia.

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    1. Boa noite, Cidália.

      O riso é a terapia da alma. :)

      Beijinhos e obrigada, por ter vindo ao meu cantinho.

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  15. Respostas
    1. E, eu, adorei que tivesses vindo ouvir, Laura.

      Obrigada.

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  16. Pablo um poeta soberbo !!! Gostei muito do poema e de quem o disse na sua língua original. Obrigado Janita

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    1. Soberbo, dizes bem, Ricardo.
      Também gosto imenso da sua poesia.
      Eu é que te agradeço a visita.

      Um abraço.

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  17. Riquíssima partilha querida amiga ,muitos beijinhos felicidades

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    1. Quem tem um blogue e não desnuda a própria alma, tem que partilhar o talento e o que vai na alma alheia, Emanuel.
      Mas fico feliz por ter gostado.
      Beijinhos e obrigada.

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  18. Muito bonito! Muito fresco, muito leve...

    Boa escolha, Janita!
    Beijinhos e sorrisos...

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    1. E não será o riso uma fonte de água fresca, Gracinha?

      Beijinhos envoltos em mil sorrisos. :-))

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