"A BICICLETE"
MOTE
Meu amor já veio de França,
Trouxe-me uma biciclete;
Ele diz que aquilo cansa,
Mas também não paga frete.
GLOSAS
No dia em que ele chegou
Foi ao meu sítio passear,
Pra me ver e pra mostrar
A lembrança que comprou.
Quando em minha casa entrou,
Eu vi a linda lembrança,
E assim me nasceu a esperança
De andar naquilo também...
Fui dizer à minha mãe:
Meu amor já veio de França.
"Se queres. monto-te agora..."
Montou-me, mas foi agoiro,
Aquilo deu logo um estoiro.
Ele disse: "Não demora."
Tirou a coisa pra fora,
Que noutra coisa se mete.
Deu seis sacadas ou sete,
E logo a roda se encheu.
Enfim, para andar mais eu
Trouxe-me uma biciclete...
Às vezes manda-me pôr
No quadro, à frente, e abala.
Depois é ele que pedala,
Mas entrega-me o guiador.
Já tenho dito: "Ai, amor,
Com que força isto avança."
Gosto de andar nesta dança,
Pois não pedalo, nem nada;
Eu vou muito descansada,
Ele diz que aquilo cansa.
Na velocidade, murmuro,
Digo: "Ai, amor, vou pró céu...
Vê lá se rompe algum pneu,
Conta amor com algum furo..."
Diz ele: "O pneu está duro,
Só um prego que se espete,
Ou alguma camionete
Que não buzine, nem toque."
Sujeita-se a gente ao choque,
Mas também não paga frete!
* * * *
Claro! Está mais que visto.
Quem escreveu isto
Foi o Poeta que adoro,
Por ele eu canto e choro
E mesmo sem pedalar,
Eu quero é rir e cantar.
Quem for de erudições
Não me venha com sermões
Pois gosto de ser assim
Sou doida, mas não sou ruim.
Como já perceberam, a última Glosa (ou o que lhe quiserem chamar) e a foto, são da autora do blogue.
O poema, é do Poeta popular - que amo de paixão -
António Aleixo
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